Dificuldades metodológicas na apreensão do sofrimento mental de uma população trabalhadora.

Dificuldades metodológicas na apreensão do sofrimento mental de uma população trabalhadora¹. 

Nacile Daud Júnior, Luiz Henrique Borges,
Maristela Dalbello de Araújo e Francisco Drumond Marcondes de Moura
Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP, São Paulo, SP

O pequeno número de estudos que aprofundem a questão da ação do trabalho sobre o funcionamento mental dos trabalhadores se deve, em certa medida, à dificuldade de se estruturar uma metodologia que consiga dar conta da complexidade deste tema. Além das dificuldades relativas à compreensão da relação entre o processo saúde-doença e o processo de trabalho, somam-se as que dizem respeito à própria caracterização das alterações do funcionamento mental, principalmente em estudos populacionais na comunidade. Nesse sentido, os autores se propõem a analisar os dados obtidos de levantamentos realizados na população trabalhadora do município de Cubatão – SP, nos períodos de 1980/81 e 1983, através de 3 metodologias diferentes. No primeiro levantamento, obtido através da classificação sumária da morbidade sentida, no bojo de um questionário mais geral sobre acidentes de trabalho, os transtornos mentais aparecem em 5º lugar entre os distúrbios de saúde classificados segundo o CID (7,7% dos episódios referidos – Tabela 1). No segundo levantamento realizado em 1983, obtido através da classificação de morbidade sentida espontaneamente referida, constante num questionário mais complexo sobre distúrbios de saúde, onde os transtornos mentais aparecem em 9º lugar (3,8% dos episódios referidos – Tabela 1). No terceiro levantamento, também realizado em 1983, os dados oriundos de um interrogatório mais extensivo sobre os distúrbios de saúde e classificados segundo o critério que avaliavam sintomatologia psíquico-emocional, procura de atendimento especializado, distúrbios do sono e uso importante de bebidas alcoólicas, mostram a prevalência de cerca de 46% entre os trabalhadores entrevistados (Tabela 2). Os autores concluem da necessidade de se aperfeiçoar a metodologia, tanto no tocante aos instrumentos de coleta de informações, quanto aos critérios diagnósticos com o CID mostrando insuficiente para esse tipo de estudo populacional (FINEP).

¹Trabalho apresentado na 38ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência -SBPC -, São Paulo, SP, julho de 1986