Proposta alternativa de abordagem do epiléptico.

PROPOSTA ALTERNATIVA DE ABORDAGEM DO EPILÉPTICO¹

Dirce Marques e Francisco Drumond Marcondes de Moura
Ambulatório de Saúde Mental da Vila Brasilândia, São Paulo, SP

Este trabalho relata um aspecto do processo de implantação de um serviço de saúde mental na região noroeste da cidade de São Paulo. A massa da população ali residente vive em precárias condições de vida, com uma inserção pouco qualificada no processo produtivo e com índices elevados de subemprego e desemprego. Uma análise do perfil de morbidade da população atendida, nos três primeiros meses de funcionamento do serviço, revelou uma alta prevalência (30%) de pessoas com convulsão ou em tratamento com anticonvulsivante. Este fato impôs a criação de uma resposta institucional que, sem perder de vista a necessidade da intervenção terapêutica, rompesse com a prática de não abordar as implicações sociais ligadas com essa condição clínica. Para a criação desta nova abordagem partiu-se de dois pressupostos: elevar o nível de informação da população sobre a convulsão, os seus equivalentes, a sua prevenção e tratamento; caracterização da epilepsia como um processo de natureza não puramente biológica, mas dinâmica, ligada ao modo de produção e de reprodução das relações sociais: no plano familiar, comunitário e na expropriação da força de trabalho. A atividade terapêutica se desenvolveu em grupos semanais. Empregou-se recursos visuais com informação sobre: anatomia cerebral, significado da EEGrafia e um esquema mostrando a interpenetração dos fatores biológicos e psicológicos no desencadeamento da convulsão e os mecanismos e possibilidades de seu controle. Verificou-se a importância da reunião com familiares para compartilhar a mesma experiência, de forma a modificar a sua atitude perante o problema. Além disto ficou claro a necessidade de estabelecer critérios para a participação no programa. Finalmente, este processo inicial, de busca de um caminho novo, culminou com a sistematização de toda a experiência e com a organização de um processo de intervenção, com duração de 2 meses (total de 8 sessões), ao fim do qual a pessoa tinha alta do programa.

¹Trabalho apresentado na 39ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência -SBPC -, Brasília, DF, julho de 1987