Aspectos conceituais sobre a produção social da doença mental: reflexões preliminares.

Aspectos conceituais sobre a produção social da doença mental: reflexões preliminares¹.

Nacile Daud Júnior, Luiz Henrique Borges,
Maristela Dalbello de Araújo e Francisco Drumond Marcondes de Moura
Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP, São Paulo, SP

O estágio atual do conhecimento sobre a saúde mental e as suas alterações têm demonstrado uma contradição fundamental na valorização teórica das implicações dos aspectos das condições concretas de vida dos indivíduos determinadas pela divisão social do trabalho. Se por um lado ao reconhecimento da existência destes aspectos, por outro, têm sido poucos os estudos que avancem na sua compreensão. Tal contradição se revela na deficiência das políticas existenciais que não conseguem superar o nível de aplicação dos conhecimentos psiquiátricos e psicológicos clássicos, ignorando, assim, a repercussão das precárias condições de vida e trabalho nos transtornos mentais. Entendendo que o processo saúde-doença mental se desenvolve no âmbito da produção social da doença, os autores apontam para a necessidade de revisão dos modelos conceituais e operacionais da psicopatologia, assim como de metodologia apropriada para a apreensão deste processo. Tal complexidade do objeto em estudo, exige a utilização de metodologias quantitativas e qualitativas para uma visão dos diversos aspectos da vida material e subjetiva (emocional, cognitiva e conativa) dos indivíduos. Analisando uma determinada formação econômica e social, consideram o papel nuclear do trabalho em todo o procedimento humano, elegendo categorias conceituais que expressem a relevância do trabalho humano no cotidiano do trabalho nos indivíduos, e como este condiciona a patogênese dos transtornos mentais. Os autores entendem que a divisão social do trabalho, implicada em determinado processo de produção, define o padrão de atividade da força de trabalho, sua reprodução e, principalmente, a própria reprodução das relações sociais e de produção através da organização do trabalho. Este conjunto define o padrão de satisfação e o de sofrimento que está na gênese de um estado de desgaste emocional que compromete o conjunto da saúde dos indivíduos em particular a saúde mental (FINEP).

¹Trabalho apresentado na 38ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência -SBPC -, São Paulo, SP, julho de 1986