UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
ROBERTO FAZZANI NETO
Comportamento violento: aspectos teóricos. Análise da apreensão e representação de imagens em protocolos de Rorschach de examinandos violentos
SÃO PAULO
1994
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
Curso de Pós-Graduação em Psicologia
Comportamento violento: aspectos teóricos. Análise da apreensão e representação de imagens em protocolos de Rorschach de examinandos violentos
Roberto Fazzani Neto
Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia. Área de concentração: Psicologia Social.
Orientadora: Prof.ª Drª Anna Mathilde Pacheco Chaves Nagelschmidt
SÃO PAULO
1994
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
“COMPORTAMENTO VIOLENTO: ASPECTOS TEÓRICOS. ANÁLISE DA APREENSÃO E REPRESENTAÇÃO DE IMAGENS EM PROTOCOLOS DE RORSCHACH DE EXAMINANDOS VIOLENTOS
Candidato: ROBERTO FAZZANI NETO
Orientadora: Prof.ª. Drª. Anna Mathilde P. Chaves Nagelschmidt
Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Psicologia – área de concentração: PSICOLOGIA SOCIAL
COMISSÃO JULGADORA
Prof.ª. Titular Lucia Maria Salvia Coelho
Prof.ª. Doutora Maria Helena C. Figueiredo Steiner
Prof.ª. Doutora Anna Mathilde P. C. Nagelschmidt
Defesa – 1994
Ao meu querido e inesquecível pai, que tanto estimulou-me ao estudo.
Ainda que ausente objetivamente, vive profundamente em minha subjetividade
E, ao meu mestre Dr. Ruy B. Mendes Filho, que me proporcionou a formação em Psiquiatria e de quem tenho o privilégio de disfrutar da amizade.
Agradecimentos
Gostaria de expressar minha gratidão
- a minha orientadora, Prof.ª. Drª. Anna Mathilde Pacheco Chaves Nagelschmidt, que com seu elevado espírito acadêmico e abertura intelectual sempre me apoio e orientou-me quanto à viabilidade de cada ideia que tinha, fornecendo-me bibliografia e discutindo a metodologia a ser utilizada, mostrando-se compreensiva com relação às constantes dificuldades de tempo que tive durante a realização deste trabalho.
- à Prof.ª. Drª. Lucia Coelho que tem me orientado desde o período de minha graduação. Sempre me estimulou no campo acadêmico e propiciou-me a honra de sua amizade. Pacientemente supervisionou cada caso da amostra com relação aos dados do Rorschach e à discussão dos resultados.
- ao Dr. Ruy B. Mendes Filho, a quem dedico este trabalho. Sem sua contínua colaboração, estimulando-me e supervisionando-me, mostrando-se sempre disponível para esclarecer minhas dúvidas, este trabalho não teria sido possível.
- à Prof.ª Dr.ª Maria Helena de Figueiredo Steiner, por seu apoio e contínuo estímulo.
- ao Dr. Benedito Ribeiro Guimarães, Diretor da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, que franqueou-me o acesso àquele estabelecimento, viabilizando a possibilidade de examinar os sujeitos que compõem a amostra estudada.
- aos Drs. Norberto Zöllner Junior e Cesar Ribeiro Junior do Setor de Perícias da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, que durante o período em que lá trabalhei, sempre se colocaram à disposição para o fornecimento de todas as informações pretendidas, inclusive pré-selecionando sujeitos que enviavam para que eu verificasse a possibilidade de participar na amostra.
- à Srtª. Lucimara Olivério que digitou o trabalho em seu computador, com dedicação, muitas vezes com escasso tempo para fazê-lo
- a minha mãe e irmã, pelo apoio afetivo durante os momentos de dificuldades.
FAZZANI NETO, Roberto. O comportamento violento: aspectos teóricos.
Análise da apreensão e representação de imagens em protocolos de Rorschach de examinandos violentos. São Paulo, 10/04/1994. 145 páginas. Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
Resumo
Com o objetivo de introdução, o autor procede a uma revisão das principais teorias da motivação agressiva, com ênfase na etologia, no comportamentalismo e na psicanálise. Apresenta suscintamente a interpretação desta motivação segundo a teoria da personalidade desenvolvida por Aníbal Silveira, em nosso meio, a partir das concepções filosóficas de A. Comte. Faz, também, uma breve revisão relativa às bases neurofisiológicas e neuroquímicas do comportamento agressivo, bem como dos estudos que correlacionam doença mental e agressividade.
Utilizando-se da prova de Rorschach, o autor analisa os processos cognitivos de vinte e um examinandos criminosos violentos. A ênfase de sua análise é colocada nos processos de apreensão e representação de imagens e de simbolização das experiências. A prova de Rorschach é interpretada segundo uma perspectiva cognitivo-sistêmica, desenvolvida por Silveira e aperfeiçoada por Coelho, adotada na Sociedade Rorschach de São Paulo.
Verifica o autor que nos sujeitos examinados ocorre uma captação extremamente superficial da realidade, pautada principalmente em impressões subjetivas ou em generalizações impulsivas do significado das experiências e dificuldade em estabelecer relações significativas entre elas, o que os leva a uma espécie de “prisão” vivencial ao momento presente, apreendido de modo muito vago e superficial e com incapacidade de imaginação e prospecção. Há, também, falta de empatia e incapacidade em apreender os nuances do relacionamento interpessoal. Esta “frieza”, relacionada com a dificuldade que apresentam para elaborar os obstáculos da realidade, será o fator principalmente relacionado à tendência a apresentar atos violentos. Paradoxalmente, as fantasias agressivas mais diretas estão quase totalmente ausentes em seus protocolos.
FAZZANI NETO, Roberto. Violent Behavior. Theoretical aspects.
Analysis of Image’s perception and representation in Rorschach’s records of violent subjects. São Paulo, April, the 10th, 1994. 145 pages. Dissertation presented to the Institute of Psychology of the University of São Paulo.
Abstracts
As an introduction, the author conducts a revision of the principal theories of aggressive motivation, with emphasis on Ethology, Behaviorism and Psychoanalysis. He presents, in a concise way, the interpretation of this kind of motivation using the theory of personality developed by Anibal Silveira from Comte’s philosophical conceptions. He also presents a brief revision of the hypothesis connected to the neurophysiological and neurochemical bases of aggressive behavior, as well as the studies that examine the relationship between mental illness and aggressivity.
Using Rorschach’s Test, the author analyses cognitive process of twenty-one criminal inpatients. The emphasis of his analysis is put on the process of perception and representation of images and of symbolization o experiences. Rorschach’s Test is interpreted by a systemic-cognitive perspective, developed by Silveira, and improved by Coelho, adopted in the São Paulo Rorschach Society.
The author verifies that in the examined subjects there are a too superficial perception of reality, mainly based on subjective impression or on impulsive generalizations of the signification of experiences and that they have difficulties to make significative relationships among their experiences. This way of perception and representation of reality conducts them to a kind of experiencial “prison” to the present moment, which is took by a very vague and superficial way with incapacity of imagination and prospection. There are also lack of empathy and an incapacity to perceive the ‘nuances” of interpersonal relationships. This “coldness” associated to the incapacity of elaboration of the obstacles of reality, will be a factor mainly related to the tendency to present violent acts. Strangely, aggressive phantasies are almost absent in their records.
FAZZANI NETO, Roberto. Comportements violents : aspects théoriques.
Analyse de l’appréhension et de la représentation des images dans les protocoles de Rorschach de candidats violents. São Paulo, 10/04/1994. 145pages. Mémoire de maîtrise présenté à l’Institut de Psychologie de l’Université de São Paulo.
Résumé
En guise d’introduction, l’auteur passe en revue les principales théories de la motivation agressive, en mettant l’accent sur l’éthologie, le behaviorisme et la psychanalyse. Il présente brièvement l’interprétation de cette motivation selon la théorie de la personnalité développée par Aníbal Silveira, dans notre pays, basée sur les conceptions philosophiques d’A. Comte. Il fournit également un bref aperçu des bases neurophysiologiques et neurochimiques du comportement agressif, ainsi que des études qui établissent une corrélation entre la maladie mentale et l’agressivité.
À l’aide du test de Rorschach, l’auteur analyse les processus cognitifs de vingt et un candidats criminels violents. L’accent dans son analyse est mis sur les processus d’appréhension et de représentation des images et de symbolisation des expériences. Le test de Rorschach est interprété selon une perspective cognitivo-systémique, développée par Silveira et perfectionnée par Coelho, adoptée par la Société Rorschach de São Paulo.
L’auteur constate que chez les sujets examinés, il existe une compréhension extrêmement superficielle de la réalité, basée principalement sur des impressions subjectives ou des généralisations impulsives du sens des expériences et sur la difficulté d’établir des relations significatives entre elles, ce qui les conduit à une sorte de « prison » expérientielle au moment présent, appréhendé de manière très vague et superficielle et avec une incapacité d’imaginer et de prospecter. Il existe également un manque d’empathie et une incapacité à comprendre les nuances des relations interpersonnelles. Cette « froideur », liée à la difficulté qu’ils présentent à faire face aux obstacles de la réalité, sera le facteur principalement lié à la tendance à présenter des actes violents. Paradoxalement, les fantasmes agressifs les plus directs sont quasiment absents de leurs protocoles.
FAZZANI NETO, Roberto. Comportamiento violento: aspectos teóricos.
Análisis de aprehensión y representación de imágenes en protocolos de Rorschach de examinados violentos. São Paulo, 10/04/1994. 145 páginas. Tesis de maestría presentada en el Instituto de Psicología de la Universidad de São Paulo.
Resumen
A modo de introducción, el autor revisa las principales teorías de la motivación agresiva, con énfasis en la etología, el conductismo y el psicoanálisis. Se presenta brevemente la interpretación de esta motivación según la teoría de la personalidad desarrollada por Aníbal Silveira, en nuestro país, a partir de las concepciones filosóficas de A. Comte. También proporciona una breve revisión de las bases neurofisiológicas y neuroquímicas del comportamiento agresivo, así como estudios que correlacionan la enfermedad mental y la agresión.
Utilizando la prueba de Rorschach, el autor analiza los procesos cognitivos de veintiún criminales violentos examinados. El énfasis en su análisis está puesto en los procesos de aprehensión y representación de imágenes y simbolización de experiencias. La prueba de Rorschach se interpreta según una perspectiva cognitivo-sistémica, desarrollada por Silveira y perfeccionada por Coelho, adoptada por la Sociedad Rorschach de São Paulo.
El autor encuentra que en los sujetos examinados existe una comprensión extremadamente superficial de la realidad, basada principalmente en impresiones subjetivas o generalizaciones impulsivas del significado de las experiencias y dificultad para establecer relaciones significativas entre ellas, lo que los conduce a una especie de “prisión” experiencial. en el momento presente, aprehendido de manera muy vaga y superficial y con incapacidad de imaginar y prospectar. También hay falta de empatía e incapacidad para comprender los matices de las relaciones interpersonales. Esta “frialdad”, relacionada con la dificultad que presentan para afrontar los obstáculos de la realidad, será el factor principalmente relacionado con la tendencia a presentar actos violentos. Paradójicamente, las fantasías agresivas más directas están casi completamente ausentes de sus protocolos.
FAZZANI NETO, Roberto. Comportamenti violenti: aspetti teorici.
Analisi dell’apprensione e della rappresentazione delle immagini nei protocolli Rorschach di esaminati violenti. San Paolo, 04/10/1994. 145 pagine. Tesi di Master presentata all’Istituto di Psicologia dell’Università di San Paolo.
Riepilogo
A scopo introduttivo, l’autore passa in rassegna le principali teorie della motivazione aggressiva, con particolare attenzione all’etologia, al comportamentismo e alla psicoanalisi. Presenta brevemente l’interpretazione di questa motivazione secondo la teoria della personalità sviluppata da Aníbal Silveira, nel nostro paese, sulla base delle concezioni filosofiche di A. Comte. Fornisce inoltre una breve rassegna delle basi neurofisiologiche e neurochimiche del comportamento aggressivo, nonché studi che correlano la malattia mentale e l’aggressività.
Utilizzando il test di Rorschach, l’autore analizza i processi cognitivi di ventuno criminali violenti esaminati. L’accento nella sua analisi è posto sui processi di apprensione e rappresentazione delle immagini e sulla simbolizzazione delle esperienze. Il test di Rorschach viene interpretato secondo una prospettiva cognitivo-sistemica, sviluppata da Silveira e perfezionata da Coelho, adottata dalla Società Rorschach di San Paolo.
L’autore rileva che nei soggetti esaminati esiste una comprensione estremamente superficiale della realtà, basata principalmente su impressioni soggettive o generalizzazioni impulsive del significato delle esperienze e difficoltà a stabilire relazioni significative tra loro, che li porta ad una sorta di “prigione” esperienziale al momento presente, colto in modo molto vago e superficiale e con incapacità di immaginare e di prospettare. C’è anche una mancanza di empatia e un’incapacità di comprendere le sfumature delle relazioni interpersonali. Questa “freddezza”, legata alla difficoltà che presentano nell’affrontare gli ostacoli della realtà, sarà il fattore legato principalmente alla tendenza a presentare atti violenti. Paradossalmente, le fantasie aggressive più dirette sono quasi del tutto assenti dai loro protocolli.
ÍNDICE
Página | ||
Dedicatória | 4 | |
Agradecimentos | 5 | |
Resumo | 6 | |
Abstracts | 7 | |
Résumé | 8 | |
Resumen | 9 | |
Riepilogo | 10 | |
Índice | 11 | |
1 | Introdução: justificativa da escolha do tema e organização do trabalho | 12 |
2 | A questão da agressividade no comportamento humano | 15 |
2.1. | A sistematização das teorias psicológicas sobre a agressividade | 25 |
2.2. | A motivação agressiva segundo diferentes teorias | 31 |
2.2.1. | A agressividade de acordo com os estudos do comportamento instintivo (Etologia) | 31 |
2.2.2. | A agressividade segundo a reflexologia e alguns teóricos do comportamentalismo norte-americano | 36 |
2.2.3. | A agressividade sob o prisma da Psicanálise e de Teorias dela derivadas | 43 |
2.3. | As hipóteses neurofisiológicas e neuroquímicas relacionadas ao comportamento agressivo | 47 |
2.4. | Contribuição da Psiquiatria ao estudo da agressividade e sua relação com as doenças mentais | 51 |
2.5. | A agressividade na teoria da personalidade de Aníbal Silveira | 54 |
3. | Material e método | 59 |
3.1. | Caracterização da amostra | 59 |
3.2. | A prova de Rorschach: características gerais | 63 |
3.3. | Fatores da Prova verificados na amostra para o exame dos processos cognitivos | 65 |
4. | Revisão de trabalhos anteriores utilizando o método de Rorschach em examinandos agressivos | 74 |
5. | Resultados e Discussão | 83 |
5.2. | Tabelas de apresentação dos resultados | 105 |
6. | Conclusões e Considerações finais | 124 |
7. | Bibliografia | 135 |
- INTRODUÇÃO, JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO TEMA E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
As razões que nos mobilizam o interesse por determinado tema são sempre múltiplas envolvendo simultaneamente interesses pessoais e circunstâncias de vida.
Após a conclusão da Residência Médica em Psiquiatria na Faculdade de Medicina de Jundiaí, prestamos exame em concurso público da Secretaria da Saúde tendo sido designado para exercer funções de médico assistente no então Manicômio Judiciário. Além desta função, assumimos a de perito, passando a elaborar laudos de indivíduos ali internados por determinação judicial.
Ao Manicômio Judiciário eram encaminhados pacientes criminosos. A grande maioria para cumprir medida de segurança ou de tratamento e após terem sido absolvidos de seus crimes, os considerados inimputáveis ou semi-imputáveis. Uma parcela menor da população era composta de indivíduos que supostamente adoeciam durante o período de cumprimento de pena, sendo para lá encaminhados para avaliação e tratamento. Finalmente a menor parcela dos internados era aquela de réus presos aguardando laudos de sanidade mental e julgamento.
Em decorrência de nossas funções vimo-nos na necessidade de estudar o problema da criminalidade e da violência de modo mais minucioso, campo geralmente relacionado à Psiquiatria e Psicologia Forenses.
Dentre os inúmeros sujeitos que examinamos e acompanhamos durante o tratamento, havia alguns geralmente considerados semi-imputáveis, que nos chamavam a atenção por terem cometido crimes muito violentos, em geral em estado de lucidez, e que ao relatá-los, não pareciam demonstrar quais quer sentimentos de culpa ou remorso. A maioria deles recebia o diagnóstico de Personalidade Psicopática, ou como atualmente é codificado, de Transtorno de Personalidade, de várias modalidades (CID-10 e DSM-III-R) (1992) (1989).
Neste período, também estávamos concluindo nossa especialização no Psicodiagnóstico de Rorschach na Sociedade Rorschach de São Paulo e, muitas vezes, o utilizávamos em nossos laudos e pareceres como método auxiliar. Decidimos, a partir de 1985, aplicar o método sistematicamente em todos os sujeitos que faziam seus laudos e pareceres conosco. Com o tempo, notamos que os sujeitos que apresentavam as características acima descritas, pareciam possuir um feitio de personalidade característico ao Psicodiagnóstico de Rorschach. Estávamos também intrigados com suas reações e dificuldades que apresentavam no relacionamento interpessoal, o que despertou nossa curiosidade em compreender como estes sujeitos representavam a realidade, como seria seu mundo subjetivo.
À época conversamos com a Profª. Lucia Coelho e decidimos fazer um trabalho conjunto com os protocolos desses indivíduos que definimos como violentos. Na ocasião a Profª. Lucia Coelho estava principalmente interessada no estudo dos processos cognitivos, e centramos nosso trabalho neste aspecto. O trabalho foi apresentado ao XII Congresso Internacional de Rorschach, realizado no Guarujá SP, de 13 a 17 de julho de 1987 e, posteriormente publicado (1988).
Durante o período em que trabalhávamos no Manicômio Judiciário, também conhecemos a Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, um presídio de segurança máxima, para onde eram encaminhados os prisioneiros considerados mais perigosos do Estado e também alguns indivíduos semi-imputáveis.
Com o tempo reunimos um número razoável de protocolos de Rorschach de examinandos violentos e, como iniciáramos o curso de pós-graduação, em nível de mestrado, decidimos desenvolver nossa dissertação a partir de uma ampliação do trabalho inicial realizado em coautoria com a Profª. Lucia Coelho. Ao ingressar no curso de pós-graduação do Instituto de Psicologia da USP, propusemos o tema à nossa orientadora, que nos fez sugestões relevantes quanto às questões teóricas e de método.
A partir da indicação do Profº. Odhon Maranhão, procuramos o Diretor da Casa de Custódia de Taubaté, Dr. Benedito Ribeiro Guimarães, que nos facilitou o acesso àquele estabelecimento e lá, complementamos a amostra, aplicando o método de Rorschach em outros sujeitos considerados violentos. Conseguimos um total de 21 casos, embora tenhamos examinado aproximadamente 30 sujeitos. Alguns, entretanto, se recusaram a colaborar conosco e não foram submetidos ao exame de Rorschach. É uma amostra pequena, mas, em razão dos objetivos deste trabalho, pensamos ser suficiente para fundamentar a discussão do tema escolhido. Além disso, no âmbito estatístico, são uma raridade os sujeitos que apresentam tais características.
Evidentemente estamos cientes da complexidade que envolve a discussão da violência no comportamento humano. O termo é muito abrangente, definido de diferentes maneiras, podendo ser aplicado a muitos aspectos da conduta individual ou mesmo grupal. Podemos considerar violentos desde fenômenos complexos e coletivos como a guerra, o terrorismo, a repressão policial, até o comportamento de pequenos grupos, situações envolvendo certos rituais religiosos, vários aspectos culturais e os crimes individuais. Esses fenômenos, em termos gerais, abrangem o que os autores denominam comportamento agressivo. São manifestações sociais, como de resto qualquer atividade humana. Portanto, podem ser estudados sob os mais variados ângulos. Não é nosso escopo discutir a violência em sentido tão amplo e nem em situações coletivas, mas em confrontos interindividuais, nos quais agressor e agredido, ou contendores se encontram em circunstâncias muito especiais, como adiante especificamos. O que pretendemos estudar é a violência que se expressa no comportamento individual, mais precisamente, dentro deste campo, delimitamos nosso objetivo ao exame dos processos cognitivos. Como os indivíduos que definimos como violentos, elaboram e codificam suas experiências em termos de imagem. Com este propósito, utilizamos como instrumento a Prova de Roschach.
Faremos uma breve revisão das teorias principais que discutem a agressividade humana e o comportamento violento.
Utilizamos na interpretação da Prova de Rorschach, um modelo cognitivo-sistêmico proposto por Aníbal Silveira e adotado na Sociedade Rorschach de São Paulo.
Este modelo aplicado e desenvolvido por Aníbal Silveira (1966, 1985), a partir da Teoria da Personalidade de Augusto Comte e da Teoria das Imagens de Pierre Laffitte, vem sendo aprimorado por Coelho (1980, 1982, 1988, 1992, 1993 I e II) e neuropsicologia (Coelho, 1993 II)
Em nossa breve introdução à questão da agressividade faremos referências a teorias. A seguir, definimos estrategicamente o comportamento violento, procurando delimitar a amostra e o campo de estudos deste trabalho. Ainda nesse capítulo, caracterizamos sumariamente o instrumento a ser utilizado (a Prova de Rorschach) e o objeto da pesquisa. Finalmente, discutimos os resultados da investigação, correlacionando-os àqueles de pesquisas anteriores, com a Prova de Rorschach e, mais especificamente com a utilização desta prova em indivíduos violentos.
Formulamos algumas hipóteses para a sistematização dos resultados, relativamente aos processos cognitivos, que poderão, segundo pensamos, servir de subsídio para a compreensão das manifestações estudadas e das personalidades que manifestas estas modalidades de comportamento.
- A QUESTÃO DA AGRESSIVIDADE NO COMPORTAMENTO HUMANO
Ao discutir a agressividade estamos nos referindo a várias modalidades de comportamento.
É um tema controvertido e complexo.
Ainda que os autores que estudam estas modalidades de comportamento em animais possuam definições operacionais mais claras, o mesmo não ocorre no caso do homem. A questão terminológica é bastante complexa: agressividade, destrutividade, hostilidade, violência são apenas alguns dos termos utilizados. É claro que anos interessam especificamente os comportamentos destrutivos relativos à perseguição e exterminação de homens por outros homens, em circunstâncias bastante específicas. Porém, os campos de estudos abertos por esta consideração são bastante amplos e os autores possuem discordâncias quanto aos diversos aspectos destes comportamentos, nos planos psicológico, psicopatológico, sociológico e antropológico.
Diferentes campos científicos se ocupam deste estudo: a antropologia social, a sociologia (em diferentes ângulos tais como o estudo da criminalidade, das guerras, do terrorismo, da política, apenas para citar alguns), o Direito e a Criminologia, a Psicologia em seus vários ramos, principalmente clínico, social e experimental, A Psicopatologia Clínica e Forense, apenas para nos restringir a alguns deles, no âmbito das ciências humanas. A análise de questão complica-se ainda mais, quando constatamos que os biólogos também têm contribuições relevantes a fazer ao campo e, portanto, a comparação dos comportamentos humanos e animal passa a integrar este complexo tema. No caso de a Biologia podermos relacionar duas vertentes fundamentais, quais sejam de um lado a Psicologia Animal (incluindo a Etologia) e de outro a Biologia do Comportamento, que estuda as bases orgânicas desta atividade (incluindo fundamentalmente a Neuropsicologia).
Como se depreende, existem muitas hipóteses e teorias para o comportamento agressivo. Algumas são mais gerais, referindo-se ao comportamento humano e animal, outras são específicas ao homem e referentes ao comportamento individual ou de grupos, ou a situações específicas nas quais ocorrem os comportamentos agressivos. Há pontos em comum entre as diversas hipóteses e teorias. Outros pontos são francamente antagônicos.
Em 1963, houve em Londres, um importante Simpósio, que reuniu eminentes especialistas das ciências e do campo de humanidades para discutir o tema da agressividade. As palestras e discussões ocorridas foram compiladas por J. D. Carthy e F. J. Ebling e publicados com o título “História Natural da Agressão” (1966). Utilizaremos algumas das palestras deste Simpósio nesta introdução ao tema, devido à importância do mesmo e ao fato de ter reunido pesquisadores com pontos de vista bastante diversos.
Assim, Freeman, ao discutir a agressão humana em perspectiva antropológica (1966) faz uma revisão das provas históricas e antropológicas da agressão humana e, particularmente dos descobrimentos antropológicos até a ocasião do Simpósio. Este autor, aceita a consideração freudiana de que “a tendência à agressão é uma propensão inata, independente instintiva no homem”. Citando vários autores que fizeram revisões históricas de guerras, descrições etnográficas de costumes de povos ditos “primitivos”, ou mesmo de instituições sociais de nossa cultura, atuais e do passado (como a inquisição, por exemplo) desfia uma sucessão de descrições de atrocidades e comportamentos violentos aterrorizantes. Comentando a questão afirma que tais comportamentos dificilmente podem ser diferenciados em termos de crueldade e destrutividade daqueles considerados psicopatológicos. Considera ainda, após analisar conhecimentos relativos à Paleoantropologia que “(…) a perpétua agressão e crueldade do homem histórico, pelo qual se diferencia dos outros primatas, se explica somente, nas palavras de Raymond Dart (1953), em termos de suas origens carnívoras e canibais (…). (Freeman, 1966: 172).
É evidente que o autor desejava explicitar a variedade e amplitude dos comportamentos humanos destrutivos. Parte, entretanto, de uma hipótese bastante geral, qual seja, a consideração da natureza inata, da agressividade e seleciona para justifica-la, comportamentos bastante diversos, desde situações mais particulares relativa a transgressões de norma sociais (como nos crimes) até situações coletivas especificas (como as guerras, ou rituais religiosos). Ainda que tal revisão nos coloque em contato direto com o fato da agressividade, ela pouco contribui para a compreensão de aspectos específicos relativos às situações descritas. Aliás, este não é o propósito do autor, que inclusive frisa a importância de uma descrição fenomenológica mais acurada e minuciosa destas situações, se desejarmos melhor compreendê-las.
Denker (1973) ao discutir a questão da agressividade procura levantar questões práticas para o tema. Considerando a natureza social do homem, inicia sua explanação a partir das consequências filosóficas que se pode deduzir dos resultados das investigações científicas, para a vida social e para a convivência entre os homens. Escolhe Kant para enquadra a orientação filosófica da discussão das ideias básicas da ética e da filosofia, já que este filósofo, centra sua discussão ética em torno da consideração de que a dinâmica e o desenvolvimento da espécie humana se origina de um conflito entre o egoísmo e a determinação sócio-moral humana, nos dizeres do autor. Questão nada nova, pois através da informação de Bolles (1978), já Hutcheson colocava como raízes dos conflitos humanos o problema do egoísmo e do altruísmo. No século XIX, considerou também Augusto Comte (1982) este aspecto como o cerne do conflito humano.
As considerações de Denker são fundamentais uma vez que nos remetem às opiniões dos principais antropólogos atuais. Geertz (1978) considera que não se pode conceber o homem sem cultura. Esta é intrínseca à natureza humana. Assim, também o consideram Coelho (1969) (1993 III) e Berger (1978).
Geertz (1978) não vê dificuldades, como as colocadas pelo comportamentalismo, em considerar o homem disposições mentais. Estas disposições, para o autor, são despertadas, solicitadas e desenvolvidas em contato com a cultura. Dentre estas, é evidente que o homem manifesta disposição agressiva. O antropólogo não vê razão para dissociar natureza e cultura, no caso humano.
O ser humano já ao nascer, se encontra imerso numa cultura, pois sua família, ou instituição social equivalente, fará parte de uma determinada sociedade, num dado momento histórico. A extrema dependência do filhote humano o coloca em necessária relação com outros seres humanos adultos que ao cuidarem do mesmo transmitirão os valores e normas culturais. Conforme refere Berger “(…) na vida de cada indivíduo existe uma sequência temporal ao curso da qual é induzido a tomar parte na dialética da Sociedade (…). (Berger, 1978: 173-174).
Assim, considerados e definidos, todos os atos comportamentais humanos serão sociais e estarão inseridos dentro de um contexto da história individual e de sua cultura. Esta afirmação é válida também para os comportamentos agressivos de quais quer tipos, no caso humano.
Denker (1973) ao falar do conflito entre o egoísmo e a determinação sócio-moral humana, nos leva a refletir sobre as bases desse “egoísmo”.
Esta é uma questão muito complexa que se relaciona a como os diferentes autores e escolas antropológicas ou psicológicas consideram a relação homem e cultura bem como o caráter inato ou adquirido dos comportamentos, incluindo a agressividade.
Encontramo-nos perante um difícil problema ainda insuficientemente elucidado: o homem é um animal social, quanto a isto não há dúvidas. Esta sociabilidade, no entanto, é inerente ao homem ou a cultura sobrepõe-se ao organismo humano e impõe um controle sobre este?
Os antropólogos atuais tendem a considerar a questão a partir da primeira proposição, ou seja, a sociabilidade é inerente ao ser humano. Há, no entanto diferenças quanto à forma como articulam a questão.
Aqueles que sofreram influência do marxismo, ao analisar o problema tendem a considerar que o homem como um animal social, deve ter sua conduta analisada sempre a partir desta configuração. Entretanto, são também evolucionistas e buscam encontra a gênese da sociabilidade no trabalho e na linguagem. Antes do trabalho não se poderia considerar o homem verdadeiramente como Homo sapiens. Já Engels, em sua obra “O papel do trabalho na transformação do macaco em homem” (1966), afirma: “(…) A única coisa que os animais fazem é utilizar a natureza exterior e modificá-la pelo mero fato de sua presença. O homem, contrariamente, modifica a natureza e a obriga assim a servir-lhe, domina-a. E esta, é em última instância, a diferença essencial que existe entre o homem e os demais animais, diferença, que cada vez mais vem a ser efeito do trabalho (…)”. (Engels, 1966:14). Concebe, assim, a gênese da construção social humana a partir do trabalho, evidentemente porque o homem possuía instrumentos biológicos para tal (como a forma da mão, por exemplo).
As concepções de marxistas posteriores se desenvolveram bastante após sua obra, mas mantém em comum a consideração deste aspecto evolucionista explicativo pautado no trabalho como gênese para a sociabilidade humana.
Assim o consideram Heller (1978) e Linares (1981).
Linares (1981) analisa as escolas que denomina instintivistas e ambientalistas do ponto de vista marxista. Uma de suas considerações sobre o caráter inato ou adquirido dos comportamentos agressivos humanos é bastante esclarecedora quanto ao problema. Afirma ele: “(…) tudo é inato, no gênero humano e, por sua vez, tudo é adquirido. O homem recebe de seus predecessores uma dotação genética que somente pode desenvolver-se em sociedade. Sua plasticidade social é de tal magnitude, que nem os mais conspícuos inatistas ousariam discutir que possua uma diferença qualitativa com relação às restantes espécies animais, mesmo quando um estudo série da conduta dos primatas superiores demonstre que tal diferença não implica nenhuma descontinuidade evolutiva (…)”. (Linares, 1981:107).
Esta também é a posição de Heller (1978) ao criticar a teoria etológica de Konrad Lorenz, mesmo reconhecendo-o como um dos maiores cientistas de nossa época. A renomada antropóloga expressa que considera o comportamento agressivo violento como manifestação do que denomina “particularismo”. Em suas palavras: “(…) os nossos impulsos assumem a forma de raiva dirigida para a humilhação ou a destruição de outros seres humanos porque somos pessoas particularistas, porque não temos confiança em nós nem amor-próprio com que contar, porque não podemos realizar as nossas potencialidades, e porque tudo isto nos faz sofrer. Reagimos com agressão a frustrações individuais, isoladas e consideramo-las frustrações porque afetam toda nossa personalidade, porque as concebemos como uma ‘ofensa’ contra nossa personalidade. Reagimos agressivamente contra membros de outros grupos porque projetamos a falta de amor-próprio na existência ou nos membros deste grupo, porque podemos ‘racionalizar’ a nossa fraqueza e o nosso insucesso segundo a sua existência e os seus sucessos (…) (Heller, 1978:166).
Ora, a ideia expressa por Heller com o que denomina particularismo e sua participação na gênese da agressividade humana, remete ao que já referíamos quando expusemos a ênfase de Denker sobre o conflito entre o egoísmo e a determinação sócio-moral humana.
Outros antropólogos modernos também discorrendo sobre a necessária contingência da cultura na estrutura constitucional humana, não se preocupam tanto com a gênese da sociabilidade, mas a tomam como inerente à natureza humana, ainda que em contínua evolução. Buscam analisar como o homem, nas diferentes culturas trabalha com os símbolos, representando e construindo a realidade, como Geertz (1978), Berger (1978), e Coelho (1969, 1993 III).
Afirma Berger:
“(…) O organismo humano está ainda desenvolvendo-se biologicamente quando já se acha em relação com seu ambiente. Em outras palavras, o processo de tornar-se homem efetua-se na correlação com o ambiente. Esta afirmativa adquire significação se refletirmos no fato de que este ambiente é ao mesmo tempo um ambiente natural e humano. Isto é, o ser humano em desenvolvimento não somente se correlaciona com o ambiente natural particular, mas também com uma ordem cultural e social específica, que é mediatizada para ele pelos outros significativos que o têm a seu cargo. Não apenas a sobrevivência da criança humana depende de certos dispositivos sociais, mas a direção de seu desenvolvimento orgânico é socialmente determinada (…) (Berger, 1978: 71).
De qualquer modo, ao considerarmos o comportamento agressivo humano, mesmo situando-o como próprio e específico e, portanto, social, sabemos que dependerá de um organismo para se manifestar. Terá, assim, a Biologia contribuições a fornecer a este estudo.
Para iniciarmos a discussão desta questão apresentaremos o que Lorenz, pioneiro da etologia contemporânea, refere a respeito da agressão.
Lorenz estuda os animais em seu ambiente natural ou em situações de cativeiro, analisando sistematicamente o comportamento global da conduta animal e comparando estes aspectos em diferentes espécies. Possuindo uma orientação naturalista-evolucionista em sua obra sobre a agressão (1973) considera que na natureza a guerra está omnipresente. Explanando sobre a ‘luta pela vida’, de Darwin, Lorenz afirma que esta frase se refere muito mais à competição entre indivíduos aparentados do que aquela entre indivíduos de espécies diferentes.
Narra a questão da luta entre diferentes espécies no comportamento predatório, quando entram em questão diferentes conflitos, tais como a necessidade de alimento ou de abrigo. Afirma, no entanto, que este tipo de comportamento animal não pode ser considerado combate, em sentido estrito. Mais próximo à verdadeira agressão, está o ataque que certas presas fazem objetivamente, em conjunto ao predador. Na mesma linha, refere Lorenz, que há uma nítida diferença ente o caçador e o soldado em guerra. A agressão em sentido estrito, apenas pode ser considerada intra-espécie, na opinião do autor.
Scott (1980) ao referir-se ao que denomina comportamento hostil, diz que envolve condutas ligadas à luta social (mais propriamente gregária) em outras palavras, o comportamento dentro da mesma espécie, e não as modalidades de agressividade com objetivos predatórios ou de caça. Afirma que se têm preferido utilizar-se do termo condutas agonísticas e as considera como comportamento adaptativo individual que surge do conflito entre membros de uma mesma espécie.
Podemos verificar que este autor desenvolve e especifica mais o conceito inicial de Lorenz.
Ainda segundo Scott (1980), o comportamento agonístico pode englobar-se em quatro ou cinco categorias gerais. Faz um interessante resumo destas modalidades de comportamento em animais, desde peixes até mamíferos. No caso humano, considera ser impossível afirmar com certa margem de confiança que esta conduta tivesse formas pré-culturais. Comenta o quanto as relações de dominância e submissão, as relações conjugais estáveis, a aptidão da linguagem e a criação de instrumentos são aspectos que complicam o estudo da conduta agressiva humana.
Um dado fundamental de suas afirmações é o de que há, em circunstâncias comuns, poucos casos de lutas abertas na espécie humana “(…) existem casos aos quais o controle social se rompe. Apesar das escandalosas estatísticas de crimes, tais atos fora da lei, são raros que somente é possível estudá-los de forma retrospectiva (…)” (Scott, 1980:109).
Como vemos, a complexidade do tema, no caso humano, é maior, em virtude do ser humana possuir vida gregária e se constituir nos meios sócio-histórico. As diversas teorias se alinham em torno destes dois polos da natureza humana: o biológico e o histórico-social. Existem, também, teorias intermediárias que buscam integrar os dois polos a partir de diferentes prismas.
O fato de os autores valorizarem diferentemente aspectos da natureza humana, levá-los-á a construir hipóteses e teorias em parte controversas, tornando a questão polêmica.
Além disso, outro aspecto fundamental a ser lembrado é o de que diferentes pesquisadores do tema baseiam suas hipóteses ou mesmo teorias, em determinados pontos, sob influência da metodologia utilizada em suas investigações. Há muitos tipos de investigações, tais como o estudo do comportamento agressivo em animais no laboratório ou no ambiente natural, o estudo da agressividade humana em fenômenos de massa ou em pequenos grupos, o estudo do comportamento agressivo do ponto de vista psicopatológico, o estudo de pacientes através da psicoterapia etc.
Alguns estudiosos procedem a generalizações indébitas do resultado de suas pesquisas para a globalidade de comportamento humano.
Apenas para exemplificar, citamos a Psicanálise quando a partir da observação de conflitos emocionais de pacientes neuróticos, formula uma teoria e tenta aplicá-la ao estudo da cultura e suas manifestações, ou a Etologia, quando partindo da análise sistemática do comportamento animal em seu ambiente, busca generalizar seus princípios ao caso humano, sem suficientemente considerar a dimensão histórico-social humana, talvez os aspectos que mais se configura no Ethos humano.
No Simpósio de 1963 sobre a agressividade, já citado anteriormente, houve uma polêmica entre as considerações feitas por De Monchaux (1966) e Veness (1966), que é relevante para exemplificar a complexidade do que se considera agressivo no comportamento humano.
De Monchaux (1966) discute a hostilidade em pequenos grupos. Considera melhor utilizar o termo “hostilidade”, ao invés de “agressividade”, para dirigir a discussão, segundo ela, para o tema da “animosidade”. Queria, assim, evitar a confusão com o comportamento afirmativo, do qual não desejava se ocupar.
Veness (1966) após a exposição de De Monchaux, discute também inicialmente a questão semântica. Refere que “(…) se os biólogos, do Simpósio, sem exceção, (…) quando discutem o comportamento animal, se conduzem como se soubessem o querem dizer com agressão, ao caso dos psicólogos, esta discussão ainda não saiu de uma fase terminológica provisória (…)”. (Vaness, 1966:116).
Considera Veness que quando De Monchaux prefere o termo hostilidade para evitar a confusão entre animosidade e afirmação, no caso do comportamento especificamente humano, o faz para referir-se a uma ‘atitude’, ou seja, a uma disposição subjetiva mais ou menos mantida, ainda que não expressa necessariamente imediatamente no comportamento. Ora, esta atitude mantida, no caso do Homo sapiens somente é possível em função da aptidão simbólica, ou seja, nas palavras de Veness porque há “uma resposta verbal implícita”.
Partindo desta consideração, as autoras abordam a função que estas atitudes hostis possuem com relação ao processo humano de “identidade”. Esta colocação desperta inúmeros problemas que entendem com o processo de simbolização e da gênese da individualidade no âmbito da vida social. O mais importante aqui é a colocação do problema em duas vertentes: a afetiva e a cognitiva.
As autoras ainda presentam outro problema dinâmico do comportamento agonístico humano, uma das dimensões mais fascinantes, mas ao mesmo tempo mais difíceis de compreender a complementação entre comportamento do algoz e da vítima.
Veness discorda da separação procedida por De Monchaux entre animosidade e comportamento afirmativa pois considera que a afirmação é um componente essencial nas atitudes como a hostilidade.
De fato, não é menos importante acentuar que talvez os motivos a conduta assertiva envolvam dinamismos implícitos no comportamento violento.
Entretanto, a diferença parece residir na modalidade de integração ou de dinâmica das forças motivadoras em jogo nos dois tipos de conduta.
A análise etimológica da palavra agressão pode fornecer algum esclarecimento. Conforme recorda Schachtel (1962) a origem da palavra agredir é latina, cujo termo agredi possui o sentido de aproximar-se com assertividade. O conceito de hostilidade, de competição, lhe foi agregado posteriormente. Em muitos trabalhos o termo é empregado com a conotação primitiva. Daí, talvez o interesse de De Monchau em melhor separa os conceitos. Não é sem razão que se utiliza a expressão “atacar uma tarefa ou problema”. Atualmente, entretanto, no termo agredir, prevalece a noção de ataque hostil ou competitivo.
A complexidade do problema da agressividade humana reside pois no fato de que os homens, como seres sociais, são dotados de aptidão simbólica, não possuem instintos entendidos como pautas rígidas de conduta. Ocorre como uma abertura ao nível instintivo que irá consequentemente propiciar a possibilidade da grande variabilidade dos comportamentos.
Refere Berger ao discutir esta questão:
“(…) O homem ocupa uma posição peculiar no reino animal. Ao contrário dos outros mamíferos superiores, não possui um ambiente específico da espécie, um ambiente firmemente estruturado por sua própria organização instintiva (…)”. “(…) A organização instintiva do homem pode ser descrita como subdesenvolvida comparada com a de outros mamíferos superiores. O homem, está clara, tem impulsos, mas estes são consideravelmente desprovidos de especialização e direção (…)”. (Berger, 1978: 68-70).
Nosso objetivo ao apresentarmos estas considerações introdutórios e situar o problema em sua real dimensão a complexidade que assume o estudo de um comportamento no homem, em virtude de suas características. Aliás, Geertz, a partir de uma revisão da perspectiva da evolução humana também conclui que os recursos culturais são ingredientes e não acessórios ao pensamento humano.
“(…) À medida que se vai, filogeneticamente, dos animais inferiores para os superiores, o comportamento é caracterizado pela crescente imprevisibilidade ativa ao que se refere aos estímulos correntes, uma tendência aparentemente apoiada fisiologicamente por uma crescente complexidade e predominância dos padrões centrais de conduto da atividade nervosa. Esse crescimento das áreas centrais autônomas pode ser levado em consideração, pelo menos até o nível dos mamíferos inferiores, em termos do desenvolvimento de novos mecanismos neurais. Nos mamíferos superiores, porém, tais novos mecanismos ainda não foram encontrados. Embora se possa conceber que o simples aumento no número de neurônios pode, por si mesmo, responder plenamente pelo florescimento da capacidade mental do homem, o fato de o cérebro humano maior e a cultura humana emergirem sincronicamente, e não serialmente, indica que os desenvolvimentos mais recentes na solução da estrutura nervosa consistem no aparecimento de mecanismos que tanto permitem a manutenção de áreas dominantes mais complexas como tornam cada vez mais impossível fazer a determinação completa dessa áreas em termos de parâmetros intrínsecos (inatos). O sistema nervoso humano depende, inevitavelmente, da acessibilidade a estruturas simbólicas públicas para construir seus próprios padrões de atividade autônoma, contínua (…). (Geertz, 1978:98)
Deste modo, é preciso recordar que no caso do homem, a animosidade, para utilizar-se do termo escolhido por De Monchaux, pode manifestar-se de diferentes maneiras. Por exemplo, o ser humano pode ser agressivo verbalmente e até mesmo restringindo-se o sem comportamento ao plano verbal, as consequências podem ser atrozes, cruéis, violentas.
Além disso, nas complexas relações de dominação do caso humano, as imposições podem ser revestidas de muito hostilidade sem que haja conduta agonística manifesta. Mais do que isto, certas formulações que explicitamente possam denotar outras categorias de sentimentos, como afeição, dedicação, interesse por outrem, podem contar elevadas doses de agressividade, de crueldade. Portanto, no caso do ser humano, a análise do que vem a ser a animosidade ou a hostilidade não se prende à conduta agonística e traduzida por atos explicitamente destrutivos, no plano interpessoal.
O que significa, portanto, hostilidade?
O objeto da agressividade é antagônico ao sujeito, é algo que deve merecer um ataque destrutivo, não necessariamente fatal, mas em muitos casos se reveste de violência e brutalidade, especialmente no caso humano. Estas condutas são, então, denominadas agonísticas.
Ora, os atos humanos conforme discutimos, não obedecem apenas a motivações imediatas. O fato o ser humano possuir aptidão simbólica, leva-o a representar subjetivamente a realidade. Este plano simbólico, subjetivo, foi excluído do campo do estudo científico por algumas teorias. Porém sua não consideração, mutila a dimensão mais humana, o que é mais característico do homem.
O ser humano pode ser agressivo explicitamente, fisicamente, pode sê-lo verbalmente e, como já dissemos anteriormente, ainda nesse plano, as consequências podem ser bastante graves. Mas, ele pode também não explicitar sua disposição hostil imediatamente. Este é o plano das intenções, das atitudes, que sob influência do condutismo, Veness (1966) codificou como tendo implícita uma resposta verbal. Nesse caso, a disposição subjetiva hostil pode permanecer nesse plano e o indivíduo aguardar uma ocasião propícia para manifestá-la objetivamente, podendo mesmo nunca vir a fazê-lo.
Neste ponto estamos num complexo campo de estudos psicológicos: o relativo às representações mentais. Há toda uma tendência que valoriza o estudo das Imagens Subjetivas no sentido de configurações dinâmicas que participam da organização do trabalho mental e suscitam uma ampla gama de modificações emocionais. Este campo tem sido desenvolvido atualmente pela orientação cognitivista, como apresenta Coelho (1993 I) no campo da Psicologia e Coelho (1993 III) no campo da Antropologia.
Em psicologia, portanto, estudar o comportamento agressivo é também estudar as motivações e o processo emocional que integram a ação individual.
Outro aspecto fundamental é a questão do significado cultural de determinados comportamentos. Isto é, já que o homem possui uma natureza sócio-histórica, seus atos apenas adquirem significado em contexto específico. O mesmo se aplica com relação aos atos agressivos ou violentos.
Assim também o consideram as principais escolas de Antropologia, como discute Coelho (1993 III) apresentando uma síntese do pensamento antropológico contemporâneo.
Heller ao comentar que no plano biológico a definição de agressão intraespecífica de Tinbergen é a mais precisa, procura evidencia o quanto, no plano humano, ela não se aplica, pois, todo ato humano obedece a significados culturais.
Escreve a autora:
“(…) o significado mais evidente da agressão intraespecífica é aquele de matar indivíduos pertencentes à nossa espécie, isto é, o homicídio. Podemos considerar o homicídio como contrassinal essencial geral da agressividade? Tinbergen, por exemplo, se inclina para esta solução. Do ponto de vista biológico, trata-se indubitavelmente da definição mais sensata da agressividade. Porém, se encaramos o problema a partir do contexto social e psicológico, esta definição é ao mesmo tempo demasiadamente estreita e demasiadamente ampla. Se nos mantivermos em sua formulação, nem mesmo o sadismo entraria no conceito de agressividade, assim como não entrariam todos os atos de violência, dirigidos a seres humanos, que não possuem como consequência seu aniquilamento físico. Ao mesmo tempo, o sacrifício humano judicial seria, pelo contrário, incluído, no conceito de agressividade – e, assim deveríamos então definir como agressores tanto Abraão que vai sacrificar seu filho a Deus, quanto o juiz que emite uma sentença de morte – ainda quando se trata do presidente do Tribunal de Nüremberg (…)”. (Heller, 1978:28-29).
Isso nos remete à questão de que as situações de ataque hostil, com o significado mais amplo que fornecemos anteriormente ao discutirmos a etimologia do termo agredir, no caso humano necessitam ser analisadas em contexto, numa situação específica. Ora, há situações de ataque hostil com objetivos compreensíveis, como aquelas nos quais a vítima representa uma ameaça ao agressor ou quando se configura um desagravo etc. O sentido de cada ato necessitará ser encontrado na intersecção entre os valores socioculturais específicos e o modo como o sujeito considerado os assimilou e a eles reage, o que implicará num conhecimento de sua história individual, situada no contexto próprio.
Comenta Heller:
“(…) A agressividade, enquanto conceito geral – é indefinível, uma vez que uma “agressividade em geral” não existe (…). (Heller, 1978:28).
A questão de situar melhor a agressividade individual, isto é, de defini-la concretamente (já que se trata do objeto de nosso trabalho), pode ser um pouco mais esclarecida se apresentarmos de modo suscinto o que Jaspers considera método compreensivo. Refere ele:
“(…) o objeto da psicologia compreensiva está, por assim dizer, a meio caminho de todos os fatos objetivos, fenômenos vivenciados, mecanismos extra conscientes implicados, por um lado, e a existência livre, por outro. Poder-se-ia negar o objeto da psicologia compreensiva e afirmar que, para a investigação empírica, só há aqueles fenômenos, conteúdos, fatos expressivos, mecanismos extra conscientes, ao passo que para a filosofia, havia a existência possível.
Mas tenta-se trabalhar com esses campos separados: quase toda a visão e o pensamento psicológico desaparecerão e também, inversamente, quase será impossível falar nesses fatos e nessas bases existenciais com interferência, novamente da psicologia geneticamente compreensiva. O certo, no entanto, é que a psicologia compreensiva sempre se encontra no limite desses dois reinos, ou seja, jamais se pode falar, “puramente”, em psicologia compreensiva, visto que ela sempre relaciona com as referidas esferas, além da impossibilidade de falar nelas, quando delas se cuida, de maneira absolutamente à parte (…) (Japers, 1979:373)
E ainda:
“(…) ao passo que, nas ciências naturais só se podem encontrar conexões causais, o conhecimento vem a satisfazer-se, em psicologia, ainda na apreensão de conexões inteiramente diversas.
O psíquico “resulta” do psíquico de maneira que é para nós compreensível. Quem é atacado zanga-se e pratica atos defensivos: quem é enganado torna-se desconfiado e essa produção do evento psíquico por outro evento psíquico, nós compreendemos geneticamente. Daí compreendermos as reações vivenciais, o desenvolvimento das paixões, a formação do erro: daí compreendermos o conteúdo do sonho e do delírio, dos efeitos da sugestão; daí compreendermos uma personalidade anormal em sua conexão essencial própria, e compreendermos o curso vital de uma existência; mais ainda, a maneira porque o doente se compreende a si mesmo e porque a forma, porque ele se compreende a si mesmo vem a tornar-se fator de desenvolvimento psíquico ulterior (…) (Jaspers, 1979:363).
Deste modo, existem algumas situações de ataques hostis sujeitos a objetivos compreensíveis, como há pouco mencionamos e outros, nos quais estes objetivos nos fogem à compreensão.
Na amostra estudada, uma boa parte se inclui no último grupo e, quando podemos compreender as motivações do comportamento, não o podemos com relação à intensidade da reação. Ainda outro aspecto foge à compreensão é a reação posterior de indiferença com relação ao fato, mesmo tendo conservada a capacidade de evocá-lo. A única forma de compreender tais reações seria situá-las no âmbito das personalidades anormais. Este, no entanto, não é nosso objetivo, já que não se trata de um estudo clínico. Gostaríamos, no entanto, de considerar um aspecto discutido por Coelho (1969) em sua obra “Estrutura Social e Dinâmica Psicológica”, quando procura analisar os mecanismos de integração da personalidade. Refere ele, quanto ao processo de interiorização das normas sociais e consequente ajustamento do indivíduo à sociedade:
“(…) Alguns querem com isto [refere-se ao ajustamento] significar a transferência dos preceitos vigentes ao plano interno, onde passam, sem alteração, a regular a conduta. Ora, a socialização é um processo longo e penoso, assinalado por conflitos ao longo de toda a sua trajetória. Talvez os psicanalistas tenham exagerado ao apresentar as resistências que o indivíduo impõe às injunções do grupo, possivelmente em consequência da observação exclusiva dos casos patológicos. Mas é indubitável que o ser humano em formação não dócil e passivo, massa de metal fundente a que a sociedade imprime o seu molde (…) (Coelho, 1969:201) (Colchetes nossos).
Assim, neste capítulo de sua obra, conclui o grande antropólogo brasileiro, relativamente às manifestações do comportamento individual:
“(…) Nesta concepção, personalidade e sistema sociocultural não se constituem em compartimentos estanques. A personalidade é um continuum que se estende dos processos mais diretamente ligados às funções biológicas às condutas padronizadas da vida social. Mas é possível distinguir-se nela aspectos mais próximos ao polo individual ou ao polo coletivo (…)” (Coelho, 1969:202).
As descrições que fornecemos no capítulo 4, dos crimes cometidos pelos sujeitos que compõem a amostra, visa situar os seus comportamentos com relação ao contexto sociocultural. Como não se tratam de sujeitos que ao cometer os crimes apresentassem perturbações a nível da vigília, que evocam os crimes com facilidade, parecendo não apresentar sentimentos de culpa, remorso ou horror, a compreensão dos fatos apenas pode se dar considerando-se uma dimensão anômala (não necessariamente patológica, ainda que provavelmente sim) que codificamos como violenta.
Em geral, emoções como ira, cólera, ressentimento, inveja podem entrar em jogo em sujeitos que cometem atos violentos e, assim também nos sujeitos da amostra. No entanto, não foi nosso objetivo proceder a um exame clínico dos mesmos. O estudo clínico dos atos individuais é mais específico.
Importa no comportamento identificar condições antecedentes enquanto estímulos desencadeantes, reforçadores e extinção e o próprio comportamento enquanto significado e suas condições consequentes, de acordo como Bolles (1978). É necessário avaliar a história individual, as circunstâncias de vida e os antecedentes familiares. Nossa ambição é mais modesta, embora saibamos que seja esta a perspectiva que nortearia um estudo clínico.
Interessa-nos, uma vez codificados como indivíduos violentos, compreender lhes os aspetos cognitivos através da Prova de Rorschach, e cuja sistematização expomos no capítulo sobre metodologia.
Por fim, há que se considerar que, apesar do objetivo deste trabalho não ser aquele de analisar a agressividade em geral, existem teorias mais amplas e outras mais específicas sobre o tema.
Temos que considerá-las igualmente.
- Sistematização das Teorias Psicológicas sobre a Agressividade
Madsen (1980) nos fornece uma análise das teorias da motivação em Psicologia.
A partir desse texto, apresentaremos a discussão das principais teorias ligadas à agressividade.
O autor considera que a psicologia clássica valorizou principalmente a sensação e a percepção (processos cognitivos), pouco se preocupando com a motivação e o processo emocional. Foi a partir de Darwin que surgiram teorias utilizando o conceito de instinto, de modos diversos e que a preocupação com a questão da motivação começa a se desenvolver. Paralelamente, às teorias que se utilizam do conceito de instinto, surgem aquelas do aprendizado e as da personalidade. Assim, a psicologia motivacional tem seu início a partir de três ramos principais derivados de Darwin, cujos representantes são McDougall (teorias do “instinto”), Thorndike (teorias do aprendizado) e Freud (teorias da personalidade). Inúmeros estudos se seguem a estes pioneiros, desenvolvendo teorias específicas e assimilando influências recíprocas, como no caso das teorias sobre a emoção, e no campo do cognitivismo, destacado por Coelho (1993 I).
O primeiro ramo das “teorias do instinto”, iniciado com McDougall foi desenvolvido pelo próprio autor e deram origem às atuais teorias da moderna Etologia, passando por Konrad Lorenz e Niko Tinbergen. A principal crítica às teorias do instinto consiste na consideração, por parte dos condutistas, principalmente, do caráter pseudo-explicativo do conceito de instinto. Em suas contínuas reformulação do conceito de instinto, McDougall aproximou-se dos modernos etólogos. Mencionamos anteriormente as concepções de Lorenz relativamente ao comportamento agressivo, hostil ou agonístico. A importância, no entanto, de McDougall está no fato de ter destacado as raízes biológicas no comportamento social a partir da concepção evolucionista, e, como destaca Mendes Filho (1984) num trabalho sobre os conceitos de instinto, no fato de “(…) haver assinalado um componente importante dos sistemas psíquicos, que designou “conação”, McDougall concebeu como instinto um conjunto complexo de processos envolvendo diversos níveis da atividade psíquica, da vertente ativa até a intelectual.
Ao correlacionar [a classificação das propensões] com a atividade psí1quica McDougall estabeleceu um aspecto fundamental, qual seja, o de um estudo estritamente psicológico dos instintos (…) (Mendes Filho, 1984: 62) (Colchetes nossos).
O emprego do termo conação por McDougall antecedeu e aproxima-se do de Silveira, que desenvolveu um sistema teórico psicológico e neuropsiquiátrico em nosso meio. É este sistema que adotamos no método de Rorschach e na análise psicopatológica em nossa atividade clínica. McDougall, entretanto, concebeu a conação, ora como etapa da dinâmica psíquica, ora como disposição mental. Para Silveira, a conação é um dos componentes funcionais da motivação, que abrange, não obstante, uma relação sistêmica e dinâmica entre os planos afetivo, conativo e cognitivo.
Quanto às teorias do aprendizado, há que se considerar, além de Thorndike, a importância de Pavlov. Thorndike foi o grande pioneiro da Psicologia Experimental do aprendizado, tendo proposto várias leis, entre as quais, segundo Madsen a famosa lei do efeito. Essa lei deu origem aos conceitos de satisfação e mal-estar, reforços positivos e negativos. Nesta mesma linha estão autores como Woodworth, Tolman, Hebb, Spencer, Miller e Brown. Miller e Dollar desenvolveram uma importante teoria relativa à agressão, relacionada à frustração (1976), que exporemos oportunamente. A partir da influência de Pavlov houve o desenvolvimento de toda uma escola soviética, que culminou em autores como Vigotski, Leontiev, Luria, Sokolov, Vinogradova, e que também influenciou Hebb, que a unifica com aspectos da psicologia ocidental. Há nestes autores uma preocupação muito marcada com as relações neurofisiológicas do comportamento.
A convergência destes trabalhos e de descobertas ligadas à neurofisiologia dará origem a uma corrente que valorizará estes aspectos.
Esta é a outra vertente dos estudos biológicos relacionados à agressividade. Sem recusar a natureza social do homem, estes autores concentram sua atenção nos órgãos e nas funções cerebrais relacionadas com o comportamento e com a vida psíquica. Os achados atuais deste campo são irrecusáveis no sentido de correlacionar o comportamento agressivo manifesto à dependência funcional de determinados setores cerebrais, ainda que os modelos teóricos relativos à vida psíquica e à sua correlação com o cérebro, sejam motivos de controvérsia. Lembramos a construção neuropsicológica de Luria (1979) e com relação à agressividade, Karli (1987).
A partir de Freud surgem as teorias da personalidade, que vêm valorizar o desenvolvimento, e integram de modo mais amplo, as diferentes variáveis consideradas.
Madsen, enfatizando a teoria de Freud, omite a notável construção de von Monakow (1928), apoiada em sólidas investigações neuropsiquiátrica e com fundamentos epistemológicos consistentes, desconhecida atualmente pela maioria dos autores, talvez pelo fato de que não propiciou um modelo terapêutico específico, como a Psicanálise. Ambos os autores, von Monakow e Freud, partiram de fatos clínicos, porém suas ilações teóricas não são plenamente concordantes.
A partir da psicanálise, surgiram outros teóricos da personalidade, alguns dos quais tiveram uma contribuição notável ao estudo da agressividade humana, como é o caso de Adler, como refere Wolman (1968) e Reich (1982) (1989).
Madsen ainda discorre sobre as teorias de Kurt Lewin e aquelas derivadas da Psicologia Social (Ach) nas teorias da motivação. Cita a importância de Murray, de Hull e McClelland.
Outras tendências importantes na teoria da personalidade é aquela de Allport e Maslow, que segundo Madsen compõem a orientação filosófica humanista. Uma nova escola no estudo da personalidade é a de Catell e a de Eysenck, teóricos que fazem uso de métodos de análise fatorial à Psicologia Clínica.
Madsen comenta que em Psicologia, a questão da motivação, tomada inicialmente por McDougall com o termo conduta intencional, foi revista por Bindra que preferiu o termo conduta dirigida a um objetivo como sinônimo de conduta motivada. Considerando que em psicologia as explicações baseiam-se em termos empíricos e termos hipotéticos, observa que para se estudar uma conduta motivada pode-se partir da relação estabelecida entre estímulos e a resposta ou conduta (propriamente). Estes estímulos podem ser tanto provenientes do ambiente objetivo externo, quanto do ambiente objetivo interno. Buscando definir estes estímulos como variáveis independentes (presumivelmente considerados como causas da conduta) refere o autor que se considerar estímulos do meio interno objetivo, estes devem ser observados e serem susceptíveis de uma descrição em termos empíricos. O que o autor refere como variável dependente é a própria conduta (como resposta observada em comportamento). Utiliza o símbolo E para as variáveis independentes e o símbolo R para a dependentes. Refere ainda que muitos psicólogos preferiram supor a existência de certas variáveis mediadoras ou intervenientes entre as variáveis E e variáveis R. Considerando-se que estas variáveis não são diretamente observáveis, mas hipotéticas, denomina-as pelo símbolo H. Assim, Tolman formulou um paradigma E – H – R, que Madsen utiliza-se para proceder a uma comparação entre as várias teorias motivacionais.
É curioso observar o quanto o empirismo e o condutismo norte-americano influenciaram os psicólogos mencionados, mesmo um autor da envergadura de Madsen. Diremos adiante ao comentarmos o fato da excessiva consideração do número de instintos por parte de William James que a questão se prende ao que se entende por ‘explicar’ em Psicologia. O condutismo, somente nos últimos anos iniciou timidamente sua autocrítica buscando alguns modelos para a “caixa negra”. Sua ambição de objetividade tal qual a observada nas ciências ditas naturais, limita seu alcance. Conforme considera Coelho (1982) porque não satisfaz a exigência de uma conceitualização adequada dos fatos que pretende estudar. O comportamento humano é concreto, global e comporto e não considerar a subjetividade é perder sua complexidade em discussões de aspectos superficiais ou investigando-se aparências.
De qualquer modo, o paradigma de Tolman, apresentado por Madsen para sistematizar a comparação entre as teorias motivacionais em Psicologia, é bastante oportuno e o próprio autor admite que a maioria dos psicólogos prefere considerar as variáveis intermediárias em suas teorias, modificando, assim, o paradigma E – R em E – H – R.
Discutindo as categorias de motivação, refere que o principal problema está no número de variáveis hipoteticamente que se deve formular para explicar a conduta. Este problema toca dois extremos muitas variáveis podem levar ao risco da pseudo-explicação e poucas variáveis pode tornar difícil o estudo do fenômeno empírico.
Ainda segundo Madsen, outra questão fundamental seria a definição entre motivos primários, ou seja, biogênicos, viscerogênicos, orgânicos, instintivos ou não aprendidos e motivos secundários (psicogênicos, aprendidos ou adquiridos). Refere que os motivos primários são de número reduzido e os critérios principais utilizados pelos teóricos para defini-los são (a) fisiológico (baseado em critérios observáreis e, portanto, segundo Madsen, o que permite maior concordância), (b) o comparativo-psicológico, que busca classes universais de conduta ao menos para a espécie, criticável segundo o autor, pelo fato da maior parte da conduta humana ser aprendida e, portanto, variável de indivíduo a indivíduo, (c) o critério de sinal ou MDI (Mecanismo Desencadeador Inato de Tinbergen), segundo Madsen apresenta o mesmo inconveniente do critério anterior sabemos muito pouco sinais inatos no homem, e (d) o psicopatológico aplicado, entre outros, por McDougall também chamado critério de sobrevivência pois relaciona-se a variáveis motivacionais que o organismo tem que satisfazer para conservar a saúde e a vida.
Quando às motivações secundárias suas origens foram criadas a partir de experimentos pois não possuíam hipóteses explicativas prévias. Os experimentos de Dollard e Miller (1941) consideram o temor (ansiedade) como fundamento da motivação secundária. Brown e Farber propõem que o temor é a base de todas as motivações secundárias, mas sublinham a possibilidade da motivação de “incentivo”. Assim, conclui Madsen que “a motivação secundária parece estar baseada em – ou talvez seja idêntica ao temor condicionado e à motivação incentivada”
A questão da motivação primária ou secundária é complexa e relaciona-se necessariamente à ligação cognição-afeto, ou seja, à repercussão emocional das noções.
Essa possibilidade de evitação ou de busca de diferentes motivações que não são diretamente ligadas a aspectos primários, mas “aprendidas” refere-se à capacidade de estabelecimento de nexos cognitivos a partir de imagens mentais ou sinais linguísticos, no caso do homem, um dos campos mais recentes das investigações em ciência cognitivista.
A questão do inato e do adquirido apoiado na concepção de motivação primária e secundária é uma colocação do problema a partir de um prisma inadequado. No homem, pelo menos e, em parte também nos mamíferos superiores, há evidências razoáveis de que os aspectos “adquiridos” complementam os “inatos”, não como aspectos que se somam, mas como ingredientes necessários para a própria manifestação do “inato”. São os reflexos condicionais que no home tornam-se ainda mais complexos com a linguagem (segundo sistema de sinais na concepção pavloviana).
A questão dos critérios de motivos primários e secundários já fora criticada por Ribot, no século XIX, com relação às emoções:
“(…) A emoção ainda que atendo-se às formas primitivas nos introduz numa região superior de vida afetiva, onde as manifestações são bastante complexas. Mas essas formas primitivas- as emoções simples ou irredutíveis – como determiná-las, já que é esse nosso principal objeto?
Muitos descuidam desta determinação ou fazem-na ao azar, arbitrariamente: os antigos autores, parece que neste ponto seguiram um método de abstração e de generalização que não podia conduzi-los mais que a entidades. Esta é uma doutrina acredita entre aqueles que reduzem em último termo todas as “paixões” ao amor e ao ódio: esta posição é muito frequente. Para chegar a tal conclusão, parece que confrontaram as diversas paixões, deduziram as semelhanças, eliminaram as diferenças e, de redução em redução, abstraíram dessa multiplicidade os caracteres mais gerais (…); mas se não fornecem mais que abstrações e conceitos teóricos, uma tal determinação é ilusória e sem utilidade prática (…) (Ribot, 1945:27-28).
Madsen baseando-se na já mencionada relação entre as variáveis E-H-R, propõe quatro modelos de hipóteses da motivação:
- Hipótese homeostática
- Hipótese de incentivo
- Hipótese cognitiva
- Hipótese humanística
No modelo de hipótese homeostática as necessidades homeostáticas orgânicas conduziriam a impulsos a nível do sistema nervoso central que se traduziriam em condutas organizadas levando à redução da referida necessidade. Relaciona entre as teorias de hipótese homeostática a teoria original de Hull, em parte a teoria de Freud.
Considera que apesar de um pouco mais difícil de ser classificada, também a teoria de Kurt Lewin estaria próxima a esta hipótese. Cita ainda as teorias de Murray e de Freeman como dentro deste modelo. São modelos que trabalham principalmente com variáveis dependentes (R).
Com efeito, Freud, por exemplo, trabalha e constrói sua teoria a partir da verbalização e dos sintomas de seus pacientes e da análise sistemática dos significados por eles expressos. No entanto, constrói um modelo hipotético da atividade psíquica e, ainda que não se preocupe com mensurações empíricas, considera os estímulos orgânicos como fonte básica das motivações. Apenas não podemos considerá-las como variáveis independentes (E) em função da exigência empirista feita por Madsen, a partir do postulado de Tolman de que estes estímulos devam ser medidos objetivamente. Também Schachtel (1962) critica a característica homeostática da psicanálise.
Os modelos com hipótese de incentivo foram desenvolvidos a partir das críticas dos psicólogos mais humanistas e sociotrópicos como Allport e Maslow à hipótese homeostática.
Refere o autor que existem experimentos que demonstram que os estímulos externos podem motivar os animais tão intensamente quanto os estímulos internos. Deste modo, introduzem variáveis independentes (E). Segundo Madsen, a hipótese hedônica de Young é a teoria melhor respaldada experimentalmente pois não contraria, mas complementa a hipótese homeostática. As hipóteses de Lorenz e Tinbergen de mecanismos desencadeadores inatos também complementam a hipótese de incentivo.
Porém, no caso dos MDI, há a consideração de que estes estímulos assumem um significado inato para a espécie, e aos quais os indivíduos reagem de acordo com as funções de autoconservação e de sobrevivência da espécie. O critério evolucionista e de adaptação ao meio está presente nestas considerações. A compreensão destes significados não se restringe ao caso de indivíduos isolados, que não podem ser objeto de estudo da psicologia senão no âmbito concreto, dada sua singularidade.
A hipótese cognitiva surge com a noção de “expectativa” e tem seu início com a Gestalt, com a noção de “tendência à conclusão”. As teorias de Festinger da “dissonância cognitiva” e de Heider da teoria do equilíbrio podem ser relacionadas a este modelo. São importantes modelos relacionados à Psicologia Social e buscam explicar as motivações de conduta social.
As modernas teorias neuropsicológicas desenvolvidas por Goldstein (1961), Pribhram (1980), Luria (1979) (1974), alguns teóricos neo-piagetianos como Tabary (1991) estariam mais próximas a este modelo, integrando-o com os outros já mencionados anteriormente de modo mais ou menos amplo. De certo modo, o modelo por nós utilizado na análise do método de Rorschach estaria dentro desta tendência, que não recusa a participação dos aspectos homeostáticos de incentivo, cognitivo e mesmo o humanístico.
Por fim, a hipótese humanística da motivação parte de uma revisão dos conceitos filosóficos que concebem o homem como um ser totalmente diverso dos outros animais. É representada por Maslow e Allport principalmente. Ainda segundo o autor, Maslow considera que Freud formulou sua hipótese homeostática partindo da análise de indivíduos neuróticos. Afirma, no entanto, que há de se considerar na motivação uma espécie de “metamotivação” ou motivação ao crescimento, que inclui as necessidades de autorrealização, de trabalho criativo, de ações altruístas. Segundo Madsen, estes modelos utilizam, portanto, as variáveis intermediárias (H).
Madsen parte para analisar as hipóteses da motivação, dos modelos mais biológicos (homeostáticos) aos mais humanísticos (mais influenciados pelas ciências humanas). Ele próprio acredita que a solução do problema das teorias da motivação estará na integração mais sistemática destas diversas hipóteses. É por esta razão e por fornecer uma sistematização suficientemente ampla e concisa das teorias da motivação que o escolhemos para nortear nossas discussões a respeito das motivações do comportamento agressivo.
Apenas para finalizar este tópico relativo às concepções de Madsen a respeito das teorias da motivação, apresentaremos um modelo que propõe para a “caixa negra” baseado nos axiomas de Cofer e Appley:
D1 | D2 | ||||||||||||
Processos Cognitivos | |||||||||||||
Estímulos | Reações | ||||||||||||
Processos Dinâmicos | |||||||||||||
D3 | D4 | ||||||||||||
Impulsos procedentes das vísceras | |||||||||||||
“O diagrama ilustra que a reação (ou resposta) está determinada por processos cognitivos e dinâmicos de interação. Ditos processos estão determinados por estímulos externos e impulsos internos das vísceras; os processos também estão influenciados pelas disposições que causam diferenças individuais.D- DisposiçõesD1 e D2 são disposições intelectuais adquiridas e constitucionais (fatores de inteligência etc.D3 e D4 são disposições dinâmicas constitucionais e adquiridas (fatores de personalidade)Reproduzido de Madsen, K. B. “Teorías de la motivación” In Wolman B. B. Manual de Psicología General. Barcelona, Martínez Roca, 1980 4 vol. Vol. 4 pág 73. |
Passaremos a seguir, baseado na sistematização proposta por Madsen, a discutir como algumas das teorias (consideradas mais globais ou principais para o tema em questão) consideram o problema do comportamento agressivo.
- A Motivação Agressiva Segundo Diferentes Teorias
- A agressividade de acordo com os estudos do comportamento instintivo (Etologia)
Neste tópico discutiremos fundamentalmente as hipóteses etológicas da agressividade.
Lorenz (1973) considera o comportamento hostil muito mais ligado à competitividade entre indivíduos aparentados do que aquela entre indivíduos de espécies diferentes. Tinbergen (1979) se inclina para considerar agressão como agressão intraespecífica, que é a definição preferida também por Scott.
Os etólogos se preocupam com o problema do inato e do adquirido e Mendes Filho (1984) observa que concentram seus estudos no ato instintivo enquanto esquema inato de conduta.
Conforme refere Leyhausen (1979):
“(…) Um instinto consiste numa pauta de movimento (ou numa sequência deles) que à semelhança de uma melodia, é transponível em todas as direções possíveis, mas permanece sempre reconhecível como tal sequência motora, o movimento instintivo é, como a melodia, uma Gestalt ou configuração temporal autêntica. A disposição a executá-la depende em primeira linha de estímulos, situações ou objetos exteriores, mas obedece a um sistema endógeno, amplamente independente dos estímulos externos. Igualmente estas disposições não se reduz por alcançar uma meta ou objeto exterior, mas pela ecforia ou desenvolvimento desta pauta motora que lhe está subordinada, ainda ali onde “estímulos consumatórios” possam desconectar e suspender a pauta motora (…) (pag. 273-274).
Além desta consideração relativa à fixidez da pauta motora instintiva, considera a questão do inato.
“(…) os instintos são inatos, quer dizer, a espécie os adquiriu ao longo de sua evolução, através do interjogo permanente de mutação e seleção, se desenvolvem no indivíduo de acordo com um programa fixado em seu código genético, que na história individual ou não pode se modificar absolutamente ou o faz somente adaptativamente dentro de limites bastante estreitos. O número e a espécie dos instintos estão pré-determinados no animal, do mesmo modo como estão o número e o tipo de ossos do crâneo (…) (pág. 276-277).
Lorenz supõe, para explicar a alternância instinto-adestramento nos animais, que nas cadeias dos atos instintivos haja lacunas que seriam, então, completadas pela “faculdade superior” da inteligência. Tenderá a generalizar esta explicação também ao homem.
Assim, buscarão os etólogos isolar na série complexa do comportamento o ato instintivo puro. Considere também Lorenz, na organização do ato instintivo, mecanismos na recepção dos estímulos que podem ser desencadeadores dos atos.
Deste modo, na noção de instinto para a Etologia, há a consideração de toda uma cadeia de fenômenos que ligaria desde os processos de recepção, até a resposta específica relativa ao nível funcional considerado.
Cabe aqui questionar a validade de se considerar os atos instintivos puros pois parece-nos haver uma superestima do aspecto endógeno, principalmente quando aplicamos este conceito ao caso humano. No ser humano, mesmo funções mais arraigadas no plano genético como é o caso, por exemplo, do reflexo de sucção ou do choro (que são mais propriamente automatismos) se desenvolvem tendo em vista a relação com o ambiente, ainda que inicialmente apenas como desencadeante. A relação posterior dos automatismos entre si e o ambiente no processo do desenvolvimento, levará à formação de complexas estruturas cognitivas, sem propriamente ocorrer descontinuidades ou lacunas, como bem o comprovou, por exemplo, Piaget.
Este conceito que considera lacunas instintivas nas quais a inteligência se interpõe, no caso humano, é um equívoco metodológico. Mesmo no animal há certa recepção e elaboração dos estímulos e poderíamos, assim, falar de uma cognição animal. Também no caso humano, não há lacunas, mas a diferença reside no desenvolvimento complexo da cognição humana. No animal a recepção e elaboração dos estímulos é mais rígida e com menores alternativas de respostas.
Heller (1978) refere que Lorenz classifica a vida instintiva em quatro instintos básicos: fome, sexualidade, agressão e medo. Cremos que a crítica de Heller com relação a esta concepção é procedente pois se denominamos como instintos, estas noções perdem seu valor pois trata-se de emoções e motivações complexas que no homem se desenvolvem na relação com o ambiente cultural. Scott (1980) ao fazer uma revisão dos fatores ligados à agressão e à hostilidade comenta que o comportamento hostil seria um conjunto de condutas e atividades que compreendem a luta social e o sistema geral de condutas agonísticas analisando que esta pode ser englobada em quatro ou cinco categorias gerais. Exemplifica o fato com os comportamentos de ataque e fuga, as posições de defesa, dos rituais de ataque abortado, que ocorrem em camundongos. Referindo que a luta social é relativamente nova na história evolutiva, considera que os comportamentos de fuga e paralisações defensivas seriam seus fatores precursores mais diretos. Como Lorenz, refere que as hipóteses de que a luta social tivesse evoluído do comportamento predatório é insustentável.
Ainda que seja inegável a diferença da agressividade entre indivíduos da mesma espécie e aquela ligada ao comportamento predatório, verificamos que há no autor uma preocupação com o que seria a origem do comportamento agressivo, questão talvez nunca resolvida.
Fazendo uma síntese da comparação destas condutas na filogênese, Scott refere os fatores adaptativos a ela relacionados, facilitação da reprodução e regulação da distribuição do espaço, no caso dos peixes, manutenção da separação dos membros da mesma espécie, permitindo assim a disposição de abastecimento de alimentos, nos répteis, defesa de territórios de alimentação, na competição por parceiros no acasalamento, no caso das aves. No caso dos mamíferos, o autor relaciona as funções de manter os animais em dispersão, delimitação territorial, ordem de dominância, luta e exibição à fêmea, e outros apenas para relacioná-los. Em todos estes comportamentos a luta é bastante ritualizada.
Nos primatas superiores ocorre uma hierarquia social (mais propriamente gregária) de dominação e submissão e as lutas são ainda mais ritualizadas. Afirma Scott que quanto mais próximo o grau de contato e coesão social, maior é o grau de ritualização da conduta agonística.
Sinteticamente, talvez pudéssemos afirmar que a agressividade intraespecífica ocorre tendo em vista a nutrição (competição pelo alimento), a competição na escolha do parceiro sexual (escolha da fêmea, disputa dos machos), na defesa territorial (uma extensão do conceito de ninho) e de cuidado com a prole, e como comportamento ligado à hierarquia e de controle da vida gregária.
Recordamos aqui Tinbergen (1979) que considera a agressividade ou combatividade como fazendo parte da pauta de certos instintos, como sub-instinto.
Tinbergen (1979) considera na sequência da atividade instintiva o comportamento apetitivo e o consumatório.
Leyhausen (1979) que procurou aplicar ao estudo do comportamento humano os princípios da etologia, de modo mais sistemático, antes de apresentar sua hipótese do antagonismo angústia-agressão, que considera o fundamento de toda ordem hierárquica social, ainda que não o único, procura discutir a relação entre mecanismos desencadeadores inatos e comportamento instintivo, desenvolvendo hipóteses de Tinbergen, o principal sistematizador da etologia.
Ao discutir a agressão relacionando com outro sistema instintivo, procura analisar o que denomina antagonismo angústia-agressão.
Considerando a angústia como um nível instintivo, relacionado a situações que foram selecionadas na evolução como eficientes para a preservação individual frente a riscos à vida, relaciona a agressão como desencadeada quando haja impossibilidade de que cumpra o comportamento consumatório ligado à angústia. Isto é, na impossibilidade de que um animal, se encontrando numa situação que configura risco, possa fugir.
O impedimento de cumprir a pauta instintiva seria o principal elemento no desencadeamento da agressão. Isto evoca a noção de Silveira desenvolvida a partir de Comte, de que a destrutividade, como disposição, é desencadeada diante de obstáculos à consecução de outros planos funcionais da personalidade, em sua relação com o meio. Isto é, a destrutividade não seria intrínseca, mas serviria a outros níveis funcionais.
Sua única finalidade em si seria a canalização da iniciativa, porém, como sempre haverá um determinado grau de frustração na satisfação das necessidades, sempre haverá um certo grau de agressividade (Coelho, 1980)
Discutiremos isto adiante, porém, cremos ser importante também lembrar as concepções de Dollard e Miller (1976) relacionando a agressão à frustração. Há pontos em comum entre as diversas teorias ainda que como valorizam aspectos diferentes do problema ou formulem hipóteses explicativas baseadas em princípios diversos, seja difícil estabelecer uma correlação mais estreita entre elas.
A principal questão que preocupa os etólogos com relação à agressão é saber por que o homem possui uma disposição tão acentuada para a mesma.
Lorenz (1973) sugere que contrariamente do que ocorre em outros animais, o fato do desenvolvimento cultural através da linguagem, ter propiciado um rápido desenvolvimento tecnológico ao homem, isto ocasionou uma defasagem entre o potencial agressivo (das armas, por exemplo) e os mecanismos inibitórios da agressão, que se desenvolveu lenta e insuficientemente. Em outras palavras, o processo de ritualização das lutas que ocorre em outras espécies e também no homem, não é mais suficiente para inibir o comportamento agressivo pois com a tecnologia, ocorre um distanciamento físico entre os contendores: é mais fácil puxar o gatilho de uma arma do que esmigalhar as vísceras de um oponente com as próprias mãos e vendo as reações da vítima.
Segundo Megargee e Hokanson (1976) houve muitas críticas a esta posição de Lorenz desde o questionamento de que a agressividade intraespecífica no homem fosse realmente tão singular até aqueles que criticam os etólogos por não considerarem as diferenças individuais.
De fato, a questão das guerras, da qual não nos ocuparemos aqui, tange a aspectos sócio-históricos humanos e se configura numa situação especial.
Quanto ao fato dos etólogos não se preocuparem muito com diferenças individuais, isto ocorre porque eles se propõem a estudar o homem enquanto espécie. Do ponto de vista da Biologia, não preocupação predominante com o plano individual, mas visa-se conhecer leis gerais ligadas à espécie e ao organismo. Evidentemente pode-se aplicar estes conhecimentos ao individual, mas passamos aí ao campo da clínica. Mesmo assim, alguns etólogos buscaram formular hipóteses, ainda que talvez não suficientemente esclarecedoras para a variações individuais. É o caso de Leyhausen quando comenta que no processo evolutivo, alguns instintos modificam-se, uns “atrofiando-se”, outros “hipertrofiando-se” e que nas situações normais ocorreria um certo equilíbrio entre os diversos níveis instintivos. Situações nas quais evidencia-se um predomínio de um só impulso estão mais próximas da Patologia.
Também Scott, cremos que pensando na agressão do tipo individual, frisa que os casos de luta aberta entre seres humanos são raros.
“(…) são relativamente poucos os indivíduos que se tornam extremamente irritáveis periodicamente ou que mostram manifestações intempestivas de temperamento que não se associam a causas externas e para as quais o indivíduo não tem explicação.
Na maior parte destes casos se pode inferir condições patológicas do sistema nervosos resultantes de alguma lesão ou disfunção, tal como o indicam eletroencefalogramas anormais” (Scott, 1980, pág. 110-111).
Pensamos que duas críticas fundamentais possam ser feitas à Etologia. Em primeiro lugar, a discussão situa-se na caracterização do que é ambiente natural humano. Evidentemente que os etologistas consideram a natureza gregária do ser humano, porém, não dentro de sua dimensão própria. O ser humano é o único a possuir História, e, portanto, o Ethos humano é histórico-cultural. A segunda crítica decorre somente em parte da primeira. A divisão metodológica procedida pelos teóricos da etologia no estudo do comportamento, considera grupamentos de pautas de conduta que servem a determinadas necessidades da espécie, e, por isso, a consideração dos fatores ligados à recepção dos estímulos (estudos do MDI), o comportamento apetitivo e o consumatório (ato instintivo propriamente dito), num conjunto, diríamos, um pouco rígido, pois ao aprendizado, sobram apenas lacunas a serem preenchidas. Se a divisão metológica fosse de outra ordem, talvez se tornasse mais clara a compreensão do aprendizado.
Não há lacunas, mas uma complementação das necessidades, que só encontram formas de organização a partir dos estímulos ambientais. A maior ou menor variabilidade no comportamento apetitivo ou os meios utilizados pela espécie para atingir a satisfação da instigação dependerá da maior amplitude adaptativa da cognição, ou mesmo sensibilidade social de cada espécie. No caso do homem, esta capacidade é mais complexa pois com o advento da linguagem (ou segundo sistema de sinais na acepção pavloviana), o ser humano pode ter uma representação da realidade não apenas imediata, mas histórico-cultural e pode transmiti-la aos outros seres humanos através da linguagem.
A cultura e a linguagem evoluem, constituindo-se num patrimônio cada vez mais amplo e complexo.
Os etologistas, no entanto, trazem uma dimensão inegável da natureza humana, suas raízes biológicas e a necessidade de compreender qualquer comportamento levando em consideração sua relação no processo de adaptação da espécie ao ambiente específico.
Com relação à agressividade individual, principalmente em casos tão raros como aqueles que estudamos, cremos ser necessário recorrer a outros teóricos, que se dedicaram à análise dos desvios do comportamento, dada à raridade destas ocorrências, muito pouco adaptativas em termos de espécie. Antes disto, porém, passaremos as considerações de alguns teóricos do comportamentalismo norte-americano, derivados das “teorias do aprendizado”, segundo a classificação de Madsen.
- A agressividade segundo a Reflexologia e alguns teóricos do comportamentalismo norte-americano
Iniciaremos este tópico apresentando alguns aspectos do modo como a Reflexologia e os teóricos do comportamentalismo analisam a questão da agressividade. Por tratar-se de uma vasta literatura, decidimos concentrar nossa atenção na hipótese do grupo de Yale, representado principalmente por Dollard e Miller, considerada por Megergee e Hakanson (1976) como a hipótese comportamentalista sobre a agressão que mais estimulou pesquisas.
Pavlov considerava a agressão como uma reação incondicionada do organismo contra qualquer injúria e, nos animais, verificou que alguns cães mostravam maior agressividade e hostilidade que outros (Pavlov, 1969). Como destaca Wolman (1968), para Pavlov, a agressividade dos animais podia aumentar mediante três formas de condicionamento, encerrando-os em isolamento, amarrando-os ou através de características do experimentador (quanto mais rígido e autoritário, mais agressivos ficavam os cães com outras pessoas).
Pavlov distinguia reações defensivas passivas de atos defensivos ativos. Em linhas gerais, a Reflexologia leva em consideração a disposição inata agressiva. Desenvolvidos pela Psicologia Soviética posterior, as ideias de Pavlov foram modificadas pois desde a influência do materialismo histórico e dialético, passou a entender a diferença fundamental entre o comportamento humano e animal como o desenvolvimento do trabalho e da linguagem (Wolman, 1968).
Já para o condutismo inicial, especialmente Watson, as emoções inatas eram ira, medo e amor, hereditárias e, especialmente com relação à ira, encontrava os fundamentos empíricos desta afirmação no fato de que a criança, ao ser contida de modo vigoroso, apresenta movimentos compatíveis com a ira. Entretanto, para Watson, as pautas de conduta, ainda que consistentes, não eram imutáveis. Poderiam ser condicionadas, extintas, reforçadas e, de qualquer forma, no estudo da personalidade, devem ser levados em conta os reflexos incondicionais, os condicionados e o ambiente físico e social (Wolman, 1968).
Os condutistas posteriores e neocondutistas procuraram aperfeiçoar e desenvolver as proposições de Watson. Especialmente Skinner, tentando evitar qualquer termo que fizesse referência a estados subjetivos ou conceitos mentalistas, vê na motivação e nas emoções “predisposições a atuar de determinadas formas” (Wolman, 1968, pág. 162).
Segundo sua teoria do reforço, as respostas emocionais são reforçadas em função de suas consequências ou mecanismos retroativos. Por exemplo: dano infligido ao inimigo reforçaria a ira. Para Skinner, portanto, motivos e emoções se sobrepõem. Os reforços podem ser positivos ou negativos. O castigo, por sua vez, pode ser a aplicação de um estímulo negativo ou a supressão de um estímulo positivo. Para ele, os efeitos secundários indesejáveis do castigo são a redução da eficácia do organismo castigado e a geração de ira e medo.
Para Tolman, que segue neste aspecto McDougall, há apetites e aversões humanas. Existem duas aversões, segundo Tolman, o medo (evitação de danos) e a belicosidade (evitação de interferências).
Tolman é mais moderado na consideração da controvérsia entre herança e ambiente ou instinto e aprendizado (Wolman, 1968). Teve influência sobre autores como Dollard e Miller que passamos a discutir.
Segundo a hipótese de Dollard e Miller, a agressão seria sempre consequência da frustração, ainda que não seja sempre evidente o comportamento agressivo após a frustração, em razão do controle das reações agressivas diretas realizado pelas normas sociais interiorizadas. Entretanto, não haveria uma completa anulação da resposta agressiva, que permaneceria latente ou se desviaria.
A articulação de conceitos feita nesta hipótese é bastante precisa. Partem os autores dos conceitos de instigador, resposta de objetivo, efeito reforçador, frustração, interferência, resposta substitua e ação agressiva que procuraremos expor.
Considerando-se na análise da teoria da motivação o esquema de Tolman (E-H-R), apresentado por Madsen, verificamos que o conceito de instigador é um desenvolvimento da variável E. Não se trata de um estímulo simples, mas de condições antecedentes (observadas ou inferidas) que como referem Dollard e Miller (1939) levariam a uma resposta que reduziria o grau da força de instigação. Seria a resposta de objetivo, que estaria correlacionada à variável R, do esquema de Tolman.
O instigador permitiria predizer a resposta quando a condição é um estímulo, imagem verbalmente descrita, ideias, motivo ou estado de privação.
Os instigadores podem ser vários e simultâneos, ocorrendo uma resultante relativa à quantidade total de instigação para a resposta, que os autores denominam força de instigação. A resposta de objetivo reduziria esta força de instigação. O efeito reforçador deve-se a que estas respostas induzem o aprendizado dos atos que os precedem, na redução da força de instigação.
Evidentemente, como comportamentalistas, os autores não se preocupam com uma sistematização dos níveis de motivação, já que a ênfase se dá ao nível do aprendizado.
Ainda que, no caso humano os tipos de motivação sejam culturais, podemos entrever como o demonstrou a Etologia, modalidades prevalentes de necessidades da espécie, depreendias na relação entre o ser vivo e o meio ambiente, tais como autoconservação e nutrição, sexualidade, cuidado com a prole, relações hierárquicas de dominação e submissão. O homem não foge a essa dimensão de motivações, ainda que os significados de suas ações sejam muito diversificados.
O efeito reforçador dos atos estaria na dependência da satisfação destas necessidades. No caso humano, ocorre também significados subjetivos.
Para explicar a motivação agressiva, referem Dollard e Miller (1939) que poderão ocorrer interferências na sequência de respostas de objetivo relativas a certos instigadores. Tal ocorrência levará à frustração, sendo esta por si, o instigador da resposta agressiva. Como conclusão, portanto, para que haja a frustração são necessários dois fatores: (a) a expectativa da possibilidade de realização de determinados atos, (b) o impedimento da realização destes atos.
Este aspecto assemelha-se à consideração, já mencionada, de Silveira, acerca da destrutividade, que como disposição, é desencadeada por obstáculos que se interpõem à consecução de objetivos ou propósitos relacionados com outros níveis de motivação.
Os autores do grupo de Yale, no entanto, por sua orientação empírico-condutista, não se preocupam propriamente com a função biológica subjacente a este comportamento, mas buscam apenas explicar a sua organização.
A contribuição da Etologia faz-se necessária para a melhor compreensão deste aspecto. Para definir-se as funções do comportamento, não é suficiente analisar a conduta individual, pois somente no estudo da relação entre o organismo e o meio, em sentido filogenético, é que se pode compreender o papel da agressão no âmbito do comportamento. A espécie deve ser a referência, e não apenas o indivíduo.
O grupo de Yale, no entanto, estuda de modo sistemático e rico a questão dos fatores relacionados ao comportamento agressivo individual.
Funcionando a frustração como instigador da agressão, os autores analisam os fatores envolvidos na resposta agressiva.
Acrescentam que muitas vezes a realização do ato agressivo é frustrada por duas situações possíveis: (a) o objetivo é inalcançável, (b) há previsão de castigo relacionado ao objetivo.
Nestas situações poderão ocorrer respostas substitutas. Isto, segundo os autores é válido para qualquer instigador, e não apenas com relação à agressividade. A resposta substituta, relacionada ao aprendizado, compartilha com a resposta de objetivo, a propriedade de reduzir a força de instigação.
Pode ser mais ou menos eficiente quanto a isto e, portanto, servir como agente reforçador ou de encerramento.
O seguinte esquema simplifica as conclusões dos autores:
Instigador(qualquer necessidade ou motivação que impele o organismo a uma ação) | frustração | Resposta de Objetivo(conjunto sequencial de ações que levará à redução da tensão ou força de instigação | |||
Instigação agressiva | |||||
efeito de castigo | |||||
ação agressiva direta | |||||
Resposta Substituta(conjunto sequencial de ações que será mais ou menos eficiente na redução da tensão ou força de instigação inicial |
Segundo referem os autores, a agressão seria respostas primária e característica à frustração.
Ora, segundo pensamos, esta proposição é um pressuposto equivocado, com base na distinção entre motivos primários e secundários. Para Silveira, a destrutividade somente pode manifestar-se explicitamente quando há amadurecimento suficiente do controle muscular e do aparelho locomotor. Antes disso é evidente que a frustração somente manifesta-se pelo choro ou por reações de recolhimento apático, em circunstâncias especiais, nas quais a criança não é atendida em suas necessidades.
A destrutividade, dirigida para o meio exterior, pressupõe também o desenvolvimento do sistema perceptual, que permite a distinção dos objetos exteriores. Somente com isto, a criança poderá reagir à frustração com atos dirigidos, destrutivos ou propriamente agressivos. Portanto a destrutividade manifesta no comportamento explícito, não será primária, estado na dependência da qualidade da intensidade das frustrações, e que não se resume no fator objetivo de instigação. É claro que, além das manifestações especificamente hostis, a destrutividade é componente importante de toda a dinâmica psíquica, pois como ressalta Coelho (1980), ao expor a teoria de Silveira, a iniciativa dos atos e do trabalho mental (pensamento ativo) é tributária dos impulsos destrutivos, não sendo estes últimos responsáveis exclusivamente pelo comportamento agressivo.
Este ponto de vista é reconhecido também por Storr (1970) e por Schachtel (1962).
Segundo Dollard e Miller muitas formas de agressão podem ser reconhecidas indiretamente. Os atos de violência física são mais evidentes, mas há fantasias de vingança, ataques calculados, calúnias e difamações, entre outros.
A proposição dos autores é válida como artifício operacional, porém, refere-se a comportamentos explícitos. Segundo pensamos, é necessário ter em mente as situações em que este impulso está integrado com os outros níveis de motivação. Esta é a mesma objeção de Veness (1963) e de De Monchaux (1963).
Quanto aos fatores estudados, a força de instigação depende do grau de interesse ou motivação da intenção inicial, da interferência na resposta frustrada e da sequência de frustrações. Este último aspecto é complexo, pois entende com a generalização a resposta emocional e sua persistência. Na orientação que seguimos, a persistência está relacionada à conação, fator intrínseco de manutenção e seletividade de propósitos.
Também em nível subjetivo todos estes fatores se relacionam com a repercussão afetivo-emocional.
Os autores consideram ainda a inibição de atos agressivos como efeitos do castigo. Este princípio deriva da lei do efeito de Thorndike. Sob a rubrica de castigo, incluem a agressão a um objeto amado e a previsão de fracasso.
A evitação do ato agressivo, em função do apreço ao objeto, traz a consideração do “outro”. Os próprios autores relacionam este aspecto com a modificações na forma de agressão que se torna indireta ou atenuada. São modalidades de integração do impulso destrutivo e sua importância diferencial decorre da variedade de dinâmicas de equilíbrio entre as funções afetivas da personalidade.
Denominam ainda os autores aos desvios da agressão para outros objetos, quando socialmente aprovadas, de sublimações. Nestas situações o impulso destrutivo é canalizado e integrado.
Procuramos fazer uma representação esquemática dos diferentes processos envolvidos na hipótese frustração-agressão, do grupo de Yale, que reproduzimos na próxima página.
Acreditamos que a introdução de variáveis hipotéticas (intervenientes) (H) entre as independentes (E) e dependentes (R), segundo o paradigma de Tolman, como fazemos na orientação que adotamos torna a compreensão da hipótese de Dollard e Miller mais ampla.
RESPOSTA SUBSTITUTA | ||||||||||||||||||
R | ||||||||||||||||||
CONSEQUÊNCIA: REDUÇÃO, MESMOQUE TEMPORÁRIA DA MOTIVAÇÃO | (que também é efetiva) | |||||||||||||||||
CONSEQUÊNCIA: REDUÇÃO DA MOTIVAÇÃO | RESPOSTA DE OBJETIVO | |||||||||||||||||
R | ||||||||||||||||||
(Sequência de ações que
levam a noção de satisfação
das necessidades)
INSTIGADOR I | MOTIVAÇÃO PARA A AÇÃO | PODE HAVER OU NÃO RESÍDUOS DE FRUSTRAÇÃO. QUANDO OCORRER, PODERÃO SURGIR: | ||||||
E | ||||||||
(necessidades que
motivam o organismo
a uma determinada
ação)
CONSEQUÊNCIA DA FRUSTRAÇÃO | FRUSTRAÇÃO: interposição de obstáculos à realização dos atos | AÇÕES AGRESSIVAS INDIRETAS | |||||||
R | |||||||||
INSTIGADOR II | MOTIVAÇÃO PARA A AGRESSÃO | AÇÃO AGRESSIVA DIRETA | ||||||||||
E | R | |||||||||||
(Agressão)
PREDOMÍNIO DASFORÇAS DE INSTIGAÇÃO |
FRUSTRAÇÃO: DEVIDO A FATORES DE INIBIÇÃO: EFEITOS DE CASTIGO (INCLUINDO MAUS TRATOS A OBJETO AMADO E PREVISÃO DE FRACASSO | CONFLITO ENTRE INSTIGAÇÃO E INIBIÇÃO | PREDOMÍNIO DAS FORÇÃS DE INIBIÇÃO | ||||||||
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CONSEQUÈNCIAPelo efeito “catártico, haverá redução (mesmo que momentânea) da motivação agressiva mas não da motivação original |
AÇÕES AGRESSIVAS INDIRETAS | MAIOR FRUSTRAÇÃO DO INSTIGADOR II | ||||||||
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(por difusão ou deslocamento)
Há alguns pontos controversos nesta hipótese do grupo de Yale. Segundo Megargee e Hokanson (1976), a frustração não pode ser considerada a única causa da instigação agressiva. Talvez devesse se incluir o ataque como uma das variáveis também relacionadas à agressão. Tratar-se-ia da questão do ímpeto para o ataque como possuindo força própria, o desejo de atacar.
Há situações, nas quais o significado de defesa ou afastamento de obstáculos é muito subjetivo.
Outra orientação ligada ao comportamentalismo busca situar a questão da agressividade sob outro prisma. Trata-se das concepções de Bandura (1973), denominada Teoria da aprendizagem social.
Este autor pesquisou o aprendizado da agressividade instrumental, ou seja, a utilização que os indivíduos podem fazer do comportamento agressivo para conseguir algo que desejam ou com o objetivo de serem aprovados. Questiona também que o castigo possa sempre levar a inibições das manifestações agressivas e que o fenômeno da catarse, considerado pelo grupo de Yale como forma de diminuição da instigação agressiva, possa efetivamente fazê-lo. Contrariamente, pensou ser possível que as cenas ou atos agressivos possam incrementar ainda mais a agressividade. Refere Bandura que os fatores ligados ao aprendizado da instigação agressiva foram pouco estudados pelo grupo de Yale, que concentrou sua atenção mais nos fatores de inibição.
Consideram os autores que apoiam este ponto de vista, que se uma criança é estimulada por adultos significativos a comportar-se agressivamente, na verdade, ocorrerá um reforço diferencial para este comportamento e em situações de frustração, estas respostas de maior magnitude poderiam vir a ser utilizadas. As consequências destas considerações são múltiplas pois se relacionam com a possibilidade de generalização dos comportamentos agressivos a partir destas estimulações iniciais, caso não ocorra um adequado reforçamento diferencial. Suas conclusões são ainda mais opostas àquelas da Etologia.
Para justificar seu ponto de vista Bandura e Walters citam exemplos de culturas nas quais o comportamento agressivo é estimulado, como é o caso do grupo Iatmul, de caçadores de cabeças.
Nessa cultura, o ato de escalpelar os inimigos é estimulado e reforçado pelo prestígio do troféu e pelas danças de celebração.
Ainda que inquestionável o reforço do comportamento agressivo no grupo citado, há que se considerar a questão dentro do prisma adequado de enfoque. O aspecto reforçador do comportamento agressivo no caso citado, com características específicas e definidas, é a autoafirmação e a forma como se organizam naquela cultura estes níveis da personalidade. De qualquer forma, é preciso cuidado ao avaliar como comportamentos agressivos, sob a nossa óptica, manifestações de outras culturas, pois nelas o contexto e o significado poderão ser diversos.
Entretanto, é verdade que a cultura ocidental não é homogênea e as variações nestes padrões de reforço podem ser variados de acordo com a organização de grupos e subgrupos culturais.
Por outro lado, esta questão toca problemas muito complexos ligados à Psicologia Social, como por exemplo, a análise dos meios de comunicação de massa na estimulação do comportamento agressivo. Obras recente têm analisado a questão, como, por exemplo, o livro de Twitchell (1989). Não é, no entanto, nosso objetivo analisar a questão da agressividade sob esta óptica, neste trabalho.
Considerando-se que a destrutividade enquanto nível funcional da personalidade serve para imprimir assertividade à consecução de intenções e para remover obstáculos que se interponham a estas, é claro que o fenômeno do aprendizado assume relevância, pois, no caso do home, meios e fins são necessariamente dependentes de condições específicas, instrumentais ou de significado.
- A agressividade sob o prisma da Psicanálise e de Teorias dela derivadas
A dificuldade em discutir conceitos psicanalíticos liga-se a dois fatores principais: (a) o próprio Freud foi modificando seus conceitos e a doutrina teórica, (b) houve e ainda há discordâncias mesmo dentro do corpo estrito da Psicanálise, além das dissidências.
Freud desenvolveu sua teoria a partir da utilização do método clínico, da interpretação de biografias, de obras de arte e da História. Inicialmente parte de estudos de casos para, em seguida, analisar fenômenos como os lapsos, os sonhos e outras manifestações que serviram de fundamento para o conceito de inconsciente.
Sua teoria dos instintos, mais propriamente “pulsões” (Trieb) é bastante complexa e passou por várias reformulações nas distintas fases, a partir de suas próprias investigações clínicas e conclusões conceituais (Edgcumbe, 1981). No entanto, ele nunca deixou de considerar o conceito de instinto como uma ficção teórica (Wolman, 1968).
Em sua primeira fase, Freud postula a divisão entre instintos de autopreservação e instintos sexuais, ocupando-se principalmente dos últimos.
Em sua análise dos instintos considera sempre a fonte ou origem, a meta ou alvo e o objeto dos mesmos. Todo instinto possui uma força própria (caráter energético).
Considera, ainda, que a estimulação instintiva conduziria o organismo a um estado de desconforto e desiquilíbrio que buscaria corrigir, restaurando o estado anterior de equilíbrio. Trata-se do princípio econômico ou homeostático, já discutido na introdução deste trabalho. Em sua última fase, levará ao extremo este princípio, concebendo o instinto de morte como tendo a função de fazer retornar o ser vivo ao estado inanimado.
Na segunda fase, a partir dos estudos clínicos constata que o objeto do instinto sexual pode ser o próprio Ego ou ser externo a ele. Na primeira infância, entretanto, é o próprio organismo. Denomina esta fase de narcisismo primário e, então, reformula sua teoria dos instintos, reunindo o instinto sexual ao de autopreservação, denominando-os Eros.
Na terceira fase, distingue também no Ego. Além da libido, um componente não libidinal que denomina “interesse”, ligado à necessidade de domínio sobre o mundo externo. A agressão estaria, então, ligada a estas pulsões não libidinais do Ego.
Na última fase, faz a distinção entre Eros (Libido e autopreservação) e Thanatos (agressão e instinto de morte).
Portanto, a consideração da pulsão agressiva depende da fase considerada, já que não são propriamente contraditórias as fases, mas acrescentam aspectos inferidos da observação clínica analítica. Somente a última fase, justamente a mais controvertida permaneceu como dado irrecusável para a orientação psicanalítica, ainda que em sua aplicação, no método, sirva operacionalmente para a compreensão das manifestações autodestrutivas e de fragmentação da vida psíquica, já que é uma postulação não refutável.
Em casos analisados, Freud tendeu a atribuir a fragmentação observada na vida psíquica dos psicóticos à ação interna do instinto de morte. Ação esta silenciosa, mas que se traduziria pela fragmentação e cisões das representações mentais.
Refere Freud sobre o instinto destrutivo: “(…) enquanto esse instinto opera internamente, como instinto de morte, permanece silencioso; só nos chama a atenção quando é desviado para fora, como instinto de destruição. Parece ser essencial à preservação do indivíduo que esse desvio ocorra e o aparelho muscular serve a este intuito (…) (Freud, 1969, pág. 175).
Na teoria de Freud, os conflitos afetivo-emocionais decorrem da organização das pulsões em função da influência das três polaridades que dominam a vida mental, ou seja, no plano biológico a oposição entre atividade e passividade; no plano energético, a polaridade econômica entre prazer e desprazer e; a nível da relação com o mundo, a oposição da realidade aos desejos do Ego.
Na última concepção, Freud vê como finalidade de Eros o estabelecimento de unidades sempre maiores, enquanto Thanatos, a desconexão e a destruição dos seres.
Como referiu, portanto, a meta final de Thanatos seria reduzir os seres vivos ao estado inanimado.
Uma ideia fundamental de Freud é de que quando a agressividade dirigida ao mundo exterior é obstaculizada e não pode ser satisfeita, em certas circunstâncias torna-se interior. Portanto, considerava casos extremos em que os impulsos destrutivos predominavam nas manifestações instintivas: o sadismo e o masoquismo. Quando o indivíduo está dominado por Thanatos e as forças destrutivas são dirigidas ao mundo exterior, converte-se num ser que odeia e destrói. Ao contrário, ocorrem tentativas de suicídio.
O aspecto mais rico da Psicanálise é o estudo destas pulsões dinamicamente e do ponto de vista evolutivo, na constituição da personalidade como um todo. Freud nunca dissociou constituição (aspectos inatos) das constelações (situações a que o sujeito é exposto). Para ele, as forças instintivas se organizam em sentido ontogenético e, portanto, as manifestações destrutivas e agressivas inatas, têm diferentes destinos, de acordo com a idade do indivíduo e também com a organização psíquica que lhe é peculiar.
Conceitos fundamentais na teoria do desenvolvimento são aqueles de processo primário e secundário e princípio de prazer e de realidade. Os processos primários e secundários são os dois modos de funcionamento do aparelho psíquico. O processo primário caracteriza o sistema inconsciente e o secundário o sistema pré-consciente e consciente. No caso do primeiro, a energia flui de uma representação a outra, como nos mecanismos de deslocamento, condensação, enquanto no caso do segundo, começa haver maior controle no fluxo energético e as representações tornam-se mais estáveis. Estes processos são correlatos aos do princípio do prazer e o da realidade (Laplanche e Pontalis, 1970).
O princípio do prazer está ligado à concepção homeostática, qual seja, a tendência do organismo a reduzir a excitação que causa desprazer enquanto o princípio de realidade caracteriza o desenvolvimento da capacidade de adiar esta gratificação, mediada pelo Ego que uma vez desenvolvido, propicia forças de coesão à personalidade e adaptação à realidade.
Também pode, então, o organismo fazer uso dos processos secundários.
Para Freud, na conduta humana, existe uma grande quantidade de agressividade e destrutividade e, praticamente todos os transtornos mentais escondem tendências destrutivas profundas.
Klein acirra a questão dos impulsos destrutivos (instinto de morte). Partindo da hipótese original freudiana, considera que os impulsos agressivos estão dirigidos, em princípio contra si mesmo mas, muito cedo, a criança os projeta em seus pais. Somente com o relacionamento mãe/filho é que a criança superaria estes impulsos.
Inicialmente os impulsos ligados a Eros e Thanatos, causariam sensações de prazer e desprazer que seriam projetados na mãe, surgindo então, dois objetos (o bom e o mau objeto). Com o amadurecimento, a criança poderá reunir os dois objetos na figura materna, passando à posição depressiva que, uma vez resolvida levará a criança a poder amar a mãe com seus aspectos concretos, bons e maus.
Os impulsos cruéis psicopáticos, dentro desta corrente, estariam ligados a estes impulsos primitivos. Entretanto, na escola de Klein, isto ocorreria pela formação de um “superego” primitivo formado pela introjeção dos “bons” e “maus” objetos, que seria particularmente cruel (Laplanche e Pontalis, 1970).
Cabe ainda lembrar a importante contribuição de Winnicott que considerava a importância das relações da criança com a mãe no sentido de esta propiciar a integração do self incipiente da criança, para permitir a integração do bom e mau objeto, da concepção kleiniana (Kaplan e Sadock, 1991).
Em nosso meio, Lima (1992) em trabalho sobre transtornos de personalidade, baseado na teoria kleiniana afirma:
“O Superego do delinquente, ao contrário do que se supunha, é severíssimo, geralmente sádico. Penoso é conviver com ele. O delinquente alivia-se por mecanismo de defesa pelo qual se sente como se houvesse expelido o Superego, como se o tivesse lançado ao mundo circundante, e passa a sentir que este é maldoso, destrutivo, severíssimo, sádico(…) (pág. 25).
Entretanto, especialmente criativa é sua hipótese relativa ao desenvolvimento da personalidade.
Este autor procura integrar os conceitos psicanalíticos kleinianos àqueles dos tipos constitucionais de Sheldon, preocupando-se, assim, com um aspecto pouco valorizado por outros autores da Psicanálise, qual seja a força constitucional das pulsões e sua importância no desenvolvimento. Integra, assim, este aspecto com a análise psicodinâmica (Lima, 1986).
Dentre as dissidências da Psicanálise, a primeira de importância é representada por Adler (Wolman, 1968).
Com relação à agressividade considerava este autor que desse a primeira infância podemos encontrar uma postura hostil na criança. Esta postura viria da dificuldade de encontrar satisfação para o organismo, frustração esta que se dissolve no choro, nas dissociações com paroxismo emocional, ou nas crises de birra, entre outras manifestações.
Segundo Adler, o impulso agressivo pode se manifestar de diversas maneiras, desde as formas mais diretas até aquelas mais socializadas, pois está a serviço de um impulso mais fundamental: o de autoafirmação.
Interpreta de modo diverso o desenvolvimento da socialização, com relação a Freud. Para Freud, conforme expusemos, o desenvolvimento do princípio de realidade decorreria de uma injunção, do confronto entre esta e os desejos do Ego.
Para Adler, a sociabilidade é condição filo e ontogenética humana, surgindo, portanto, como potencialidade inata. Assim, considera a agressividade explícita e os impulsos antissociais como indícios de distúrbios mentais. Há no homem duas vertentes de estímulos: a necessidade de autoafirmação que estimularia a agressividade e a tendência à sociabilidade, que canalizaria sua integração.
Outra fonte de agressividade é aquela suscitada pelo complexo de inferioridade.
Seria, então, compensatória, para superar o sentimento de minus-valia.
Reich representa outra dissidência.
Em sua teoria do orgasmo, rejeita o conceito de instinto de morte, afirmando que a tendência destrutiva, quando “cravada no caráter, não é senão a cólera que o indivíduo sente por causa da sua frustração na vida e da sua falta de satisfação sexual” (Reich, 1982, pág.133).
Discutindo a questão da destrutividade, da agressividade e do sadismo, afirma que os seres vivos, em geral, desenvolvem um impulso agressivo quando querem destruir uma fonte de perigo. Segundo ele, não há uma motivação original de prazer na destruição, mas ela serve ao instinto de vida, ou seja, para evitar a angústia e preservar o Ego em sua totalidade” (pág. 138). Referindo que a acepção original de agressão é “aproximação” considera que em toda manifestação da vida há agressividade, desse o ato do prazer sexual até o ato do ódio destrutivo. A agressão seria a expressão da vida da musculatura e do sistema de movimentação. A agressão não é para Reich um instinto no sentido estrito da palavra, mas um meio indispensável de satisfação de todo impulso instintivo. Classifica, portanto, a agressividade em quatro grupos: destrutiva, sádica, locomotora e sexual.
Tenderá a considerar a agressividade manifesta sob a forma do sadismo, como decorrência da frustração da satisfação dos desejos e da potência orgástica (capacidade de amar) (Reich, 1982).
Fromm, da corrente culturalista, discute a destrutividade, considerando-a como um mecanismo de evasão ante a própria impotência do indivíduo perante o mundo exterior. Além da destrutividade considera mais três formas de evasão (por temor à liberdade): a adesão a sistemas totalitários, o sadismo e o masoquismo (Wolman, 1968).
Como intuito de síntese relativamente ao modo como a Psicanálise vê a agressividade reproduzimos um trecho de Waelder, citado por Thomä e Kachele (1992).
“(…) Uma atitude, ação ou impulsos destrutivos pode ser:
- Reação frente a (a) uma ameaça à autopreservação ou, de maneira mais geral, a frustração, ou ameaça de frustração, ou contra pulsões libidinais. Ou:
- Um produto secundário de uma atividade do Ego, t al como: (a) domínio do mundo externo ou (b) controle sobre o corpo ou mente próprios;
- Uma parte ou aspecto de uma necessidade libidinal que, de alguma forma, implica agressividade contra o objeto, tal como, por exemplo, a incorporação ou a penetração. No primeiro caso, podemos sentir hostilidade contra quem ameaça nossa vida ou contraria nossas ambições egóicas (1.ª), ou em relação a quem concorre conosco pelo mesmo crescimento de dominar o mundo externo, uma certa medida de destrutividade frente a objetos inanimados ou frente a pessoas ou animais (2.ª). A vontade destrutiva também pode manifestar-se como um produto secundário do controle sobre nosso corpo, ou como produto secundário da luta pelo controle de nossa própria vida interior (2.b), aparentado como medo de ser subjugado pela força do Id. Finalmente, a agressão pode ser parte de um impulso libidinal, tal como morder e a incorporação oral, o sadismo anal, a penetração fálica ou a retenção vaginal (3). Em todos estes casos aparece agressão, por vezes muito perigosa; contudo não existe a necessidade imperiosa de postular uma pulsão inata a destruir (…)” (pág. 139).
Evidentemente estas considerações visam apenas expor as ideias psicanalíticas acerca das manifestações agressivas. Nos casos apresentados, a interpretação psicanalítica articularia estes dados gerais com os aspectos inferidos em cada dinâmica individual. Portanto, não será o caso de discorrer sobre os dinamismos psicológicos que motivaram os atos violentos aqui relatados. Sendo outro nosso objetivo, entretanto, não poderíamos passar por alto o exame das considerações psicanalíticas.
- As hipóteses neurofisiológicas e neuroquímicas relacionadas ao comportamento agressivo
A complexidade deste tema é enorme pois existem inúmeros enfoques da questão e hoje avolumam-se a tal ponto as pesquisas neste sentido que para os objetivos propostos neste trabalho, vemo-nos obrigado a restringir os dados a textos de síntese, uma vez que as pesquisas são inumeráveis e continuamente retomadas.
Estas investigações buscam setores ou órgãos cerebrais responsáveis pelo comportamento agressivo, ainda que evidentemente não explicando-o, mas buscando suas bases biológicas. Hess (1965), um dos primeiros investigadores da correlação entre o comportamento e a atividade cerebral, já correlacionava as reações de fuga e de ataque à defesa pela vida. Fuga e defesa mediante o ataque eram derivadas do medo, e, portanto, se convertiam em motivos afetivos da conduta.
Hess destacava a necessidade de encontrar uma relação entre estas condutas e o sistema vegetativo posto que nos animais as condutas respectivas se acompanhavam de modificações viscerais específicas.
Da mesma forma, já nas primeiras décadas do século XX, Hess destacou que deveria ser considerado o efeito de substâncias biologicamente ativas, que atuavam em nível cerebral, tanto excitando como inibindo determinadas reações, como é o caso dos psicofármacos e dos hormônios.
Descreveu posteriormente condutas instintivas observadas como resposta à excitação elétrica central. Estas reações ocorriam mesmo quando o cérebro havia sido extirpado ou o animal era decorticado.
Bard, Woodworth, Sherrington, Cannon, McLean são citados por Hess como responsáveis pelos experimentos e pela interpretação das manifestações de “raiva aparente” (Sheinwut ou Shamrage).
Hess aponta ainda a importância da observação experimental durante a neurocirurgia tal coo procedeu Penfiels entre muitos outros.
Magoun (1968) analisa a participação do sistema límbico na chamada conduta inata e emocional. Tendo como precursor Darwin, o autor resume estes mecanismos de acordo com o que McLean chamou, à época, de quatro “F”: feeding (alimentação), fighting (luta), fleeing (fuga) e fucking (o coito).
Magoun retoma também a noção de equilíbrio do meio interno de Bernard, desenvolvido como princípio geral de homeostase por Cannon e a teoria de controle automático de Wiener, e o modelo de retroalimentação, para compreender estes mecanismos instintivos.
A conduta agressiva teria também seus radicais na integração hipotalâmica dos padrões de comportamento instintivo.
Estes dinamismos hipotalâmicos (hipotálamo lateral – excitação e medial – inibição) fazem parte do sistema descrito por Papez, Klüvier e Bucy, e Magoun destaca o papel da amigdala (temporal medial) nestes dinamismos.
Para o autor a amígdala poderia determinar o nível de reatividade dos padrões instintivos mais básicos e, no caso da agressividade, tanto este setor quanto o córtex piriforme adjacente exercem uma influência facilitadora sobre os mecanismos inferiores da conduta agressiva.
Luria (1974) reavalia o conjunto enorme de dados sobre a correlação entre as funções psíquicas e as estruturas cerebrais, revisitando o conceito de função e de órgão cerebral.
Na primeira unidade cerebral de regulação da vida psíquica que interage sistematicamente com as outras duas unidades, Luria encontra as atribuições de controle do tônus, vigília e de dinamismos instintivos. Assim, situa também no sistema límbico os núcleos que ativam ou bloqueiam condutas nutritivas, sexual e de defesa. Entretanto, não como “centros” e sim como dispositivos que interagem “em concerto” com os demais setores cerebrais, e fundamentalmente sob a influência do meio ambiente sócio-histórico.
Desta forma, o neuropsicólogo soviético destaca o papel modulador do córtex e, especialmente, do lobo frontal na regulação diferenciada da conduta, a partir do pensamento abstrato e da linguagem.
Goldstein (1961), que em parte influenciou Luria, aplicou os princípios da Gestalt e o enfoque holístico na compreensão da atividade cerebral.
Ele contrapõe-se também à noção de “centros” sendo que considera a configuração do comportamento como resultante da participação integral de toda a atividade cerebral e apenas há predominância de uma ou outra Gestalt, em primeiro plano, as vezes de modo persistente pelo isolamento patológico da participação de outros setores interpreta, assim, as manifestações agressivas, destacando que se o indivíduo não possui equilíbrio adequado ou se as exigências do mundo externo são excessivas, podem ocorrer submissão ou agressão anormais. Para os casos por ele estudados; com lesões cerebrais, haveria também déficit de pensamento abstrato. Oro, tanto a consideração de Luria quanto a de Goldstein são importantes para o nosso trabalho, pois verificamos acentuadas distorções cognitivas através do método por nós utilizado, ainda que tais casos não se configurem como lesões orgânicas ou como distúrbios de feitio psicótico.
Popper e Eccles (1991) relatam as manifestações provenientes de lesões ou de exaltação experimental do sistema límbico, incluindo entre elas sentimentos de terror, de medo, de mal-estar, de depressão, de pressentimentos, de confiança ou desconfiança, de realidade ou irrealidade, desejo de ficar sozinho, sensações paranoides e raiva, citando McLean.
Além dos distúrbios cognitivos peculiares ao lobo frontal, acrescentam falhas análogas às do sistema límbico e do hipotálamo: labilidade emotiva com disforia ou apatia, impulsos descontrolados ou perda de iniciativa são aspectos comumente relatados nos distúrbios frontais, especialmente do setor fronto-orbitário.
Rose (1984) discorre sobre a diferença entre estados motivacionais como a fome e a sede, e a raiva, medo e agressão. Enquanto os primeiros estão ligados à homeostase, os segundos envolvem as reações do organismo ao ambiente exterior. Reitera a participação da amígdala na supressão de medo e de agressividade, ainda que destaque variações opostas nas intervenções que removem a amígdala. Em alguns casos, destaca o autor, ocorre aumento do medo e agressividade.
Laborit, citado por Dantzer (1989) considera os mecanismos de controle das reações do indivíduo ao meio como mediados por dois sistemas de comando, um ativador e outro inibidor. Estes sintomas podem ser identificados por um conjunto de estruturas comporto de corpos celulares, trajetos de fibras e tipos de mediadores. Atravessam o cérebro, envolvendo estruturas do cérebro visceral, límbico e do neo-córtex, numa organização vertical. O sistema ativador contaria com dois subsistemas, aquele que organiza as reações de fuga e luta e aquele que permite a abordagem ativa de uma recompensa e dos estímulos a ela associados. O sistema inibidor relaciona-se à inibição que aparece no indivíduo quando confrontado com punição ou ausência de recompensa esperada.
Shaw et al (1982) referem-se com relação aos sistemas cerebrais relacionados com a agressão que as estruturas superiores são muito importantes, principalmente quanto à inibição do comportamento agressivo. Há uma via inibitória do comportamento agressivo que parte tanto do lobo frontal quanto do sistema límbico passando pelo septum e hipotálamo medial, que possui funções inibidoras, como já definia Magoun (1908). Lesões no hipotálamo medial dão uma redução imediata, mas transitória no limiar para a indução da raiva. As reduções prolongadas neste limiar são dadas pelas lesões dos núcleos ventro-mediais. Refere ainda o autor que em experimentos com gatos, estimulações do hipotálamo medial levam a movimentos defensivos com as garras e estimulações no hipotálamo lateral desencadeiam movimentos de atividade predatória (locais). Os gatos com lesões do hipocampo e do giro do cíngulo parecem ser especialmente amigáveis enquanto aqueles com lesões dos núcleos amigdaloides gradualmente desenvolvem um decréscimo no limiar para a raiva. Usualmente animais com remoção bilateral dos núcleos amigdaloides são passíveis e não agressivos. A via neural provavelmente relacionada inicia-se no núcleo amigdaloide e passa para o hipotálamo através das vias ventrais amigdalofugas. Enquanto a estimulação dos núcleos amigdaloides pode provocar raiva em algumas espécies, ela suprime a atividade predatória. Em macacos, a estimulação do núcleo póstero-medial do tálamo diminui a “autoridade” de macacos dominantes e a estimulação do núcleo caudado inibirá sua agressão.
Abaixo apresentamos duas figuras que acrescentamos posteriormente à apresentação desta dissertação, onde se pode compreender melhor a localização dos núcleos hipotalâmicos no homem e na outra figura os núcleos caudado, lentiforme e corpo amigdaloide, bem como sua relação com o tálamo.
Estes interessantes experimentos relatados são importantes pois demonstram, no primeiro caso, a relação da agressividade como servindo à autopreservação, em suas duas vertentes, a nutrição e a defesa. No segundo caso, revela-se a relação entre comportamento agressivo e relações gregárias de dominação e submissão.
Atualmente, as pesquisas mais recentes têm se voltado para o papel dos neurotransmissores em sua relação com a vida psíquica.
Shaw et al referia, em 1982, que os neurotransmissores envolvidos na agressão eram pouco conhecidos.
Entre os muitos que podem tomar parte considerava três definitivamente relacionados, ainda que eles representassem apenas uma pequena parte de todo o sistema. Cita a 5-hidroxitriptamina (5-HT), a noradrenalina e o ácido gama-aminobutírico (GABA). A redução das funções gabaérgicas bloquearia o comportamento predatório em ratos, enquanto a sua estimulação reverteria o este efeito. Referem ainda estes autores que é pouco conhecida a influência dos sistemas monoaminérgicos. A estimulação dos sistemas noradrenérgicos parece facilitar a “agressão afetiva”, relacionada com o aumento nas respostas emocionais autonômicas, mas diminuiria a atividade predatória.
Os hormônios sexuais masculinos em roedores produzem um aumento na sua agressividade.
O ACTH em camundongos, quando aumentado, leva a um aumento da agressividade, se a estimulação não for prolongada, pois tende a diminuir a agressão se isto ocorrer.
Kaplan e Sadock (1991) fazem uma revisão das pesquisas mais recentes. Relacionam os sistemas colinérgico e catecolaminérgicos com a indução e o aumento da agressão predatória e os sistemas serotoninérgicos e gabaérgicos como inibitórias destes tipos de comportamento.
A “agressão afetiva” seria modulada por ambos os sistemas catecolaminérgicos e serotoninérgicos. A dopamina parece facilitar a agressão, enquanto a norepinefrina e a serotonina parecem inibi-la.
Recentemente, a serotonina tem ganhado as atenções como potencialmente importante como fator mediador da agressão. Um declínio rápido de níveis de serotonina cursa com aumento de irritabilidade, em primatas não humanos.
Estudos com humanos sugere, segundo os autores, que no líquor, níveis de 5-HIAA estão inversamente correlacionados com a frequência de agressão, particularmente em pessoas que cometem suicídio.
- Contribuições da Psiquiatria ao estudo da agressividade e sua relação com as doenças mentais
Os trabalhos que procuram correlacionar os comportamentos violentos e as doenças mentais são muitos e as conclusões díspares e controvertidas.
Fortrell (1981) procede a uma revisão destes trabalhos referindo que inicialmente os resultados apontavam para o fato de não haver maior incidência de criminalidade entre os doentes mentais, quando comparados com a população normal. Cita os trabalhos de Pollack (1938), Cohen e Freeman (1945) e Brennan (1964). No entanto, refere que os trabalhos mais recentes têm mostrado um quadro inverso. Os trabalhos de Rappaport e Lassem (1965, 1969), Giovanni e Gurel (1967), Zitrin (1976), Gruneberg et al (1977), Lagos et al. (1977) e de Sosowsky (1978) citados pelo autor, apontam para uma relação positiva entre doença mental e criminalidade, incluindo atos violentos.
Faz o autor, no entanto, ressalvas quanto a estes achados pois os fatores envolvidos na correlação são muito complexos. Entre outras, por exemplo, cita o fato de os doentes mentais estarem submetidos a maior “stress” no ambiente social (exploração no trabalho, discriminação) o que implicaria em menor tolerância social quanto a seus comportamentos e, portanto, maior número de queixas. Conclui, assim, que ainda não há evidências de que os pacientes psiquiátricos sejam um grupo mais violento que a população normal.
Os estudos já são mais concordantes quanto ao papel desempenhado pela personalidade do sujeito e a tendência a comportamentos violentos. Primeiramente, dentre as condições psiquiátricas que mais frequentemente se associam à violência, estão as personalidades psicopáticas (Fortrell, 1988); Shaw et al, 1982 e Kaplan e Sadock, 1991).
Por outro lado, conforme refere Fortrell (1981), há evidências consideradas pela maioria dos autores, de que quando um doente mental comete atos violentos ou um indivíduo intoxicado por drogas o faz, a análise de sua personalidade prévia demonstra que já apresentava tendência à agressividade.
Entretanto, há algumas condições psiquiátricas que são mais frequentemente associadas a atos violentos: os etilistas e toxicofílicos, os sujeitos que apresentam ciúme mórbido, os epilépticos, os esquizofrênicos, os depressivos e os lesados cerebrais. Discutiremos rapidamente cada uma destas condições.
No caso do alcoolismo, Fortrell (1981) comenta que a relação com a criminalidade é maior do que na média da população normal. Além disso, a intoxicação pelo álcool parece predispor a atos violentos. Existe uma alta porcentagem de situações nas quais tanto o criminoso, quanto a vítima estavam alcoolizados.
Citando Kutash, Fortrell (1981) refere quatro condições fundamentais facilitadoras da eclosão de atos violentos em indivíduos alcoolizados:
- – quando a personalidade do sujeito é caracterizada por agressividade ou tendências sociopáticas
- – quando o grau de intoxicação é moderado (0,10 a 0,35% de álcool no sangue)
- – quando as estereotipias do comportamento induzidas pelo álcool servem de “deixa” para a agressão ou são usadas para excluir o indivíduo da responsabilidade pela agressão
- – quando a bebedeira ocorre durante interações interpessoais fechadas, particularmente em situações em que surge competitividade.
Ora, conforme refere Shaw et al (1982) ao discutir a relação entre intoxicação alcoólica e agressividade, os atos de violência ocorrem pelo fator “desinibição” no período de intoxicação. As situações de competitividade, associadas a tendências de personalidade à agressividade (latentes ou manifestas) (conforme considera Kutash) associadas a intoxicações, terão um papel facilitador para sua manifestação.
Lembra ainda Shaw et al (1982) que se tem estudado cada vez mais as relações entre atos violentos não no período de intoxicação alcoólica, mas após a bebedeira, no período de “ressaca”, quando parece haver um aumento da irritabilidade.
Fortrell (1981) e Shaw et al (1982) analisam também a relação entre violência e intoxicação por outras drogas. No caso da toxicofilia, o fator de maior incidência de criminalidade parece também residir no fato de que a maioria dos toxicofílicos também apresentam transtorno de personalidade. No entanto, deve-se considerar outros fatores predisponentes tais como o tipo de droga utilizada, a dosagem usada, as expectativas do sujeito quanto aos efeitos da droga e as situações não quais ocorre o consumo.
Crown refere que os heroinômanos são os mais frequentemente criminosos.
As anfetaminas parecem ser as drogas que mais se associam ao desencadeamento de crimes violentos, principalmente se utilizadas em altas dosagens. Lembram Shaw et al (1982) que esta relação é ainda maior quando estiver presente no usuário, sintomas paranoides, comuns nas intoxicações crônicas por esta droga.
A cannabis parece predispor mais à agressividade quando o sujeito não se alimenta durante o período de intoxicação.
De qualquer modo, conforme lembra Forttrell, torna-se difícil precisar a relação entre tipo de droga utilizada e facilitação a atos violentos pois a maioria dos usuários de drogas, fazem uso de mais de um tipo delas.
Duas condições fisiológicas parecem predispor à agressividade: a fome e a tensão pré-menstrual.
No caso da fome, o estado de privação aguda leva a uma maior irritabilidade, enquanto a privação crônica, parece reduzir as pessoas a um estado depressivo e de apatia imóvel, como foi observado em certos povos ou em campos de concentração (Shaw et al, 1982).
Shaw et al referem que quarenta por cento das mulheres sofrem de tensão pré-menstrual que, entre outras coisas é caracterizada por depressão, irritabilidade, raiva, ansiedade e, frequentemente, perda de energia. Muitos crimes cometidos por mulheres ocorrem neste período.
A relação entre indivíduos que apresentam ciúme mórbido e criminalidade é de maior incidência do que na população normal. Entretanto, como distingue Fottrell, o ciúme mórbido pode ser um sintoma de alcoolismo, de esquizofrenia ou de distúrbios de personalidade. Os atos de violência normalmente ocorrem durante os paroxismos de ira.
Frequentemente se correlaciona a epilepsia e a ocorrência de comportamentos violentos. No entanto, segundo Shaw et al (1982) esta correlação é muito menor do que se acredita.
No caso da esquizofrenia, refere Shaw e al que, apesar da presença de ideias paranoides, a ação agressiva em função de delírios ou alucinações é bastante rara.
Fottrell afirma que apenas 6% dos criminosos do sexo masculino e 2% dos criminosos do sexo feminino apresentam sintomas esquizofrênicos. Em geral quando há violência, os sujeitos já apresentavam disposição para a agressividade na personalidade pré-mórbida.
Fottrell refere que estatisticamente os atos de violência cometidos por esquizofrênicos são mais frequentes quando os sujeitos são jovens, do sexo masculino e com sintomatologia paranoide.
No caso dos depressivos, a ocorrência de atos de violência é rara e quando ocorrem são de dois tipos.
Mais frequentemente pode ocorrer o suicídio e, a outra modalidade é o que Shaw et al denominam crimes “por amor”, ou seja, em função dos delírios de catástrofe e ruína, que ocorrem nos depressivos psicóticos, estes podem assassinar familiares e, após, isto cometerem suicídio.
Shaw et al (1982) refere que qualquer tipo de lesão cerebral, especialmente envolvendo os gânglios da base, o hipotálamo e estruturas do sistema límbico podem predispor à violência incontrolada.
Sinteticamente:
- Não há evidências de que pacientes psiquiátricos sejam um grupo mais violento que a população normal, exceção feita ao grupo psicopático.
- Os fatores de personalidade são mais importantes na determinação dos atos violentos do que a doença.
- A intoxicação por álcool e drogas pode facilitar a eclosão de atos de violência em sujeitos predispostos.
Finalmente, resta discutir a relação entre a predisposição à agressividade e as tendências genéticas. Trata-se de um campo de estudos muito complexo e apenas apresentaremos algumas considerações feitas por Kaplan e Sadock (1991) a título de síntese das pesquisas atuais.
Referem os autores que parece haver um componente hereditário para a maior tendência agressiva pois os estudos com gêmeos monozigóticos e heterozigóticos indicam esta tendência. Além disso, em famílias onde existem desordens mentais com comportamento agressivo, são mais frequentemente encontradas pessoas agressivas do que na população normal.
Quando se estudam animais, refere Shaw et al (1982) que se pode verificar pedigrees específicos, por exemplo, de cães, que foram selecionados especialmente por apresentarem características desejadas, entre elas, a maior agressividade. Este fato estaria indicando uma participação, ainda não muito bem compreendida, da predisposição genética à maior agressividade. Entretanto, muitas vezes, estas características se atenuam nas gerações seguintes, fenômeno ainda não muito bem compreendido.
Kaplan e Sadock (1991) também discutem as pesquisas relacionando alterações cromossômicas e maior predisposição agressiva.
As pesquisas iniciais neste campo tenderam a correlacionar particularmente a anomalia cromossômica da síndrome 47XYY (caracterizada por indivíduos altos, com baixo nível de inteligência) com tendência à violência.
Entretanto, os estudos posteriores, sugerem que a síndrome 47XYY contribui para com o comportamento agressivo em apenas uma pequena porcentagem de casos. Os estudos de níveis hormonais androgênicos e gonadotrófico característicos desta síndrome também foram inconclusivos e não estabeleceram que tais pessoas eram bioquimicamente atípicas.
Certas desordens metabólicas internas, genéticas em sua origem, que envolvem difusamente o sistema nervoso, têm sido correlacionadas com personalidades mais agressivas. São o caso da Síndrome de Sanfilippo, a Síndrome de Spielmeyer-Vogt e da Fenilcetonúria.
Esta pequena revisão, muito suscinta das relações entre agressividade e doença mental, tem apenas o caráter ilustrativo pois não é nosso objetivo neste trabalho discutir o diagnóstico psiquiátrico dos sujeitos violentos por nós estudados, ainda que tenhamos consciência que a maioria deles estaria no rol das personalidades psicopáticas.
- A agressividade na Teoria da personalidade de Aníbal Silveira
Não vem ao caso a exposição completa da teoria da personalidade de Silveira, desenvolvida a partir da sistematização das disposições subjetivas humanas realizada por Comte. Silveira (1962, 1966) e Coelho (1980 e 1982) apresentaram os seus fundamentos e os modelos relacionados com a estrutura e dinâmica de personalidade.
Para Silveira, a estrutura da personalidade seria o conjunto de funções psíquicas ligadas à atividade cerebral, peculiares à espécie, e que regulam as disposições do indivíduo e as suas relações com o ambiente físico e social (Coelho, 1982).
É preciso recordar que, para Comte (1929) a função é deduzida do resultado especial de uma relação determinada entre o meio e o organismo.
Portanto, como refere Coelho (1982), as funções resultam de uma construção teórica, de uma formalização de variáveis estratégicas, que traduzem os níveis distintos de interação entre o organismo e o meio.
Porém, como o ser humano não é apenas um “organismo”, trata-se de deduzir as funções que regem a relação entre um sujeito concreto e o seu meio ambiente específico. O homem não é apenas um ser vivo, mas um indivíduo que somente se desenvolve no âmbito da realidade sócio-histórica. Assim, as funções psíquicas são consideradas disposições que se desenvolvem simultaneamente pelo amadurecimento cerebral e pela influência contínua, porém complexa e diversificada das diferentes etapas ontogenéticas, e em diferentes realidades culturais. Neste sentido, a concepção positivista desenvolvida por Silveira é plenamente concordante com as considerações de Geertz (1978).
Da mesma forma, Bowby (1984) considera o conceito de função.
Além disso, a concepção de Silveira a respeito das funções psíquicas consiste em um modelo sistêmico. Como refere Bertalanffy (1977), o ser vivo apresenta as características de um sistema aberto, e estável por tempo determinado. O que constitui as manifestações da vida, para este autor, é o contínuo fluxo de entrada e saída, de construção e de composição de componentes, cuja expressão biológica fundamental é o metabolismo. Bertalanffy (1977), como muitos outros autores considera que também a vida psíquica somente pode ser compreendida mediante a concepção sistêmica. Destaca os diferentes aspectos que caracterizam os sistemas biológicos, e que entende sejam propriedades gerais de qualquer sistema.
Primeiro, o fato de que os sistemas se caracterizam por fluxo de informações, opostos à degradação, caracterizando, portanto, a assimilação e a coesão de segmentos pertinentes à conservação do sistema.
Essa troca, segundo o autor, envolve também seletividade de ações do organismo e o conceito relevante de retroação ou feedback. Bertalanffy (1977) vê a retroação como um dispositivo fundamental no funcionamento do sistema nervoso e também da vida psíquica.
Outra propriedade de todo sistema é a organização. Quanto a este conceito, envolve noções como as de crescimento, diferenciação, hierarquia, dominância, controle e competição.
Os sistemas biológicos apresentam ainda o princípio de centralização progressiva que, no campo psicológico envolve a individualização progressiva.
Bertallanffy (1977) retoma o conceito de finalidade ou de propósito destacando que verdadeiramente só pode ser encontrada no comportamento humano, já que este é ligado à evolução do simbolismo, da linguagem e dos conceitos.
Demoramo-nos nas exposições do principal teórico da concepção sistêmica, pois suas proposições são indispensáveis para a compreensão do modelo teórico de Silveira.
As funções psíquicas que regulam em conjunto a relação de indivíduo com o seu meio ambiente são concebidas por Silveira de acordo com princípios de organização, de hierarquia e de interdependência. Elas não estão presentes no comportamento do homem ao nascimento, ainda que sejam disposições arraigadas no plano biológico e cerebral, posto que irão manifestar-se nas expressões comportamentais de acordo com os processos de amadurecimento e diferenciação, peculiares à vida psíquica. E, ainda, o comportamento explícito, assim como a atividade mental, resultam sempre da atividade conjunta de todas as funções, somente podendo ser categorizados através de cortes abstratos, fundamentais, entretanto, para a compreensão da atividade individual.
Para Silveira, as funções psíquicas são divididas em três esferas, a da vida afetiva, a da conação e a cognitiva. Recordando o diagrama exposto por Madsen, que reproduzimos na página 31, poderemos tornar mais clara a exposição do modelo proposto por Silveira.
Os impulsos procedentes das vísceras afetam os processos dinâmicos tanto constitucionais quanto adquiridos (D3 e D4), que para Madsen são fatores de personalidade. Por outro lado, também os estímulos do mundo exterior interferem nestes processos dinâmicos, que na concepção de Silveira representam as instâncias afetivo-conativas. Mas ao mesmo tempo, há relação entre estes processos dinâmicos e os processos cognitivos, representados por disposições intelectuais constitucionais e adquiridas (D1 e D2)
No diagrama de Madsen, portanto, os estímulos exteriores afetam simultaneamente os processos dinâmicos e os processos cognitivos. Implícita no modelo está a influência dos impulsos viscerais através dos processos dinâmicos sobre os processos cognitivos (vigília, atenção e consciência, em sentido lato, que dependem da regulação de instâncias fundamentais do sistema nervoso central).
Na concepção de Silveira, a esfera intelectual depende da regulação seletiva das esferas afetiva e conativa. Em sua teoria, portanto, os processos afetivo-emocionais traduzem a dinâmica complexa de interdependência entre os processos cognitivos e as disposições da afetividade. Este aspecto é fundamental para a compreensão das modalidades de processamento cognitivo que encontramos, através do Método de Rorschach, nos casos estudados.
Há, contudo, outro aspecto relevante a ser considerado na organização psíquica. Na dinâmica de interação entre a afetividade e a cognição, Coelho (1982) destaca dois níveis de integração que são, entretanto, interrelacionados.
O primeiro, em que predomina o plano instintivo, no sentido de impulsos fundamentais da existência e, o segundo, em que prevalece a dinâmica psíquica subjacente ao plano interpessoal. De fato, o segundo nível é dependente da estimulação contínua e rítmica do primeiro, mas ao mesmo tempo, a diversidade dos impulsos básicos da vida psíquica encontra sua integração através da polarização da ligação afetiva para o mundo exterior. Não apenas diretamente, nas reações espontâneas, mas através da mediação dos processos simbólicos e da linguagem. Restringindo nossa exposição às manifestações agressivas explícitas, devemos assinalar que os impulsos destrutivos são considerados por Silveira, como componentes funcionais do setor básico da vida afetiva.
Ocorrendo também nos animais como demonstrou exaustivamente a observação etológica, no caso do homem, os impulsos destrutivos podem desencadear-se diretamente no comportamento explícito, assim como interferem na dinâmica dos processos cognitivos. Fundamental para caracterização dos impulsos destrutivos é a noção de que representam o dispositivo funcional sempre que o animal ou o homem se defrontam com obstáculos à realização de suas disposições.
A apresentação que Shaw et al (1982) fazem das condições nas quais a agressividade pode ocorrer em animais, é interessante para exemplificar este fato:
- Comportamento predatório (para alimentação)
- Agressão espontânea entre machos em numerosas circunstâncias: estabelecimento da hierarquia masculina no bando, manutenção da hierarquia, estabelecimento ou troca de parceria no acasalamento.
- Agressão induzida por irritabilidade, medo, ansiedade ou dor
- Agressão para manter os direitos individuais ou grupais na alimentação ou território do ninho.
- Proteção das fêmeas prenhas
- Proteção dos filhotes.
Acrescentam ainda que nos chimpanzés deve-se considerar:
- Redirecionamento da agressão quando um macho dominante ataca um macho subdominante, o qual, por sua vez, pode atacar um outro indivíduo inferior da hierarquia.
- Quando há fracasso no cumprimento de uma solicitação do dominante.
- Quando um membro do bando tem uma aparência estranha (em função de doença).
- Quando um “cabeça” da hierarquia está se estabelecendo.
- Quando um alimento preferido está em pequena quantidade.
Já nos babuínos, o autor considera que desenvolvem ameaças e atacam:
- Quando protegendo o bando de predadores, principalmente leopardos, chitas ou leões.
- Na resolução de disputas entre machos.
- Na formação ou manutenção de pares (casais).
- Na escolha de sítios favoritos para dormir em árvores, especialmente se um predador está por perto.
- Na aquisição de alimentos muito apreciados.
- Enquanto estão explorando locais estranhos ou perigosos.
- Em contato com outros bandos, especialmente nos limites de seu território habitual.
Comentam ainda os autores que paradoxalmente a evolução da agressão é maior em espécies gregárias quando a sobrevivência depende da cooperação. Refere que a alta agressividade nos membros dominantes é positiva pois o macho dominante protegerá o bando dos predadores naturais, explorará os territórios perigosos ou os limites entre os territórios de outros bandos.
Quanto a situações causadoras de níveis anormais de agressão, citam estes autores os fenômenos que ocorrem em animais que vivem em cativeiro.
- Superpopulação – a agressão aumentada poderia se relacionar com a falta de espaço “pessoal”, a alterações na proporção de machos e fêmeas e a falta de distância para a fuga em caso de ataque de outros animais.
- A introdução de adultos não familiares na colônia.
- A privação de parentes semelhantes. Relata que um macaco filhote separado de sua mãe e que não interagem com semelhantes torna-se socialmente mal adaptado e agressivo. Tal indivíduo, quando introduzido numa colônia provoca muita briga. O funcionamento sexual destes animais é anormal e as fêmeas criadas nestas condições, se artificialmente inseminadas, negligenciarão ou matarão sua cria.
Se analisarmos estas condições poderemos constatar que a agressividade surge em duas situações como aspecto instrumental, para a satisfação de alguma necessidade e, portanto, como meio de atuar no ambiente para remover obstáculo à consecução de necessidades ou impulsos ou, como resultado real de frustração e, daí, a ocorrência de “deslocamentos” da intenção hostil.
Não obstante, no caso humano, a noção de obstáculo pode assumir significado peculiar em cada dinâmica psíquica individual. Desta forma, se no relacionamento interpessoal, outras pessoas são sentidas como obstáculo aos impulsos individuais, evidentemente o padrão de reação comportamental dependerá da maior ou menor integração das noções e sentimentos relativos aos demais seres humanos. Como verificamos no presente estudo, as imagens assim como os sentimentos pertinentes ao relacionamento interpessoal dos examinandos são indefinidas, sincréticas, vagas e carregadas de sentimentos disfóricos, de estranheza e mesmo de ameaça, evidentemente na dependência da intensidade das disposições hostis e da insuficiente consideração relativa aos seres humanos. Como destacaremos nas conclusões da pesquisa, o que se apreende nestes indivíduos é um universo de imagens estranhamente diverso da média da população, mãos não no sentido de originalidade, criatividade e amplitude dos processos cognitivos, e sim como um caótico condensado de imagens fragmentadas e dilaceradas por ressonâncias afetivo-emocionais muito pouco diferenciadas.
- MATERIAL E MÉTODO
- Caracterização e Apresentação da Amostra
Nossa amostra é composta de vinte e um sujeitos selecionados em função de terem apresentado comportamento violento. Não nos preocupamos com outras características destes indivíduos. Apesar disto como a amostra foi selecionada entre paciente do Manicômio Judiciário do Estado de São Paulo e prisioneiros da Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, todos os sujeitos são do sexo masculino. Com relação ao diagnóstico psiquiátrico, não levamos em consideração na seleção da amostra, apenas atendo-nos ao fato de que o crime cometido o tivesse sido em estado de vigília e fosse facilmente evocado pelos seus autores. A amostra contava inicialmente com trinta sujeitos, porém, oito deles se recusaram a submeter-se ao exame de Rorschach e, decidimos excluir um porque, posteriormente, constatamos que o crime fora cometido com turvamento de consciência.
O comportamento violento destes sujeitos pode ser caracterizado sumariamente como
- – manifestação do comportamento agressivo durante o estado de vigília e, facilmente evocado pelos autores
- – a evocação do crime não ocasiona, em seus autores, sentimentos de culpa ou de horror
- – os atos agressivos são brutais (espancamentos, torturas, seguidos de estupro ou assassinato ou ambos, e, em alguns casos, após a morte da vítima, a ingestão de vísceras ou estripação de testículos)
- – as vítimas eram sujeitos indefesos ou impossibilitados de reagir (por mais frágeis fisicamente ou por terem sido atacados subitamente, à traição, ou enquanto dormiam)
- – os crimes foram cometidos por motivos aparentemente fúteis (dívida de uma quantia irrisória de dinheiro, interrupção de uma conversação etc.) ou discrepantes com a intensidade do ato destrutivo
- – em alguns casos, a violência se caracteriza também pelo fato de o sujeito apresentar o comportamento agressivo muito frequentemente (caso de sujeitos responsável por inúmeros homicídios).
Apresentamos abaixo uma tabela de identificação dos sujeitos que compõem a amostra, utilizando-nos de um pseudônimo e, a seguir, uma descrição sumária dos crimes.
Caso | Pseudô-nimo | Idade à época do exame | Naciona-lidade | Nível de instrução | Profissão | Idade à época do crime ou da sucessão de crimes | Local do exame |
1 | André | 33 | Brasil. | Primário completo | Rádio-técnico | 20 | Casa de Custódia de Taubaté |
2 | Benedito | 34 | Brasil. | Secundário completo | Estudante | 20 | Manicômio Judiciário |
3 | Celso | 36 | Brasil. | Primário completo | Pintor | 23 | Manicômio Judiciário |
4 | Ciro | 34 | Brasil. | Primário completo | Policial | 26 | Casa de Custódia de Taubaté |
5 | Cláudio | 27 | Brasil. | Primário completo | Pedreiro | 21 | Casa de Custódia de Taubaté |
6 | Darci | 52 | Brasil. | Semi-analfabeto | Sem profissão | 23 | Manicômio Judiciário |
7 | Edson | 41 | Brasil. | Primário incompleto | Artesão | 35 | Casa de Custódia de Taubaté |
8 | Gerson | 32 | Brasil. | Secundário completo | Auxiliar de advocacia | 26 | Casa de Custódia de Taubaté |
9 | Jair | 46 | Brasil. | Primário incompleto | Estivador | 38 | Casa de Custódia de Taubaté |
10 | João | 42 | Brasil. | Primário incompleto | Vendedor | 36 | Casa de Custódia de Taubaté |
11 | José | 33 | Brasil. | Analfabeto | Ajudante geral | 25 | Casa de Custódia de Taubaté |
12 | Jorge | 48 | Brasil. | Primário completo | Barbeiro | 30 | Manicômio Judiciário |
13 | Juvenal | 54 | Brasil. | Primário incompleto | Militar | 36 | Manicômio Judiciário |
14 | Luís | 44 | Brasil. | Primário incompleto | Lavrador | 32 | Casa de Custódia de Taubaté |
15 | Mário | 33 | Brasil. | Primário completo | Intermediário de cereais | 19 | Manicômio Judiciário |
16 | Mauro | 37 | Brasil. | Analfabeto | Lavrador | 26 | Casa de Custódia de Taubaté |
17 | Milton | 29 | Brasil. | Secundário completo | Estudante | 23 | Casa de Custódia de Taubaté |
18 | Nivaldo | 30 | Brasil. | Analfabeto | Lavrador | 19 | Casa de Custódia de Taubaté |
19 | Paulo | 39 | Brasil. | Primário completo | Sem profissão | 19 | Casa de Custódia de Taubaté |
20 | Sérgio | 28 | Brasil. | Secundário completo | Estudante | 21 | Casa de Custódia de Taubaté |
21 | Vanderli | 63 | Brasil. | analfabeto | lavrador | 40 | Manicômio Judiciário |
- André. Juntamente com cinco menores, invadiu um barraco e, uma vez em seu interior, constrangeu a mulher que lá habitava, que foi contida pelos outros, à conjunção carnal. Enquanto praticava o estupro, colocou dois dedos na boca de uma criança de oito meses, filho da vítima, para impedir que a mesma chorasse. Mediante a selvageria, o marido da vítima reagir, investindo no sujeito. Foi, então, seguidamente, esfaqueado, vindo a falecer em consequência dos ferimentos recebidos.
- Benedito. Estando a sós com uma amiga, em sua casa, ofereceu-lhe droga (cocaína). Como esta recusasse a fazer uso, começou a agredi-la. Esta então, ameaçou chamar a polícia. Foi, então, repetidamente golpeada com uma garrafa, até desfalecer e, a seguir, assassinada com inúmeros golpes de tesoura no pescoço. Após sua morte, o sujeito ainda lhe injetou a droga nas veias. Após o crime, voltou para casa, lavou-se e retornou para consolar a mão da vítima que, tendo encontrado o corpo, comunicou-lhe o fato, sem saber que era ele o autor do crime.
- Celso. Assassinou uma prostituta. O sujeito contratou-a e, posteriormente recusou-se a pagá-la. Como esta começasse a gritar, deferiu-lhe inúmeros golpes de faca.
- Ciro. O sujeito era policial e tinha sido expulso da corporação por corrupção. Um dia, entrou num bar e lá, havia um sujeito armado exibindo a arma e se vangloriando. Subitamente, então, o assassinou a tiros. A seguir, dando-se conta de que no bar havia uma testemunha, também a assassinou tão somente porque ela o conhecia e poderia reconhecê-lo posteriormente. Aberto o processo, uma mulher que frequentava o bar foi arrolada como testemunha. Dois meses após, o sujeito, então, retornou ao local acompanhado de dois amigos e, após passarem a noite com três mulheres (inclusive a testemunha), ofereceram “uma carona”. No meio do caminho, o sujeito assassino a tiros as três, apesar de suas súplicas para que não o fizesse. Neste dia, ainda procurou uma quarta possível testemunha com o intuito de também assassiná-la.
- Claudio. Mediante ameaça com arma de fogo e violência, constrangeu duas meninas de quatorze e quinze anos e um garoto de quinze anos a manterem relações sexuais anais, “felatio” e uma relação vaginal consigo. Não satisfeito, introduziu galhos de eucalipto no anus e vagina de uma das meninas que quase faleceu em função dos ferimentos. Apenas não prosseguiu em sua perversidade porque o garoto logrou escapar e buscou ajuda. Já no presídio de segurança máxima, participou de uma rebelião, tentando fugir com uma funcionária de refém.
- Darci. Três crimes sucessivos. O primeiro foi cometido contra um companheiro que com ele bebia num bar. Como este se recusou a segui-lo a outro bar, deferiu-lhe um golpe com caco de vidro no rosto, ocasionando deformidade permanente. A seguir, desferiu dois golpes no proprietário do bar, sem motivos aparentes. Mais tarde, procurou um companheiro de vadiagem e, enquanto este dormia, deferiu golpes em sua cabeça com um pedaço de ferro e, a seguir, ingeriu pedaços do cérebro da vítima. Justificou sua ação dizendo que já o procurara durante o dia para cobrar uma pequena quantia de dinheiro que este lhe devia, tendo sido informado pela vítima que não dispunha do dinheiro. Depois que foi preso, sempre se mostrou muito agressivo, tendo inclusive assassinado um companheiro de prisão.
- Edson. Numa festa sertaneja, ficou observando uma mãe e filha que lá estavam, aguardando a oportunidade de distração da mãe. Agarrou, então, a menor de nove anos de idade, levou-a a uma casa abandonada e mediante violência, praticou com a mesma coito anal e vaginal. Como vítima chorasse muito, um estranho interveio e impediu que o sujeito prosseguisse em sua perversidade.
- Gerson. Encontrava-se num bar quando dois indivíduos que também lá estavam começaram a discutir. Irritando-se, sacou uma arma e disse aos mesmos que teriam, a partir daquele momento, de brigar realmente para que ele assistisse. Como os mesmos não quisessem fazê-lo, começou a atirar para o chão para compeli-los à briga e, a seguir, assassinou a ambos, com tiros, chamando-os de covardes.
- Jair. Desde os 27 anos de idade responde a vários crimes por agressão, atentado violento ao pudor, corrupção de menores, tráfico de drogas e furtos. Relativamente ao último crime, mediante ameaça de violência vinha obrigando um menino de oito anos de idade a permitir que praticasse consigo coito anal. Como a criança chorasse, um policial desconfiou e surpreendeu o agressor. Ele, então, tentou suborná-lo com dinheiro.
- João. Trabalhava como administrador de uma creche de uma instituição religiosa. Durante seis meses, constrangeu, mediante violência presumida e ameaças a doze meninos e meninas a permitirem coito anal, “felatio” e outros atos libidinosos. As crianças contavam com idade entre cinco e nove anos
- José. Confessou nove atentados contra mulheres, sendo que assassinou a duas (comprovadamente). Atacava mulheres desconhecidas com a intenção de estuprá-las. Quando a vítima esboçasse a menor reação, as agredia violentamente. No último crime, tentou abordar uma mulher com propostas indecorosas e a vítima replicou. Ato contínuo desferiu um golpe de faca no abdômen da mesma. Ainda assim, a vítima conseguiu escapar sendo socorrida por transeuntes e o sujeito foi preso.
- Jorge. Assassinou a esposa estrangulada, enquanto dormia porque suspeitava que o traísse. Atirou o corpo num poço. Dois anos depois, como sua filha menor chorasse chamando pela mãe, após tê-la repreendido, atirou-a viva dentro do mesmo poço que jogara o corpo da esposa. O primeiro crime somente foi descoberto após a tentativa de assassinato da filha que foi frustra.
- Juvenal. Assassinou um indivíduo que supunha ter conquistado sua amante. Aproximou-se sorrateiramente do mesmo, pelas costas e matou-o com golpes de machado. Posteriormente, emasculou-o e jogou os órgãos genitais à distância.
- Luís. Agarrou uma menor de cinco anos que estava brincando na rua, levou-a a uma construção, manteve com a mesma, coito anal e estuprou-a, matando-a a seguir com uma paulada. Meses após, tentou novamente atacar outra menor, mas foi preso pelos familiares da mesma. Era ex-presidiário, tendo cumprido pena anteriormente pois assassinara sua esposa.
- Mario. Tentativa de assassinato da mãe e do irmão. Por motivo de pouca importância, frequentemente agredia a mãe e irmão, inclusive com arma branca. Um dia, porque seu irmão lhe pediu para baixar o som da televisão para poder estudar, tentou matá-lo com uma faca. A mãe interveio e o sujeito deferiu violentos golpes em sua cabeça. Como as vítimas conseguiram esquivar-se destruiu vários móveis da casa, agrediu um vizinho que tentou intervir e resistiu à prisão, atirando um televisor sobre o carro de polícia. Já respondia a processos por assalto com agressão e por brigas nas ruas. No presídio teve inúmeros problemas disciplinares por sua acentuada agressividade.
- Mauro. Foi preso por assassinato. Enquanto assaltava um sujeito, este esboçou reação e foi morto. No presídio sempre se mostrou muito agressivo tendo matado um companheiro de prisão, enquanto este dormia e juntamente com outro prisioneiro, assassinou um terceiro, com método cruel: esmigalhou sua cabeça a golpes com um pedaço de ferro.
- Milton. Atraiu para uma fábrica vazia um menino de oito anos de idade e lá, mediante violência, praticou com o mesmo coito anal. Fugiu não sendo identificado. Posteriormente repetiu o crime com feitio semelhante com um menino de nove anos. Transeuntes ouviram os gritos da criança e intervieram, prendendo-o.
- Nivaldo. Observou uma mulher que sempre passava por um local de seu bairro, voltando do trabalho. Esperou-a num dia que não havia ninguém por perto, agarrou-a, levou-a a um matagal e como a vítima reagisse, deferiu uma facada em seu peito e feriu-a seguidamente com um garfo. A seguir, enquanto a estuprava, queimou-a com o cigarro. Após o estupro, ao constatar que ainda vivia, matou-a a facadas.
- Paulo. O sujeito envolveu-se com a criminalidade ainda menor, tendo inúmeros processos por assalto a mão armada e homicídios. Somente dentro do sistema penitenciários já cometeu mais de setenta homicídios. Cumpre pena no anexo de segurança máxima devido a sua alta periculosidade. Um de seus crimes de homicídio ocorreu porque a vítima interrompeu sua conversa com um terceiro.
- Sérgio. Aproximou-se de uma menor de sete anos de idade e afirmando conhecer sua mãe e dizendo que esta a estava chamando, prometendo-lhe um anelzinho, levou-a a um prédio, onde, mediante violência, obrigou-a a praticar consigo coito anal e vestibular. Um ano antes já cometera crime semelhante com uma menor de onze anos de idade.
- Vanderlei. Assassinou um companheiro de trabalho porque ele duvidara que fosse capaz de realizar determinado trabalho. Referia que fora ferido em sua hombridade. Na penitenciária tornou a repetir crime com características semelhantes. Uma vez, em liberdade vigiada, passou a ameaçar seus familiares e a tiranizá-los.
- A Prova de Rorschach: características gerais
Escolhemos a Prova de Rorschach como instrumento de nossa pesquisa por tratar-se do Exame Projetivo mais completo e aceito, enquanto método de estudo da personalidade.
Trata-se de uma prova na qual, o sujeito é solicitado a interpretar dez manchas a ele apresentadas em determinada ordem. As manchas são ambíguas e permitem interpretações variadas, porém, possuem certas características que mobilizam aspectos diferentes do trabalho mental.
O primeiro aspecto significativo é aquele de que cinco das manchas possuem apenas as cores branca, preta e tonalidades de cinza, enquanto as outras cinco são coloridas e nuançadas. Entre as pranchas coloridas, três (as pranchas VIII, IX e X) são em tons pastéis, com cores leves, enquanto duas (pranchas II e III) apenas possuem o vermelho associado aos tons acromáticos. As formas são variáveis quanto aos elementos de distribuição espacial, equilíbrio entre manchas e espaços, diferenças de tonalidade (com tons mais pesados ou mais leves), interpenetração entre cores. Todas as manchas são parcialmente simétricas.
Quando o sujeito se vê perante a tarefa de organizar as manchas, comunicando o resultado de seu trabalho mental através de uma resposta à pergunta: “O que parece esta figura?”, todo o trabalho mental é mobilizado, desde o nível de percepção da mancha, de comparação do percepto com imagens mnemônicas, de seleção das possibilidades pertinentes, de decisão quanto à resposta a ser comunicada e da formulação da mesma num conceito.
Este trabalho é apenas parcialmente consciente e poderá ser analisado, a partir da comunicação verbal feita e do inquérito que o examinador procede num segundo momento, partindo de índices, ligados a esta comunicação verbal e elementos para verbais ocorridos durante o período da associação e aqueles que surgem no próprio inquérito.
Conforme acima afirmamos, cinco pranchas são coloridas, enquanto cinco são monocromáticas, isto é, apenas possuem tons de branco, preto e cinza.
Esta característica dos mesmos, coloca o sujeito perante situações diversas, quando instado a interpretá-las. Conforme refere Coelho (1980), discutindo a forma como Schachtel analisa a experiência do sujeito perante os estímulos coloridos:
“(…) a possibilidade de provocar prazer ou desprazer, sensação agradável ou desagradável – que é uma característica dos sentidos mais elementares como o olfato, a gustação, o tato (sentidos autocêntricos) – tambéma ocorre na percepção da cor. A reação à cor, como um tipo de experiência semelhante àquelas provocas pelos sentidos autocêntricos, é confirmada pelo desenvolvimento ontogenético da percepção da cor comparado com o da forma. A reação da criança ante a luminosidade e à cor é anterior à sua capacidade de manipular ativamente os objetos, para perceber-lhes as formas. A criança pequena revela preferência acentuada pelos objetos coloridos e brilhantes. Em tarefas nas quais a criança é solicitada a classificar os objetos de diferentes cores e formas, ela tenderá a selecioná-los segundo as cores.
Com o crescimento, observamos uma tendência crescente da seleção baseada na forma. Schachtel cita o experimento de Lindsberg e Werner que observaram, para esse tipo de tarefa, uma preferência progressiva pela forma, passando a cor para segundo plano à medida que o indivíduo se torna adulto. A criança inicialmente está mais sujeita ao estímulo sensorial enquanto o adulto reage ativamente ao ambiente (…)” (pg. 146).
Deste modo, podemos considerar que as pranchas coloridas provocam no sujeito, a priori, um impacto afetivo, sob efeito do qual deverá interpretá-las, enquanto no caso das manchas aqui denominadas monocromáticas, o aspecto da decisão quanto à resposta a comunicar é prevalente, pois as situações seriam mais o menos neutras, isto é, as reações emocionais dependeriam no caso destas pranchas de fatores menos idiossincrásicos do sujeito. Em função disso, é procedimento em nossa orientação com relação ao Rorschach, sempre comparar os índices encontrados em cada uma das séries de pranchas (monocromáticas e coloridas).
As obras de Silveira (1985) e Coelho (1980) procedem a uma apresentação da metodologia e critérios de análise dos protocolos de Rorschach, como o fazemos na Sociedade Rorschach de São Paulo. Portanto, para não fugirmos ao escopo deste trabalho, furtamo-nos a apresentá-los, apenas o fazendo com relação àqueles selecionados para a análise dos processos cognitivos, examinados na amostra.
Finalizando esta suscinta apresentação das características gerais da Prova de Rorschach, frisamos que o fato de que, em nossa orientação, partamos da consideração de que a realidade é representada subjetivamente a partir de sua codificação em termos de imagens, símbolos e sinais, implica que, durante a fase de inquérito da Prova, o dirijamos no sentido de esclarecer os elementos componentes da imagem subjetiva que no foi comunicada.
Assim, enquanto os autores do Rorschach, em geral codificam cada resposta verbalizada em termos dos clássicos três elementos básicos: modalidade, determinante e conteúdo, acumulando-os quando se trata de mais de um determinante por resposta, em nosso procedimento, desdobramos sempre que necessário, cada resposta em mais de uma, de acordo com as imagens mentais que a compõem. O número de respostas, portanto, que consideramos para a população normal, é um pouco mais elevado do que a médica encontrada pelos autores em geral.
A obra de Silveira (1985) já mencionada possui um capítulo especialmente dedicado ao procedimento dos desdobramentos de respostas.
Pesquisamos, além dos três elementos sempre presentes em cada imagem mental considerada, outros três de ocorrência variável, quais sejam a frequência vulgar ou não da resposta, seu nível de organização (índice Z de Beck, denominado de Elab por Silveira) e os mecanismos inusuais de reação, porventura presentes.
- Fatores da Prova verificados na amostra para o exame dos processos cognitivos:
A partir de enfoque cognitivista, Coelho (1988) em trabalho anterior, em coautoria conosco, propôs a distinção metodológica entre “níveis” e “modos” de tratamento dos estímulos perceptuais padronizados por Hermann Rorschach. Nessa sistematização as relações entre os diferentes “níveis” são do tipo vertical e interdependentes, enquanto os “modos” se distribuem de modo horizontal e com possibilidades variáveis de ocorrência.
Posteriormente, em trabalho mais recente (1993) apresentado ao VIII Congresso Latino-americano propôs uma classificação das imagens percebidas em função do nível e da dinâmica do processo de simbolização das experiências. No XVI Congresso Internacional de Rorschach, ocorrido em Lisboa, Coelho (1993), a partir dessa sistematização, comparou resultados encontrados em grupos de psicóticos, ansiosos, normais e sujeitos umbandistas, denominados pela autora como grupo de pensamento mágico.
Antes de apresentarmos um quadro onde esquematizamos a referida proposta de Coelho de distinção metodológica entre “níveis” e “modos” de tratamento dos estímulos do Rorschach e discuti-los, apresentaremos a classificação das imagens mentais em função do nível e da dinâmica do processo de simbolização das experiências.
Nessa classificação, Coelho partiu das concepções mais recentes das pesquisas cognitivas com imagens mentais e sua classificação das respostas em seis níveis procura evidenciar os diferentes graus de complexidade das construções envolvidas nas imagens, bem como a dinâmica peculiar. Os níveis são os seguintes:
R1 – imagem mental na qual as impressões subjetivas pouco codificadas, impregnadas de afeto são o determinante principal. O sujeito utiliza-se nestas imagens fundamentalmente dos processos indutivos, porém, de modo muito subjetivo. São geralmente respostas cujo determinante não considera elementos formais, o faz de modo muito vago, sendo predominantes a cor, a sensação de profundidade ou de difusão, a mera sensação táctil ou a super-generalização impulsiva do significado a partir de indícios incomuns. Refletem uma apreciação extremamente superficial e subjetiva da realidade.
R2 – imagem mental onde ocorre um reconhecimento do percepto por analogia com experiências pregressas. O processo é fundamentalmente indutivo, simples e impessoal. Os determinantes formais, as respostas bem definidas de cor negra, branca ou cinza (C’), algumas respostas de forma com luminosidade adicional, dando características da imagem, são representados por este grupo. Refletem o processo mais frequente e impessoal de apreciação da realidade.
R3 – são imagens nas quais o processo é também indutivo, porém já ocorre certo nível variável de construção, seja por integração dos afetos despertados, seja por associação e reconhecimento emocional ou, porque o sujeito procura se distanciar da experiência para melhor compreendê-la e controlá-la, pela comparação. São determinantes utilizados o FC, o CF, o F+(l) ou o Ps. Refletem já uma certa construção pessoal, pela participação afetivo-emocional ou intelectual, na apreciação da realidade.
R4 – são imagens mentais nas quais participam processos dedutivos, porém sob influência de elementos afetivos, que fazem o sujeito utilizar-se de “juízos de valor” em sua avaliação. Coelho utilizou-se da denominação “pensamento mágico” ao referir-se a esta dinâmica do processo de simbolização. São aqui que aparecem mais frequentemente os símbolos, em sentido estrito. Os determinantes principalmente envolvidos nestas imagens são o movimento animal (m), os movimentos contidos ou bloqueados ou sob ação da gravidade (m’2), os movimentos projetados em forças da natureza (m’1), os movimentos humanos projetados em figura animal, as respostas de luminosidade codificadas como L ou a forma dinâmica como a considera Schachtel (1966). Refletem uma apreciação mais criativa da realidade, ainda que sob influência de “juízos de valor”.
R5 – imagens mentais onde o processo dedutivo é envolvido mais diretamente, de modo racional e lógico, ainda que sem mostrar muita originalidade, mas revelando amadurecimento social do ponto de vista intelectual. São imagens nas quais participam determinantes M, m’1 ligado a abstrações, F+ especial (Schachtel) (1966) e que correspondem a noções mais racionais. Correspondem, pois, a uma construção dedutiva, de modo racional e lógico, na apreciação da realidade.
R6 – imagens onde participam diversos determinantes e que se originam do desdobramento de uma resposta muito rica e original, revelando criatividade. Os processos indutivos e dedutivos estão simultaneamente envolvidos. Correspondem aos processos de construção simbólica mais criativos.
Procedemos à classificação das imagens mentais dos examinados da amostra segundo esta sistemática e comparamos com os resultados de Coelho (1993, II) obteve em outros grupos, com características diversas. Discutiremos os significados ao apresentarmos os resultados.
A seguir, na próxima páginas, apresentamos um quadro esquemático da distinção metodológica entre “níveis e modos” de tratamento dos estímulos com o objetivo de facilitar a visualização de nossos procedimentos. Discutiremos cada um dos pontos do quadro.
NÍVEIS E MODOS DE TRATAMENTOS DOS ESTÍMULOS
MODOS NÍVEIS | ||||||||
Captação dos Estímulos e Distribuição da Atenção | Apreensão e Seleção dos Estímulos e Graus de Seletividade | Capacidade de Manter Estável a Atenção. Eficácia do Controle Intelectual | Mecanismos Inusuais de Reação que Interferem na Seleção dos Estímulos | |||||
Grau inferiorGrau intermediárioGrau superior | EfetivaInsuficiente | ContaminaçãoPosiçãoPormenor inibitórioConfabulação | ||||||
Elaboração das Imagens Perceptuais | Organizações das Construções | Precisão Formal das Imagens | Flexibilidade para a Construção da Imagem | Interferência de Mecanismos Inusuais de Reação na Construção das Imagens | ||||
Z1 – Construções Racionais e ObjetivasZ2 – Construções de ordem Primordial-mente Impressivas e Subjetivas | Imagens Precisas (Ip)Imagens Vagas (Iv)SincréticaImpressionista Por generali-zação impulsiva | RC – Determinante CorRM – Determinante MovimentoRL – Determinante LuminosidadeRPs – Determinante PerspectivaRF – Determinante Forma | Associações Parasitas: fuga ao estímulo, fabulação, liberação, nomeação de cor.Alteração no Processo Associativo: hostilidade, repetição, perplexidade, rejeição, inibição.Distorções da Imagem: condensação de cor, condensação de conteúdo, fragmentação | |||||
Categorização dos significados | Nível de Abstração e de Generalização das Categorias | Atribuição Valorativa ao Significado das Imagens percebidas | Extensão de Interesses | |||||
Percepção inte-gral ou parcial de conteúdo humano ou animalCategorização ge-nérica ou especí-fica de conteúdo humano ou animal | Atribuição de quali-dades positivasAtribuição de carac-terísticas negativasAtribuição de defor-midades ou doençasPercepção neutra e superficial | Vagos e cotidianosDiferenciados e específicosForças poderosas da natureza ou armas agressivas |
- Nível de Captação dos Estímulos e Distribuição da Atenção
- Apreensão e Seleção dos Estímulos para a Estruturação dos Perceptos e Graus de Seletividade
- Grau Inferior: Tratamento das propriedades configuracionais das manchas apreendidas como unidades simples. Os estímulos se impõem à atenção do observador devido as suas características estruturais de simetria, de ritmo espacial, de nítida demarcação de seus limites ou de unidade homogênea e simples que caracteriza a pregnância das “boas formas” em Gestalt. Tais estímulos correspondem no Rorschach à modalidade global imediata simples e de pormenor primário isolado. O observador reage à impressão imediata que resulta de uma associação por analogia (semelhança) de imagens evocadas, caracterizando mais um processo de “reconhecimento” que de interpretação.
- Grau Intermediário: Em que ocorre extração e identificação de aspectos dos estímulos que frequentemente passam desapercebidos pela maioria, quer por sua reduzida extensão e pela posição que ocupam no conjunto dos estímulos apresentados (pequenos pormenores) quer por se apresentarem como espaços em branco (espaços primários) integrados na percepção como “fundo” de uma figura principal. A apreensão desses estímulos já exige maior esforço da atenção e supõe um tipo de observação analítica, porém, tais estímulos evocam, como no grau inferior, associações imediatas por semelhança, ainda que neste caso, o “reconhecimento” se acompanhe de um certo grau de construção perceptual.
- Grau Superior: Em que ocorre a extração, a identificação e a recombinação de diferentes porções do estímulo em uma construção mais complexa. Nesse caso, o observador opera segundo um modo analítico-sintético, buscando inicialmente as diferenças que uma vez identificadas passam a se articularem em uma “interpretação” de ordem mais ativa e pessoal. A precisão e coerência dessa “interpretação” já constitui um aspecto mais ligado à elaboração da imagem do que à observação do estímulo. No Rorschach o examinando efetua uma seleção dos estímulos (diferentes P interligados podendo ou não abranger toda a mancha (Pc ou Gc) ou entre manchas e espaços em branco (P(E) ou p(E), ou GE).
- Capacidade em Manter Estável a Atenção para o Julgamento Objetivo dos Estímulos. Eficácia do Controle Intelectual.
- Apreensão e Seleção dos Estímulos para a Estruturação dos Perceptos e Graus de Seletividade
Este modo de tratamento dos estímulos formais já se situa em posição intermediária entre a seletividade perceptual e a construção de imagens, porém, depende fundamentalmente da capacidade atual do indivíduo em manter estável a sua atenção, focalizando-a nas propriedades da situação externa. Adotamos aqui a avaliação das “formas bem-vistas” segundo o critério estatístico proposto por Herman Rorschach (1978) e aperfeiçoado por S. Beck, (1950) e seus seguidores. Para obtenção de informações mais precisas, distinguiremos o valor da porcentagem de F+, para o conjunto das pranchas coloridas e para o conjunto monocromático – conforme o procedimento estabelecido por Silveira e sua escola.
- Mecanismos inusuais que interferem na Seleção dos Estímulos
Alterações mais graves no processo seletivo da atenção e maior interferência de subjetivismo na apreciação do estímulo poderão traduzir-se no Rorschach pela ocorrência de mecanismos inusuais de reação ao nível da captação dos estímulos. Os mecanismos que encontramos na amostra foram contaminação, posição, pormenor inibitório e confabulação.
Coelho (1980) analisa o dinamismo da contaminação considerando que diferentes aspectos do estímulo provocam no probando associações de imagens que, por prejuízo da função da abstração, surgem apenas como uma noção de um resultado da fusão entre elas, expressos num único conceito sincrético que o probando não consegue isolar em imagens independentes. Na Posição, o único aspecto determinante da associação é a posição ocupada, no conjunto do estímulo, pela parte selecionada em sua relação com os outros elementos da mancha. No caso do pormenor inibitório (p’ ou Do), o probando percebe apenas uma parte humana ou animal onde habitualmente se percebe uma figura humana ou animal integral vulgar, revelando inibição do trabalho mental, por fatores diversos.
No caso da confabulação (PG ou p’’), a interpretação do estímulo decorre de uma apreciação extremamente superficial do mesmo. O probando, a partir de um pequeno indício (geralmente um pormenor primário ou secundário que possua alguma analogia com parte da imagem comunicada) generaliza impulsivamente o significado global da experiência, não corrigindo posteriormente suas conclusões. Se a interpretação abranger a mancha como um todo, codificamos como PG, se apenas uma parte dela, como p’’. Este desdobramento procedido por Coelho (1988) é análogo à distinção procedida pela Scuola Romana Rorschach quando codifica as siglas DG, DdG, DD e DdD, ainda que menos minuciosa. Assim a descrevem Parisi e Pes (1991).
Como estes mecanismos inusuais de reação foram frequentes em nossa amostra, discutiremos mais detidamente seus significados ao apresentarmos os resultados.
Em função de autores como Fonda (1960) mencionarem as respostas de Modalidade Espaço como vinculadas ao comportamento agressivo, sensu latu, pesquisamos mais detidamente sua ocorrência na amostra, bem como os dinamismos anormais da Reversão, situação na qual a mancha é percebida como “fundo” e o espaço como “figura”, alterando a já mencionada pregnância das boas formas da Gestalt, e da Referência ao vazio, quando o sujeito menciona o espaço em branco como algo que dificulta a percepção, sem atribuir-lhe significado.
- Nível de Elaboração das Imagens Perceptuais
- Organização das Construções
A construção de imagens supõe um determinado tipo de elaboração predominantemente indutivo ou dedutivo dos estímulos selecionados. Avaliamos o grau de elaboração dos perceptos a partir do índice Z de Beck (denominado Elab por Silveira), porém como sugeriu Coelho (1989) distinguimos entre as construções de caráter racional e objetivo – em que não apenas prevalece o determinante formal como também se baseiam em articulações precisas e coerentes de seus aspectos designadas pelo índice Z, das construções de ordem primordialmente impressivas e subjetivas prevalência de determinantes não-formais e baseadas em associações subjetivas e mesmo sincréticas correspondendo ao índice Z2.
Ambos refletem a capacidade do probando em estabelecer relações entre os eventos observados, embora em graus variáveis de objetividade e racionalidade. Comparamos a relação Z1/R e (Z1+Z2)/R para o conjunto total das pranchas, para aquele das pranchas coloridas e para o grupo monocromático.
- Precisão Formal das Imagens
Onde avaliamos a precisão do percepto, independentemente de seu nível de organização e do tipo de fator determinante em sua construção, é neste ponto. Distinguimos entre imagens estabelecidas de modo preciso, em seus contornos e na articulação de seus pormenores, baseadas em aspectos objetiváveis na própria estrutura do estímulo – designadas como Ip, das imagens cujos contornos são pouco nítidos e onde a evocação e as associações subjetivas são mais determinantes que as qualidades observadas no próprio estímulo, designadas como Iv. Considerando a própria tarefa solicitada pela Prova de Rorschach, fornece associações baseadas em perceptos organizados a partir de estímulos de formas “ambíguas”, a expectativa será a de encontrarmos com maior frequência as Ip que as Iv – em que ocorre um afastamento do observador dos estímulos que lhe são apresentados.
Encontramos dinamismos distintos levando às imagens vagas, em nossa amostra: (a) por sincretismo, (b) por uma apreciação a partir de impressões muito subjetiva, (c) por uma apreciação impulsiva, levando a generalização apressada do significado da experiência. O nível de precisão das imagens possui relação com a capacidade de imaginação e com a memória, conforme discutiremos a apresentar os resultados.
- Flexibilidade na Utilização das Características Observadas nos Estímulos para a Construção das Imagens:
Nesta etapa de nosso procedimento, procuramos verificar a ocorrência das diferentes categorias de determinantes envolvidas: cor, movimento, luminosidade e perspectiva, além das respostas formais. Verificamos o nível de integração formal que se opera em cada uma das categorias e suas proporções em confronto, além de analisarmos mais minuciosamente as características das respostas mais significativas.
- Interferência de Mecanismos Inusuais de Reação na Construção das Imagens
Dividimos estes mecanismos em três grupos principais e apenas discutiremos aqueles mecanismos encontrados em nossa amostra.
- Associações Parasitas: o sujeito afasta-se da situação da Prova (qual seja, a tarefa de interpretar as manchas por quatro dinamismos:
- Fuga ao estímulo: o probando associa situações pessoais, descreve as manchas ou relata fatos de sua vida alheios ao exame.
- Fabulação: o probando atribui sentimentos ou intenções às imagens percebidas
- Liberação: imediata de associação que na fase de inquérito são negados ou esquecidos.
- Nomeação de cor: considerada pelo examinando como resposta.
- Alterações no Processo Associativo: interferência de reações emocionais ou de limitações cognitivas, dentre as quais encontramos:
- Hostilidade: evidenciada por expressão gestual, fisionômica ou verbal contra a prova em geral, quanto à natureza de um estímulo específico ou contra o examinador.
- Repetição: automática de uma mesma associação em diferentes estímulos da prova sem procurar justificar posteriormente ou fazendo-o de um modo insuficiente evidenciando que a reposta foi fornecida quase como uma solução mágica à tarefa que se apresentou difícil e o examinando tinha verificado que a primeira associação, que repetiu, fora efetiva para resolver a tarefa noutro momento.
- Perplexidade: com rejeição de um determinado estímulo por dificuldade cognitiva em elaborá-lo.
- Rejeição: caracterizada como incapacidade total ou parcial (Inibição) de fornecer associações perante um determinado estímulo, por interferência de fatores emocionais.
- Distorções: efetuadas na própria construção das imagens, dentre as quais encontramos:
- Condensação de cor: evidenciada pela utilização, consciente ou não, de uma cor inadequada à imagem comunicada como resposta. Ocorre uma incapacidade de integrar o estímulo colorido.
- Condensação de conteúdo: a imagem mostra fusão de elementos diversos, de modo irracional na ligação procedida. Há sincretismo com superposição de atributos heterogêneos em uma mesma imagem, especialmente partes humanas em figuras animais ou vice-versa;
- Fragmentação: percepção de diferentes partes humanas ou animais sem integrá-las num todo significativo.
- Nível de Categorização de Significados
- Nível de Abstração ou de Generalização das Categorias
Em que distinguimos dois aspectos:
- Percepção Integral ou parcial das figuras humanas e animais
- Categorização genérica ou específica de figuras humanas ou animais.
- Atribuição Valorativa ao Significado das Imagens Percebidas
Onde distinguimos, em relação às figuras humana e animais as seguintes categorias:
- Atribuição de qualidades positivas
- Atribuição de características agressivas
- Atribuição de deformidades ou doenças às imagens que são percebidas de modo disfórico
- Percepção neutra das figuras, que são descritas de modo superficial e não integradas em uma situação específica.
- Extensão de Interesses: Traduzida pela ocorrência de categorias de conteúdo, além daqueles de figura animal e humana. Agrupamos as categorias de conteúdo distinguidas na prova de Rorschadch em três grupos principais
- Vagas ou cotidianos: nuvens, lagos, plantas, utensílios domésticos, acidentes geográficos, mapas.
- Diferenciados e específicos: arquitetura, paisagem arte, abstratas, ciência, botânica, aparelhos técnicos.
- Forças poderosas da natureza ou armas agressivas: explosões, enchentes, incêndios, erupções vulcânicas, terremotos, ligados à natureza e; armas ou cenas de luta, integrados em um contexto de destruição.
Além do levantamento indutivo dos dados, procuramos também verificar a ocorrência dos seis sinais de agressividade, na amostra. Estes sinais já havíamos estabelecido anteriormente, em trabalho em coautoria, com a Profa. Lucia Coelho (1987). São eles:
- Baixo nível de seletividade: evidenciada pela prevalência do grau inferior de seletividade em maior proporção do que o grau intermediário ou superior (Sinal BNS).
- Presença de Generalizações Impulsivas e não submetidas ao julgamento crítico, quanto à pertinência da interpretação (Sinal PG),
- Dificuldade em estabilizar a atenção para o exame objetivo dos estímulos, o que é especialmente acentuado diante das pranchas coloridas, que mobilizam de modo direto as reações afetivas (%F+ <75% nas pranchas coloridas e menor que %F+ mas pranchas monocromáticas (Sinal F+c)
- Os estímulos são interpretados segundo construções superficiais e mal definidas (Iv) e não suficientemente integrados no processo de reorganização das experiências (Iv>Ip e Z1<1) (Sinal Iv).
- Expressão pueril e intensa dos afetos: (C+CF>FC e FC<l) (Sinal C).
- Controle cognitivo insuficiente, evidenciado pelo controle formal reduzido (CF+C +ps+ps’+l + l’+m’1 > M+m’2+FC+Ps+L+C’) e elevada impulsividade (Imp) (Sinal CFI)
- REVISÃO DE TRABALHOS ANTERIORES UTILIZANDO O MÉTODO DE RORSCHACH EM EXAMINANDOS AGRESSIVOS
Seria impossível no âmbito deste trabalho passar em revisão toda a extensa literatura relacionada com a utilização do método de Rorschach em examinandos agressivos. Portanto, apenas referimos alguns autores clássicos e passaremos a apresentação dos resultados dos trabalhos mais recentes.
Bohm (1953) em seu clássico manual sobre o método de Rorschach discorre sobre os achados com a técnica em psicopatas antissociais.
Considera que se trata de um grupo muito heterogêneo que apresenta como característica comum intenso narcisismo e forte tendência à destruição. Refere que tendem a apresentar grande aumento de respostas com modalidade DZw e falta de respostas com determinante FFb.
Classifica-os em ativos e passivos. Em ambos os grupos haveria aumento de DZw, o tipo vivencial seria extratensivo-egocêntrico (predomínio de FbF e Fb sobre FFb) em lugar de choque cromático há quase sempre a aversão à c e ausência de respostas B. Os antissociais ativos possuem também muitas respostas de conteúdo objetos. Refere que também nos ladrões instáveis, segundo Zulliger, apareceriam muitas respostas globais confabuladas.
Em síntese, traduzindo para a terminologia adotada por Silveira, aponta os seguintes dados no protocolo dos psicopatas antissociais:
- Elevação da modalidade E
- CF+C>FC
- Aversão à cor
- Ausência de determinante M
- Elevação do conteúdo obj
- Ocorrência de modalidade PG
A crítica feita por Bohm quanto à imprecisão do diagnóstico, conforme veremos é a mesma feita por Weiner (1990), atualmente, revelando que este problema nosográfico ainda está por se resolver. De qualquer forma, Weiner já propõe algumas soluções mais concretas neste sentido. Outro fator que tem dificultado autores quanto à compreensão destes aspectos, segundo pensamos, é a falta de uma teoria de personalidade que não procure explicar a casa da manifestação psíquica a partir da causalidade psicogenética como é o caso da Psicanálise, adotada pela maioria dos autores, ainda que com algumas ressalvas, como é o caso de Bohm e mesmo de Weiner.
Flachier (1987) citando os trabalhos de Dubitscher e Portuondo com psicopatas antissociais relaciona os seguintes aspectos encontrados ao método de Rorschach
- presença de choque cromático, mais propriamente inibição ou rejeição
- FC=1 ou 2, CF=0 ou 1 e C=1, caracterizando deficiente controle das expressões afetivas.
- %F+ rebaixada, indicando baixo sentido de realidade
- Elevação de respostas com determinante S (E na terminologia aqui adotada), revelando agressividade e oposição, e
- Fracassos (Rejeições) indicando conflitos afetivos por fatores neuróticos.
Não concordamos com todas as interpretações dadas aos fenômenos encontrados, porém discutiremos estes aspectos quando compararmos com nossos resultados.
Anastasiades, citado por Pais (1989) e Timsit (1987), analisou sessenta e sete protocolos de criminosos com idade entre 19 e 58 anos, nas prisões de Istambul, prisioneiros estes que por razões de circunstâncias atenuantes, haviam escapado à pena capital. Encontrou as seguintes diferenças, relativamente ao grupo normal.
- Pequeno número de respostas (R)
- Porcentagem de globais pouco elevadas
- Porcentagem do tipo vivencial coartado
- Presença de respostas com conteúdo sexual e as respostas Clob (C’ na terminologia de Silveira)
Timsit (1987) considera, em nosso ver com propriedade, que estes dados são pouco característicos para que configura ema síndrome específica.
Endara, citado por Pais (1989) referia ter encontrado em criminosos deficiente controle consciente e emocional.
Em nosso meio, Souza (1982) em seu livro sobre o método de Rorschach comenta que os trabalhos que buscam avaliar criminosos com o método de Rorschach são bastante discordantes em seus resultados pois este grupo é muito heterogêneo. Em sua amostra, colhida na Penitenciária de São Paulo encontrou baixo nível intelectual, tendência ao tipo vivencial coartado, %A dentro da média e, em alguns casos indícios de ansiedade.
Alerta, entretanto, para o risco quanto à generalização destes achados.
Mais recentes são os trabalhos de Pais (1989) utilizando a mesma terminologia por nós adotada, com indivíduos inimputáveis perigosos, que apresentavam psicoses, realizado em Portugal, o de Weiner (1990) com criminosos na Flórida, Estados Unidos e, o interessantíssimo trabalho de Heraut (1987, 1989), num estudo longitudinal de crianças e jovens delinquentes, nos países bascos franceses e espanhóis.
A sistematização feita por Parisi, Pes, Foraglia, Lanotte e Spaccia (1992), da Scuola Romana Rorschach e os diversos distúrbios de personalidade, conforme codificados pelo DSM-III-R, é bastante interessante por sua amplitude e caráter sistemático. Não se trata de trabalho empírico, mas de uma construção dedutiva a partir dos conhecimentos dos significados dos fatores da prova. Portanto, apresentaremos inicialmente suas proposições.
Ao discutir o distúrbio antissocial de personalidade, o mais frequentemente relacionado com atos criminosos, os autores relacionam, cinco traços de personalidade deduzidos da descrição fornecida pelo DSM-III-R, quais sejam:
- Escassa adesão às normas sociais
- Afetividade hostil
- Insuficiente controle emotivo
- Empobrecimento intrapsíquico
- Falta de empatia
Descrevem indícios ao Rorschach para cada um destes traços e, posteriormente, estabelecem índices característicos, índices importantes e índices excludentes para o diagnóstico de Personalidade Antissocial pelo Rorschach.
Ainda que não consideremos possível o diagnóstico a partir do método de Rorschach, transcrevemos os índices que os autores consideram característicos e os excludentes para o diagnóstico. Além disso, selecionamos entre os cinco traços relacionados, aqueles de afetividade hostil, insuficiente controle emotivo e falta de empatia, que nos pareceram mais provavelmente ligados ao comportamento violento, que a nós interessa mais especificamente.
Como a terminologia adotada pela Scuola Romana Rorschach é diferente da nossa, tomamos a liberdade de apresenta os indícios já traduzidos para nossa nomenclatura.
Quanto aos índices característicos do distúrbio antissocial de personalidade, relacionam os autores:
- %R+ médio baixo
- %F+ médio-baixo
- Exagero de G com tendência a G no índice Perc
- Presença de PG
- E presente e E no Perc
- Eq coartado tendendo a extratensivo
- Eq’ com mesma tendência que Eq mas com tendência a valores pouco mais dilatados.
- Respostas cinestésicas
– poucas
– tendência a serem de tipo extensor
– dinâmicas (cenas de luta ou de violência ou abuso)
– diversas respostas tipo m ou m’ de tipo extensor
- Respostas cromestésicas
– diversas, com qualidade negativa
– FC<CF+C
- %H médio-baixo
- Presença de H/cena (de tipo não colaborativo) identificação com personagens potentes, importantes ou agressivos
- Número de conteúdos médio, havendo aqueles sx, obj e obj/arma
- Respostas dinâmicas de conteúdo sexual e/ou agressivas
- M+FC<CF+C, índice de impulsividade alto e índice de afetividade baixo
- Manifestações particulares: crítica à mancha, tendência à rejeição, relação crítica com o examinador (hostilidade), falta de simetria
Dentre os índices que os autores consideram excludentes do distúrbio estão:
- %R+ elevado
- %F+ elevado
- Poucas ou nenhuma resposta G no Perc
- Ausência de E no Perc
- Eq introvertido puro
- Grande diferença de orientação entre Eq e Eq’
- FC>CF+C
- %H elevado, identificação com personagens tristes, tímidos ou passivos
- M+FC>CF+C
Com relação aos três traços de personalidade considerados, referem os autores os seguintes indícios:
- Indicativos de afetividade hostil:
- Tri baixo
- %R+ médio-baixo
- %F+ médio baixo
- %F médio-baixo
- %R+/- médio-alto (imagens vagas)
- E no Perc
- Eq coartado tendendo a extratensivo
- M<m, orientação extensora, movimentos projetados em seres inanimados, respostas de interpretação fisionômica, identificação com animais astutos, potentes ou ferozes
- Respostas de cor com qualidade negativa e FC<CF+C
- %H médio-baixa, presenta de PH (bocas, dentes e olhos)
- Conteúdos obj ou armas, máscaras, alimento onde habitualmente se vê conteúdo sexual, respostas com conteúdo agressivo
- Poucas pranchas preferidas
- M+FC<CF+C, Imp elevado
- Presença de E e CF após inibição da prancha
- Respostas de cor forçada, cor arbitrária
- Tendência à perseveração
- Indicativas de insuficiente controle emotivo:
- Tri baixo
- %R+ médio-baixo
- %F+ médio-baixo
- Perc com G
- Perc com E
- Sucessão incalculável
- Eq coartado com tendência à extratensão
- Eq’ na mesma direção de Eq mas com valores pouco mais dilatados.
- Quanto às cinestesias poucas, tendência a movimentos extensores com conteúdos dinâmicos, muitas respostas de m ou m’, de tipo extensor, respostas de expressões fisionômicas, M<m
- Diversas respostas de cor com qualidade negativa, FC<CF+C
- Conteúdos de fogo e explosões
- M+FC<CF+C, Imp elevado
- Pouco choque e se presente, nas pranchas II e III
- Manifestações particulares: crítica à mancha, atração pelo vermelho, confabulações.
- Indicativos de falta de empatia:
- n° R médio ou médio-baixo
- respostas de cor diversas, com qualidade negativa e FC<CF+C, respostas de cor acromática branca, com presença de controle formal preciso ou vago – C’
- cor imprópria F/C ou C/F, (c), condensação de cor
- falta de respostas de luminosidade
- respostas de difusão – ps’
- %H médio-baixo
- Respostas de máscara
- Tendência a H desvalorizados (palhaços, homúnculo etc.), H/cena (do tipo não colaborativo
- Conteúdos minerais, radiografias, gelo, ossos, cenas, máscaras
- Tendência a conteúdos hostis e frios
- Conteúdo de cena com identificação com o agressor
- Manifestações particulares: ilusão de semelhança, crítica à mancha, desvitalização e cor arbitrária.
Trata-se de uma sistematização minuciosa, que parte do método dedutivo e, portanto, necessitaria verificação empírica, afinal como o próprio Winer (1990) comenta, o diagnóstico de distúrbio antissocial de personalidade do DSM-III-R é pouco preciso, uma vez que reflete apenas um ajustamento social pobre. Segundo o autor, o diagnóstico não é coincidente com aquele de Personalidade Psicopática.
Refere que nas Personalidades Psicopáticas devemos levar em consideração duas características básicas distintivas:
- Trata-se de uma desordem do caráter (em oposição às desordens neuróticas e psicóticas e, portanto, são crônicas, persistentes e ego-sintônicas e
- Envolvem defeitos específicos do caráter caracterizados pela incapacidade de amar e de sentir culpa.
Desta forma, os psicopatas são indivíduos agressivos, egocentrados e manipuladores.
Do ponto de vista psicodinâmico, segundo o autor, apresentam sempre alterações no funcionamento do Superego, mas há também alguns psicopatas que apresentam distúrbios nas funções do Ego. Deste modo, todos os psicopatas são incapazes de amar ou de sentir culpa, mas alguns podem ter seus erros e atos antissociais, sendo presos por crimes, com maior probabilidade.
Em seu trabalho, analisa protocolos de Rorschach de 130 criminosos, separando aqueles que apresentavam características psicopáticas.
Verificou aqueles que foram mais frequentemente condenados e constatou que apresentavam realmente maiores indícios de alterações das funções do Ego.
Os resultados que encontrou nos protocolos de Rorschach (já transcritos na terminologia por nós adotada) foram os seguintes:
- Aspectos centrais (indicativos dos transtornos superegóicos): ausência de respostas de textura, ausência de respostas de movimento cooperativo, rebaixamento da porcentagem de conteúdos humanos e elevação das respostas de espaço.
- Aspectos secundários (indicativos de transtornos egóicos): rebaixamento da percentagem de F+ e F, excesso de movimentos passivos, ausência de respostas de tridimensionalidade, cor dominando sobre forma e poucos indícios de ansiedade.
O trabalho de Weiner é bastante interessante pois busca maior precisão no critério diagnóstico e fornece critérios mais definidos no sentido de previsibilidade da recidiva do comportamento criminoso do sujeito estudado.
Pais (1989) realizou em seu trabalho a comparação de indivíduos psicóticos inimputáveis, homicidas e não-homicidas.
Relata os seguintes resultados, encontrados nos homicidas:
- Aumento de PG
- Presença dos mecanismos de perplexidade, inibição, rejeição, referência pessoal, referência ao vazio e perseveração de conteúdos
- Respostas C’ com formas vagas
- %A elevada nas pranchas monocromáticas
- Elab/R=0 em vários casos
- %F+ rebaixada nas pranchas coloridas
- Poucas respostas de cor, mas frequentemente mecanismo de referência à cor, projeção de cor, referência ao vermelho e nomeação de cor
- Baixo número de respostas
- Pobreza das respostas
Interpreta seus resultados como indicativos de controle consciente deficitário, controle emocional deficiente e presença de imaturidade. Haveria naqueles sujeitos uma incapacidade em controlar a emergência massiva das reações afetivo-emocionais. Propõe como reflexão a consideração de Silverman de que “as imagens mentais agressivas provocam disrupções na normal operação dos processos de pensamento, e tais disrupções facilitam a expressão direta da ideação agressiva” (pág. 125).
Robert e Dorcourt (1987) analisam, sob vários aspectos uma população de 163 sujeitos psicóticos de um hospital de Nice, que apresentavam comportamento agressivo.
Com relação aos dados encontrados ao método de Rorschach referem que nos pacientes que apresentavam heteroagressividade havia indícios de angústia arcaica, baixa porcentagem de F+ e baixa porcentagem de conteúdo humano, como dados mais frequentes. Em segundo plano, foram encontrados sinais de agressividade arcaica, percepção de elementos alterados e presença de respostas de interior do corpo (na). Concluem que o fato de ocorrer atividade fantasmática ligada a agressividade, não implica que não haverá “passagem ao ato” nestes pacientes. Alertam, entretanto, para que se tenha cuidado quanto às generalizações precipitadas de suas conclusões.
Zillmer, Archer e Castino (19809) apresentam uma análise de protocolos de Rorschach de oito criminosos de guerra nazistas. Todos ocupavam altos cargos no Terceiro Reich e, após o final da guerra foram condenados à morte pelo Tribunal de Nüremberg.
O resultado da análise destes protocolos revelou aspectos bastante heterogêneos e não foi possível encontrar elementos comuns significativos para a compreensão do que os autores denominam “personalidade nazista”, talvez porque não exista tal entidade.
Kaser-Boyde (1993) analisa 28 protocolos de Rorschach de mulheres que assassinaram seus esposos. Elas eram frequentemente espancadas por eles.
Os dados encontrados foram os seguintes:
- Baixo número de respostas
- Lambda rebaixado
- Maior frequência de respostas com qualidade formal vaga
- Predomínio de respostas com modalidade P ou G imediatas
- Rebaixamento da %V
- %X+ rebaixada (ou seja, rebaixamento das formas bem-vistas em sentido extenso)
- Menor quantidade de determinante M
- RC = 3,48 em média, com predomínio de C pura
- Baixa frequência de respostas de sombreado e de perspectiva
- Ausência de determinante l.
Gacono (1992) analisa através do Rorschach a dinâmica psíquica de um assassino sexual. Apresenta as variáveis encontradas em seu protocolo, que foram mais significativas: R=13, Y=0 (ausência de sombreado difuso, indicativo de ansiedade), C’=0, FC:CF+C = 1,4 com C=2.
Conclui que o sujeito estudado apresenta uma estrutura psíquica organizada no nível borderline com evidências de déficits no teste de realidade e distúrbios de identidade. Refere que em trabalho anterior, encontrara que sujeitos com distúrbios antissociais de personalidades psicopáticas produzem significativamente menos T (textura) e Y (sombreado difuso), maiores índices de egocentrismo, quando comparados com sujeitos com distúrbios antissociais não psicopatas.
Timsit e Bastin (1987) analisam protocolos de Rorschach de 26 criminosos assassinos, concluindo que quanto à análise formal, não há sinais clássicos de agressividade. Os protocolos são pobres e há certa heterogeneidade do perfil de personalidade pois os criminosos têm personalidades muito diferentes. Entretanto, referiu a presença de C+CF<FC e ausência de respostas de luminosidade. Conclui que há muito poucos sinais de agressividade direta e, portanto, quanto maior a quantidade de conteúdos agressivos num protocolo, menor seria o risco de perigo de atuação. Retoma, assim, a noção da função compensatória da fantasia.
O referido trabalho foi apresentado numa reunião de especialistas e houve uma polêmica interessante entre Timsit e Heraut.
Heraut considera que os sujeitos com Rorschach coartado, em sua experiência são aqueles de sujeitos que menor probabilidade têm de delinquir.
Por outro lado, refere que quando aparecem conteúdos agressivos num protocolo, considera fundamental analisar o grau de simbolização destes impulsos, representados nas imagens. Quanto mais passiva for a resposta, menor o grau de simbolização e quanto mais ativa (por exemplo, quando projetada em movimentos animais ou humanos) maior a simbolização. Relaciona a maior simbolização das imagens agressivas com a menor possibilidade de atuar e vice-versa.
Finalmente, como já referimos, em nosso ver, os estudos atuais mais interessantes relacionando Rorschach e criminalidade, são aqueles de Heraut (1987, 1989).
Partindo do conceito de personalidade criminosa de Pinatel, este autor analisou protocolos de Rorschach de sujeitos institucionalizados, na infância, adolescência e na idade adulta.
Procedeu a um estudo longitudinal, acompanhando o curso de vida de 808 criança e adolescentes, pode reanalisar seus protocolos de Rorschach, anos após, comparando aqueles que delinquiam e os que se integraram socialmente.
Inicialmente, partiu dos quatro traços de personalidade descritos por Pinatel para a “personalidade criminosa”: egocentrismo, labilidade, agressividade e indiferença afetiva. Estabeleceu índices no Rorschach para estes quatro traços, a partir da literatura anterior.
Após seguimento longitudinal, constatou que o índice de indiferença afetiva não estava ligado à delinquência ulterior.
A partir disto, depurou os índices, considerando dois índices de agressividade e de labilidade, os quais estavam ligados à delinquência.
Procedeu, a seguir, uma análise fatorial a partir dos elementos significativos do Rorschach, encontrados nos delinquentes e não delinquentes. Desta análise emergiram três novos fatores:
- Fator “violência” relacionado aos seguintes índices: presença de cor pura, movimentos projetados em objetos, C’ com formas pouco nítidas, respostas de arquitetura (perspectivas vagas), respostas de fragmentação e, por vezes, presença de CF, respostas de conteúdo sangue, respostas de eixo, fenômenos da natureza, pormenores secundários dados em contorno. São indícios indicativos de certa crueldade e violência pulsional e ao mesmo tempo com certa frieza e petrificação, segundo o autor.
- O Fator “inibição” indicado por tempo de latência elevado, principalmente na prancha V, número elevado de determinantes, tempo total elevado, número elevado de respostas com conteúdos pA, número muito elevado de determinante m e de respostas de conteúdo geográfico. Evidenciariam uma frenação melhor das pulsões e um comportamento que poderíamos classificar como “menino bonzinho”, segundo o autor.
- O fator de “socialização banal”, ligado à presença de respostas M, presença do conteúdo H, número elevado de respostas vulgares e presença de reversão. Um dado de falha neste fator é a rejeição da prancha I. Este fator estaria ligado os tipos de respostas que tradicionalmente traduzem o contrato social através da prova.
Uma vez estabelecidos estes três fatores, o autor os cruzou com os fatores “tornar-se delinquente”, “tipos de delinquência” e “adaptação social”. O fator violência, que mais nos interessa neste trabalho, foi ligado significativamente a condenações por violência contra pessoas.
No entanto, a relação deste fator com os outros dois levou a interessantes resultados, que reproduziremos abaixo:
Fator inibição | Fator Socialização Banal | Fator Violência | Comportamento encontrado |
AusenteAusente | PresentePresente | Presente Ausente | Delinquência grave |
Ausente | Ausente | Ausente | Delinquência média e benigna |
Presente | Presente | Presente | Delinquência juvenil |
Presente | Ausente | Ausente | Ausência de Delinquência |
Deste modo, o autor considera a importância da bipolaridade entre os fatores violência/inibição. O fator sociabilização banal não deve ser nem muito elevado e nem muito rebaixado.
Procedemos a esta breve revisão de trabalhos relacionando Rorschach e agressividade manifesta. As situações analisadas nos diferentes trabalhos não são plenamente coincidentes com aqueles por nós analisados. Talvez os trabalhos de Pais (1989), Weiner (1990) e Heraut (1987, 1990) sejam as investigações que possuam maior correlação com nossa amostra. Buscaremos traças correlações ao apresentarmos nossas conclusões.
De qualquer modo, os aspetos mais comuns relatados nestes trabalhos, relativamente a elementos do Rorschach encontrados em sujeitos agressivos foram:
- CF+C>FC
- %F+ rebaixada
- Baixo número de respostas
- Presença de respostas com formas vagas, principalmente do tipo C’
- Ausência ou redução das respostar de luminosidade
- Elevação da modalidade E
Como aspectos menos comumente relacionados, mas também presentes, estão:
- Ausência ou diminuição de determinante M
- Presença de confabulação (PG)
- Rejeições frequentes de pranchas
- Tipo vivencial coartado (Eq coartado).
Os significados psicológicos que geralmente são relacionados a estes índices são:
- C+C>FC – egocentrismo, descontrole impulsivo na expressão dos afetos.
- %F+ rebaixada
- Baixo número de respostas
- Presença de respostas com formas vagas, principalmente do tipo C’
- Ausência ou redução das respostas de luminosidade
- Elevação da Modalidade E
Como aspectos menos comumente relacionados, mas também presentes, estão:
- Ausência ou diminuição de determinante M
- Presença de confabulação (PG)
- Rejeições frequentes de pranchas
- Tipo vivencial coartado (Eq coartado)
Os significados psicológicos que geralmente são relacionados a estes índices são:
- CF+C>FC – egocentrismo, descontrole impulsivo na expressão dos afetos
- %F– rebaixada – subjetivismo no contato com a realidade, insuficiente controle consciente, dispersão da atenção
- Baixo número de respostas – muitos significados, desde desinteresse até a incapacidade associativa
- Presença de respostas de formas vagas, principalmente do tipo C’ – incapacidade em melhor definir as experiências emocionais, falta de imaginação e pouca capacidade de se reger por experiências emocionais passadas assimiladas.
- Ausência ou redução das respostas de luminosidade – ausência de ansiedade ou como nós interpretaríamos na Sociedade Rorschach de São Paulo, não apenas de ansiedade, mas de sensibilidade emocional
- Elevação da modalidade E – também possui muitos significados, mas os mais frequentemente relacionados são a atitude de oposição e a preocupação com obstáculos e dificuldades
- Ausência ou diminuição de determinante M – falta de autonomia, de criatividade, de empatia, entre outros
- Presença de confabulação (PG) – tendência ao exame superficial da realidade. Supergeneralizações apressadas e impulsivas no plano cognitivo.
- Rejeições frequentes de pranchas – dificuldade de elaborar em virtude de problemas afetivos ou emocionais específicos
- Tipo vivencial coartado – falta de recursos subjetivos. Contato impessoal e formal com a realidade.
- RESULTADOS E DISCUSSÃO
As tabelas de I a XXV, apresentadas nas páginas de 105 a 123, mostram os dados encontrados na análise dos protocolos de Rorschach dos examinandos da amostra.
Passemos a discuti-los, segundo a sistemática apresentada na tabela Níveis e Modos de Tratamento dos Estímulos, do capítulo Material e Método (na página 67).
- Nível de Captação dos Estímulos e Distribuição da Atenção
- Apreensão e seleção dos estímulos para a estruturação dos perceptos e graus de seletividade
Não houve diferenças quanto à distribuição das imagens em função dos graus de seletividade com relação ao conjunto de pranchas coloridas e monocromáticas. Considerada a distribuição geral, há um claro predomínio do grau inferior de seletividade. Das 314 imagens evocadas pela amostra, 235 (74,84%) são de grau inferior, 63 (20,06%) são de grau superior e 16 (5,10%) são de grau intermédio (Tabela I).
Vinte casos dos 21 da amostra (95,24% apresentam no conjunto de suas respostas o predomínio do grau inferior de seletividade. Portanto, este sinal, que já fora por nós verificado em trabalho anterior (1987), se confirmou como o mais frequente na amostra.
O seguinte gráfico visa apresentar esta distribuição de modo mais claro:
Distribuição do total de Imagens da Amostra de acordo com os graus de seletividade:
Total de Imagens 314 (100,00%)
Grau Inferior 235 (74,84%)
Grau Intermédio 16 (5,10%)
Grau Superior 63 (20,06%)
Tal constatação implica que os sujeitos da amostra tendem predominantemente a reagir aos estímulos do ambiente de modo imediato, a partir de impressões (o que se confirmará com outros dados, por exemplo, o predomínio das respostas de configuração formal vaga), sem um exame prévio dos diferentes aspectos para a seguir reagrupá-los numa estrutura significativa. Percebem apenas os aspectos mais evidentes que se impõem por si mesmos (Sinal BNS)
- Capacidade de manter estável a atenção para o julgamento objetivo dos estímulos. Eficácia do controle intelectual
De um modo geral, dez casos (47,6%) da amostra apresenta a %F+ inferior a 75%, seis casos (28,6%) apresentam-na elevada (acima de 92%) e cinco casos (23,8%) a apresentam dentro de limites aceitáveis (maior que 75% e menor que 92%). Analisando-se as diferenças quanto aos grupos de pranchas monocromáticas e coloridas, chama a atenção que, no conjunto das pranchas coloridas, é maior o número de sujeitos que apresentam a %F+ rebaixada (abaixo de 75%) doze casos (57,1% da amostra). Apenas 3 casos (14,3%) apresentam-na dentro de limites aceitáveis (mais elevado que 75% e menos elevado que 92%).
Deste modo, considerando-se os casos em que a %F+ no conjunto de pranchas coloridas foi inferior a 75% e no conjunto monocromático superior, constataremos que tal ocorre em 9 casos (42,9% da amostra) (Tabela II).
Apresentamos abaixo gráficos onde procuramos evidenciar os dados encontrados com relação a este fator. Estes gráficos foram adicionados à edição anterior da dissertação e já incluem os novos valores considerados para a faixa normal da população (valores publicados em 2007 pela SRSP):
Com relação à %F+ no protocolo total, 16 dos 21 casos apresentavam-se desviados da faixa normal (6 casos para mais e 10 casos para menos)
Com relação à %F+ nas pranchas monocromáticas, 19 dos 21 casos apresentaram-se desviados da faixa normal (8 para mais e 10 para menos)
Com relação à %F+ no conjunto colorido, 18 casos a apresentavam fora da faixa da normalidade (6 para mais e 13 para menos, sendo que em 3 casos esta porcentagem era de 0)
Assim, constatamos que praticamente metade da amostra apresenta um rebaixamento importante da %F+ no conjunto dos estímulos coloridos. Isto implica que revelam dificuldade em estabilizar a atenção para o exame objetivo dos estímulos, principalmente quando se mobilizam de modo direto as reações afetivas.
Esta dinâmica tinha também sido observada nos probando violentos que examinamos em trabalho anterior (1987) e consistia no 3.º sinal de agressividade que havíamos construído (Sinal F+c). Na amostra atual foi o sinal menos frequente, ainda que tenha aparecido em quase metade dela (Tabela XXV).
- Mecanismos inusuais que interferem na seleção dos estímulos
Com relação aos mecanismos inusuais de reação que interferem na seleção dos estímulos, o único que aparece distribuído de modo muito elevado na amostra é o da Confabulação (PG ou p’’), que ocorreu em 16 dos 21 casos (Tabela III). É o segundo sinal de agressividade mais frequente na amostra (Sinal PG), juntamente com o sinal CFI (Controle formal insuficiente) (Tabela XXV).
Na maioria dos casos que apresentaram confabulação, esta ocorreu na prancha IV (13 casos).
A presença frequente de confabulação ou “generalização forçada” indica que a maioria dos examinandos, a partir da observação parcial de apenas um pormenor do estímulo, procede a generalizações impulsivas e não submetidas ao julgamento crítico quanto à pertinência da interpretação.
A ligação com a realidade é precária, ocorrendo uma tendência a desencadear imediatamente a ação, sem adequada reflexão. Tal aspecto aparece também no plano cognitivo pois a percepção da realidade se dá de forma “impulsiva”, superficial e as conclusões são precipitadas.
Rausch de Traubenberg (1981) ao analisar as características das diversas pranchas do Rorschach, relativamente à prancha IV refere tratar-se de uma mancha escura, espalhada e fechada, próxima à prancha I, mas muito mais maciça, compacta e sombria. Nesta prancha, a apreensão das sombras poderá provocar reações muito específicas em geral de colorido disfórico.
Em função de sua orientação psicanalítica, refere que a solicitação simbólica latente ligada a esta prancha relaciona-se ao poder, à força ou mesmo à autoridade e que as atitudes despertadas podem ser positivas ou negativas, de identificação com a dominação ou com a submissão, de atitude valorizando a força ou de refúgio na inconsistência e na passividade.
Outros autores são mais cuidadosos com relação à interpretação simbólica das pranchas pois consideram que somente podemos fazê-lo, conhecendo a dinâmica psicológica do sujeito examinado. É variável a projeção de fantasias. De qualquer modo é bastante interessante observar que justamente nesta prancha a maioria dos sujeitos de nossa amostra apresentou respostas confabuladas. A prancha IV foi pouco rejeitada. A dificuldade apresentada pelos sujeitos da amostra, em maioria, teria relação, portanto, com experiências específicas eliciadas por esta prancha. Teria uma correlação com uma incapacidade de assimilação das normas do poder, de submeter-se no sentido de internalizar a interdição feita pelos valores, representada pela figura de autoridade?
Com relação aos outros mecanismos anormais encontrados, ocorreram, em ordem decrescente de frequência o Pormenor Inibitório (em cinco casos), a Posição (em 4 casos) e a Contaminação (em apenas um caso). Apesar de aparecerem em pequena frequência na amostra, sua ocorrência deve ser considerada já que tais mecanismos inusuais de reação são muito raros na população média.
A contaminação é um mecanismo inusual bastante raro na população normal, sendo mais frequente entre psicóticos. Segundo Coelho (1980) indica deficiência do raciocínio lógico, especialmente ao nível da dedução. Traduz também dificuldade de observação abstrata. Estaria indicando dificuldade de distinção entre a identidade subjetiva e os estímulos objetivos do ambiente. Como apenas um dos examinandos apresentou este mecanismo apenas podemos considerar que ocasionalmente, em alguns sujeitos violentos, esta dinâmica poderia também ocorrer.
Já um pouco mais frequente, ainda que em apenas, um quarto da amostra, ocorreu inibição do trabalho mental (pormenor inibitório). Nestes casos, como considera Silveira (1985) esta inibição poderia decorrer de uma deficiência intrínseca da observação abstrata ou de uma alteração secundária na estabilização do estímulo conativo para manutenção do trabalho mental. A preocupação excessiva com problemas pessoais (na ansiedade, na depressão, ou pela ocorrência de ideias prevalentes) poderia, em função de desviar a atenção e bloquear a observação, ser responsável pela inibição momentânea do trabalho mental.
Não cabe aqui verificar a dinâmica de cada caso pois não se trata de um trabalho clínico. Frisamos apenas que em um quarto da amostra há inibições momentâneas do trabalho mental, com incapacidade de perceber o mais óbvio.
A presença de posição indica também prejuízo do raciocínio lógico.
Porém, aqui, os examinandos fazem uso do “pensamento mágico”, revelando, a ocorrência deste dinamismo, como considera Coelho (1980) a interferência de fantasias irracionais nas relações interpessoais e a disposição para o desencadeamento imediato das reações.
Pesquisando também na amostra a ocorrência de respostas de espaço e de dinamismos do tipo Reversão e Referência ao Vazio. A tabela IV apresenta os resultados encontrados.
Conforme se constata, apenas seis casos apresentam respostas utilizando o espaço como modalidade e quatro o mecanismo inusual da Reversão. Esta frequência é bastante baixa uma vez que maio ou menos compatível com a ocorrência na população normal.
Estaria, portanto, constatado que nesta amostra, a preocupação com obstáculos, dificuldades à autoafirmação, atitude de oposição, interpretações que os autores relacionam a respostas de espaço, não ocorrem como dinâmica significativa”. A nível da captação dos estímulos, sim. No entanto, a questão dos obstáculos à autoafirmação, certamente é um aspecto fundamental a ser analisado na amostra estudada.
Apesar de não ocorrer respostas de espaço na amostra, houve frequentemente a inibição na prancha VII e IX, mecanismo que autores como Bohm denominam “choque ao vazio”. As alterações relativas a estes aspectos ocorrem, portanto, a nível da elaboração. Discutiremos tais resultados mais adiante.
- Nível de elaboração das Imagens Perceptuais
- Organização das construções
A Tabela V apresenta os resultados relativos a esta etapa dos procedimentos de análise.
Observa-se que o índice Z1/R se encontra rebaixado em 18 casos da amostra (85,7%) e, em 19 casos (90,5%), encontra-se rebaixado no conjunto das pranchas coloridas, sendo que em sete casos, é igual a zero.
Nos dois gráficos acima podemos constatar através do gráfico à esquerda que apenas o caso 9 e o caso 10 apresentavam o índice Z1/R dentro delimites normais (acima de 1), e através do gráfico da direita, considerando-se Z1/R no conjunto cromático, apenas o caso 7 apresentou o índice normal e nos casos 1, 2, 10, 14, 15, 16, 18 e 19, este índice foi igual a zero.
Se considerarmos o índice (Z1+Z2)/R constatamos que, em onze casos (52,4%) da amostra está rebaixado. No conjunto das pranchas coloridas, em doze casos (57,1%).
O índice Z1/R está rebaixado em 13 casos (61,9%) no conjunto de pranchas monocromáticas e (Z1+Z2)/R em onze casos (52,4%).
Observando-se a média dos índices, verifica-se que apenas (Z1+Z2)/R no conjunto das pranchas monocromáticas ou das pranchas coloridas se encontra dentro de valores normais e que Z1/R no conjunto das pranchas coloridas é o índice mais rebaixado da amostra.
O índice Z de Beck relaciona-se com o trabalho mental associativo entre os diversos estímulos ambientais. Conforme refere Coelho (1980), o índice Z (ou Elab na terminologia de Silveira) afere a capacidade de percepção de relações que não são evidentes em si.
Portanto, relaciona-se com a capacidade de conceituação e abstração (elaboração intelectual em sentido estrito).
O índice Z1/R estaria, portanto, indicando o grau das construções de caráter racional e objetivo, o que está bastante prejudicado, principalmente nas situações nas quais os probando são tocados afetivamente. Tal fato não decorre de limitação intelectual intrínseca, na maior parte da amostra, por há uma parcial compensação (Z1+Z2)/R se encontra normal), indicando que as construções que ocorrem, são primordialmente impressivas e subjetivas ou mesmo sincréticas.
- Precisão Formal das Imagens
Conforme se verifica na Tabela VI, as imagens vagas predominam sobre as imagens precisas (55% Iv e 45% Ip). Isso ocorre em 13 dos 21 casos da amostra (61,9%) e quando não ocorre, a frequência de uma ou outra é mais ou menos equivalente. Quando da revisão desta dissertação, optamos por introduzir os gráficos abaixo que não constavam na edição original desta dissertação, com o objetivo de tornar mais fácil a percepção dos resultados.
Ainda que não possuamos uma estatística deste fator para a população média, pois na avaliação de F+ usamos o critério estatístico proposto por Beck, a expectativa teórica é de que há um predomínio das formas precisas, na população normal. A Scuola Romana Rorschach (1991) utiliza-se do símbolo F+/- para as formas vagas, indefinidas ou imprecisas e em seus trabalhos referem ser este tipo de imagem ser infrequente entre a população normal.
Subdividimos as imagens vagas em três grupos, segundo os dinamismos psicológicos envolvidos e responsáveis por sua imprecisão: (a) vagas impressionistas, onde o fator determinante seria a impressão muito subjetiva causada por impulsos não controlados ou emoções primárias, com pouca simbolização, (b) vagas impulsivas, quando há supergeneralização do significado global da experiência, a partir de um pormenor secundário e, (c) vagas sincréticas, quando por prevalência de nexos emocionais primários surjam imagens deformadas com associações irracionais dos perceptos.
A precisão das imagens percebidas relaciona-se, quanto ao aspecto cognitivo, com a capacidade de precisão da evocação das experiências no sentido de identificá-las e mesmo proceder à projeção cronológica. Se as imagens são vagas, seu reconhecimento é impreciso e também a capacidade de imaginação está reduzida pois o sujeito não é capaz de evocar do cabedal mnéstico imagens variadas e recombiná-las de modo criativo.
A associação da prevalência de Imagens Vagas e do baixo grau de seletividade, indica uma espécie de “prisão” ao momento presente das experiências, com relativa incapacidade de guiar-se a partir de experiências pregressas e também de planejar e prever experiências futuras.
A seguir apresentamos um gráfico que procura mostrar de modo esquemático a distribuição dos diversos tipos de imagens encontradas na amostra. Trata-se de um desdobramento do gráfico VII, precisando melhor as Imagens vagas de acordo com os dinamismos que ocasionam a vagueza das Imagens.
O gráfico abaixo procura apresentar de modo esquemático a distribuição dos diversos tipos de imagens encontradas na amostra
Distribuição das imagens de acordo com sua precisão formal:
- Total de Imagens eliciadas: 314 (100%)
- Imagens precisas (Ip) 140 (≅45%)
- Imagens vagas (Iv) 174 (≅55%)
– sincréticas (Ivs) 11 (≅3%)
– impulsivas (Ivg) 40 (≅13%)
– impressivas (Ivi) 123 (≅39%)
- Flexibilidade na Utilização das Características Observadas nos Estímulos para a Construção das Imagens
As tabelas VII a XIII apresentam os resultados encontrados relativos a esta etapa dos procedimentos.
A tabela IX apresenta-nos o número total de determinantes encontrados, distribuídos segundo uma escala de níveis (1.°, 2.° e 3.°). O primeiro nível representa contato pleno com a realidade ambiente, isto é, de acordo com o modo mais frequente na população média. É esperado estatisticamente que supere em três vezes a somatória do segundo e terceiro nível. O segundo nível revela um contato pouco mais subjetivo, mas ainda aferível estatisticamente e, o terceiro nível, refere-se a reações essencialmente individuais em face ao estímulo ambiental.
O primeiro nível é representado pelos seguintes determinantes M, Ps, FC, L e C’ (este último excluído pela dinâmica indutiva que representa, aproxima-o mais às respostas de Forma), o seguinte, por m, ps, CF e l e, o terceiro pelos determinantes m’, ps’, C e l’.
O gráfico abaixo representa a somatória dos determinantes, comparados segundo os três níveis descritos.
- 1.° nível (soma ponderal, na qual se inclui as respostas de M, Ps, FC e L, acrescentando 0,5 ponto a cada respostas deste tipo em adicional, num total de 25,5 imagens), em termos de porcentagem do total das imagens (111, equivalendo a 100%) = 23,18%
- 2.° nível (soma ponderal, na qual se inclui as respostas m, ps, CF e l, acrescentando 0,5 ponto a cada resposta em adicional deste tipo, num total de 55,5 imagens) em termos de porcentagem do total das imagens (111, equivalendo a 100%) = 50%
- 3.° nível (soma ponderal, nas qual se inclui as respostas de m’, ps’, C e l’, acrescentando 0,5 ponto a cada resposta em adicional deste tipo, num total de 30 imagens) em termos de porcentagem do total das imagens (111, equivalendo a 100%) = 27,02%
Torna-se evidente pelo gráfico que houve uma inversão da proporção esperada (1.° nível > 2.°+3.° nível), indicando o intenso subjetivismo e, mesmo idiossincrasia no contato com a realidade. Predominam as reações mais subjetivas, instintivas e idiossincrásicas.
Procedemos a uma comparação entre determinantes diferentes e discutiremos os dados encontrados para cada tipo de determinante.
Quatorze dos 21 examinando apresentaram respostas com determinante movimento, no entanto, se considerarmos apenas aqueles que apresentaram mais do que uma resposta com determinante movimento, este número cai para quatro (Tabela VII). Já com relação às respostas com determinante cor, dos 21 examinandos, dez apresentaram mais do que uma resposta (Tabela VIII). Deste modo, constatamos que ocorrerá ou uma coartação como tendência, ou a extroversão (Eq de Silveira ou Erlebnistypus de Rorschach). Procedemos também, a uma comparação total das respostas com determinantes movimento e aqueles com determinantes cor, considerando ponderalmente as respostas, conforme metodologia utilizada na Sociedade Rorschach de São Paulo, para os índices Eq e Eq’ (Equilíbrio das forças subjetivas, em nível manifesto e latente). Encontramos os valores de 11:35 para o primeiro e 31,5:35. Isto é, há um claro predomínio do segundo fator (determinante cor), tanto no primeiro índice (Eq’) quanto no segundo, ou seja, a extraversão na nomenclatura de Rorschach, adotada por Silveira. A tabela IXB, introduzida quando desta revisão, realizada pelo autor em 2024, busca tornar mais fácil observar estes achados. A partir desta tabela também construímos os seguintes gráficos:
Observando-se os gráficos acima, torna-se bastante evidente que mais do que a metade dos probandos da amostra apresenta tipo vivencial extratensivo, tanto ao nível manifesto como latente (11 dos 21 caso). Existe apenas uma pequena diferença com relação aos outros tipos vivenciais: o segundo grupo significativo são os coartados e coartativos (8 casos se considerarmos os Eq e 6 se considerarmos o Eq’). Isto significa que comparando Eq e Eq’, houve modificação apenas em poucos casos que ou modificam o tipo vivencial para introvertidos a partir de perfis coartados ou a partir do único perfil ambigual dilatado. Não há nenhum caso que migre de extratensivo para introvertido. Estes dados, apenas confirmam a forte tendência extratensiva e coartada da amostra.
Considerando-se isto, podemos afirmar que estes dados indicam que os examinandos, em geral, não desenvolvem capacidade de estabilizar as reações afetivas (poucas respostas M), apresentando com frequência emoções, que no caso, são totalmente de tipo egocêntrico (há apenas 3 respostas de tipo FC na amostra), fornecidas por 3 examinandos diferentes e nestes três, apesar de fornecerem cada um uma resposta FC, apresentam FC<CF+C.
Conforme já afirmamos acima, esta disposição é também aquela encontrada a nível profundo da personalidade na maior parte dos probando (Eq’ também é extratensivo). Quando isto não ocorre, as respostas de movimento são do tipo extensor e muitas vezes ligadas a força da natureza ou a movimentos de objetos, indicando também, conforme considera Klopfer (1956) a insurgência de forças indomáveis que ameaçam a integridade da organização da personalidade (predomínio de m’1) (Tabela VII e X).
A comparação entre as esferas intelectual e afetivo-emocional, a nível manifesto e latente, é fornecida pelos índices: (Ps+M):(L+C) e (m+m’):(l+l’+C’). O primeiro destes índices representa a Dinâmica Psíquica Atual, ou seja, os processos cognitivos cuja expressão é consciente, representada pela somatória (Ps+M), que expressa a autoafirmação do examinando e o como com que ele concebe a sua posição no ambiente, em sentido de competição e de construção, através do qual aplica sua inteligência no mundo externo (Ps). Por outro lado, a vertente afetivo-emotiva, isto é a adaptação emocional mais diferenciada e consciente e a expressão mais direta, mas também consciente dos afetos, é representada por (L+C), na qual os fatores representados, tal como ocorre com os fatores da vertente intelectual, são respectivamente de ordem extrínseca e intrinsecamente afetiva. O determinante L corresponde a um tipo de adaptação emocional mais diferenciada e dedutiva, ao passo que o determinante C traduz a expressão mais direta dos afetos. Assim, nas expressões afetivas do adulto, a reatividade impulsiva e incontrolada, traduzida por C, será compensada pela adaptação cautelosa ao ambiente, na qual o examinando utiliza sua sensibilidade a condições mais sutis do ambiente que nele provocam intensa repercussão afetiva, mas que não impedem suas construções pessoais. Já o segundo índice [(m+m’):(l+l’+C’) seria indicativo tanto de “juízos de valor” predominando sobre as noções mais amadurecidas (primeira parte do índice), quanto reações emocionais imaturas, quer como adaptação concreta e indutiva ao ambiente, ou a experiência tácteis e de exploração do ambiente ou, ainda reações ansiosas, angústia ocasionando retração emocional.
A comparação destes dois índices na amostra, não chama muito a atenção de modo evidente. No entanto, há claro predomínio da vertente formal, ou seja, sem a participação nem da esfera intelectual (em 9 e em 10 casos da amostra) e nem da afetivo-emocional; e da vertente afetivo-emocional, ou seja, o predomínio das reações afetivo-emocionais na dinâmica Psíquica atual, seja de modo manifesto quanto latente (em 7 casos em ambos os índices). É fundamental lembrar que a vertente afetivo-emocional destes índices é composta principalmente por reações afetivas impulsivas (respostas de cor pura) ou indicativas de ansiedade (respostas de luminosidade que não L). Finalmente, observa-se que a vertente intelectual ou ambigual, quando predominam de modo equilibrado a vertente intelectual e afetivo-emocional, restringem-se a 5 e 4 casos da amostra.
Estes dados reforçam nossa observação de que na Dinâmica Psíquica Atual, seja em nível manifesto quanto latente, estão presentes reações afetivas impulsivas principalmente ou um contato frio e formal com a realidade. Em apenas 4 a 5 casos houve predomínio de respostas indicativas da vertente intelectual, predominando também percepções de ser tomado por impulsos intensos para os quais os examinando não têm controle. Estes aspectos ficarão mais evidentes a partir de outros dados encontrados na amostra.
A análise mais minuciosa das respostas ligadas a cada série de determinantes, é apresentada nas Tabelas X, XI, XII e XII
- Respostas com determinantes movimento
Das 37 respostas com determinante movimento (Tabela X), apenas duas delas são de tipo flexor. Todas as outras são de tipo extensor.
Conforme considera Piotrowski (1957), as respostas de tipo extensor, aplicadas a movimentos humanos indicam auto assertividade e aquelas flexoras indicam tendência a submissão e subordinação como atitudes gerais. Há ainda as respostas de tipo bloqueado, indicativas de sentimentos de incapacidade e de impotência na sistematização por nós utilizada codificada como m’2, que não apareceram nos protocolos desta amostra.
Piotrowski procede sempre à comparação entre as respostas flexoras e extensoras projetadas em figuras humanas e aquelas projetadas em animais não antropoides.
Além disso, possui uma classificação das respostas segundo o grau de energia envolvido, que varia de 1 a 6, caracterizadas como:
- Grau 1 – movimento agressivo
- Grau 2 – movimento global do corpo
- Grau 3 – movimento parcial do corpo
- Grau 4 – movimento contido ou retido
- Grau 5 – movimento ativo, porém em obediência à força da gravidade
- Grau 6 – movimento de completa submissão, passivo
Procede também à comparação entre o grau de respostas de movimento humano e aqueles de movimento animal.
Também com relação a esta classificação, apenas três, das 26 respostas de movimento humano ou animal, não estão entre os graus 1 e 2.
Deste modo, podemos afirmar que nestes sujeitos não há indícios de sentimentos de impotência ou incapacidade (ausência de m’2), as tendências da personalidade são sempre no sentido de expansão e de colocação com assertividade (praticamente ausência de respostas com movimento flexor), revelando dificuldade de subordinação e submissão. São poucos os indivíduos que apresentam uma noção mais consciente de sua própria agressividade, surgindo uma competitividade hostil a nível manifesto (apenas três sujeitos da amostra apresentaram respostas de movimento humano de grau 1).
Alguns sujeitos, mais bem dotados intelectualmente, possuem uma noção vaga da perda de autocontrole, mas tendem a sentir sua própria agressividade como impulsos incontroláveis e poderosos externos a si mesmos, como algo natural (respostas de m’) ligados a forças da natureza, explosões ou objetos voando.
De um modo geral, ou há certa coartação, com pouca elaboração do próprio papel social (ausência de RM), ou os sujeitos apresentam um predomínio das noções mais imaturas e egocêntricas, que distorcem sua noção da realidade como “julgamento de valor” (predomínio de m+m’ sobre M).
- Respostas com determinante cor
As respostas que são indicadoras da expressão mais direta dos afetos são apresentadas nas Tabelas VIII e XI.
Como se pode verificar no gráfico abaixo, as respostas indicadoras de liberação da carga afetiva sem consideração para com os outros e a realidade e aquelas que evidenciam maior egocentrismo, predominam sobre as que indicam capacidade de adiar a gratificação das necessidades, levando em conta os demais (C+CF>FC).
A somatória ponderal das respostas de cor (considerando-se 0,5 ponto para respostas adicionais foi de 40,5 (FC=3, CF=21 e C=16,5)
Das 36 imagens de cor (incluindo aquelas CF adicionais como valendo 0,5 ponto), a grande maioria (22 ou 61%) possuem atribuições de qualidades neutras, 5 (13,8%) possuem conotação negativa e 9 (25%) conotação positiva. Isto se relaciona provavelmente ao egocentrismo e ao distanciamento afetivo que apresentam.
Discutiremos adiante um fenômeno que ocorreu com certa frequência que é a condensação de cor, indicativa da incapacidade de integração dos impulsos e afetos.
- Respostas com determinante perspectiva
As Tabelas VII e XII apresentam os resultados relativamente a este fator. Houve um predomínio também das respostas tipo ps sobre aquelas do tipo Ps (10,5:8) porém não houve o aparecimento de respostas do tipo ps’, em geral, relacionadas com a presença de angústia.
Analisando-se as características das respostas de tipo ps, verificamos que, em geral, estão associadas a determinantes m’ ou CF e conteúdo nv ou fg. Estariam, portanto, provavelmente indicando sentimentos de insegurança que surgiriam quando seriam mais mobilizados os impulsos. No entanto, como apenas 3 dos sujeitos da amostra apresentaram mais do que uma resposta de perspectiva, não parece ser este um elemento muito significativo na amostra.
- Respostas com determinante luminosidade
Este fator é apresentado nas Tabelas VIII e XIII. O gráfico abaixo representa sua distribuição quanto aos diferentes tipos de respostas de luminosidade presentes na amostra:
Distribuição ponderal (incluindo adicionais com valor de 0,5 ponto) das respostas de luminosidade:
C’ = 9(5) = 11,5 L=2(3) = 3,5
l= 6(6) = 9
l’= 1(5) = 3,5
RL (ponderal) = 27,5
Comparando-se as respostas de luminosidade, verificamos que este é o único grupo de determinantes onde aqueles mais amadurecidos (L+C’) predominam sobre aqueles mais primitivos (l+l’) – [(L+C’):(l+l’) = 15:12,5]. Este predomínio se dá às custas de C’ [que é igual a 9(5)]. Se apenas considerarmos os determinantes luminosidade estritos, teremos também a inversão na proporção esperada (L:l+l’ = 3,5:12,5). Além disso, verifica-se que o determinante l é o mais frequente.
Se fizermos uma análise da quantidade de examinandos que apresentam mais do que uma resposta de luminosidade, verificamos que apenas 4 deles fazem parte desse subgrupo. Isto sugere que há uma pobreza de expressão emocional entre os probandos. Entretanto, quando isto ocorre, e não é decorrente da assimilação indutiva de experiência no processo de aculturação (C’), observa-se que há predomínio das respostas tipo l.
Deduz-se destes dados que a adaptação emocional é principalmente indutiva, resultando de adaptação cultural superficial. Provavelmente em virtude da elevada impulsividade dos examinandos, passaram por experiências negativas, assimilando-as superficialmente, pois as formas nestas respostas, em geral, são vagas. De qualquer forma, isto ocorre apenas com 8 examinandos da amostra.
- Interferência de Mecanismos Inusuais de Reação na Construção das Imagens
- Associações Parasitas
A Tabela XIV apresenta os resultados relativamente à ocorrência dos mecanismos de fuga ao estímulo, fabulação, liberação e nomeação de cor (codificadas como associações parasitas), na amostra.
O mecanismo deste grupo mais frequentemente encontrado foi o de fuga ao estímulo (em sete casos). A fabulação e a liberação ocorreram em 3 casos e a nomeação de cor em dois.
A fuga ao estímulo revela a tentativa do examinando de não se envolver com a tarefa do exame, o que busca fazer indiretamente. Poderia estar revelando tanto o temor de revelar-se como o desinteresse pela Prova.
A fabulação não foi muito frequente (apenas em três casos) parecendo não configurar como um mecanismo que tenha ocorrência significativa uma vez que não é também muito infrequente, mesmo em examinandos normais.
Já a liberação e a nomeação de cor, ainda que também tenham ocorrido em muitos poucos casos, dada a sua infrequência na população média, podem assumir significado específico em alguns casos de indivíduos violentos.
O primeiro mecanismo (Liberação), que é incluído dentre aqueles sugestivos de lesão cerebral por Piotrowski em sua série de sinais, indicaria, a nível cognitivo, uma associação que surgiria de modo impulsivo, devido à interferência emocional, ou compulsivamente, que o sujeito não fixa ou posteriormente reconhece como inadequada. Ao plano conativo, portanto, indicaria insuficiente capacidade de seletividade e contenção dos impulsos.
O segundo (nomeação de cor) implicaria na liberação impulsiva das necessidades instintivas ou labilidade afetiva. Ao plano cognitivo revelaria insuficiente elaboração, incapacidade crítica, o fato do sujeito ser totalmente tomado momentaneamente pelos impulsos afetivos.
Também é um dos sinais descritos por Piotrowski como sugestivos de lesão cerebral.
- Alteração no Processo Associativo
A Tabela XV apresenta os resultados encontrados na amostra relativamente à ocorrência dos mecanismos de hostilidade, repetição, perplexidade, inibição (parcial ou total – rejeição). Como o mecanismo da inibição foi o mais frequente, a Tabela XVI analisa mais detidamente sua ocorrência.
A hostilidade que não é frequente na população normal, ocorreu em 5 dos examinandos da amostra, geralmente nas primeiras pranchas da série (Tabela XV). Considerando-se que também ocorreu em sete casos a fuga ao estímulo (discutido no item anterior) podemos concluir que pelo menos em metade da amostra, a tarefa solicitada à prova provoca nos examinando uma reação disfórica de irritabilidade, que pode ser observada através de uma reação francamente hostil (Mecanismo de Hostilidade) ou através da adoção de uma atitude evasiva, afastando-se da tarefa com considerações não pertinentes, relativas à sua vida pessoal (Fuga do estímulo). Em ambos os casos, eles não tomam consciência de suas limitações, nem exercem um julgamento crítico quanto às suas atitudes.
Quanto aos mecanismos da Repetição e da Perplexidade, sua ocorrência se deu respectivamente em 3 e 5 casos. São também mecanismos que Piotrowski assinalou como sinais indicativos de lesão cerebral. Ambos indicam uma incapacidade de associação perante as pranchas. No primeiro caso, no entanto, o sujeito faz uso de uma solução mágica para resolver a tarefa que se apresenta.
Verificamos quais casos apresentavam mais de um sinal sugestivo de lesão cerebral (segundo o critério de Piotrowski) e constatamos que o caso 3 apresentava 3 sinais; o caso 7 apresentava 5 sinais, o caso 11 apresentava 2 sinais; o caso 14 apresentava 3 sinais; o caso 15 apresentava 5 sinais; o caso 16 apresentava 4 sinais; e o caso 18 e 19, 2 sinais. Portanto, em dois casos da amostra, os sinais de Piotrowski sugestivos da presença de lesão cerebral foram significativos (5 sinais). Não é objetivo de nossa pesquisa a avaliação clínica dos examinandos, apenas referimos estes dados por julgarmos de interesse, constatarmos que em alguns dos membros da amostra, a dinâmica observada é aquela encontrada em sujeitos com lesões cerebrais. Buscamos traçar algumas correlações, quando apresentamos nossas conclusões.
Com relação ao mecanismo de Inibição (parcial ou total, que equivale à Rejeição), a Tabela XV evidencia que 17 examinando (81% da amostra) a apresentaram e 13 casos, em mais de uma prancha.
Procedemos, então, a uma análise de sua distribuição, segundo as pranchas (Tabela XVI), constatando que:
- Em nenhum caso houve rejeição da prancha V
- As pranchas que mais causaram inibição foram a VII e a IX (em 11 casos), seguidos da VIII (em 8 casos) e da X (em 7 casos)
- As pranchas que menos causaram inibição foram a I, a V e a IV (apenas 3 casos)
- Em um nível intermediário estão as pranchas III e VI (6 casos) e a II (4 casos).
Rausch de Traubemberg (1981) com relação à análise da prancha VII afirma que o estímulo é simultaneamente marcado pelo fundo branco central e pela figurara cinzenta clara irregular, que margina este fundo e que se recorta em três partes à volta de uma espécie de “dobradiça” muito reduzida. As reações mais frequentes se referem à figura em si mesma nas suas formas indefinidas, isoladas ou na sua combinação bilateral. O fundo branco, às vezes, é tratado como objeto ou marcas.
A tonalidade emocional reflete o caráter frágil e sustentado do estímulo, sentido como inacabado, desarticulado ou instável. Isto faz com que a prancha possa ser sentida como negativa ou com prazer, numa relação calorosa ou lúdica. A interpretação simbólica que faz é de que a implicação é nitidamente feminina e/ou maternal.
Outros autores alertam quanto ao risco de interpretar as respostas aí projetadas como refletindo necessariamente atitudes com relação à mãe.
De qualquer modo, três características objetivas desta prancha podem ser consideradas: a sua textura leve e pouco definida, a instabilidade dada pela distribuição espacial das manchas e o grande espaço branco central.
Com relação à prancha IX, Rausch de Traubemberg (1981) refere que se trata de uma mancha constituída por três partes de cor largamente repartidas à volta de um fundo branco-azulado e centrado sobre um eixo vertical muito saliente. Os elementos de organização perceptivo-cognitiva se relacionam com a fusão das cores e dos espaços com nuances, que dão uma dimensão de profundidade e de interpenetração. Lembra as pranchas II e VII (provavelmente pelo espaço central). Refere ainda a autora que a tonalidade emocional dominante depende da aceitação ou resistência ao apelo simbólico da prancha, que suscitará a ambivalência quanto às escolhas.
Considera a prancha rica e cheia de significações simbólicas possíveis.
Os autores também frisam a qualidade mal estruturada da figura o que a torna uma das pranchas mais difíceis do ponto de vista cognitivo. Mucchielli, citado por Coelho (1980) considera esta prancha, devido à falta de nitidez de seus limites internos, à mistura de cores e a presença de um espaço interior vagamente delimitado por cores suaves, como representando situações nas quais o probando deveria adaptar os sentimentos mais íntimos ao contato social.
A rejeição mais frequente das pranchas VII e IX na amostra, faz-nos rever o conceito de “choque ao vazio”, descrito por Orr. Segundo Orr, citado por Flachier (1987), o choque ao vazio remeteria a sintomas do complexo de abandono e imagem negativa da mãe. Representaria vivência de desamor da mãe e de sua consequência neurótica, a diminuição da capacidade de amar.
A interpretação, portanto, deste fenômeno é complexa. Buscaremos formular uma hipótese nas conclusões. Lembramos aqui que os aspectos comuns a ambas as pranchas são o espaço central evidente, os nuances de tons que dão a sensação de leveza e certa instabilidade na distribuição espacial.
Houve também, num segundo plano, a rejeição frequente das pranchas VIII e X. Com isto verificamos que a rejeição ou inibição das pranchas VIII, IX e X, pranchas coloridas com tons pasteis, frequentemente ligadas à mobilização dos sentimentos mais diferenciados, relativos à sociabilidade, reflete a disforia despertada por situações em que os sentimentos de simpatia e consideração pelos demais, são mobilizados.
- Distorções das imagens
A tabela XVII apresenta as alterações relativas a distorções da imagem, encontradas nos casos da amostra.
Podemos verificar que a mais frequente foi a condensação de cor (em 10 casos), seguida da condensação de conteúdo (em cinco casos) e da fragmentação da imagem humana ou animal (em dois casos). Embora fragmentação não tenha sido frequente na amostra, a rejeição e a inibição da prancha X (em 7 casos) de certo modo da VII (em 11 casos), sugere sensibilidade à dispersão cujo significado ainda que diferente da fragmentação, possui certa relação com o mesmo.
O fenômeno da condensação de cor, na terminologia aqui adotada, corresponde a três modalidades de fenômenos, descritos na revisão que Giovanelli, Giacomelli, Magnari, Parisi e Pes (1990) fizeram em trabalho de análise das classificações das respostas de cor no Rorschach. Corresponderia a F/C e C/F, à cor forçada e à cor arbitrária.
Como o dinamismo psicológico subjacente a estes fenômenos possuem uma patogênese comum, ou seja, a dissociação ideo-afetiva e a dificuldade em integrar os afetos, não procedemos à mesma distinção feita pelos referidos autores. O último subtipo (cor forçada) foi o mais frequentemente encontrado e conforme os autores acima mencionados referem, este fenômeno é mais comum em quadros de patologia mais severa como os transtornos de personalidade. Indica a incapacidade de integrar os impulsos e afetos, que distorcem a própria noção da realidade pois atribui-se características arbitrárias, que não correspondem à realidade, aos perceptos.
Se levarmos em consideração os dados já discutidos da ocorrência de CF+C>FC na maioria dos casos da amostra, da ocorrência de respostas com determinante C em 7 casos da amostra (este fenômeno é raro entre normais), da presença de respostas de determinante nC (em dois casos), associados à presença frequente dos mecanismos de condensação de cor, constatamos que em praticamente todos os casos encontramos estes sinais, sugestivos do acentuado egocentrismo, descontrole afetivo e dificuldade de integração dos impulsos. Os únicos três casos que não apresentaram nenhum destes sinais (casos 4, 11 e 19), não apresentaram respostas com determinante cor, revelando a acentuada retração na expressão espontânea dos afetos.
O mecanismo de condensação de conteúdo, presente em um quanto da amostra, indica desvio do pensamento lógico por prevalência de nexos emocionais primários, que levam o indivíduo a apresentar imagens com características sincréticas, pouco definidas.
A Fragmentação, pouco frequente na amostra, estaria relacionada à desestruturação da identidade subjetiva. Não foi um aspecto marcante na amostra. Porém, a sensibilidade à dispersão (representada nas rejeições e inibições da prancha X), poderia indicar certa ansiedade relacionada à perda de controle da própria integração da personalidade, talvez em função dos estímulos instintivos destrutivos básicos muito intensos e a insuficiência dos sentimentos sociais mais diferenciados que permitiria integrá-los. Esta hipótese é também respaldada por outros dados encontrados, referidos anteriormente.
- Nível de Categorização dos Significados
- Nível de Abstração e de Generalização das Categorias
A tabela XVIII apresenta os resultados a este nível, onde comparamos as respostas de conteúdo animal e humano quanto a dois aspectos:
- Percepção integral ou parcial do conteúdo
- Categorização genérica ou específica do conteúdo.
Quanto ao item (a) verificamos que há um nítido predomínio da categorização integral tanto humana (em 11 casos) quanto animal (em 20 casos).
Com relação ao item (b) observa-se uma inversão, ou seja, a categorização genérica das figuras humanas é predominante sobre aquelas específicas (em 13 casos) enquanto a categorização específica animal frequentemente predomina sobre a genérica (em 19 casos). Foi frequente que os sujeitos da amostra também referissem dificuldade em formar as imagens humanas, o que era evidenciado através de frases do tipo: parecem seres humanos, mas não está muito nítido ou, ainda, são corpos secos ou esqueletos. Muitos sujeitos (6 casos) sequer forneceram respostas com conteúdos humanos.
Estes dados nos indicam a profunda incapacidade de empatia com os seres humanos apresentada pelos nossos examinandos.
Sua percepção do outro é distanciada genérica, superficial, muitas vezes pouco nítida.
Não revelam sensibilidade de apreender os nuances e aspectos específicos no relacionamento interpessoal.
- Atribuição valorativa ao significado das Imagens Percebidas
A tabela XIX apresenta os dados relativos a esta etapa da análise dos conteúdos. Procuramos com relação aos conteúdos humanos e animais avaliar a atribuição valorativa dada pelos probandos às imagens. Dividimos estas atribuições e quatro subgrupos: atribuição positivas, características negativas, atribuições de deformidades ou doenças e percepção neutra e superficial.
Constatamos que a percepção neutra e superficial predomina amplamente no conjunto de imagens (74,63%), seguida pela atribuição de deformidades ou doenças (17,56%). A atribuição de qualidades positivas ou características agressivas foi incomum (apenas 7,81% das imagens da amostra).
Estes dados vêm confirmar as conclusões do item anterior, ou seja, o distanciamento afetivo que os probandos da amostra apresentam com relação aos seres vivos, especialmente humanos. Com frequência a atribuição de doença decorrida de associações com esqueletos ou corpos secos, revela além do distanciamento e falta de ligação emocional, ocasionalmente, o aparecimento de sentimentos disfóricos.
- Extensão do Campo de Interesses
A tabela XX apresenta os dados relativos a este nível de análise. Dividimos as diversas categorias de conteúdos em 3 grandes grupos, conforme expusemos no capítulo de Metodologia.
As categorias de conteúdos mais frequentemente encontrados foram aqueles grupos de conteúdos vagos e cotidianos (69,44%), o que poderia indicar tanto indiferença emocional pelo que ocorre no ambiente, quanto traduzir implicações própria de condições culturais dos casos aqui investigados, afinal, a maioria é procedente de classe socioeconômica baixa, não teve bom nível de instrução e estão a vários anos presos.
Apesar de não muito frequente (16,67% das imagens) apareceram conteúdos ligados a forças poderosas da natureza e armas agressivas. Este elemento foi o único a nível das categorias de conteúdos que poderia traduzir de modo mais direto o comportamento violento de nossos probandos. É interessante notar que mesmo aqui os aspectos agressivos são projetados fora da própria personalidade, na natureza ou objetos, como fenômeno independente do sujeito e nem mesmo caracterizados como “agressivos”.
Uma vez apresentados estes aspectos da amostra podemos verificar que não há, na maioria dos probando, quaisquer recursos (ainda que cognitivos) de controle da liberação impulsiva. Decidimos, então, proceder a uma comparação entre os determinantes ligados à vida emocional, que revelariam disposições psíquicas ligadas a controle e inibição das tendências, com aqueles indicativos de liberação impulsiva ou egocentrismo. A tabela XXI apresenta estes dados.
A proporção (L+C’):(C+nC+l) foi o índice que construímos. No numerador encontramos o número absoluto emocional, indicativos das tendências ao controle e à inibição. O determinante L relaciona-se ao esforço dedutivo, no sentido de apreciar as marcas emocionais alheias e, assim, revela cautela a nível do relacionamento interpessoal. Já o determinante C’, reflete o grau de assimilação dos elementos de aculturação individual. Indicam uma adaptação emocional de feitio indutivo, em função da assimilação de experiências pregressas. Portanto, também revelaria certa prudência a nível do relacionamento interpessoal, ainda que em função de que, anteriormente, por impulsividade, o sujeito tenha passado por experiências desagradáveis (como assinala Klopfer (1956)).
No determinador encontram o número absoluto de determinantes ligados a reações afetivas impulsivas ou egocêntricas.
O determinante C indicando liberação de carga afetiva, sem consideração para com a intensidade do estímulo externo, o determinante nC, muito raro na população média normal, indicando liberação impulsiva de necessidades instintivas e, o determinante l, relativo a experiências emocionais sincréticas, associadas possivelmente às necessidades afetivas ligadas à ambição e ao apego.
Neste tipo de experiência emocional, típica da fase egocêntrica do desenvolvimento, o outro é sentido como necessário, porém, seus limites não são levados em conta.
A construção deste índice proporcional visou tornar mais visível, o predomínio evidente do segundo polo, em nossos examinandos (em 10 casos) quando se evidenciam reações afetivo-emocionais, pois, na maioria dos casos ocorre uma indiferença, com pouca exteriorização espontânea da vida afetiva.
As tabelas XXII e XXIII apresentam, respectivamente, os índices de afetividade, impulsividade e conação, e o número de respostas dadas por cada sujeito.
Notamos que na amostra nos casos nos quais foi possível calcular os índices Af, Imp e Con, que há um número elevado (5 casos) de casos com alta impulsividade e alta susceptibilidade aos estímulos afetivos (7 casos). Com relação ao índice Con houve predomínio dos casos com este índice normal ou elevado (6 casos), o que facilitaria ainda mais a exteriorização do comportamento impulsivo. Considerando-se que a vida afetiva destes sujeitos se revela muito desorganizada, predominando reações egocêntricas e impulsivas, estes dados confirmam que a exteriorização dos impulsos em comportamentos explícitos ocorrerá, com bastante probabilidade, como já ocorrera, por ocasião dos crimes descritos.
Na quase totalidade da amostra o número de respostas foi bastante reduzido, impedindo-nos inclusive, em alguns casos, de proceder a uma análise quantitativa dos protocolos.
Tal poderia dever-se a dois aspectos, julgamos à baixa capacidade imaginativa, já descrita, encontrada entre este tipo de examinando, ou, o temos de se revelar demais com o exame, afinal encontravam-se presos.
Outro aspecto que pesquisamos nos casos da amostra foi a distribuição das imagens mentais, de acordo com o nível e a dinâmica do processo de simbolização das experiências. Utilizamos a classificação das imagens proposta por Coelho (1992) que apresentamos no capítulo anterior.
A tabela XXIV apresenta os dados relativos a esta etapa de nossos procedimentos.
Reproduzimos abaixo um gráfico que demonstra a distribuição do total de imagens mentais produzidas pelos sujeitos da amostra segundo os grupos de R1 a R6. Em 13 dos 21 casos a distribuição das imagens segundo este parâmetro é semelhante àquela do grupo tomado como um todo.
Classificação das Imagens Mentais em função do processo de simbolização das experiências:
- Total de Imagens – 296 (100%)
- R1 – 126 (42,6%)
- R2 – 112 (37,8%)
- R3 – 16 (5,4%)
- R4 – 30 (10,1%)
- R5 – 11 (3,7%)
- R6 – 1 (0,4%)
Os dados apresentados especialmente no gráfico indicam que entre os sujeitos violentos de nossa amostra, o processo de simbolização das experiências se dá predominantemente a partir de impressões subjetivas pouco codificadas (ideossincrásicas) (R1). Este subjetivismo decorre principalmente da interferência de impulsos primários egocêntricos e da falta de mobilização de sentimentos mais diferenciados que ligariam o sujeito ao meio externo. O resultado será uma apreciação extremamente superficial e subjetiva da realidade.
O processo de reconhecimento das experiências a partir de analogias com experiências pregressas (R2), que é o mais frequente na população normal, passa para um segundo plano. Este dado indica a reduzida capacidade destes sujeitos de utilizar-se de suas experiências pregressas para se adaptar o presente. Há, com que uma “prisão cognitiva” ao presente. Como também não possuem precisão nas imagens mentais (predomínio de R1 e ausência de R6, indicativas de criatividade) sua capacidade de imaginação é também muito restrita, o que prejudicará a capacidade de prospecção.
Não há passado, não há futuro. Apenas um presente que, em função disso é apreendido de modo muito superficial e indefinido.
Conforme discutiremos adiante, julgamos que os dados encontrados são sugestivos de que este prejuízo cognitivo decorra de uma perturbação a nível das funções afetivas mais diferenciadas, que são indispensáveis ao interesse do ser humano por seu ambiente próprio, isto é, como o mundo humano é construído socialmente, é necessário ser sensível a esta sociabilidade para se apreender a realidade.
Também são muito pouco frequentes as imagens mentais nas quais o processo indutivo ocorre com um nível variável de construção (R3). As razões, segundo pensamos são as mesmas, ou seja, a pouca sensibilidade emocional mais diferenciada e, o predomínio a nível dos sistemas psíquicos, daqueles ligados à destrutividade mais que à construtividade.
Finalmente, pesquisamos na amostra a série de seis sinais de agressividade que já havíamos proposto em trabalho anterior (1988). A tabela XXV apresenta os resultados desta etapa dos procedimentos.
Se considerarmos como sugestivos da presença de agressividade manifesta quando ocorrer no protocolo pelo menos 3 dos seis sinais propostos, verificamos que há na amostra apenas um caso falso negativo (o caso 10).
Verificando-se a descrição do crime deste sujeito (caso João) constata-se que o mesmo apenas foi descoberto em suas atividades libidinosas com crianças na creche onde trabalhava, após seis meses. É possível que utilizasse meios de sedução para conseguir seus intentos. Neste caso, revelaria maior cautela que os outros sujeitos da amostra. Questionamo-nos, portanto, se a série de sinais de agressividade que apresentamos inicialmente não seria indicativa de comportamento violento quando este ocorre de modo mais impulsivo.
Os sinais mais frequentemente encontrados, em ordem decrescente são:
1.° – Baixo nível de seletividade (Sinal BNS) (Sinal 1)
2.° – Generalização impulsiva (Sinal PG) (Sinal 2)
3.° – Controle formal insuficiente (Sinal CFI) (Sinal 6)
4.° – Expressão pueril e intensa dos afetos (Sinal C) (Sinal 5)
5.° – Imagens vagas e não suficientemente integradas (Sinal Iv) (Sinal 4)
6.° – Incapacidade de estabilizar a atenção quando tocado afetivamente (Sinal F+c) (Sinal 3) (que foi o menos frequente)
Com os novos dados encontrados procuramos reconstruir esta série de sinais, tornando-os mais precisos, acrescentando alguns elementos e retirando outros. Apresentaremos esta série ao final deste trabalho, com o objetivo de conclusão.
Tabela I – Nível de captação dos estímulos e distribuição da atenção. Apreensão e seleção dos estímulos e graus de seletividade | ||||
FatoresCasos | Número de respostas | Grau inferior | Grau intermédio | Grau superior |
1 | 4 | 4 (100,00%) | 0 (0) | 0 (0) |
2 | 29 | 6 (20,69% | 1 (3,45%) | 22 (75,86% |
3 | 18 | 13 (72,22%) | 3 (16,67%) | 2 (11,1%) |
4 | 30 | 25 (83,33%) | 1 (3,34%) | 4 (13,33%) |
5 | 16 | 11 (68,75% | 1 (6,25%) | 4 (25,00%) |
6 | 23 | 19 (82,61%) | 1 (4,35%) | 3 (13,04%) |
7 | 18 | 12 (66,67%) | 2 (11,11%) | 4 (22,22%) |
8 | 24 | 19 (79,17%) | 3 (12,50%) | 2 (8,33%) |
9 | 11 | 7 (63,64%) | 1 (9,09%) | 3 (27,27%) |
10 | 7 | 7 (100,00%) | 0 (0) | 0 (0) |
11 | 11 | 11 (100,00%) | 0 (0) | 0 (0) |
12 | 17 | 14 (82,35%) | 0 (0) | 0 (0) |
13 | 14 | 13 (92,86%) | 0 (0) | 1 (7,14%) |
14 | 15 | 13 (86,67%) | 0 (0) | 2 (13,33%) |
15 | 12 | 11 (91,67%) | 1 (8,33%) | 0 (0) |
16 | 13 | 12 (92,31%) | 1 (7,69%) | 0 (0) |
17 | 10 | 8 (80,00%) | 0 (0) | 2 (20%) |
18 | 3 | 2 (66,67%) | 0 (0) | 1 (33,33%) |
19 | 7 | 5 (71,43%) | 0 (0) | 2 (28,57%) |
20 | 11 | 11 (100,00%) | 0 (0) | 0 (0) |
21 | 21 | 12 (57,14%) | 1 (4,76%) | 8 (38,10%) |
Total | 314 | 235 (74,84%) | 16 (5,10%) | 63 (20,06%) |
(A tabela apresenta o número de respostas e respectiva porcentagem, distribuído entre os três graus considerados, caso a caso e no total da amostra) |
Tabela II – Nível de captação dos estímulos e distribuição da atenção. Capacidade manter estável a atenção. Eficácia do controle intelectual | |||
% F+ (n° RF+) | % F+ (n.° RF+) Mono | %F+ (n.° RF+) Color | |
1 | 100 (4) | 100 (1) | 100 (3) |
2 | 100 (4) | 100 (4) | 0 (0) |
3 | 73 (8) | 67 (2) | 75 (6) |
4 | 81 (17) | 100 (6) | 73 (1) |
5 | 67 (6) | 67 (4) | 67 (20 |
6 | 69 (11) | 82 (9) | 40 (2) |
7 | 57 (4) | 100 (1) | 50 (3) |
8 | 60 (12) | 56 (5) | 64 (7) |
9 | 86 (6) | 80 (4) | 100 (2) |
10 | 100 (6) | 100 (4) | 100 (2) |
11 | 70 (7) | 83 (5) | 50 (2) |
12 | 60 (6) | 75 (3) | 50 (3) |
13 | 85 (11) | 83 (5) | 86 (6) |
14 | 91 (10) | 100 (6) | 80 (4) |
15 | 50 (3) | 60 (3) | 0 (0) |
16 | 87 (7) | 75 (3) | 100 (4) |
17 | 100 (7) | 100 (5) | 100 (2) |
18 | 100 (2) | 100 (2) | 0 (0) |
19 | 100 (1) | 0 (0) | 100 (1) |
20 | 71 (5) | 80 (4) | 50 (1) |
21 | 71 (10) | 57 (4) | 86 (6) |
(A tabela apresenta, caso a caso, a porcentagem de respostas F+ para o conjunto das pranchas, para o grupo monocromático e para o grupo colorido. Entre parênteses o número de respostas). |
Tabela III – Nível de captação dos estímulos e distribuição da atenção. Mecanismos inusuais de reação que interferem na seleção dos estímulos (Contaminação, Posição, Pormenor Inibitório, Confabulação) | |||||||||||
Casos | Contaminação | Posição | Pormenor inibitório | Confabulação | Conf. total | ||||||
n.° | Pr | n.° | Pr | n.° | Pr | p’’ | PG | ||||
n.° | Pr | n.° | Pr | ||||||||
1 | 1 | III | 1 | ||||||||
2 | 1 | III | |||||||||
3 | 3 | III, VII, IX | |||||||||
4 | 1 | VII | 1 | IX | 2 | I, IV | 3 | VI, IX, X | 5 | ||
5 | 1 | V | 1 | IV | 1 | I | 2 | ||||
6 | 1 | IV | 1 | ||||||||
7 | 1 | IV | 1 | ||||||||
8 | 2 | IV | 2 | ||||||||
9 | 1 | IV | |||||||||
10 | 1 | II | 2 | ||||||||
11 | 2 | IV, VI | 4 | ||||||||
12 | 1 | VIII | 3 | IV, VI, VI, I | 1 | I | 2 | ||||
13 | 1 | I | 1 | II | |||||||
14 | 1 | ||||||||||
15 | 1 | II | 3 | ||||||||
16 | 1 | II | 1 | I | 2 | IV, X | 1 | VI | 1 | ||
17 | 1 | IV | |||||||||
18 | |||||||||||
19 | 1 | I | 1 | ||||||||
20 | 2 | IV, VIII | 2 | ||||||||
21 | 1 | III | 3 | II, VI, VII | 1 | II | 4 | ||||
Total de casos | 1 | 4 | 15 | 7 | |||||||
Total de Mec. | 1 | 4 | 24 | 9 | |||||||
(A tabela apresenta, caso a caso, os dinamismos anormais encontrados, em qual prancha (algarismo romano) e quantas vezes. Ao final, apresenta-se o total de casos nos quais ocorreu o mecanismo analisado e o número total de ocorrência na amostra). |
Tabela IV – Nível de captação dos estímulos e distribuição da atenção. Mecanismos inusuais de reação que interferem com na seleção dos estímulos (Análise dos mecanismos relacionados à resposta de espaço) | ||||||||||||||||
asos | Presença de E | Aparece no Perc | Pr. | Assoc. | Det. e Cont. | Espaço Isolado | Espaço Assoc. | Reversão | Ref. ao vazio | |||||||
S ou N | n.° | M | C | Discr. | D | C | n.° | P | n.° | P | n.° | P | n.° | P | ||
1 | N | 0 | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – |
2 | S | 2 | S | S | II | E(P) | m’ | ml | 0 | – | 2 | II | 1 | II | 0 | – |
– | – | – | – | VII | GE | F+ | ggr, R | – | – | – | VII | – | – | – | – | |
3 | N | 0 | N | N | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – | 0 | – | 0 | – |
4 | N | 0 | N | N | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – | 0 | – | 0 | – |
5 | S | 2 | N | N | II | – | F0 | al | 1 | II | I | X | 1 | II | 0 | – |
– | – | – | – | X | P(E) | Ps | nat | – | – | – | – | – | – | – | – | |
6 | N | 0 | N | N | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – | 0 | – | 0 | – |
7 | S | 2 | S | S | VII | – | F+ | pH | 2 | VII | 0 | – | 1 | VII | 0 | – |
IX | – | F0(C) | A | – | IX | – | – | – | – | – | – | |||||
8 | S | 2 | S | S | VII | GE | C’ | nat | 0 | – | 2 | VII | 0 | – | 1 | IX |
– | – | – | – | X | E(P) | C’ | nat | – | – | – | X | – | – | – | ||
9 | S | 2 | – | – | VII | p’’ | F+(l) | ggr | I | II | I | VII | 0 | – | 0 | – |
– | – | – | – | II | GE | F0 | arq | – | – | – | – | – | – | – | – | |
10 | N | – | N | N | – | – | – | – | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – |
11 | N | – | N | N | – | – | – | – | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – |
12 | N | – | N | N | – | – | – | – | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – |
13 | N | – | N | N | – | – | – | – | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – |
14 | N | – | N | N | – | – | – | – | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – |
15 | N | – | N | N | – | – | – | – | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – |
16 | S | 1 | – | – | II | – | F0 | pH | 1 | II | 0 | – | 1 | II | 0 | – |
17 | N | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – |
18 | N | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – |
19 | N | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – |
20 | N | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – |
21 | N | – | – | N | N | – | – | – | – | – | – | – | 0 | – | 0 | – |
Total | 6 | 11 | – | – | – | – | – | – | 5 | – | 6 | – | 4 | – | 1 | – |
(A tabela apresenta, caso a caso, se ocorreram ou não respostas de espaço, se estas aparecem no índice de percepção (Perc), em quais pranchas, se a modalidade espaço é isolada ou associada, se ocorreram os dinamismos de reversão e de referência ao vazio e os determinantes e conteúdos acaso associados. Ao fina apresentamos o total de casos que tiveram respostas de espaço, suas características (isolado ou associado) e o número de casos que apresentaram reversão e referência ao vazio). |
Tabela V – Nível de elaboração das imagens perceptuais. Organização das construções (Elab ou Z de Beck) | |||||||||||||||||
Casos | R | Z1 total | Z1+Z2 total | Z1/R total | (Z1+Z2)Rtotal | Z1/R Mono | (Z1+Z2)R Mono | Z1/R Color | (Z1+Z2)R Color | ||||||||
1 | 4 | 1 | 1 | 0,25 | 0,25 | IN | IN | 0 | 0 | ||||||||
2 | 29 | 39,5 | 31 | 1,36n | 1,76 | 1,38n | 1,84 | 1,34n | 1,69 | ||||||||
3 | 18 | 11 | 15,5 | 0,61 | 0,86 | 1,60 | 2,50 | 0,23 | 0,23 | ||||||||
4 | 30 | 9,5 | 16 | 0,32 | 0,53 | 0,27 | 0,45 | 0,24 | 0,58 | ||||||||
5 | 16 | 4,5 | 7 | 0,28 | 0,44 | 0 | 0,36 | 0,50 | 0,50 | ||||||||
6 | 23 | 18 | 20,5 | 0,78 | 0,89 | 0,75 | 0,92 | 0,83 | 0,83 | ||||||||
7 | 18 | 16 | 18,5 | 0,89 | 1,03 | 0,33 | 0,75 | 1,17 | 1,17 | ||||||||
8 | 24 | 14,5 | 14,5 | 0,60 | 0,60 | 1,05 | 1,05 | 0,29 | 0,29 | ||||||||
9 | 11 | 13 | 24 | 1,18 | 2,18 | 1,70 | 1,70 | 0,75 | 2,58 | ||||||||
10 | 7 | 9 | 9 | 1,28 | 1,28 | 1,80 | 1,80 | 0 | 0 | ||||||||
11 | 11 | 5,5 | 5,5 | 0,50 | 0,50 | 0,42 | 0,42 | 0,62 | 0,62 | ||||||||
12 | 17 | 11 | 11 | 0,65 | 0,65 | 0,67 | 0,67 | 0,64 | 0,64 | ||||||||
13 | 14 | 4,5 | 7 | 0,32 | 0,50 | 0,33 | 0,75 | 0,31 | 0,31 | ||||||||
14 | 15 | 6,5 | 16,3 | 0,43 | 1,10 | 1,08 | 1,08 | 0 | 1,10 | ||||||||
15 | 12 | 3 | 8 | 0,25 | 0,67 | 0,42 | 1,14 | 0 | 0 | ||||||||
16 | 13 | 1 | 1 | 0,08 | 0,08 | 0,20 | 0,20 | 0 | 0 | ||||||||
17 | 10 | 7,5 | 10 | 0,75 | 1,00 | 0,90 | 0,90 | 0,60 | 1,10 | ||||||||
18 | 3 | 1 | 6,5 | 0,33 | 2,17 | 0,50 | 0,50 | 0 | 5,5 | ||||||||
19 | 7 | 5 | 10,5 | 0,71 | 1,50 | 1,00 | 1,00 | 0 | 2,75 | ||||||||
20 | 11 | 4,5 | 7 | 0,41 | 1,13 | 0,75 | 1,67 | 0 | 1,10 | ||||||||
21 | 21 | 12 | 26,5 | 0,57 | 1,26 | 0,57 | 0,57 | 0,57 | 1,61 | ||||||||
Total | 314 | 197,5 | 286,5 | 0,63 | 0,91 | 0,80 | 1,01 | 0,39 | 1,08 | ||||||||
(A tabela mostra, caso a caso, os valores encontrados para Z1, Z1+Z2, Z1/R e (Z1+Z2)/R, no total das pranchas, para o conjunto monocromático e para o conjunto colorido. Ao final há uma média para os valores em função do número total de respostas) Observação: em vermelho os valores que se encontram dentro da média normal. | |||||||||||||||||
Tabela VI – Nível de elaboração da imagens perceptuais. Precisão formal das Imagens. | |||||||||||||||||
Casos↓ | Imagens precisas(Ip) | %Ip | Imagens vagas (Iv) | Total de Imagens Vagas (Iv) | % Iv | n.° R | |||||||||||
Sincré-ticas | Impres-sionistas | Por genera-lização apressada | |||||||||||||||
1 | 2 | 50 | 0 | 0 | 2 | 2 | 50 | 4 | |||||||||
2 | 14 | 48 | 1 | 14 | 0 | 15 | 52 | 29 | |||||||||
3 | 8 | 44 | 0 | 9 | 1 | 10 | 56 | 18 | |||||||||
4 | 17 | 57 | 1 | 7 | 5 | 13 | 43 | 30 | |||||||||
5 | 6 | 37 | 1 | 7 | 2 | 10 | 63 | 16 | |||||||||
6 | 11 | 48 | 0 | 11 | 1 | 12 | 52 | 23 | |||||||||
7 | 8 | 44 | 1 | 8 | 1 | 10 | 56 | 18 | |||||||||
8 | 12 | 50 | 2 | 8 | 2 | 12 | 50 | 24 | |||||||||
9 | 4 | 36 | 0 | 5 | 2 | 7 | 64 | 11 | |||||||||
10 | 4 | 57 | 0 | 3 | 0 | 3 | 43 | 7 | |||||||||
11 | 5 | 45 | 0 | 4 | 2 | 6 | 55 | 11 | |||||||||
12 | 8 | 47 | 1 | 4 | 4 | 9 | 53 | 17 | |||||||||
13 | 8 | 57 | 2 | 2 | 2 | 6 | 43 | 14 | |||||||||
14 | 8 | 53 | 1 | 6 | 0 | 7 | 47 | 15 | |||||||||
15 | 0 | 0 | 0 | 9 | 3 | 12 | 100 | 12 | |||||||||
16 | 7 | 54 | 0 | 3 | 3 | 6 | 46 | 13 | |||||||||
17 | 6 | 60 | 0 | 3 | 1 | 4 | 40 | 10 | |||||||||
18 | 1 | 33 | 0 | 2 | 0 | 2 | 67 | 3 | |||||||||
19 | 1 | 14 | 0 | 4 | 2 | 6 | 86 | 7 | |||||||||
20 | 0 | 0 | 1 | 7 | 3 | 11 | 100 | 11 | |||||||||
21 | 10 | 48 | 0 | 7 | 4 | 11 | 52 | 21 | |||||||||
TotalMed. | 140 | 45 | 11 | 123 | 40 | 174 | 55 | 314 | |||||||||
% das Imagens Vagas por dinamismo envolvido | 6,32 | 70,69 | 22,99 | 100 | |||||||||||||
(A tabela mostra a distribuição, caso a caso e no total de respostas, das imagens mentais segundo a precisão formal: vagas e precisas; bem como, no caso das imagens vagas, o dinamismo envolvido nisto, a porcentagem respectiva de cada um dos dois tipos de imagem) |
Tabela VII – Nível de elaboração da imagens perceptuais. Flexibilidade para a construção das Imagens. Respostas com determinantes movimento e perspectiva | ||||||||||
DetCasos | M | m | m’ | ∑RM | Ps | ps | ps’ | ∑Ps | ∑(RPs+ RM) | n.°R |
1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 4 |
2 | 5 | 3 | 3(2) | 12 | 4 | 3(1) | 0 | 7,5 | 19,5 | 29 |
3 | 0 | 0 | 1(1) | 1,5 | 0 | 1 | 0 | 1 | 2,5 | 18 |
4 | 2 | 1 | 0 | 3 | 0 | 1 | 0 | 1 | 4 | 30 |
5 | 0 | 1 | 0 | 1 | 2 | 1 | 0 | 3 | 4 | 16 |
6 | 0 | 1 | 0 | 1 | 0 | 2 | 0 | 2 | 3 | 23 |
7 | 0 | 1 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 18 |
8 | 0 | 1 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 24 |
9 | 0 | 1 | 0 | 1 | 0 | (1) | 0 | 0,5 | 1,5 | 11 |
10 | 0 | 1 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 7 |
11 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 11 |
12 | 2 | 1 | (1) | 3,5 | 0 | 0 | 0 | 0 | 3,5 | 17 |
13 | 1 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 14 |
14 | 0 | 1 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 15 |
15 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 1 | 1 | 12 |
16 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 13 |
17 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 1 | 1 | 10 |
18 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 1 | 1 | 3 |
19 | 1 | 1 | 4 | 6 | (2) | (1) | 0 | 1,5 | 7,5 | 7 |
20 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 11 |
21 | 0 | 1 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 21 |
Total | 11 | 14 | 8(4) | 35 | 7(2) | 10(3) | 0 | 19,5 | 54,5 | 314 |
(A tabela mostra o número de cada tipo de respostas com determinante movimento e perspectiva, caso a caso e a somatório. Os números entre parênteses referem-se a determinantes adicionais) |
Tabela VIII – Nível de elaboração das imagens perceptuais. Flexibilidade para a construção das imagens. Respostas com determinante cor e luminosidade | ||||||||||||
DetCasos | FC | CF | C | RC | L | l | l’ | RL | C’ | RC+L | RC:RL | n.° R |
1 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0:0 | 4 |
2 | 0 | 4(1) | 1(2) | 6,5 | 0 | 0 | (2) | 1 | (1) | 7,5 | 6,5:1 | 29 |
3 | 0 | 0 | (1) | 0,5 | 0 | 1 | 0 | 1 | 0 | 1,5 | 0,5:1 | 18 |
4 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 3(2) | (2) | 6 | 0 | 6 | 0:6 | 30 |
5 | 0 | 1 | 2 | 3 | 0 | (1) | 0 | 0,5 | 0 | 3,5 | 3:0,5 | 16 |
6 | 1 | 1(1) | 0 | 2,5 | 0 | 1(1) | 0 | 1,5 | 1 | 4 | 2,5:1,5 | 23 |
7 | 1 | 3 | (3) | 5,5 | 0 | 1 | 1 | 2 | 4 | 7,5 | 5,5:2 | 18 |
8 | 1 | 0 | (1) | 1,5 | 0 | 0 | 0 | 0 | 2 | 1,5 | 1,5:0 | 24 |
9 | 0 | 2 | 0 | 2 | 0 | (1) | 0 | 0,5 | 0 | 2,5 | 2:0,5 | 11 |
10 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | (1) | 0 | 0:0 | 7 |
11 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0:0 | 11 |
12 | 0 | 0 | 3 | 3 | 0 | (1) | (2) | 1,5 | 0 | 4,5 | 3:1,5 | 17 |
13 | 0 | 0 | (1) | 0,5 | (1) | 0 | 0 | 0,5 | 0 | 1 | 0,5:0,5 | 14 |
14 | 0 | 3 | 0 | 3 | (2) | 0 | 0 | 1 | 0 | 4 | 3:1 | 15 |
15 | 0 | 0 | 2 | 2 | 0 | 0 | 0 | 0 | (3) | 2 | 2:0 | 12 |
16 | 0 | 0 | 1 | 1 | 1 | 0 | 0 | 1 | 1 | 2 | 1:1 | 13 |
17 | 0 | 0 | 1 | 1 | 0 | 0 | 0,5 | 0,5 | 0 | 1,5 | 1:0,5 | 10 |
18 | 0 | 0 | 0,5 | 0,5 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0,5 | 0,5:0 | 3 |
19 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0,5 | 0,5 | 0 | 0,5 | 0:0,5 | 7 |
20 | 0 | 3 | 3,5 | 3,5 | 0 | 0 | 0 | 0 | 1 | 3,5 | 3,5:0 | 11 |
21 | 0 | 3 | 4,5 | 4,5 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 4,5 | 4,5:0 | 21 |
Total | 3 | 20(2) | 11(11) | 40,5 | 2(3) | 6(6) | 1(5) | 16 | 9(5) | 56,5 | 40,5:16 | 314 |
(A tabela mostra o número de cada tipo de respostas com determinante cor e luminosidade, caso a caso e a somatória. Os números entre parênteses referem-se a determinantes adicionais. Não computamos C’ conjuntamente com RL, pois a dinâmica envolvida é diversa) |
Tabela IX – Nível de elaboração das Imagens Perceptuais. Flexibilidade na construção das imagens. Comparação entre os vários determinantes encontrados na amostra (exceptuando-se as RF – respostas de forma) | ||||||||
RM | RPs | RC | RL | Total | Total com adicionais | % Total | % Total sem adicionais | |
1.° | 11 | 7(2) | 3 | 2(3) | 25,5 | 23 | 22,97 | 24,75 |
2.° | 14 | 10(3) | 20(2) | 6(6) | 55,5 | 50 | 50,00 | 53,76 |
3.° | 8(4) | 0 | 11(11) | 1(5) | 30 | 20 | 27,03 | 21,51 |
Total | 33(4) | 17(5) | 34(13) | 9(14) | 111 | 93 | 100 | 100 |
(A tabela apresenta o número de RM (respostas de movimento), RPs (respostas de perspectiva), RC (respostas de cor), RL (respostas de luminosidade) e as classifica segundo 3 níveis que indicam:1.° – pleno contato com a realidade ambiente, isto é, segundo o modo estatisticamente mais frequente na população média. São os determinantes M, Ps, FC e L;2.° – contato em que se revela maior autonomia da personalidade em relação à população média, porém ainda na faixa estatisticamente aferível. São os determinantes m, ps, CF e l; 3.° predominância do polo subjetivo, isto é, reação essencialmente individual em face do estímulo ambiental. São os determinantes m’, ps’, C e l’. Os números apresentados entre parênteses referem-se a determinantes adicionais. |
Tabela IXB – Comparação entre os índices Eq e Eq’ e apresentação do tipo vivencial (coartado, coartativo, introversivo, extratensivo e ambigual dilatado) de cada um dos examinandos | |||||
Casos | Eq | Tipo vivencial manifesto | Eq’ | Tipo vivenciallatente | Coerência ou não entre Eq e Eq’ |
1 | 0:0 | Coartado | 0:0 | Coartado | S |
2 | 5:4,5 | Ambigual dilatado | 10:4,5 | Introvertido | N |
3 | 0:0 | Coartado | 1,5:0 | Introvertido | N |
4 | 2:0 | Introvertido | 2:0 | Introvertido | S |
5 | 0:2 | Extratensivo | 1:2 | Extratensivo | S |
6 | 0:1,5 | Extratensivo | 1:1,5 | Extratensivo | S |
7 | 0:3,5 | Extratensivo | 1:3,5 | Extratensivo | S |
8 | 0:0,5 | Coartativo | 1:0,5 | Coartativo | S |
9 | 0:2 | Extratensivo | 1:2 | Extratensivo | S |
10 | 0:0 | Coartado | 1:0 | Coartativo | S |
11 | 0:0 | Coartado | 0:0 | Coartado | S |
12 | 2:4,5 | Extratensivo | 2:4,5 | Extratensivo | S |
13 | 1:0 | Coartativo | 0,5:0 | Coartado | S |
14 | 0:3 | Extratensivo | 1:3 | Extratensivo | S |
15 | 0:3 | Extratensivo | 0:3 | Extratensivo | S |
16 | 0:1,5 | Extratensivo | 0:1,5 | Extratensivo | S |
17 | 0:1,5 | Extratensivo | 0:1,5 | Extratensivo | S |
18 | 0:0 | Coartado | 0:0 | Coartado | S |
19 | 1:0 | Coartativo | 7,5:0 | Introvertido | N |
20 | 0:3 | Extratensivo | 0:3 | Extratensivo | S |
21 | 0:4,5 | Extratensivo | 1:4,5 | Extratensivo | S |
Total | 11:35 | 1 introvertidos11 extratensivos5 coartados3 coartativos1 ambigual dilatado | 31,5:35 | 4 introvertidos11 extratensivos4 coartados2 coartativos0 ambigual dilatado | 3 Não (de coartativo para introvertido)18 Sim |
(A tabela mostra a distribuição na amostra do índice Eq e Eq’, bem como da classificação em ambos os índices dos 5 tipos vivenciais: introvertido, extratensivo, coartado, coartativo e ambigual dilatado. Além disso, comparando ambos os índices, busca a coerência entre as tendências vivenciais latentes e manifestas, e quando ocorreram, como se deram) |
Tabela IXc – Comparação entre os índices [(Ps+M):(L+C)] e [(m+m’):(l+l’+C’)] indicativos da Dinâmica Psíquica Atual e daquela latente (interferência de “juízos de valor” e ansiedade) em cada um dos examinandos | |||
Caso | (Ps+M):(L+C) | (m+m’):(l+l’+C’) | Comparação entre nível manifesto e nível latente |
1 | 0:0 formal | 0:0 formal | |
2 | 9:2 intelec. | 7:1,5 intelec | |
3 | 0:0,5 formal | 1,5:1 intelec | |
4 | 2:1 intelec. | 1:5 afetivo | |
5 | 2:2 ambigual | 1:0,5 formal | |
6 | 0:0 formal | 1:2,5 afetivo | X (tend. Afetiva) |
7 | 0:1,5 afetivo | 1:6 afetivo | X (tend. Afetiva) |
8 | 0:0,5 afetivo | 1:2 afetivo | X (tend. Afetiva) |
9 | 0:0,5 afetivo | 1:0,5 formal | |
10 | 0:0 formal | 1:0,5 formal | |
11 | 0:0 formal | 0:0 formal | |
12 | 2:1,5 ambigual | 1,5:1,5 ambigual | |
13 | 1:1 formal | 0:0 formal | |
14 | 0:1 afetivo | 1:0 formal | |
15 | 0:2 afetivo | 0:1,5 afetivo | |
16 | 0:2 afetivo | 0:1 formal | |
17 | 1:1 formal | 0:0,5 formal | |
18 | 0:0,5 formal | 0:0 formal | |
19 | 2:0 intelec | 5:0,5 intelec. | X (tend. Intelec) |
20 | 0:0,5 formal | 0:1 formal | |
21 | 0:1,5 afetivo | 0:0 formal | |
Total | 19:189 casos – formal3 casos – intel.2 casos -ambig.7 casos – afet. | 22,5:25:510 casos – formal3 casos – intelec.1 caso – ambig.7 casos – afet. | 5 casos com tendência diferente |
(A tabela mostra a distribuição na amostra dos índices acima referidos, indicativos da dinâmica psíquica atual e de seus aspectos latentes (“juízos de valor” e ansiedade que, porventura, interfiram nesta dinâmica). Além disso, comparando ambos os índices, buscamos a coerência entre as dinâmicas psíquicas latentes e manifestas, e quando ocorreram, como se deram) Em vermelho os dois únicos casos em que aparecem de modo mais marcante a tendência intelectual ou afetivo-emocional pois na maioria, predomina uma tendência coartativa. Legenda: formal – sem predomínio da esfera intelectual e nem da afetivo-emocional no índice, Intel. – predomínio da esfera intelectual no índice, Ambig. – predomínio equivalente da esfera intelectual e afetivo-emocional no índice, Afet. – predomínio da esfera afetivo-emocional no índice. |
Tabela IXc – Comparação entre os índices [(Ps+M):(L+C)] e [(m+m’):(l+l’+C’)] indicativos da Dinâmica Psíquica Atual e daquela latente (interferência de “juízos de valor” e ansiedade) em cada um dos examinandos | |||
Caso | (Ps+M):(L+C) | (m+m’):(l+l’+C’) | Comparação entre nível manifesto e nível latente |
1 | 0:0 formal | 0:0 formal | |
2 | 9:2 intelec. | 7:1,5 intelec | |
3 | 0:0,5 formal | 1,5:1 intelec | |
4 | 2:1 intelec. | 1:5 afetivo | |
5 | 2:2 ambigual | 1:0,5 formal | |
6 | 0:0 formal | 1:2,5 afetivo | X (tend. Afetiva) |
7 | 0:1,5 afetivo | 1:6 afetivo | X (tend. Afetiva) |
8 | 0:0,5 afetivo | 1:2 afetivo | X (tend. Afetiva) |
9 | 0:0,5 afetivo | 1:0,5 formal | |
10 | 0:0 formal | 1:0,5 formal | |
11 | 0:0 formal | 0:0 formal | |
12 | 2:1,5 ambigual | 1,5:1,5 ambigual | |
13 | 1:1 formal | 0:0 formal | |
14 | 0:1 afetivo | 1:0 formal | |
15 | 0:2 afetivo | 0:1,5 afetivo | |
16 | 0:2 afetivo | 0:1 formal | |
17 | 1:1 formal | 0:0,5 formal | |
18 | 0:0,5 formal | 0:0 formal | |
19 | 2:0 intelec | 5:0,5 intelec. | X (tend. Intelec) |
20 | 0:0,5 formal | 0:1 formal | |
21 | 0:1,5 afetivo | 0:0 formal | |
Total | 19:189 casos – formal3 casos – intel.2 casos -ambig.7 casos – afet. | 22,5:25:510 casos – formal3 casos – intelec.1 caso – ambig.7 casos – afet. | 5 casos com tendência diferente |
(A tabela mostra a distribuição na amostra dos índices acima referidos, indicativos da dinâmica psíquica atual e de seus aspectos latentes (“juízos de valor” e ansiedade que, porventura, interfiram nesta dinâmica). Além disso, comparando ambos os índices, buscamos a coerência entre as dinâmicas psíquicas latentes e manifestas, e quando ocorreram, como se deram) Em vermelho os dois únicos casos em que aparecem de modo mais marcante a tendência intelectual ou afetivo-emocional pois na maioria, predomina uma tendência coartativa. Legenda: formal – sem predomínio da esfera intelectual e nem da afetivo-emocional no índice, Intel. – predomínio da esfera intelectual no índice, Ambig. – predomínio equivalente da esfera intelectual e afetivo-emocional no índice, Afet. – predomínio da esfera afetivo-emocional no índice. |
Tabela XI – Nível de elaboração da Imagens perceptuais. Flexibilidade das imagens. Análise das Respostas de Cor | |||||
RC | C | P | Determ.adicional | Carac. | Conteúdo |
FC | 6 | II | (l) | positiva | Borboleta em flor. |
FC | 7 | X | – | neutra | Azaleia. |
FC | 8 | X | – | neutra | Flor vermelha. |
CF | 2 | II | (ps) | positiva | Fogo saindo da nave. |
CF | 2 | II | – | positiva | Tochas numa dança. |
CF | 2 | II | – | positiva | Fogueira numa dança. |
CF | 2 | VIII | Em adicional a m’ | positiva | Fogo saindo do Apolo. |
CF | 2 | IX | – | negativa | Fogo usado em luta. |
CF | 5 | VIII | – | positiva | Árvore da Serra que viu em Rondonópolis. |
CF | 6 | IX | Em adicional a os | positiva | Nuvens coloridas que ocorrem no calor. |
CF | 6 | X | – | neutra | Planta. |
CF | 7 | II | – | negativa | Sangue de morcego eliminado. |
CF | 7 | IX | – | neutra | Moita verde. |
CF | 7 | X | – | neutra | Pétalas de flor. |
CF | 9 | IX | (ps) | positiva | Fumaça com fogos de artifício. |
CF | 9 | X | – | positiva | Artesanato com flores e árvores caídas. |
CF | 14 | VIII | – | neutra | Toco de árvore. |
CF | 14 | IX | – | neutra | Vaso de flor. |
CF | 14 | X | – | neutra | Ramo de flor. |
CF | 20 | IX | – | neutra | Mapa colorido. |
CF | 20 | X | – | neutra | Planta marítima. |
CF | 20 | X | – | neutra | Quadro colorido. |
CF | 21 | II | – | neutra | Jarro de flor. |
CF | 21 | X | – | neutra | Planta. |
CF | 21 | X | – | neutra | Flor. |
C | 2 | X | (m’) | neutra | Abstrato: brincadeira da natureza. |
C | 5 | IX | – | neutra | Floresta. |
C | 5 | IX | – | neutra | Planta. |
C | 12 | II | (m’) | negativa | Sangue saindo da vagina doente. |
C | 12 | IX | (l’) | negativa | Fluxo menstrual (conotação de doença) |
C | 12 | X | – | negativa | Órgãos genitais internos |
C | 15 | VIII | – | neutra | Abstrato: conjunto de cores como caricatura. |
C | 15 | IX | – | neutra | Abstrato: conjunto de cores como caricatura. |
C | 16 | IX | – | neutra | Sol. |
C | 17 | X | – | neutra | Abstrato: jogo de cores numa pintura. |
C | 21 | II | – | neutra | Passarinho porque têm passarinhos vermelhos |
(A tabela apresenta as respostas de movimento, indicando o tipo M – movimento humano, o tipo m – movimento animal e o tipo m’ – emprego subjetivo do movimento; o caso da amostra (C na tabela) que expressou a resposta; o sexo da imagem (S na tabela), quando for o caso; a prancha (P na tabela) que eliciou a resposta, o tipo de movimento (T na tabela): flexor e extensor; e as características do conteúdo da resposta. |
Tabela XII – Nível de elaboração das Imagens Perceptuais. Flexibilidade na construção das imagens. Análise das respostas de perspectiva | ||||
RPs | C | Prancha | Adicional | Características |
Ps | 2 | II | – | Cena de dança croata |
Ps | 2 | VI | – | Foguete decolando |
Ps | 2 | VI | – | O vôo da Fênix |
Ps | 2 | VIII | (c) | Tigres escalando o Himalaia |
Ps | 5 | VIII | – | Macaco mico-leão em Serra |
Ps | 5 | X | – | Gruta |
Ps | 17 | IX | (l’) | Alguém escondido na nevoa. |
Ps | 19 | IV | a m’ | Vulcão explodindo |
Ps | 19 | VI | a m’ | Vulcão explodindo |
ps | 2 | VI | (m’) | Fumaça do foguete. |
ps | 2 | VI | – | Fumaça do ninho da Fênix |
ps | 2 | VIII | (C) | Fumaça do Apolo |
ps | 2 | II | a CF | Fogo e fumaça da nave. |
ps | 3 | VII | (m’) | Nuvens espalhando |
ps | 4 | IV | (l’) | Nevoeiro de tempestade |
ps | 5 | VII | – | Nuvens |
ps | 6 | VII | – | Nuvens |
ps | 6 | IX | (CF) | Nuvens à tarde |
ps | 9 | IX | (CF) | Fogo e fumaça de artificio |
ps | 15 | VI | (C’) | Nuvem |
ps | 18 | IX | (C) | Paisagem distante |
ps | 19 | VII | a m’ | Nuvens andando no céu |
(A tabela apresenta s respostas de perspectiva indicando o tipo Ps ou ps, o caso da amostra que a apresentou, a prancha que a eliciou, se há outro determinante adicional, indicado pelos parênteses ou se a resposta de perspectiva foi a adicional a um outro determinante, as características de conteúdo.) |
Tabela XII – Nível de elaboração das Imagens Perceptuais. Flexibilidade na construção das imagens. Análise das respostas de perspectiva | ||||
RPs | C | Prancha | Adicional | Características |
Ps | 2 | II | – | Cena de dança croata |
Ps | 2 | VI | – | Foguete decolando |
Ps | 2 | VI | – | O vôo da Fênix |
Ps | 2 | VIII | (c) | Tigres escalando o Himalaia |
Ps | 5 | VIII | – | Macaco mico-leão em Serra |
Ps | 5 | X | – | Gruta |
Ps | 17 | IX | (l’) | Alguém escondido na nevoa. |
Ps | 19 | IV | a m’ | Vulcão explodindo |
Ps | 19 | VI | a m’ | Vulcão explodindo |
ps | 2 | VI | (m’) | Fumaça do foguete. |
ps | 2 | VI | – | Fumaça do ninho da Fênix |
ps | 2 | VIII | (C) | Fumaça do Apolo |
ps | 2 | II | a CF | Fogo e fumaça da nave. |
ps | 3 | VII | (m’) | Nuvens espalhando |
ps | 4 | IV | (l’) | Nevoeiro de tempestade |
ps | 5 | VII | – | Nuvens |
ps | 6 | VII | – | Nuvens |
ps | 6 | IX | (CF) | Nuvens à tarde |
ps | 9 | IX | (CF) | Fogo e fumaça de artificio |
ps | 15 | VI | (C’) | Nuvem |
ps | 18 | IX | (C) | Paisagem distante |
ps | 19 | VII | a m’ | Nuvens andando no céu |
(A tabela apresenta s respostas de perspectiva indicando o tipo Ps ou ps, o caso da amostra que a apresentou, a prancha que a eliciou, se há outro determinante adicional, indicado pelos parênteses ou se a resposta de perspectiva foi a adicional a um outro determinante, as características de conteúdo.) |
Tabela XIV – Nível de elaboração das imagens perceptuais. Mecanismos inusuais de reação que inferem na construção das imagens. Associações parasitas. | |||||||||
Casos↓ | Fuga ao Estímulo | Fabulação | Liberação | Nomeação de Cor | Sim ou Não | ||||
Prancha | n.° | Prancha | n.° | Prancha | n.° | Prancha | n.° | ||
1 | – | – | – | – | – | – | – | – | N |
2 | – | – | III | 3 | – | – | – | – | S |
3 | V | 1 | – | – | – | – | II, VIII, IX e X | 4 | S |
4 | III | 1 | – | – | – | – | – | – | S |
5 | VIII e IX | 2 | – | – | – | – | – | – | S |
6 | Todas | 10 | – | – | – | – | – | – | S |
7 | – | – | II | 1 | III | 1 | – | – | S |
8 | – | – | – | – | – | – | – | – | N |
9 | – | – | – | – | – | – | – | – | N |
10 | – | – | – | – | – | – | – | – | N |
11 | – | – | – | – | – | – | – | – | N |
12 | I, V e VIII | 3 | – | – | – | – | – | – | S |
13 | – | – | IV | 1 | – | – | – | – | S |
14 | – | – | – | – | II | 1 | – | – | S |
15 | – | – | – | – | – | – | X | 1 | S |
16 | – | – | – | – | I | 1 | – | – | S |
17 | VI | 1 | – | – | – | – | – | – | S |
18 | – | – | – | – | – | – | – | – | N |
19 | – | – | – | – | – | – | – | – | N |
20 | – | – | – | – | – | – | – | – | N |
21 | I, II, V, VI, IX e X | 6 | – | – | – | – | – | – | S |
Total de casos | 7 | 3 | 3 | 2 | 13 | ||||
(A tabela mostra a presença ou não dos mecanismos inusuais de reação de: fuga ao estímulo, fabulação, liberação e nomeação de cor, em cada caso, indicando o número de vezes que ocorreram e em quais pranchas. Há também, no final, o número de caos que apresentou cada um dos mecanismo) |
Tabela XV – Nível de elaboração das imagens perceptuais. Mecanismos inusuais de reação que inferem na construção das imagens. Alterações no processo associativo. | |||||||||
Casos↓ | Hostilidade | Repetição | Perplexidade | Inibição ou Rejeição | Sim ou Não | ||||
Prancha | n.° | Prancha | n.° | Prancha | n.° | Prancha | n.° | ||
1 | – | – | – | Exceção da III, I e VIII | 7 | S | |||
2 | III | – | – | – | S | ||||
3 | – | – | VI | 1 | I, II, V e VI | 4 | S | ||
4 | III e VII | 2 | – | – | VII e IX | 2 | S | ||
5 | – | – | – | – | N | ||||
6 | IV, V e VI | 3 | – | – | – | S | |||
7 | – | VII | 1 | – | – | S | |||
8 | – | – | – | I | S | ||||
9 | – | – | – | V, VIII e IX | 3 | S | |||
10 | – | – | – | III, IX e X | 3 | S | |||
11 | – | IV, V e VI | 3 | – | III, VII, VIII, IX e X | 5 | S | ||
12 | I e IV | 2 | – | – | Exceção I, II, IV e V | 6 | S | ||
13 | – | – | – | II | 1 | S | |||
14 | – | – | – | IX | 1 | S | |||
15 | – | V e VI | 2 | IV | 1 | III e IV | 2 | S | |
16 | – | – | VII | 1 | V, VI, VII, IX e X | 5 | S | ||
17 | – | – | – | VI, VIII e IX | 3 | S | |||
18 | II e IX | 2 | – | IV, VI, VII, VIII e X | 5 | Exceção I, II, V e IX | 6 | S | |
19 | – | – | II | 1 | II, VIII e X | 3 | S | ||
20 | – | – | – | II, III, VII e VIII | 4 | S | |||
21 | – | – | – | VII | 1 | S | |||
Total de ocor-rências | 9 ocorrências Em 5 casos | 6 ocorrências em 3 casos | 9 ocorrências em 5 casos | 57 ocorrências em 17 casos | 20 casos | ||||
(A tabela mostra a presença ou não dos mecanismos inusuais de reação de: fuga ao estímulo, fabulação, liberação e nomeação de cor, em cada caso, indicando o número de vezes que ocorreram e em quais pranchas. Há também, no final, o número de caos que apresentou cada um dos mecanismos) |
Tabela XVI – Nível de elaboração das imagens perceptuais. Mecanismos inusuais de reação que interferem na construção das imagens. Alterações do processo associativo. Análise das inibições e rejeições | ||||
Casos | Inibição | Rejeição | ||
n.° de pranchas | Pranchas | n.° de pranchas | Pranchas | |
1 | 1 | VIII | 6 | IV, VI, VII, IX e X |
2 | 1 | VII e X | 0 | – |
3 | 3 | I, II e V | 1 | VI |
4 | 2 | VII e IX | 0 | – |
5 | 0 | – | 0 | – |
6 | 1 | VII | 0 | – |
7 | 1 | VII e IX | 0 | – |
8 | 1 | I | 0 | – |
9 | 3 | V, VIII e IX | 0 | – |
10 | 0 | – | 3 | III, IX, e X |
11 | 2 | III e VIII | 0 | VII, IX e X |
12 | 6 | III, VI, VII, VIII, IX e X | 0 | – |
13 | 1 | II | 0 | – |
14 | 1 | IX | 0 | – |
15 | 0 | – | 2 | III e IV |
16 | 4 | V, VI, IX e X | 1 | VII |
17 | 3 | VI, VIII e IX | 0 | – |
18 | 0 | – | 6 | III, IV, VI, VII, VIII e X |
19 | 0 | – | 3 | II, VIII e X |
20 | 3 | III, VII e VIII | 1 | II |
21 | 1 | VII | 0 | – |
(A tabela indica os casos da amostra que apresentaram inibição ou rejeição e o número de pranchas inibidas ou rejeitadas e quais foram elas) |
Tabela XVII – Nível de elaboração das imagens perceptuais. Mecanismos inusuais de reação que revelam distorções da imagem | |||||||
Casos↓ | Condensação de cor | Condensação | Fragmentação | Sim ou Não | |||
n.° | Pranchas | n.° | Pranchas | n.° | Pranchas | ||
1 | – | – | – | N | |||
2 | 1 | VIII | 2 | I e VIII | – | S | |
3 | 1 | X | – | – | S | ||
4 | – | 1 | VII | – | S | ||
5 | – | 1 | V | – | S | ||
6 | 1 | VIII | – | – | S | ||
7 | 3 | III, VIII e X | – | 1 | III | S | |
8 | 1 | IX | – | – | S | ||
9 | – | – | – | N | |||
10 | 1 | II | – | – | S | ||
11 | – | – | – | N | |||
12 | – | 1 | IX | 1 | VI | S | |
13 | 1 | II | 2 | IVEVII | – | S | |
14 | – | – | – | N | |||
15 | 1 | II | – | – | S | ||
16 | – | – | – | N | |||
17 | – | – | – | N | |||
18 | 1 | IX | – | – | S | ||
19 | – | – | – | N | |||
20 | – | – | – | N | |||
21 | 1 | IX | – | – | S | ||
Total | 12 | 7 | 2 | 13 | |||
(A tabela apresenta os casos que apresentaram condensação de cor, condensação e fragmentação, indicando o número de vezes e em quais probandos) |
Tabela XVIII – Nível de Categorização dos Significados. Nível de abstração e de generalização das categorias | ||||||
Caso | %H | H:pH | Hg.:Hesp. | %A | A:pA | Ag.:Aesp. |
1 | – | 0:0 | 0:0 | – | 3:0 | 0:3 |
2 | 21 | 6:0 | 2:4 | 14 | 4:0 | 0:4 |
3 | 28 | 3:2 | 3:0 | 28 | 1:4 | 1:4 |
4 | 10 | 3:0 | 3:0 | 40 | 10:2 | 7:5 |
5 | 10 | 1:1 | 2:0 | 19 | 2:1 | 1:2 |
6 | 5 | 1:0 | 1:0 | 35 | 8:0 | 0:8 |
7 | 22 | 0:4 | 4:0 | 44 | 6:2 | 2:6 |
8 | 4 | 1:0 | 1:0 | 42 | 10:0 | 3:7 |
9 | – | 0:0 | 1:0 | – | 3:0 | 1:2 |
10 | – | 0:0 | 0:0 | – | 7:0 | 2:5 |
11 | – | 0:0 | 0:0 | – | 10:0 | 0:10 |
12 | 12 | 2:0 | 2:0 | 12 | 2:0 | 1:1 |
13 | 36 | 5:0 | 4:1 | 64 | 3:0 | 4:5 |
14 | 13 | 1:1 | 1:1 | 53 | 8:0 | 2:6 |
15 | – | 0:0 | 0:0 | – | 5:0 | 0:5 |
16 | – | 2:2 | 4:0 | – | 3:2 | 3:2 |
17 | – | 3:2 | 4:1 | – | 4:0 | 2:2 |
18 | – | 0:0 | 0:0 | – | 2:0 | 0:2 |
19 | – | 1:0 | 0:1 | – | 2:0 | 0:2 |
20 | – | 0:0 | 0:0 | – | 4:0 | 1:3 |
21 | 10 | 2:0 | 2:0 | 43 | 8:1 | 3:6 |
(a tabela apresenta, caso a caso, a %H, quando for o caso, a relação H:pH (imagem humana integral verso partes humanas, a porcentagem de conteúdo animal (%A), a relação A:pA (imagem animal integral verso parte animal), e a Hg:Hesp, ou seja, imagem humana genérica ou imagem humana específica, e o mesmo com relação à imagem de conteúdo animal (genérica ou específica). Os valores considerados normais para a população média são: com relação à %H, de 10 a 20; com relação à %A, de 28 a 46; com relação à proporção H:pH e A:pA, 4:1. Não existe avaliação estatística quanto à referência genérica ou específica do conteúdo humano ou animal, porém, é razoável se supor que a referência específica seja mais encontradiça entre a população normal. |
Tabela XIX – Nível de categorização dos significados. Atribuição valorativa ao significado da imagem | ||||
Casos | Qualidade positiva | Características agressivas | Deformidades ou doenças | Neutro e superficial |
1 | 0 | 1 | 1 | 2 |
2 | 5 | 1 | 1 | 6 |
3 | 0 | 1 | 0 | 9 |
4 | 0 | 2 | 5 | 14 |
5 | 0 | 0 | 3 | 5 |
6 | 0 | 0 | 1 | 14 |
7 | 0 | 0 | 4 | 10 |
8 | 0 | 0 | 1 | 11 |
9 | 0 | 0 | 0 | 4 |
10 | 0 | 0 | 0 | 7 |
11 | 0 | 0 | 1 | 9 |
12 | 0 | 2 | 13 | 2 |
13 | 0 | 1 | 2 | 11 |
14 | 0 | 0 | 0 | 10 |
15 | 0 | 0 | 0 | 6 |
16 | 0 | 0 | 3 | 8 |
17 | 0 | 1 | 0 | 8 |
18 | 0 | 0 | 0 | 2 |
19 | 0 | 2 | 0 | 0 |
20 | 0 | 0 | 1 | 5 |
21 | 0 | 0 | 0 | 10 |
Total | 2,44% (5) | 5,3% (11) | 17,56% (36) | 74,63% (153) |
(A tabela apresenta, caso a caso, uma distribuição das respostas de conteúdo humano e animal segundo apresentem qualidades positivas, características agressivas, deformidades ou doenças ou atribuição neutra e superficial. Ao final a porcentagem de cada atribuição no total das respostas) |
Tabela XX – Nível de categorização dos significados. Extensão do Campo de interesses | |||
Casos | Vagos e cotidianos | Diferenciados e específicos | Forças da Natureza e Armas agressivas |
1 | 0 | 0 | 0 |
2 | 2 | 6 | 9 |
3 | 8 | 0 | 1 |
4 | 6 | 1 | 2 |
5 | 7 | 1 | 0 |
6 | 8 | 0 | 0 |
7 | 4 | 0 | 0 |
8 | 11 | 1 | 0 |
9 | 5 | 2 | 0 |
10 | 0 | 0 | 0 |
11 | 0 | 0 | 0 |
12 | 0 | 0 | 2 |
13 | 0 | 0 | 0 |
14 | 5 | 0 | 0 |
15 | 5 | 0 | 0 |
16 | 1 | 1 | 0 |
17 | 1 | 0 | 0 |
18 | 0 | 1 | 0 |
19 | 0 | 0 | 4 |
20 | 6 | 0 | 0 |
21 | 6 | 2 | 0 |
Total de respostas e porcentagem | 69,44% (75) | 13,89% (15) | 16,67% (18) |
(A tabela apresenta, caso a caso, a distribuição das categorias de conteúdo de acordo com três modalidades: vagos e cotidianos, diferenciados e específicos e forças da natureza e armas agressivas. Ao final, a porcentagem de cada subgrupo com relação ao total de respostas e o número total de casos que apresentaram o tipo de modalidade considerada. |
Tabela XXI – Relação (L+C’):(C+nC+l) no vários casos | Tabela XXII – Apresentação dos índices Af, Imp e Con na amostra | ||||||
1 | 0:0 | 1 | – | – | – | ||
2 | 0,5:2 | 2 | 1,23 | 1,29 | -3 | ||
3 | 0:4,5 | 3 | 2,6 | 0,625 | 50 | ||
4 | 0:3,5 | 4 | 1,73 | 0,36 | 64 | ||
5 | 0:3 | 5 | 1,28 | 0,29 | 56 | ||
6 | 1:2 | 6 | 0,64 | 0,5 | 43 | ||
7 | 4:2,5 | 7 | 2,00 | 0,33 | -4 | ||
8 | 2:0,5 | 8 | 2,4 | 0,75 | 46 | ||
9 | 0:0,5 | 9 | – | – | – | ||
10 | 0,5:0,5 | 10 | – | – | – | ||
11 | 0:0 | 11 | – | – | – | ||
12 | 0:3,5 | 12 | 1,8 | 0,37 | 45 | ||
13 | 0,5:0,5 | 13 | 1,33 | 0,33 | 78 | ||
14 | 1:0 | 14 | 1,50 | 0,80 | 64 | ||
15 | 1,5:3,5 | 15 | – | – | – | ||
16 | 2:1 | 16 | – | – | – | ||
17 | 0:1 | 17 | – | – | – | ||
18 | 0:0,5 | 18 | – | – | – | ||
19 | 0:0 | 19 | – | – | – | ||
20 | 1:0 | 20 | – | – | – | ||
21 | 0:2,5 | 21 | 2,00 | 0,56 | 56 | ||
14:32,5 | 1:2,3 | (A tabela mostra os três índices mencionados, cujos valores normais são: Af – de 1,12 a 1,84; Imp – de 0,32 a 0,70 (e de 0,20 a 0,34 para normais não impulsivos ; e Con – de 44 a 54 | |||||
(A tabela mostra a relação descrita nos vários casos e ao final procede a uma somatória dos dados fornecendo uma média da relação no total da amostra) |
Tabela XXIII – Apresentação do número de respostas na amostra | |
1 | 4 |
2 | 20 |
3 | 18 |
4 | 30 |
5 | 16 |
6 | 23 |
7 | 18 |
8 | 24 |
9 | 9 |
10 | 10 |
11 | 11 |
12 | 17 |
13 | 14 |
14 | 15 |
15 | 12 |
16 | 13 |
17 | 10 |
18 | 3 |
19 | 7 |
20 | 11 |
21 | 22 |
(A tabela mostra o número de respostas de cada caso. O valor normal deste índice é 29 a 53, ou seja, apenas 1 caso apresentou este índice dentro dos valores da normalidade (o caso 4)) |
Tabela XXIV – Classificação das Imagens em função do processo de simbolização das experiências | |||||||
Caso | R1% | R2% | R3% | R4% | R5% | R6% | Total de Imagens |
1 | 50(2) | 50(2) | (0) | (0) | (0) | (0) | 4 |
2 | 16(3) | 16(3) | 5(1) | 16(3) | 42(8) | 5(1) | 19 |
3 | 56(10) | 38(7) | (0) | 6(1) | (0) | (0) | 18 |
4 | 37(11) | 44(13) | 3(1) | 13(4) | 3(1) | (0) | 30 |
5 | 37(6) | 31(5) | 27(3) | 17(2) | 3(1) | (0) | 16 |
6 | 22(5) | 70(16) | 4(1) | 4(1) | (0) | (0) | 23 |
7 | 33(6) | 39(7) | 6(1) | 22(4) | (0) | (0) | 18 |
8 | 26(6) | 65(15) | 4(1) | 4(1) | (0) | (0) | 23 |
9 | 45(5) | 45(5) | (0) | 10(1) | (0) | (0) | 11 |
10 | 29(2) | 57(4) | (0) | 14(1) | (0) | (0) | 7 |
11 | 67(6) | 33(3) | (0) | (0) | (0) | (0) | 9 |
12 | 62(10) | 19(3) | (0) | 19(3) | (0) | (0) | 16 |
13 | 31(4) | 38(5) | 8(1) | 15(2) | 8(1) | (0) | 13 |
14 | 40(6) | 33(5) | 20(3) | 7(1) | (0) | (0) | 15 |
15 | 100(11) | (0) | (0) | (0) | (0) | (0) | 11 |
16 | 73(8) | 18(2) | (0) | 9(1) | (0) | (0) | 11 |
17 | 40(4) | 50(5) | (0) | (0) | 10(1) | (0) | 10 |
18 | 33(1) | 67(2) | (0) | (0) | (0) | (0) | 3 |
19 | 57(4) | (0) | (0) | 43(3) | (0) | (0) | 7 |
20 | 63(7) | 27(3) | 10(1) | (0) | (0) | (0) | 11 |
21 | 43(9) | 33(7) | 14(3) | 10(2) | (0) | (0) | 21 |
T X | 42,6(126) | 37,8(112) | 5,4(16) | 10,1(30) | 3,7(11) | 0,4(1) | 296 |
(A tabela apresenta, caso a caso, a distribuição das imagens segundo a classificação de R1 a R6 em cada caso, em números absolutos e em porcentagem. Apresenta também o número de imagens por caso. Ao final há uma somatória dos diversos tipos de imagens e sua porcentagem com relação ao todo). |
Tabela XXV – Sinais de Agressividade | |||||||
Casos | 1SinalBNS | 2SinalPG | 3SinalF+c | 4SinalIv | 5SinalC | 6SinalCFI | Total (assinalados ≥3 sinais) |
1 | S | S | N | S | N | S | 4 |
2 | N | N | N | S | S | S | 3 |
3 | S | N | N | S | S | S | 4 |
4 | S | S | S | N | N | S | 4 |
5 | S | S | N | S | S | S | 5 |
6 | S | S | S | S | S | S | 6 |
7 | S | S | S | S | S | S | 6 |
8 | S | S | N | S | N | N | 3 |
9 | S | S | N | N | S | S | 4 |
10 | S | N | N | N | N | N | 1 |
11 | S | S | S | S | N | N | 4 |
12 | S | S | S | S | S | S | 6 |
13 | S | S | N | N | S | N | 3 |
14 | S | N | N | N | S | S | 3 |
15 | S | S | S | S | S | S | 6 |
16 | S | S | N | N | S | S | 4 |
17 | S | S | N | N | S | N | 3 |
18 | S | N | S | S | S | S | 5 |
19 | S | S | N | S | N | S | 4 |
20 | S | S | S | S | S | S | 6 |
21 | S | S | N | S | S | S | 5 |
Total de casos | 20 | 16 | 9 | 13 | 15 | 16 | 20 |
(A tabela apresenta a ocorrência dos sinais de agressividade na amostra. Afinal, em quantos sujeitos cada sinal ocorreu e, considerando-se significativa a ocorrência de 3 ou mais sinais, o número de sujeitos da amostra que apresentaram os mesmos em nível significativo) |
- Conclusões
A amostra escolhida para este trabalho limita o alcance de nossas conclusões por alguns fatores:
- – Todos os examinandos encontravam-se em reclusão já há alguns anos. É possível que certas limitações encontradas, principalmente em nível do campo de interesses possam se relacionar a isto ou ao baixo grau de instrução que a maiori deles apresenta
- – O grupo não pode ser tomado como representando os indivíduos violentos em geral. Há uma parcela de criminosos violentos que não são condenados pois não são descobertos como autores dos crimes
- Parte dos sujeitos que selecionamos para aplicar a Prova de Rorschach recusou-se a fazê-lo. Que características de personalidade possuiria este sub-grupo? Apresentariam este indivíduos as mesmas alterações cognitivas observadas no grupo aqui estudado?
- Não procedemos a uma análise estatística da amostra por não ser este nosso objetivo. Visávamos caracterizar os processos de apreensão, representação de imagens e simbolização das experiências, nestes sujeitos. Foi o que realizamos nesta pesquisa.
As características encontradas nos processos cognitivos dos examinandos mostram elementos comuns muito frequentes e outros que aparecem apenas em parte da amostra. Há ainda alguns indícios que estão presentes em apenas um ou outro sujeito da amostra mas que, em virtude de sua raridade na população média, merecem ser analisados.
- Os elementos mais frequentes encontrados na amostra são:
- Baixo número de respostas no protocolo
- Baixo grau de seletividade a nível da apreensão e seleção dos estímulos
- Presença de confabulações ou respostas com supergeneralização apressada
- Baixo índice de elaboração (Z/R rebaixado)
- Predomínio de imagens vagas sobre aquelas mais precisas
- Predomínio de determinantes de 3.° e 2.° nível sobre aqueles de 1.° nível, com a ocorrência de vários determinantes de 3.° nível
- Ausência ou poucas respostas com determinante M
- Ausência de respostas com determinante m’2
- Ausência de FC em quase todos os casos e a presença de cor pura
- Todas as respostas de movimento são de tipo extensor
- Ausência ou reduzido número de respostas de luminosidade
- Há rejeição ou inibição, principalmente das pranchas VII e IX
- Há predomínio de respostas com conteúdo humano integral sobre aqueles de parte humana e categorização humana genérica sobre a específica
- Na faixa de conteúdos há o predomínio das respostas vagas ou cotidianas
- As imagens de tipo R1 predominam sobre as imagens de tipo R2
Formulamos algumas hipóteses com relação ao significado psicológico destes dados.
Silveira, baseando-se na teoria da personalidade que desenvolveu a partir dos fundamentos filosóficos sistematizados por Comte, considera a inclinação social humana como inclinação natural e necessária à participação dos sentimentos sociais mais diferenciados na mobilização e modulação do interesse do indivíduo pela realidade exterior e sua integração subjetiva.
Em trabalho anterior (1990) em co-autoria com Mendes Filho e Coelho, analisamos os processos cognitivos de indivíduos que apresentam personalidade psicopática hiperemotiva, que se caracteriza por uma hipersensibilidade egocêntrica ao nível do relacionamento interpessoal (Distúrbio Histriônico de Personalidade segundo o DSM-III-R (1989)).
Nestes sujeitos encontramos elevado número de respostas e um conjunto de alterações cognitivas caracterizado principalmente por irrupção desenfreada de imagens à apresentação dos estímulos, imagens estas muitas vezes condensadas, com frequência associadas a muita fabulação e uma tendência persistente em estabelecer relações entre os perceptos, ainda que, na maior parte das vezes, a partir de critérios muito subjetivos. Ou seja, ocorre nos hiperemotivos um rico plano de fantasias que, em função da intensa repercussão afetiva, se sobrepõe à realidade, levando o sujeito a sempre buscar um significado oculto, mais amplo nas experiências.
Haverá como consequência intenso subjetivismo com egocentrismo. Interpretamos esta perturbação cognitiva como decorrente da interferência da afetividade sobre a cognição.
O modelo por nós adotado, como referimos anteriormente, é sistêmico e considera a relação contínua entre os três setores da personalidade (afetividade, conação e cognição ou inteligência).
Ora, ao analisarmos as alterações que encontramos nos sujeitos da nossa amostra de violentos, verificamos que ocorrem alterações em sentido inverso, por assim dizer
- – O baixo número de respostas, apesar de haver o desejo de cooperação (na medida do que isto era possível) dos examinando, estaria possivelmente indicando certo desinteresse ou mesmo pobreza associativa. Este dado é concordante com aqueles referidos pela maioria dos autores, como é o caso de Pais (1989), Timsit (1987), Parisi et al. (1992) e Anastasíades, citado por Pais (1989).
- – A ocorrência de baixo grau de seletividade a nível da seleção dos estímulos, a tendência à confabulação, o baixo índice de elaboração e o predomínio das imagens vagas sobre as precisas, indica que estes indivíduos mantém um contato extremamente superficial com a realidade, voltando-se apenas aos elementos mais concretos que se impõem por si mesmos, ou seja, os aspectos mais óbvios das situações, tendendo a manifestar no plano cognitivo a mesma impulsividade que apresentam a nível da ação explícita, ou seja, a partir de pequenos indícios, extraem conclusões precipitadas. Em nosso entender, não apenas por causa da elevada impulsividade e das pulsões agressivas, mas também porque não apresentam sensibilidade diferenciada que os mobilize a interessar-se pela realidade externa e module seus impulsos. Curiosamente, no caso dos hiperemotivos analisados no trabalho anterior já citado (1990), o subjetivismo não decorre da apreciação superficial da realidade, mas do fato de projetarem sobre esta fantasias egocêntricas e de superestima, e de, em função da intensa repercussão emocional, não serem capazes de abstrair certos dados mais concretos e óbvios, formando imagens condensadas, cuja deformação decorre da intensa ressonância emocional, que evoca sincreticamente experiências pregressas. Como vemos, dinâmica inversa à descrita para os sujeitos de “feitio” violento, o que, em nosso entender, sugere que as alterações cognitivas aqui encontradas no indivíduos violentos, não decorre apenas de sua elevada impulsividade, mas também da incapacidade de sofreá-la, da insensibilidade mais diferenciada a nível de sentimentos, levando-os a apresentar mesmo uma certa retração com relação à realidade. Esta somente vem interessar-lhes quando motivados por seus impulsos fragmentários e parciais. O resultado será a nível cognitivo, uma noção da realidade como um mosaico fragmentário ou como impressões gerais momentâneas ou por vaga evocação passada. Há incapacidade de reunir os dados das experiências, num sentido mais amplo, unificando-as e relacionando as diversas experiências num sentido de existência, que só pode ser fornecido pelo meio sociocultural (Esta é a natureza social humana referida pelos autores). Contrariamente aos indivíduos normais e mesmo aqueles hiperemotivos, os examinandos violentos apresentam um escassa produção imaginativa.
- – As imagens mentais são vagas, imprecisas e eles não tendem a estabelecer relações entre as mesmas. Esta outra característica de seus protocolos confirma a hipótese acima aventada. Estes indivíduos são incapazes (ou têm muito prejudicada esta capacidade) de evocar as experiências passadas e situá-las no contexto atual, correlacionando-as com a situação presente. Tal dinâmica levá-los-á a vivenciar a realidade como um presente imediato que fixam imprecisamente e de modo fragmentário, dificultando também a prospecção. Estes sujeitos por nós analisados vivenciam um presente que sofre pouca influência das experiências passadas e não se mobilizam no sentido de prever as situações futuras. O presente, portanto, é caracterizado por uma noção muito vaga e imprecisa, principalmente influenciada pelos impulsos atuais, quase reativos, muito egocêntricos e dissociados. Se procedermos a uma verificação das características das imagens vagas e de quais os determinantes a elas associados, poderemos ter uma ideia do grau de flexibilidade que estes indivíduos apresentam para construção das imagens, que já constatamos ser pequena mas resta compreender mais precisamente como se dá esta deformação da capacidade de simbolizar as experiências.
- – Há predomínio de determinantes de terceiro e de segundo nível sobre aqueles de primeiro nível, muito poucas respostas de movimento humano ou mesmo ausência total, poucas respostas de movimento animal, a ausência de determinantes FC (na maioria dos casos) e a presença de respostas de cor pura, redução das respostas de luminosidade e, quando a respostas de movimento predominam amplamente as respostas de tipo extensor, mesmo naquelas em que há emprego subjetivo do movimento (não há determinantes tipo m’2 em nenhum protocolo). Estes dados definem quais são os fatores que determinam tamanha imprecisão das imagens mentais destes examinandos. Eles acham-se submetidos à influência maciça de impulsos destrutivos, que tornam sua percepção da realidade fragmentária. Estão ausentes quase todos os indícios significativos da capacidade de sofrear os impulsos e postergar a satisfação das necessidades. Assim, as necessidades despertadas por impulsos impregnam a percepção da realidade e o indivíduo é incapaz de integrar os dados percebidos num processo mais rico de construção simbólica.
- – É interessante constatar que são muito poucos os casos que apresentam imagens com evidente conteúdo agressivo. Com relação a este aspecto, nossos dados são concordantes com aqueles encontrados por Timsit e Bastin (1987), ainda que interpretemos o fato de modo algo diverso. Timsit evoca o que denomina função compensadora da fantasia. Ora, a presença de fantasias num protocolo, quando suficientemente elaboradas, não seria o fator que propicia a contenção da agressividade manifesta mas o resultado da capacidade de contê-las, ou seja, o indivíduo apenas pode compensar impulsos agressivos com fantasias por possuir sensibilidade para com os outros. O indivíduo violento apresenta poucas fantasias pois encontra-se a mercê de seus impulsos primários, sendo insuficiente sua sensibilidade diferenciada a nível da sociabilidade, não surgirão conflitos subjetivos representados nas fantasias. A interessante consideração de Heraut (1987) quando refere ser fundamental a análise do grau de simbolização dos impulsos agressivos no protocolo, é concordante com nossos achados. Há poucas respostas onde os conteúdos agressivos são projetados em movimentos humanos ou animais e, se verificarmos a distribuição das imagens de acordo com o grau e dinâmica do processo de simbolização, segundo o método e classificação de imagens proposto por Coelho (1992), verificamos que há nos sujeitos de nossa amostra o predomínio das imagens de tipo R1. Isto indica que as experiências destes indivíduos é mais próxima à daquela dos psicóticos, regendo-se a nível das experiências por construções muito subjetivas, impregnadas de reações afetivo-emocionais primárias. Este grupo, também neste aspecto próximo àquele dos psicóticos é o que menos se rege por elaborações dedutivo-criativas, relacionadas com o maior grau de simbolização das experiências. É interessante verificar que quando comparamos nosso grupo com aquele que Coelho comparara em trabalho anterior (1993 II), constatamos que o grupo que mais se utiliza de fantasias construídas simbolicamente (mas ainda de tipo imaturo) (predomínio de R4), que possivelmente incluiriam as fantasias agressiva, não é o grupo dos psicóticos ou dos violentos mas o dos neuróticos ou daqueles do “pensamento mágico”.
Há outros índices encontrados na amostra que, em nosso ver, evidenciam a alteração dos sentimentos mais diferenciados.
A emoção, segundo a orientação que seguimos é a contínua repercussão as noções, ou seja, toda experiência vivida apresenta simultaneamente dois componentes: o cognitivo, que resulta da apreensão e elaboração das noções, e os afetos, que é o impacto das próprias experiências. O nexo dinâmico entre ambos corresponde à emoção. Trata-se, portanto, de um processo contínuo, e não é possível compreender-se as motivações sem levar em conta o processo emocional.
Assim, quando ocorre inibição perante algumas pranchas, este bloqueio do trabalho cognitivo estaria na dependência de uma incapacidade intrinsecamente cognitiva ou de intensa repercussão emocional disfórica. Na experiência de interpretar formas apresentadas na prancha especificamente rejeitada, podemos supor que algum aspecto da mesma provocou no probando uma repercussão afetiva disfórica que bloqueou seu pensamento ou ele foi incapaz de atribuir um significado à mancha, por suas dificuldades cognitivas intrínsecas.
- – Como hipótese, formulamos a seguinte explicação para uma ocorrência denominada por Orr de choque ao “vazio”, que foi frequente em nossa amostra. Os espaços centrais bastante nítidos nas pranchas VII e IX evocam a noção de obstáculos para os sujeitos analisados e, assim, mobilizam seus impulsos destrutivos. Estas pranchas, entretanto, possuem também outras características. São pranchas onde há nuances leves e mistura diáfana de cores. Conforme considera Muchielli, citado por Coelho (1980) a prancha IX surge como estímulo para que o indivíduo integre seus sentimentos mais diferenciados, principalmente ligados ao apego, não pode ocorrer nestes casos, gerando emoções muito disfóricas que o indivíduo não consegue simbolizar. Daí o fato dos autores, em geral, ligarem o choque ao vazio a sintomas de abandono e desampara e à imagem negativa da mãe, além da incapacidade de amar.
- – Há outros dados encontrados muito frequentemente na amostra, que podem contribuir para com a compreensão da dinâmica analisada. A frequente ausência de respostas de conteúdo humano e o predomínio das imagens humanas com referência genérica confrontada com aquelas de referência específica, muitas vezes acompanhadas de sentimentos de desagrado e com atribuição de deformidades ou doenças aos conteúdos percebidos, são também indicativos da indiferença e mesmo falta de interesse e sensibilidade a nível do relacionamento interpessoal. Enfim, o fato de que também as pranchas VIII e X foram frequentemente também rejeitadas, confirma a dificuldade em integrar os impulsos ao convívio social por insuficiente sensibilidade aos significados relativos a outrem.
Como síntese consideramos que a incapacidade de integração dos impulsos destrutivos suscitado pela percepção vaga de obstáculos (choque ao vazio) impede que o sujeito possa encontrar significado preciso para o obstáculo e, assim, como sugerem outros indícios da prova, manifeste diretamente o ato agressivo.
A interpretação psicanalítica de que o fenômeno do choque ao vazio estaria indicando sintomas do “complexo do abandono”, imagem negativa da mãe e vivência de desamor da mãe, não pode ser refutada, contudo, é lícito supor que, se o indivíduo não se mostra sensível à relação de apego, é bastante provável que apresente distanciamento afetivo em suas relações com a mãe, com noções de objeto muito negativas. O risco aqui, é tomar a vivência respectiva e reelaborada posteriormente pelo sujeito, em análise, como confirmação de dados pré-verbais, e conceber a gênese do distúrbio como dependente da relação concreta com a mãe. Esta, no entanto, é uma questão polêmica, pois mesmo a psicanálise não postula a ocorrência concreta das experiências evocadas durante a análise.
Outra possível decorrência dos dados analisados é a suposição de que os sujeitos violentos com a dinâmica anteriormente descrita, não reajam emocionalmente com ódio ou raiva aos atos violentos. Mais provavelmente, surgiram sentimentos de perplexidade ao constatarem o resultado de suas ações violentas. A falta de sensibilidade e a incapacidade de simbolização dos obstáculos, poderá ter como resultado a ausência de codificação para as emoções que normalmente surgem perante os obstáculos às nossas intenções. Emoção é sempre a repercussão afetiva das noções. Se a noção é extremamente vaga, será bastante difícil encontrar no código social uma definição clara para ela, compartilhada pelos demais.
- – A pequena frequência de respostas com determinantes luminosidade, que os autores geralmente indicam como sugestivos de falta de ansiedade, e por nós interpretada de modo algo diverso. Silveira (1968) considera que as respostas de luminosidade não são apenas indicativas de ansiedade, mas se correlacionam com a vida emocional. A baixa frequência destas respostas em protocolos de Rorschach indica também a falta de sensibilidade ao nível do relacionamento interpessoal. Cabe, no entanto, analisar o tipo de respostas de luminosidade que apareceram na amostra, ainda que isto não tenha sido muito frequente.
Desta forma passaremos a analisar agora os dados encontrados na amostra que foram um pouco menos frequentes, ficando num segundo plano. São eles:
- Prejuízo na capacidade de manter estável a atenção, principalmente em situações de maior impacto afetivo
- A presença de respostas C+CF>FC
- A ocorrência do fenômeno de condensação de cor
- l>L+l’
- ocorrência do mecanismo de fuga ao estímulo e hostilidade
- presença de inibição ou rejeição nas pranchas VIII, IX e X (já discutidos anteriormente)
- quando há ocorrência de respostas de luminosidade e de cor, (L+C’):(C+nC+l)
Os significados psicológicos a nível da cognição mais prováveis para estes dados são:
- – As imagens com determinante luminosidade mais frequentes na amostra foram as do tipo C’. Em geral, o significado atribuído a este tipo de determinante é o de assimilação emocional das experiências durante o processo de aculturação. Trata-se de uma assimilação das experiências de modo indutivo. Klopfer (1956) considera que grande quantidade de respostas com determinante C’ revelam que o indivíduo aprendeu a temer os seus afetos em virtude de experiências desagradáveis. É o tipo de experiência emocional mais comum nos indivíduos impulsivos. No caso dos nossos probandos, entretanto, as respostas com determinante C’ possuem, em sua maioria, formas vagas e imprecisas. Ou seja, ainda que haja indícios da ocorrência de experiências pregressas negativas, possivelmente relacionadas com a sua elevada impulsividade, estes indivíduos têm dificuldade em identificá-las precisamente. Assim, provavelmente, o significado psicológico associado será o de temor e de sentimentos de ameaça, em determinadas circunstâncias que o sujeito, no entanto, não consegue definir muito bem. Esta suposição é, entretanto, apenas provisória e necessitaria de outros dados para ser confirmada ou refutada.
- – Outro aspecto também encontrado na amostra foi a ocorrência maior de respostas com determinante l do que aquelas do tipo L ou l’, ou seja, na amostra, l>L+l’. A compreensão do significado psicológico deste dado, é ainda pouco clara. Coelho (1980) refere que as respostas com determinante l representam experiências menos diferenciadas que aquelas com determinantes L e C’. Envolvem participação sincrética da afetividade, relacionada com sensações táteis, e características da fase egocêntrica. Alguns autores, como Klopfer (1956) interpretam-nas como a persistência de necessidades infantis primárias de afeto e amor. Entretanto, não há nestas circunstâncias consideração para com os limites do outro. Tratam-se possivelmente, de exigências tirânicas, despóticas, de afeto, impregnadas de necessidade de domínio. Esta interpretação, no entanto, é também provisória, necessitando melhor observação.
- – Um fator que havíamos descrito como sinal de agressividade em trabalho anterior (1988), o rebaixamento da porcentagem de F+ nas pranchas coloridas, esteve presente em apenas metade da amostra. Ou seja, apenas em uma parcela dos examinandos violentos ocorre o prejuízo da eficácia do controle intelectual quando sob impacto afetivo.
- – A presença de condensação de cor em mais ou menos metade da amostra, também está indicando a dificuldade de integração dos afetos, com repercussão cognitiva, distorcendo a noção de realidade.
- – Em parte, a amostra revelou, na categorização dos significados, um predomínio de conteúdos vagos e cotidianos. Este desinteresse e restrição no campo de interesses pode estar relacionado com a falta de sensibilidade (que julgamos a hipótese mais provável), mas, também decorre do baixo nível de instrução dos examinandos, ou do fato de estarem já há alguns anos em reclusão.
Finalmente, resta-nos analisar alguns dados que foram encontrados apenas em alguns dos indivíduos da amostra, mas que em virtude de sua raridade na população normal, merecem uma discussão mais detida. São eles:
- A ocorrência de pormenor inibitório (p’)
- O tipo de vivência (Eq) coartado ou extratensivo egocêntrico
- A ocorrência de m’1 ligado a forças poderosas da natureza
- A ocorrência de nomeação de cor e liberação
- A ocorrência de condensação de conteúdo
- A presença de fragmentação ou de sensibilidade à dispersão
- A atribuição de características agressivas associadas por vezes a deformidades físicas projetadas nas imagens humanas ou animais.
Seus significados psicológicos prováveis são:
- – Em alguns dos sujeitos da amostra a ocorrência de pormenor inibitório indica a inibição momentânea do trabalho mental, na percepção do que é mais evidente e Silveira relaciona tal inibição com deficiência intrínseca da observação abstrata ou com alteração secundária da estabilização do estímulo conativo para a manutenção do trabalho mental. Como não cabe no âmbito deste trabalho uma análise caso a caso, apenas assinalamos a possibilidade de ocorrência desta alteração em alguns examinandos agressivos.
- – Outros dados que encontramos em alguns examinandos foram a ocorrência de nomeação de cor, liberação e repetição. Estes fenômenos são relacionados por Piotrowski como indícios de lesão cerebral. Possuem um significado de liberação impulsiva do trabalho mental e insuficiente controle cognitivo, geralmente associado a lesões do lobo frontal.
- – Alguns de nossos examinandos apresentaram respostas com determinante m’1, projetados em forças poderosas da natureza. São certamente aqueles que possuem maior capacidade de abstração. Entretanto, a falta de sensibilidade afetiva diferenciada, também presente nestes sujeitos, levá-los-ia a uma espécie de fragmentação a nível perceptual (também presente nos outros examinandos). A diferença reside provavelmente no fato de que estes sujeitos pressentem sua extrema impulsividade destrutiva interna, porém não conseguem integrá-la no convívio social. Projetam seus impulsos em forças da natureza, como se sua agressividade pressentida fosse externa e não de si mesmos, não as compreendem bem, mas sentem-se subjugados por elas.
A partir destes resultados encontrados reconstruímos uma série de quatorze sinais sugestivos de agressividade. Selecionamos apenas os dados da prova que ocorreram em pelo menos 50% da amostra para organizar a série. Evidentemente, estes sinais não têm significado isoladamente, mas somente dentro da série. A ordem apresentada reflete a frequência decrescente de ocorrência na amostra. Relacionamos os mesmos, discutindo-os suscintamente quanto à dinâmica psicológica envolvida.
Série de Sinais de Agressividade
1 ° – Sinal BNS Baixo grau de seletividade a nível da apreensão dos estímulos – tendência a reagir de modo imediato aos estímulos ambientais, sem prévio exame dos diferentes aspectos para a seguir, reagrupá-los numa estrutura significativa (presente em 95,2% da amostra).
2° – Sinal Egoc. Eq e Eq’ coartados ou extratensivos egocêntricos predomínio de CF e C) – restrição dos recursos de personalidade, com predomínio das reações afetivas egocêntricas (presente em 85,7% da amostra)
3° – Sinal Restr. Restrição do número de respostas (R<24) em presença de interesse do probando em colaborar e ocorrência de rejeição – pouca mobilização pela tarefa e bloqueios afetivo-emocionais (presente em 85,7% da amostra).
4° – Sinal Sensib. Ausência de respostas de luminosidade ou apenas uma no protocolo – pouca sensibilidade emocional (presente em 81,0% da amostra).
5° – Sinal Confab. Ocorrência de PG ou p’’ no protocolo – indicativo de generalização impulsiva e incapacidade de utilizar-se da crítica intelectual para prevenir-se com relação a conclusões errôneas (presente em 76,2% da amostra).
6° – Sinal CFI Controle formal insuficiente, predomínio dos determinantes não formais de 2.° e 3.° nível sobre aqueles de 1.° nível – predomínio das experiências mais imaturas e egocêntricas sobre as mais amadurecidas. Excesso de subjetivismo e insuficiente controle cognitivo (presente em 76,2% da amostra)
7° – Sinal C Expressão pueril e intensa dos afetos: CF+C>FC e FC<1 (presente em 71,4 da amostra).
8° – Sinal CEI Insuficiente controle emocional (C’+L)<(l+C+nC) – Predomínio das reações emocionais menos amadurecidas e controladas (presente em 71,4% da amostra).
9° – Sinal Iv Iv>Ip e Z1/R<1 – incapacidade de evocar precisamente as experiências e relacionar os fatos (presente em 62% da amostra).
10° – Sinal Ch vaz. Rej. e/ou Inib da Prancha VII e/ou IX. Incapacidade em elaborar os osbstáculos e dificuldades da realidade. Capacidade de amar reduzida (presente em 62% da amostra).
11° – Sinal R1 R1> ou = R2 no protocolo – reduzida capacidade em utilizar-se das experiências pregressas para adaptar-se ao presente e fazer prospecções (presente em 62% da amostra).
12° – Sinal Lib. Indicativo de liberação impulsiva: ocorrência de nC ou de m’1, ligado a forças da natureza ou condensação de cor ou liberação (presente em 57,1% da amostra).
13° – Sinal H %H = 0 ou reduzida, referência genérica de todos os conteúdos humanos, principalmente se associada a sentimento disfórico – indicativo de falta de sensibilidade e desinteresse ao nível do relacionamento interpessoal (presente em 57,1% da amostra).
14° – Sinal Ins.Af. Rej e/ou Inib das pranchas VIII e X. Indicativo de problemas afetivos específicos, podendo indicar falta de sensibilidade no relacionamento interpessoal (presente em 52,4% da amostra).
Dos dez índices que relacionamos em trabalhos anteriores já mencionados e indicativos de agressividade, apenas dois não foram encontrados em nossa amostra: a presença de F+ rebaixada e a elevação das respostas de espaço.
Recordamos que os trabalhos anteriores foram realizados com outras amostras, nas quais os dados de violência eram diversos.
De qualquer modo, pareceu-nos interessante constatar que nossos examinandos apresentaram tantos aspectos que Werner (1990) considera centrais (indicativos de transtornos superegóicos) como secundários (indicativos de transtornos egóicos), configurando-se, portanto, como um grup que aquele autor relaciona com a maior probabilidade de incidência criminal.
Comparando-se nossos resultados com os encontrados por Pais (1989), verificamos vários pontos em comum. Tais dados nos remetem à consideração feita por Shaw et al (1982) de que talvez, os fatores de personalidade tenham papel mais importante na ocorrência de comportamento violento do que o atribuível a doença mental, em sentido estrito.
Com relação aos fatores descritos por Heraut (1987, 1989) como indicativos de “violência”, estes foram encontrados em nossa amostra. Os fatores “inibição” e “socialização banal” estão ausentes na maioria dos casos, portanto, nossos resultados são concordantes com os daquele autor que considerava o fator “violência” principalmente relacionado com a violência contra pessoas.
Estamos ciente da limitação do alcance dos nossos resultados.
Talvez em pesquisas futuras possamos testar em amostra maior, a série de índices por nós construída.
Contudo, esperamos que, através dessa pesquisa, possa resultar compreensão mais apurada acerca das relações entre os assim denominados fatores afetivo-emocionais e os processos cognitivos. A elucidação positiva da controvérsia acerca de existências anômalas, raras em prevalência, mas muito significativas, em função da gravidade de seu comportamento, deverá ainda aguardar muitas investigações.
Segundo pensamos, somente o campo interdisciplinar poderá reunir conjunto tão vasto de dados relativos à violência.
Não foi outro nosso objetivo senão o de contribuir para com dados adicionais que, infelizmente, estão ainda limitados a campos muito especializados e não são acessíveis às demais ciências que se ocupam da inserção social do indivíduo humano.
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