Funções da Atividade; Caráter; Distúrbios conativos

Funções da Atividade; Caráter; Distúrbios conativos1
(Lúcia Maria Salvia Coelho)

  1. Concepção de funções conativas – Decorre das funções que presidem o comportamento explícito e ao mesmo tempo estabilizam a atenção permitindo o trabalho mental; conjunto de funções que abrange os dinamismos subjetivos que antecedem e possibilitam a transposição de nossas disposições afetivas e das elaborações intelectuais para o ambiente externo; assim, o setor conativo é intermediário entre a afetividade que estimula a ação (motivação) e o trabalho intelectual que a orienta.
    • Andras Angyal – “O processo conativo não corresponde à transposição de estados psicofisiologicamente neutros (inconscientes) a processos psicológicos elaborados (conscientes), mas tais processos também se caracterizam pela tendência em exteriorizar estes impulsos subjetivos em atividades corporais. Corresponde ao aspecto subjetivo da ação motora e intelectual, e não ao comportamento explícito”; não são os atos nem os gestos que representam a conação, mas a função subjetiva que permite a transposição no mundo externo de nossas tendências, e, ao mesmo tempo, que nos permite captar os dados ambientais, auxiliando a função intelectual da observação (atenção). O termo “Conação” utilizado por McDougall vem de “conatus”, isto é, “executo”; fator subjetivo que leva a atingir algum propósito; McDougall distingue a exteriorização da ação no meio externo dos motivos que o levam a agir (energia liberada), porém não considera a participação da conação no trabalho mental, como o faz Comte.
  2. Direções das funções conativas – mediação da atividade no dinamismo psíquico é feita segundo as seguintes direções:
    1. Transformação dos impulsos afetivos em atos.
    2. Efetuação do trabalho intelectual.
    3. Derivação da atividade explícita para o plano intelectual: seja na vigília (fantasia, contemplação), seja no sono (sonhos).
  3. Funções conativas – toda atividade deve ser dotada de coragem para realizar-se, de prudência para executar e de firmeza para manter-se; todos nossos movimentos podem ser considerados em termos de excitação, de retenção e de manutenção; a função conativa é cega, tanto serve às finalidades mais elevadas, quanto aos impulsos mais grosseiros da individualidade.
    1. Coragem – estimula toda ação explícita e todo trabalho mental; mais ligada ao sistema vegetativo e depende de fatores extrínsecos, tais como a fase de amadurecimento cerebral e de desenvolvimento interpessoal e das condições do ambiente.
    2. Perseverança – função intermediária entre as duas funções propriamente ativas; sua ação contínua que as demais e atua sobre todos os órgãos cerebrais. Para que uma ação seja suficiente, não basta que um movimento seja produzido, mas é preciso que ele seja mantido. Ela estimula não apenas as funções conativas, mas também ela mantém os móveis afetivos.
    3. Prudência – modera, refreia e mesmo inibe a ação, está mais ligada à construção e à adaptação indutiva ao meio externo. Todas as funções conativas acham-se associadas à uma contração muscular; quando ela estimula, quando ela retém ou quando ela mantém. Graças a esta contração, o homem produz ou controla seus movimentos (Laffitte); existe ligação entre a sensibilidade da musculação e o processo da memória e participação das funções conativas neste processo.
  4. Harmonia conativa – para que haja continuidade de ação, e a atividade não se transforme em agitação incoerente, é indispensável que as duas funções – coragem e prudência, estimuladora e inibidora, se desenvolvam sob o ascendente da perseverança; e, como toda ação implica em uma motivação, estas funções seriam desordenadas se um sentimento preponderante (geralmente fundamentado no instinto de conservação) não interviesse para estimular a atividade; além disso, intervém o ato da “vontade” – que representa para Comte o último estágio do desejo, isto é, após a reflexão mental que informa sobre a conveniência ou não da exteriorização de um desejo. Caráter – o concurso das três funções é indispensável a todo comportamento; porém, durante o processo de desenvolvimento das relações interpessoais (social) e de amadurecimento mental (biológico e constitucional) uma destas funções torna-se preponderante sobre as outras, definindo o caráter de cada indivíduo; por exemplo, o caráter expansivo, empreendedor, com disposição para agir, e às vezes precipitado e impulsivo em suas reações. Geralmente são indivíduos alegres e sociáveis (reações afetivas) poderão desenvolver um caráter expansivo, fazendo predominar a coragem. Exemplo: caráter retraído, evitam intervir nas relações interpessoais, por excesso de veneração e podem tornar-se tímidos, apáticos ou mesmo tristes; como no exemplo anterior, pode ocorrer a direção inversa. A perseverança pode associar-se tanto à coragem, resultando nos traços de personalidade: teimosia, tenacidade, agressividade, paixão, como pode associar-se à prudência: astenia, indecisão, fuga de responsabilidade.
  5. Sistemas psíquicos: correlação entre Afetividade-Conação

6. Sistemas psíquicos: correlação conação-inteligência

    1. Exemplos de dificuldades intelectuais decorrentes de problema conativo: instabilidade da atenção ou dificuldades de coordenação motora ou, (afetividade) falta de interesse suficiente para mobilizar as funções conativas.
    2. Nível da elaboração: prudência inibe os fatos inadequados ao raciocínio; coragem desenvolve o trabalho dedutivo; perseverança permite a continuidade do raciocínio.
    3. Nível de observação: concentração da atenção – ligação direta com a motilidade; reação subjetiva: seleção e contração da imagem (atenção dirigida e mantida em relação aos móveis afetivos). Conação – estimulando o trabalho intelectual que permite a formação da noção sobre a realidade exterior; ação inversa: conação sendo esclarecida pela inteligência, resultando na harmonia conativa; quanto mais complexa for a ação pretendida, ou a ação considerada, maior será a intervenção da inteligência na conação; exemplo: processo da memória.

    7. Exemplos de reação imprevisível, em indivíduos normais, dada a intervenção predominante de uma função conativa.
    Ex. 1 – indivíduo estoico em sua vida cotidiana. Coragem e perseverança (caráter) diante de um perigo imediato e imprevisível. Prudência.
    Ex. 2 – indivíduo tímido, hipersensível à dor. Prudência e Perseverança (caráter) diante de uma ameaça eminente. Coragem.
    SER HUMANO NORMAL – Cansaço físico=redução da conação
    No plano social redução da liberdade da ação e do pensamento = tensão emocional poderá desencadear o predomínio da coragem (mais ligada ao instinto de conservação).

    8. Exemplos de casos patológicos: movimentos irresistíveis.
    Alterações extrínsecas; base afetiva (móvel afetivo)

    1. Apostila produzida na Faculdade de Medicina de Jundiaí, como complemento ao curso de Psicologia Médica, para o curso de Psicologia Médica para os médicos residentes em Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Jundiaí e para o Curso de Teoria da Personalidade para a Sociedade Rorschach de São Paulo. Composta em agosto de 1978. Já considerada em parte superada por sua autora que já reescreveu o tema sob novas perspectivas. No entanto, eu, Roberto Fazzani redigitalizei e formatei o grupo de apostilas ao qual esta pertence pois poderão ser úteis na compreensão inicial da Teoria Sociológica da Personalidade por nós adotada. ↩︎