DINAMISMOS AFETIVOS EM GERALDISTINÇÃO ENTRE SENTIMENTO, AFETO E EMOÇÃO¹
A parte mais central da personalidade é a afetividade: esta estimula a atividade, que por sua vez estimula a inteligência. Ela não depende das outras, assim, uma criança que não se desenvolveu, como nos casos da idiotia, a afetividade está presente, apesar de ter pouca atividade e pouca inteligência.
O conjunto de funções afetivas é que nos leva ao contato com o mundo exterior. Totalizam 10 funções e compõe-se dos seguintes grupos:
- Conservação do indivíduo, que é o instinto nutritivo e o da espécie que abarca o instinto sexual, o instinto materno ou de posse. Desde que haja divisão de sexos na escala zoológica há a necessidade sexual para a conservação da espécie. O instinto sexual é mais comum e mais necessário que o materno ou de posse. Nos peixes, por exemplo, o sexual basta. Mas desde que haja maior diferenciação, nos animais superiores, aparece o instinto materno; até em invertebrados superiores vemos isto, por exemplo, na aranha e também na abelha o instinto materno está presente, pois ela cuida da prole. O traço que caracteriza o instinto materno é o apego, aquele que emana de si próprio e por extensão a tudo o que o indivíduo faz. Portanto, como instinto que é, tal impulso não é acompanhado de consciência. Mas no ser humano essa função já está sob o ascendente da sociabilidade e assim a ela se associam emoções diversas.
- Aperfeiçoamento, através da destruição e da construção. Os grupos da conservação e do aperfeiçoamento fazem parte da individualidade, que se completa com a ambição.
- Ambição, que abarca a vaidade e o orgulho, respectivamente, necessidade de aprovação e de domínio.
- Altruísmo ou sociabilidade: apego, veneração e bondade.
Franz Joseph Gall dividia os instintos em dois grupos: os sentimentos e os pendores ou tendências. Comte endossou essa divisão nas primeiras redações da teoria cerebral. Depois retificou que o sentimento corresponde ao estado passivo, e o pendor ou tendência ao estado ativo, em relação ao mesmo instinto: não são categorias diferentes.
Com relação ao orgulho e a vaidade, não cabe bem o termo de instinto. São mais “sentimentos” ou “móveis”. A bondade pode ser ativa ou passiva, isto é, uma tendência de manifestar-se contemplativamente ou para transformar-se em ações úteis.
O instinto de conservação, pode pela emoção ser posto de imediato em ação; por exemplo: na iminência de desastres. Nessa concepção de emoção, estão implícitas as noções de mundo exterior e a participação afetiva. Na afetividade temos uma reação subjetiva intrínseca, independente da noção do mundo exterior. Nela também estão implícitos fenômenos vegetativos. Por exemplo, taquicardia súbita, reações vasomotoras, descargas de hormônios, lágrimas. Essa exteriorização vegetativa denuncia a participação direta dos instintos básicos, especialmente o nutritivo.
Com relação aos sentimentos, temos um efeito, que é altruístico, geralmente é o que Laffitte chamou de sentimentos complexos: dever, poder, amor-próprio, amor à pátria etc. O indivíduo aí tem que se situar em plano consciente, em relação a fenômenos ou a situações sociais.
O indivíduo pode reagir com muita emoção ou afetivamente, diante de uma situação simplesmente evocada ou imaginária; e ao contrário, reagir de uma maneira inteiramente destituída de emoção, numa situação de perigo real, sem noção deste perigo.
O afeto corresponde a uma reação, uma demonstração afetiva para com alguém ou com alguma coisa. Nina Bull, interpreta a emoção como dependente de uma atividade muscular (Attitude Theory of Emotion). Por ex: o indivíduo que está em uma corrida, que está pronto para lançar-se, sente essa “prontidão muscular” e é daí que vem a emoção. Na realidade, não é isto que se passa. A emoção é uma reação afetiva do indivíduo, no caso anterior, a expectativa é a responsabilidade: tensão muscular bem como as manifestações vegetativas constituem fenômenos concomitantes, mas dinamicamente secundários à emoção.