Considerações a respeito dos processos de Atenção, Memória e Consciência, segundo as concepções de Aníbal Silveira e Aleksandr Romanovitch Luria

Considerações a respeito dos processos de Atenção, Memória e Consciência, segundo as concepções de Aníbal Silveira e Aleksandr Romanovitch Luria – correlações entre as duas visões

Roberto Fazzani Neto1

I .Considerações gerais

A nosso ver, é fundamental verificar como as várias estruturas encefálicas se interrelacionam, concorrendo para com o psiquismo; correlacionar a vida psíquica com os processos neurofisiológicos que lhe servem de base.
Nesse campo, dois pesquisadores, de escolas distintas apresentam concepções, que, segundo supomos, oferecem a possibilidade de elucidar esta correlação. São eles: ANÍBAL SILVEIRA, psiquiatra brasileiro e ALEKSANDR ROMANOVITCH LURIA, psicólogo soviético.
Neste artigo procuraremos traças alguns paralelos entre as concepções de ambos sobre os processos psíquicos da atenção, da memória e da consciência.
A teoria de Silveira se baseia em cinco postulados, dos quais reproduzimos dois, que são de fundamental importância para este estudo. Eles se referem especificamente à concepção sistêmica das funções psíquicas e ao prisma adotado nesta correlação entre o psiquismo e os processos neurofisiológicos.

“1. ° – No domínio cerebral como nos demais setores do organismo existe íntima correlação entre o plano funcional e o plano estrutural; no caso, funções neuropsíquicas e a organização anatômica do encéfalo.
2.° – A estrutura e as correlações anatômicas dos órgãos cerebrais permitem compreender lhes as funções psíquicas, porém estas obedecem a leis próprias que não são redutíveis a fenômenos de qualquer outra categoria, nem mesmo os fisiológicos.” (Silveira, 10, p.41 e 42)

Ambos, Silveira e Lucia, consideram a atividade mental como complexa, hierárquica e de gênese histórico-social. No entanto, procuram métodos de proceder a correlação entre as funções psíquicas e a sua base nos processos neurofisiológicos, sem incorrerem em reducionismo.
Eles criticam a concepção de “centros cerebrais isolados” e propõem a análise sistêmica da atividade cerebral.

“Em primeiro lugar, aqueles dados mostram que o encéfalo não consiste na justaposição de centros isolados, mas em verdadeiro sistema de órgãos. As analogias estruturais evidenciadas pela histologia fina demonstram a realidade desses verdadeiros sistemas celulares como postulava Audiffrent desde 1869.
O critério de integração funcional prevalece sobre o espacial; assim, órgãos situados na mesma zona anatômica – frontal, parietal, temporal) por exemplo – podem apresentar menos afinidade entre si do que para com áreas distintas a cujo sistema pertencem.” (Silveira – 6, p. 15 e 16).

“Embora esta estrutura sistêmica seja característica de atos comportamentais relativamente simples, ela é muitíssimo mais característica de formas mais complexas de atividade mental. Naturalmente nenhum dos processos mentais como percepção, memorização, gnosias e praxias, fala e pensamento, escrita e leitura, aritmética pode ser encaradas como representando uma faculdade isolada ou mesmo indivisível, que feria a “função” direta de um grupo celular isolado ou seria “localizado” em uma área particular do cérebro.
(…) eis porque as funções mentais, como sistemas funcionais complexos, não podem ser localizadas em zonas estreitas do córtex ou em agrupamentos celulares isolados, mas devem ser organizadas em sistemas de zonas funcionando em concerto, desempenhando cada uma dessas zonas o seu papel em um sistema funcional complexo, podendo cada um destes territórios estar localizado em áreas do cérebro completamente diferentes e frequentemente distantes das outras.” (Luria – 4, p. 14, 15 e 16).

Para não fugir demasiadamente ao objetivo deste trabalho, destacamos alguns princípios comuns aos dois pesquisadores, relativos à organização psíquica. São os conceitos de hierarquia funcional e de cooperação relativa. Para exemplificar, citaremos os dois autores:
“Para assegurar-se que cada uma das zonas histologicamente diferenciadas desempenhe função elementar diversa, nem basta que se achem todas normais. Cumpre que se articulem de maneira integral. Se uma delas é excluída do consenso, o distúrbio da resultante não pode ser expresso pelo simples desconto da função elementar correspondente; a repercussão maior ou menos do transtorno estabelece nova condição fisiológica, que exige trabalho de readaptação do todo e, se possível, suplência.
Ora, a suplência depende, em última análise, de duas condições distintas: a nobreza – melhormente a complexidade e a preponderância da função correspondente ao órgão lesado e o estado de integridade em que se achem os órgãos homólogos ou as vias de comunicação.” (Silveira – 9, p. 195).

“Isto vale dizer que entre os diversos sistemas funcionais e, especialmente entre órgãos do mesmo sistema, a distribuição de funções se processa harmonicamente e de modo específico. Daí o conceito de hierarquia funcional, do qual decorrem tanto a regência de umas áreas para com outras do mesmo sistema, quanto a difusão orientada do estímulo através do sistema.” (Silveira – 10, p. 15).

“(…)durante a ontogênese, não é apenas a estrutura dos processos mentais superiores que muda, mas também sua interrelação, ou, em outras palavras, sua organização interfuncional. Enquanto nos estágios iniciais do desenvolvimento uma atividade mental complexa repousa sobre uma base mais elementar e depende de uma função “basal”, em estágios subsequentes ela não apenas adquire uma estrutura complexa, mas também começa a ser desempenhada com a participação estreita de formas de atividade estruturalmente superiores.” (Luria – 4, p.17).

II. Atenção, Memória e Consciência como processos

Concentrando-nos especificamente nos processos de atenção, memória e consciência haverá oportunidade para melhor compreender a importância dos princípios acima expressos.
Funções complexas do psiquismo tais como as referidas aqui analisadas são vistas por ambos os pesquisadores como processos para os quais concorrem os vários setores do aparelho cerebral. Somente podem ser compreendidas em função da atividade cerebral conjunta. Porém, em ambos, há a preocupação em distinguir como as várias áreas cerebrais participam, diversamente, dos processos psíquicos.
Ressalta Silveira:

“(…) as tentativas para localizar funções complexas tais as que constituem a consciência, a memória ou meros conceitos, como que acima citamos de Freemann em relação ao que ele designa como consciência espiritual de si próprio (spiritual consciousness), não poderão produzir algo de aceitável. Por não haver feito distinção entre funções simples e fenômenos complexos, autores da categoria de L. R. Müller têm incorrido nesta incoerência.” (10, p.18).

E, do mesmo modo, acentua Luria:

“Já afirmei anteriormente que a suposição inicial em que se baseia este livro é o ponto de vista de que os processos psíquicos não são “funções” ou “faculdades” indivisíveis, mas, sim, sistemas funcionais complexos baseados no trabalho coordenado de zonas cerebrais, cada uma das quais dá sua contribuição particular para a construção de processos psicológicos complexos.” (4, p. 197).

Os autores analisados correlacionando estes processos demonstram que uns se encontram na dependência dos outros. Assim, atenção é o processo mais básico que fornece o fundamento (posto que preside o contato direto com o meio) da memória e esta a da consciência.
No entanto, com o desenvolvimento da consciência durante a ontogênese, estre processo eminentemente humano, intimamente relacionado com a aptidão simbólica (e, portanto, com a linguagem) passará a reger e reorientar os outros dois processos mais básicos (memória e atenção), levando-os a adquirirem um novo status, pois passarão também a serem processos eminentemente humanos e como tais, reorganizados e dirigidos pela linguagem.
Silveira analisa os processos em questão de acordo com a participação, em níveis distintos, das esferas da personalidade: afetividade, conação e inteligência. Utiliza, portanto, um modelo teórico representativo da estrutura da personalidade, conceituando personalidade como “o conjunto de funções psíquicas ligadas ao funcionamento cerebral, peculiares à espécie, que continuamente regem em harmonia as disposições do indivíduo e as suas relações com o ambiente físico e social.” (2, p. 151). Este modelo configura os processos psíquicos à luz da concepção sistêmica. A atenção está vinculada ao contato mais imediato com o meio, na captação ativa dos estímulos ambientais. Participa, pois, da mesma, o interesse de ordem afetiva e a polarização do intelecto através do estímulo conativo. O processo psíquico da memória liga-se à possibilidade de evocação da experiência passada, sua identificação através da elaboração intelectual, fixando-se a distinção de tempo, com relação à experiência presente. Neste processo, participam de forma intensa os estímulos de ordem afetiva que fornecem o interesse, para que haja a fixação. E, também o processo emocional, dado pela repercussão afetiva do dado percebido. Este impacto afetivo, na dependência de sua maior ou menor intensidade, levará a maior ou menor fixação. O nível conativo participa organizando e controlando os dinamismos intelectuais, estimulando-os, inibindo-os ou mantendo-lhes as funções (de acordo com o já referido interesse que continuamente vai se adaptando a partir da repercussão emocional). O processo de consciência está intimamente relacionado com as funções da expressão (aptidão simbólica humana), irá permitir o contato não apenas imediato com o meio, mas a inserção na continuidade histórico-social e na história pessoal (cabedal vivencial). Assim, será o processo que permitirá ao homem ser norteado por estímulos complexos provenientes do ambiente social e também sua capacidade ampla de representação da realidade.
Silveira, baseado na teoria das Imagens de Laffite, e ampliando-a, sistematiza num modelo esquemático os níveis deste processo. Reproduzimos no quadro I este modelo. No quadro II reproduzimos o desdobramento do esquema do quadro I, feito por Silveira, visando permitir a melhor compreensão da participação afetiva nos processos ali representados.
Assim como a atenção envolve predominantemente as funções intelectuais da observação, a memória e a consciência estão ligadas respectivamente com a elaboração e a expressão. Mas estas funções primárias, participam em conjunto (com maior ou menor contribuição de cada uma delas) em todos os processos complexos considerados.
Além disto, para que haja contato consciente com o meio ambiente, a condição sine qua non é a vigília. Se este processo de nível afetivo relacionado com o estímulo básico instintivo de autopreservação não estiver em nível adequado, todos os demais processos mais diferenciados (neste caso a atenção, a memória e a consciência) estarão necessariamente prejudicados.
Luria correlaciona os processos psíquicos de acordo também com um modelo, que constrói a partir de suas observações em indivíduos com lesões cerebrais. Neste modelo de funcionamento psíquico normal, considera três unidades funcionais, quais sejam: (1) unidade para regular o tono e a vigília, (2) unidade para obter, processar e armazenar as informações e (3) unidade para programar, regular e verificar a atividade mental. (4, p. 27 a 80). Observa-se com relativa clareza a influência de princípios ligados à informática, na construção deste modelo, assim como princípios mecânicos influíram na construção do modelo de personalidade de Freud. Luria discute os processos analisados divisionando os níveis de participação destas três unidades funcionais e a contribuição dada por cada setor cerebral para o processo integral complexo.
Como Silveira, discute a necessidade fundamental e básica para os três processos, do estado de vigília. A primeira unidade funcional, correlaciona com a manutenção da vigília e do tono que seria para o autor um nível diferenciado e superior da vigília e estaria relacionado de forma bastante direta com o processo de atenção. Ao discutir a segunda unidade funcional, considera como são organizados em nível cerebral os processos de captação dos estímulos. Esta unidade tem uma participação preponderante no processo de percepção, mas não se reduz a isto. Finalmente, discute a regulação dos processos a partir da participação desta unidade no processo de consciência. Certamente, a participação desta unidade no processo de consciência é preponderante embora como em todos os processos, em interação com os demais blocos. Também discute o autor como a memória e a consciência são processos interdependentes e ressalta o quanto a atenção, enquanto processo mais simples e básico, é necessária para ambos os processos mais complexos. Estas três unidades funcionais estão relacionadas com diferentes setores cerebrais. A primeira unidade, integra inúmeros setores subcorticais, desde o cerebelo e tronco cerebral, até a zona orbitária do lobo frontal, incluindo o cíngulo e o sistema límbico. A segunda unidade está predominantemente relacionada com as funções desempenhadas principalmente pelos lobos temporal, occipital e parietal. A terceira unidade, por fim, relaciona-se principalmente com as atividades do lobo frontal. No entanto, todas estas unidades estão trabalhando em concerto, de modo harmônico e, no caso de lesões nestas regiões, a análise funcional deverá ser complexa pois o funcionamento do sistema se reorganiza e nunca será a mera supressão da atividade de uma determinada área. Ainda que se fizermos uma análise sintomatológica complexa, levando em conta o resultado total, poderemos formular hipótese localizatórias em quadro lesionais e, consideramos esta possibilidade, de acordo com a teoria de Silveira, por nós adotada, também nos quadros funcionais.
A convergência dos conceitos dos dois autores analisados, com relação à interdependência que caracteriza os processos mentais e a sua organização hierárquica, é evidente. Ressaltamos, além disso, a consideração da vigília como básica a estes processos e a sua organização histórico-social, mediada pela linguagem, como intimamente relacionada ao processo da consciência.
O nível imediato de contato com o ambiente é fornecido pela atenção. Já ao nível subcortical temos núcleos específicos relativos às diferentes modalidades sensoriais. Nestes núcleos ocorre a primeira seleção dos estímulos. Aqui, num nível ainda mais “neurológico” que “psíquico” ocorre esta seleção. Os estímulos são “preparados” para que cheguem de forma adequada ao córtex e, lá, possam ser “percebidos”. Estes núcleos se ligam à córtex cerebral através de vias específicas das modalidades sensoriais, que transmitem as sensações e “preparam” a córtex para a “percepção”. A este nível ainda inconsciente do processo perceptivo, Silveira denomina “sensação”.
No quadro III reproduzimos uma representação esquemática dos processos psicofisiológicos relativos à percepção. Este esquema foi formulado por Silveira, baseado no “Princípio de Audiffrent”.
A concepção de Luria sobre a organização do processo perceptual também possui muitas semelhanças com a concepção de Silveira. No entanto, para não fugirmos ao escopo deste trabalho, somente a discutiremos mais abaixo, mas de modo rápido para a ligarmos ao processo de atenção, objeto desta comunicação.

III. Discussão específica dos processos psíquicos analisados

  1. Atenção

    Luria afirma que toda atividade humana organizada possui algum grau de direção e seletividade pois os muitos estímulos nos atingem e somente respondemos àqueles mais fortes ou particularmente importantes e que correspondam a nossos interesses.

    “Deste grande número de traços ou suas conexões armazenadas em nossa memória, só escolhemos aqueles poucos que correspondam à nossa tarefa imediata e nos capacitam a executar algumas operações intelectuais necessárias.” (4, p. 223).

    A motivação para a escolha dos estímulos é de gênese afetiva e isto está implícito na própria palavra de Luria: “interesse2”. No entanto, o interesse afetivo não se confunde com a atenção embora seja sua condição básica. O que caracteriza a atenção é a seletividade e o direcionamento da atividade mental. Silveira, em seu modelo representativo da personalidade considera um nível intermediário entre o estímulo afetivo e o dinamismo intelectual de observação e associação (elaboração). A este nível intermediário denominou Esfera Conativa. Sua ação sobre as funções intelectuais daria como resultado a sua regulação (estimulando, selecionando ou mantendo).
    Como Luria afirma, do grande número de traços despertados pelo interesse afetivo, serão escolhidos apenas aqueles que corresponda à tarefa imediata. Aqui está claro a participação da função intelectual da elaboração, associando os perceptos. Esta associação é um dinamismo comum tanto à atenção quanto à memória.
    A criança, em fases precoces de seu desenvolvimento, é atraída por estímulos mais poderosos ou biologicamente significativos. Este, chamado por Pavlov de “reflexo de orientação”, pode ser observado nas primeiras semanas de vida. A este fenômeno Luria denomina “uma forma bastante elementar de atenção”. (4, p. 225).

    “um aspecto essencial da reação de orientação que a distingue da reação de alerta geral é que a primeira pode ser de caráter altamente direcional e seletiva (…) segue-se que já desde o começo, a reação de orientação pode ser de caráter altamente seletivo, criando assim, a base para o comportamento organizado, direcional e seletivo.”
    “Perguntar-se-á, naturalmente, se esta forma altamente complexa de atenção voluntária, manifestada como a capacidade que tem a pessoa de verificar seu próprio comportamento e que os psicólogos do período clássico interpretavam como uma forma especial de manifestação da vida mental que não tinha raízes nas esferas biológicas da atividade, como pode ela surgir destas reações de orientação elementares que os fisiologistas consideram um tipo de reflexo inato?
    Vygotsky oferece uma abordagem científica a esta questão, considerando esta forma de atenção não como de ordem biológica, mas como um ato social e que são produtos das formas de atividades criadas na criança durante suas relações com os adultos, na organização desta complexa regulação da atividade mental.” (4, p. 226, 227 e 228)

    O caráter mais direcional e seletivo do “reflexo de orientação” o distingue da “reação de alerta geral”. As funções conativas são o que caracterizam a Atenção, dando-lhe o caráter direcional e seletivo. A “reação de alerta geral” corresponderia a um estímulo mobilizando de modo geral o nível instintivo de autopreservação e, portanto, de caráter corresponde exatamente ao processo da atenção. Evidentemente, não a atenção do adulto pois neste já se estabeleceu o processo simbólico e consequentemente a consciência. Na criança (em fase pré-simbólica) as funções intelectuais e, mesmo as afetivas e conativas, se encontram imaturas. Ainda não há o sinal e a denominada Imagem Primária (quadro II) é bastante sincrética, com predomínio do componente afetivo sobre o intelectual. Este componente afetivo é o que no adulto denominamos componente acessório, enquanto o componente intelectual é o componente principal). Será com a socialização que ocorrerão as progressivas contrações das imagens, o que culminará com o Sinal (nível já bastante abstrato). O importante, é frisar que os diferentes processos encontram suas bases e se manifestam, de formas diferentes, conforme o período da ontogênese. As diferentes funções que se integram em um determinado processo participam de modos distintos conforme a fase evolutiva. Aliás Lúcia também assim o considera.
    A socialização, como Luria a concebe, se dá através da linguagem. As ordens verbais que o homem recebe na sua interação com os outros seres humanos, passam a dirigir a sua atenção de forma mais seletiva e, assim, também o seu pensamento.
    Isso vai ocorrendo de modo gradual, tanto que inicialmente a criança, apesar de já começar a orientar sua atenção através das ordens verbais, frequentemente se distrai e volta-se para outros estímulos mais próximos como por exemplo objetos coloridos ou novos, que pareçam interessantes. Esta capacidade de se orientar pela linguagem tendo formas de comportamento seletivo organizado, somente se dá quando a criança começa sua vida escolar, isto é, com 7 ou 8 anos. (4, p. 229).
    Esta concepção é análoga àquela de Silveira. A maturação dos processos psíquicos se dá com a progressiva regência do meio ambiente sobre a vida subjetiva. Isto ocorre através da linguagem, devido à aptidão simbólica. A esquematização que é apresentada nos quadros I e II permite-nos ter uma ideia de como considera estes processos. A divisão entre imagem sensorial, primária, subjetiva e simbólica, tem apenas um valor de modelo. Representariam as progressivas contrações das imagens em níveis cada vez mais abstratos. No adulto a vida psíquica se organiza através da simbolização. No entanto, observando o amadurecimento psicológico da criança, podemos abstrair os diferentes níveis representados. Neste processo, as Imagens Primárias (resultantes da percepção), vão sendo associadas (através das funções da elaboração). Estas associações entre Imagens implicam já num maior distanciamento com relação ao percepto, uma vez que são mais abstratas (representam o pensamento rudimentar, ainda não simbólico). A representação das imagens neste nível corresponde no esquema à Imagem Subjetiva. Com o início da simbolização (com a fala), estas imagens vão se associando com sinais (fornecidos pela linguagem, manifestada no idioma da sociedade na qual a criança se encontra inserida) que passarão finalmente a substituí-las, representando-as no pensamento. Aqui, a distância fornecida por esta dupla contração (usamos o termo contração pois através da abstração as imagens vão se tornando cada vez mais sintéticas e, nisto participa a conação, um aspecto quase motor) da Imagem Primária fornecerá o que Silveira denomina Sinal (quadro 1). As possibilidades representadas por este nível abstrato da imagem são enormes e culminarão com o advento da consciência. Neste nível o indivíduo adquire a possibilidade de trabalhar com os dados do meio ambiente de forma abstrata e, assim, possuir a capacidade de uma representação muito ampla da realidade: Cadeira, agora, passa a ser um sinal que representa não apenas aquela cadeira que está sendo vista no momento, mas todas as cadeiras, em abstrato. Deste modo, o sujeito passa a carregar com ele o mundo externo representado.
    Nesta etapa, as funções intelectuais já bastante maduras, passarão a orienta as funções conativas. Isto, refletir-se-á na possibilidade de, como Luria refere, alterar significativamente não apenas o curso dos movimentos e das ações, mas também a organização dos processos sensoriais. A consciência surge como processo e passará a orientar, inclusive, solicitar a atenção. Esta como referimos anteriormente, passa a ser agora um processo eminentemente humano.
    Em caráter elucidativo reproduzimos no quadro IV, a representação esquemática, formulada por Silveira, dos processos resultantes da interação entre as três esferas da personalidade.

    2. Memória

    O processo de memorização, segundo Luria, começa com a impressão de pistas sensoriais. Estas pistas são de caráter múltiplo e a impressão, naturalmente escolhe somente algumas delas, fazendo uma seleção apropriada que ocorre neste estágio. Tais são, como também considera Silveira, os dinamismos básicos, iniciais do processo da memória. Estes dinamismos: seleção, associação e fixação são comuns aos processos da memória e da atenção, uma vez que a atenção está na base da memória.

    “Muitas autoridades consideram o estágio seguinte deste processo mnêmico como sendo o da transferência de estímulos para o estágio de memória de imagens: os estímulos percebidos são convertidos em imagens visuais. Contudo, esta conversão não é uma simples conversão de um estímulo sensorial monovalente em uma imagem visual, mas pressupõe a seleção de uma imagem apropriada entre muitas possíveis e pode ser interpretada como característico do processamento ou codificação dos estímulos recebidos. Entretanto, a maioria dos pesquisadores considera este estágio como meramente intermediário e rapidamente seguido pelo último estágio, o da complexa codificação de traços ou sua inclusão em um sistema de categorias”. (4, p. 248).
    “(…) o complexo processo de recepção e codificação das informações que chegam, já descrito como consistindo em uma série de estágios sucessivos, exige a completa integridade das zonas corticais analisadoras correspondentes, que deverão ser capazes de dividir as informações que chegam em pistas elementares, modalmente específicas, selecionar as pistas relevantes, e, por fim, reuni-las, sem empecilhos, em estruturas integrais, dinâmicas. Por último, a transição do estágio mais elementar de recepção e estampagem de informações para os estágios mais complexos de sua organização em imagens e por fim para estágios mais complexos de sua codificação em sistemas organizados de categorias exige a integridade das zonas corticais secundárias e terciárias mais elevadas.
    Algumas destas zonas estão envolvidas na síntese de uma série sucessiva de estímulos apresentados em estruturas sucessivas ou simultâneas, ao passo que outras participam na organização destes traços com o auxílio dos códigos de linguagem.” (4, p. 251 e 252).
    A semelhança expressa nos parágrafos acima com a já anteriormente exposição das progressivas contrações das imagens, de Silveira, é bastante grande. A passagem das pistas elementares modalmente específicas (sensação), até o nível de categorização com o auxílio dos códigos de linguagem (sinal) passando pelas imagens ligadas ao processo associativo (imagem subjetiva) envolve o que Silveira denomina dupla contração da imagem primária. A seleção de pistas relevantes implica a participação da função da observação abstrata, num primeiro momento, que funde numa imagem completa (observação concreta). Além disso, a intervenção das funções da elaboração (meditação indutiva e dedutiva) vai tornando as imagem cada vez mais contraída e sintética, reunindo na imagem subjetiva os traços significativos que permitem a comparação com a generalização e a compreensão de leis de sucessão que ocorrem durante o processo do pensamento. O fato de Luria considerar que os vários estímulos modalmente específicos são combinados e acabam por convergir numa imagem visual decorre do fato de no ser humano o sentido da visão ser o predominante no contato com o meio ambiente e, assim, representar um traço mais significativo na formação da imagem. Em segundo lugar a audição também ocupa um aspecto central no processo de percepção, já que a linguagem está intimamente relacionada com os sons do idioma que produzem as palavras. Neste caso, no entanto, o processo de atenção é mais abstrato e a atenção é mais subjetivamente dirigida, enquanto a visão produz imagens mais sintéticas (1, p.98). Como afirma Luria, o processo necessita ser organizado, relacionando-se os estímulos que são fornecidos em séries sucessivas ou simultâneas. Esta seleção, orientada pelo intelecto se dá pela ação dos dinamismos conativos, de acordo com as motivações afetivas e interesses. Embora Luria não mencione em nenhum momento o termo afetivo, julgamos implícito em sua consideração de que as séries de estímulos são apresentadas ao nível frontal (que está relacionado com as funções intelectuais e afetivas mais diferenciadas, segundo Silveira) em séries sucessivas e simultâneas. Estas séries decorrem em nosso modo de ver, do que Silveira denomina associação lógica e associação afetiva inconsciente (componente acessório da Imagem Primária). A participação da emoção neste complexo processo é sempre presente pois a emoção representa o impacto afetivo decorrente das associações e percepções que principalmente envolve as funções intelectuais. Na continuidade da descrição deste processo está a consideração de que estas séries contam com a participação do lobo frontal em sua organização, com o auxílio dos códigos de linguagem. Utilizando o mesmo esquema do quadro II, podemos constatar que os componentes relacionados por Silveira a chamada associação afetiva (da qual decorre o “juízo de valor”) e a associação lógica (da qual decorre o juízo de realidade). Este componente é intimamente relacionado com a função da expressão, função intelectual que se utiliza dos códigos da linguagem. Ao nível da linguagem consideramos o sinal ou imagem simbólica pois aqui se encontra o complexo processo de simbolização, de atribuição de significados. Este processo conta com a participação da função construtiva que através de dinamismo conativos contrai mais uma vez a imagem permitindo o pensamento interiorizado exclusivamente humano. Assim, a representação do cosmo pode ser muito mais ampla e transmitida historicamente.
    Este processo de dupla contração da Imagem Primária, chegando ao Sinal é aquilo que Pavlov denomina de segundo sistema de sinais. Abaixo uma citação do próprio Pavlov a este respeito:

    “Antes do surgimento do homo sapiens, os animais entravam em contato com o mundo exterior única e diretamente por meio de estímulos dos mais diversos agentes externos que atuavam nos sistemas receptores dos animais e eram conduzidos às células correspondentes do sistema nervoso central. Esses estímulos eram os únicos sinais de objetos externos. Então, no que viria a ser o homem, surgiram sinais secundários, desenvolvidos e aperfeiçoados ao extremo, sinais de sinais primitivos, ou seja, linguagem, palavras faladas, audíveis e visíveis. Finalmente, esses novos sinais serviram para designar todas as sensações recebidas pelo homem e vindas do meio externo, e também, de dentro do organismo; os homens os usavam não apenas entre si, em suas relações mútuas, mas também sozinhos consigo mesmos. E foi, claro, a grande importância da linguagem que condicionou a predominância dos novos sinais, embora as palavras não fossem e nem tenham permanecido os únicos sinais secundários da realidade.” (6, pág. 331) (tradução do autor)

    Nesta discussão sobre o processo complexo da memória, é necessário referir a importância do dinamismo emocional, como o considera Silveira. Para o referido autor, emoção não se confunde com afetividade. A afetividade para Silveira é o “conjunto de funções específicas que continuamente estimula o ser humano a satisfazer as necessidades da própria existência individual e, por outro lado, permite a sua integração no ambiente físico e social.” (1, p. 47). A afetividade não se exterioriza no comportamento senão indiretamente, através do dinamismo emocional. Este seria a contínua repercussão das noções (conscientes) sobre a afetividade. Os nexos emocionais, no entanto, também podem se dar de modo inconsciente já que a atenção seleciona os elementos pertinentes ao trabalho mental consciente, mas sempre existirá também como um “halo” emocional presente que é mais amplo do que aquilo que se tornou consciente. Os nexos associativos que se estabelecem são, portanto, sempre acompanhados de alguma repercussão afetiva que varia de intensidade e de acordo com o nível afetivo predominantemente envolvido. O processo emocional é representado por esta contínua ligação entre a inteligência e a afetividade (quadro IV). Evidentemente a importância desse dinamismo no processo de memória é muito grande uma vez que a fixação dos traços mnêmicos se relaciona com sua repercussão emocional. Considerando-se que estes níveis afetivos são aqueles que nos dão o interesse pelo meio externo, fica óbvia a sua importância já que apenas captamos aquilo que possua um sentido para nós, sentido biológico ou social.
    Mas conforme já dissemos, o interesse e a emoção não esgotam o processo de atenção e memória. Além dos dinamismos afetivos e intelectuais, temos que considerar a participação dos dinamismos conativos. Esta diferenciação entre os dinamismos afetivos e conativos, considerados por Silveira, também são referidos por Luria, porém organizados de outro modo. Senão, vejamos:

    “(…) o processo de memória, longe de ser simples e passivo, é de natureza complexa e ativa” (4, p. 251).
    “Uma pessoa que deseja lembrar-se de certo item de informações exibe uma determinada estratégia de lembrança, escolhendo os meios necessários, distinguindo sinais importantes, selecionando na dependência do objetivo da tarefa, os componentes sensoriais ou lógicos do material estampado e os encaixando em sistemas apropriados (…). Na opinião da maioria dos investigadores constitui este o elo essencial na transição da memória de curta duração para a de longa duração.” (4, p. 249).

    Desta afirmação podemos depreender também que este processo é muito dinâmico. A memória não é “uma caixa onde estão armazenadas as lembranças”, mas um processo de contínua reelaboração das recordações que continuamente vai integrando os dados evocados com as novas experiências e, deste modo, reformulando seu significado.
    Como diz Luria, o processo de memória é de natureza ativa e complexa. Não ficamos à mercê dos estímulos afetivos que porventura surjam em momentos sucessivos. Um determinado interesse que surge, precisa ser mantido e a partir daí, através das funções intelectuais, são estabelecidas estratégias que são postas em prática através da orientação da conação, requisitando a atenção que relacionará entre as etapas aquelas necessárias ao trabalho intelectual que está sendo realizado. Trata-se de um processo “quase motor” pois implica o desencadeamento do pensamento ou a seleção do estímulo a ser observado, a separação dos elementos evocados úteis para a consecução da tarefa, bem como a capacidade de manter, pelo menos pelo período necessário, aquela atividade intelectual específica. Conação para Silveira, termo que adaptou de MacDougall, é o componente subjetivo da atividade, intimamente participando da Vontade que já é um resultado complexo envolvendo todas as funções afetivas, conativas e intelectuais.
    Considera McDougall:

    “Antecipando-me um pouco ao curso da história, farei a suposição que a natureza intencional da ação humana está fora de discussão e procurarei definir e justificar aqui a forma especial de psicologia intencional” (5, pág.53).
    “(…) minha tarefa é extremamente difícil pois consiste em justificar a psicologia mais radicalmente intencionalista (…), uma psicologia que pretende sua autonomia e recusa estar sujeita e limitada aos princípios que são habituais nas ciências físicas, que afirma que o esforço ativo para uma meta é uma categoria fundamental da psicologia (…) (5, pág. 56)

    Silveira, tomando este termo “Conação” de McDougall emprega-o com um sentido específico qual seja o da Esfera da personalidade que Comte originalmente denominou Atividade. Afirma Coelho: “(…) no conjunto de fenômenos psíquicos sensoriais e motores que permitem o contato do indivíduo com o ambiente – desenvolve-se um sistema coordenador, que permite a adaptação da reação ao estímulo objetivo, através da organização de dispositivos dinâmicos especiais para a situação imediata. Este novo sistema, ao contrário da rigidez das reações impulsivas instintivas, possui imensa flexibilidade. É ele que caracteriza a ação voluntária, intencional (…) ele permite apreender as relações entre os pensamentos e selecionar espontânea e adequadamente as representações dos motivos e objetivos. Este dinamismo corresponde à acepção de atividade, como função subjetiva, dada por Silveira. (…) Em todos os atos humanos, mesmo os mais rudimentares e iniciais, podemos distinguir, como o faz Silveira, o plano objetivo ou de execução e o subjetivo ou de conação. O primeiro representa a exteriorização do movimento e depende do aparelho periférico da motilidade: preensão e locomoção. As disposições conativas representam os fatores subjetivos e resultam de funções cerebrais” (1, p.70). Esta pequena digressão sobre o significado da Conação, foi necessário para que possamos entender o seu significado e como estas funções se diferenciam e participam nestes processos complexos que são a atenção, a memória e a consciência.
    Verificamos que embora Luria não considere este nível psíquico em separado, pois não utiliza uma teoria de personalidade, este sempre aparece implicitamente em suas afirmações, uma vez que considera sempre distinto o nível de interesse daquele mais diferenciado de organização da atividade, para transpor o interesse em ação ou pensamento. Distingue dois níveis que consideramos estar relacionado com as funções da Conação. O primeiro estaria implícito na consideração de uma forma superior, diferenciada e relativa da manutenção do tono cortical (em sua Primeira Unidade Funcional) (4, p.37 e 48) e o segundo estaria na consideração do nível mais diferenciado de regulação da atividade (em sua Terceira Unidade Funcional) (4, p.61 e 78). Em nosso ver, estes dinamismos seriam análogos respectivamente aos processos de motivação e a atenção (os primeiros referidos) e de orientação (quadro IV) com relação aos segundos. É evidente que não podemos tentar uma redução da dinâmica psicológica à psicofisiologia pois embora uma esteja diretamente na dependência da outra, como fenômenos de níveis distintos, obedecem a leis próprias.

    3. Consciência

    A consciência é o processo mais complexo e nobre do ser humano pois lhe é próprio e apenas encontrado a este nível de evolução filogenética.
    Os autores analisados consideram a consciência o processo que permite a ligação do homem com a sociedade em que vive. É organizada e constantemente orientada pelo ambiente social. Ela é a ponte de ligação entre o homem e a Humanidade. Permite ao homem a assimilação da experiência de toda a Humanidade, acumulada no processo da história social e transmissível no processo de aprendizagem3.
    Para ambos os autores, o que permite a consciência no ser humano é a sua aptidão simbólica. Através dos sinais da linguagem o ser humano pode ter uma representação ampla do meio exterior. Estes sinais encontram seu apoio exterior na linguagem e com os mesmos o homem pode assimilar os conhecimentos da história e se situar socialmente.
    A consciência depende também da complexidade dos processos intelectuais humanos, abstratos, que se utiliza dos sinais. Com os mesmos, o homem pode “trabalhar” com os objetos do mundo exterior, mesmo quando estes estão ausentes. O processo permite que interiorizemos os dados da realidade (que é uma construção sócio-histórica) e os “carreguemos” conosco interiorizados. Através da consciência, com o uso do segundo sistema de sinais (linguagem) o ser humano pode projetar no tempo os eventos e, assim, prevê-los, ao menos parcialmente. Estas aptidões tornam o contato do homem com o meio de uma forma característica e única. Esta representação humana da realidade não apenas imediata, mas é ampla e inserida num momento histórico específico. O homem é o único animal que possui História.
    Como nível básico ao processo de consciência encontra-se a vigília. Esta está relacionada com a Primeira Unidade Funcional de Luria, a Unidade para regular o tono ou a vigília. Esta ativação tem suas origens nos processos metabólicos que são integrados e regulados por esta unidade funcional. Ela está relacionada como sistema de comportamento instintivo de procura de alimentos e sexual4. Possui níveis de organização de complexidade desigual. Estão envolvidos processos mais elementares que evocam respostas automática, primitivas, mas também sistemas comportamentais complexos de cuja ação resulta que as necessidades apropriadas são satisfeitas. Esta unidade envolve núcleos hipotalâmicos, o cerebelo, núcleos bulbares e a formação reticular ascendente. Envolve também nos níveis mais complexos aos núcleos superiores da formação reticular, o sistema límbico, o córtex orbitário e estruturas do tronco cerebral e do aquicórtex.
    A vigília é o estímulo básico afetivo de nível instintivo. Sem um nível adequado de estimulação, o indivíduo permanece sem contato com o mundo exterior. A regulação de sono e vigília tem a ver com processos de níveis instintivos. É uma estimulação geral e ampla e, embora não seja indiferenciada, é muito mais básica e ampla do que outras formas de estimulação. Ela vai permitir o nível afetivo mais básico de interesse pela realidade.
    A seguir, em níveis cada vez mais complexos estão a atenção e a memória. Os dinamismos relacionados com a memória são aqueles que mais se interrelacionam com a consciência. Mesmo quando falamos em atenção, existem fenômeno mais e menos diferenciados com relação a este processo. A atenção representa a polarização do interesse para determinado estímulo da realidade. Ela pode ser apenas um pouco mais diferenciada que o nível básico da vigília, mas já representa uma maior seletividade. Ela não dá o interesse básico e fundamental para o meio externo, mas representa um direcionamento do trabalho mental para algum aspecto específico da realidade e, portanto, está envolvido necessariamente os dinamismos conativos (quase motores). Num nível mais básico está a atenção que é mobilizada por algum aspecto significativo do meio que represente novidade ou mesmo risco (ameaça a individualidade). Este nível é aquele que Pavlov denominava de Reflexo de Orientação. Esta forma de atenção relaciona-se preferencialmente com a função conativa do desencadeamento (coragem para Comte) e é mobilizada por interesses geralmente instintivos. Em nível mais diferenciado encontra-se a atenção que é mobilizada e recrutada pela intencionalidade no desempenho de algum trabalho reflexivo intelectual. Esta forma de atenção está mediada pela linguagem, pelo segundo sistema de sinais e é muito mais complexa. Embora envolva as mesmas funções conativas, envolve os sistemas intelectuais. Exemplificando, o trabalho intelectual requisitando as funções conativas que não são apenas o desencadeamento, mas a seletividade (Prudência para Comte) e a manutenção, orienta a ação (o que Silveira denomina exatamente de Orientação, que é um sistema intelectual-conativo). Ao mesmo tempo, as mesmas funções, mas em sentido oposto, conativo-intelectual, propiciam a atenção mais complexa, sua manutenção e concentração. A seletividade nos processos mentais. Este é o processo que, mais especificamente, Silveira denomina de Atenção.
    Na dinâmica do trabalho mental termos que considerar na Memória também a associação, a fixação, a evocação e a projeção cronológica. A capacidade de projeção cronológica é um processo que está na interrelação entre a Memória e a Consciência pois a identificação e a projeção cronológica de traços mnêmicos dependem do processo de simbolização. Do processo que atribui significado às diversas experiências e situações. Deste modo, observando-se o quadro I, constatamos que Silveira considera estes dois dinamismos como relacionados tanto com a Memória quanto com a Consciência. A projeção cronológica depende da assimilação das normas do ambiente social. Deste modo, encontra o seu apoio exteriormente ao homem, nos valores e normas da comunidade na qual o sujeito se encontra inserido. Estes valores e normas são interiorizados na aprendizagem.
    Luria participa das mesmas concepções e ao analisar as lesões cerebrais que levam a prejuízos nos referidos processos, comprova o quanto estas correm bastante paralelamente. Ressalta nesse passo a função organizadora a nível mnêmico da orientação intelectual, possível através de sinais fornecidos em séries organizadas, do ponto de vista semântico. Com isto comprova a influência organizadora da linguagem. (4, p. 257 e 258).
    Nos três processos complexos aqui analisados (Atenção, Memória e Consciência) participam todas as três unidades funcionais consideradas por Luria. Mas podemos verificar como cada uma delas contribui para o resultado total. No caso da memória, frisamos a importância da Segunda Unidade Funcional (A Unidade para receber, analisar e armazenar informações). Se compararmos com as considerações que Silveira faz com relação às funções dos vários órgãos cerebrais, verificamos que nos córtex occipital, parietal e temporal, ele associa com funções afetivas e conativas. Do ponto de vista neurológico estas regiões corticais estão relacionadas com a organização psíquica das diversas modalidades sensoriais. Não se pode considerar memória, principalmente no dinamismo da fixação sem levarmos em conta a participação afetiva através do dinamismo emocional, como referimos acima).
    Ressalta a importância da sua terceira unidade funcional (A Unidade para programar, regular e verificar a atividade) para o processo de consciência, relatando que as lesões do lobo frontal (que predominantemente estão relacionadas com esta Unidade Funcional) levam a graves prejuízos de toda a estrutura da atividade consciente humana. Nestas alterações ocorreria a perda da característica ativa e seletiva da atividade mental (4, pág. 263).
    O lobo frontal, segundo Silveira, tem relação estreita com as funções intelectuais, logo sua desorganização prejudicará desde a associação das imagens até a capacidade programadora e orientadora das mesmas sobre a esfera conativa (9). Basta verificar que quando Luria afirma que sua terceira Unidade Funcional, aquela para programar, regular e verificar a atividade está relacionada principalmente com o Lobo Frontal, isto endossa as considerações de Aníbal Silveira de que As Funções do Lobo Frontal estão ligadas às funções da Inteligência e Afetivas mais diferenciadas (nível da sociabilidade e dos sentimentos).
    A discussão dos processos neste nível torna-se mais complexa em virtude da consciência representar o processo psíquico mais diferenciado e nobre, que é a ponte de ligação entre o nível psicológico e o social. Trata-se de um processo altamente dinâmico.
    Se analisamos os processos mais simples e básicos ligados à Consciência inicialmente, o fizemos com uma intenção didática para facilitar a exposição. Agora, ao discutirmos este complexo processo, precisamos inverter a direção da análise e considerar os outros dois processos (memória e a atenção), a partir da regência simbólica. Estes dois outros processos passam então a ser orientados pela consciência, tornando-se assim, também especificamente humanos. Isto, leva à estreita interdependência entre os três processo e qualquer alteração que ocorra em um de seus níveis, necessariamente repercutirá, de forma distinta nos outros dois.

    4. Alguns aspectos da neurofisiologia e neuroanatomia envolvidos nos referidos processos

    Ambos os autores ressaltam a importância da vigília como fenômeno básico para o contato consciente com o meio ambiente. Ambos correlacionam este nível de estímulo como dependente de formações subcorticais ligadas à formação reticular, hipotálamo, diencéfalo, sistema límbico e até certas regiões do arquicórtex. Silveira inclui também o cerebelo como fundamentalmente ligado a estes sistemas cerebrais, que os autores, em geral correlacionam com a vida instintiva mais básica (4 e 8). No entanto, existem algumas diferenças quanto à sistematização hierárquica destes sistemas cerebrais, embora haja possibilidade de correlação.
    Nos quadros V e VI reproduzimos dois esquemas, um de Luria e outro de Silveira, que facilitaram a compreensão destes aspectos aqui discutidos.
    Para a manutenção da vigília é necessária a existência de um tono cortical ótimo. Este tono é mantido através do estímulo dito inespecífico, da formação reticular ativadora sobre o córtex cerebral. Tanto para Silveira quanto para Luria este estímulo básico está relacionado ao estímulo instintivo de autopreservação e sexual que a nível hipotalâmico promove a regulação do metabolismo, traduzindo estímulos elétricos em estímulos hormonais, através da hipófise. Além disto, núcleos bulbares e pontinos também regulam funções metabólicas tais como ritmo cardíaco, respiração, pressão arterial, temperatura corporal etc. Silveira considera que estes núcleos do tronco cerebral e do hipotálamo representam estações intermediárias do controle metabólico que seria regido pelo cerebelo. Ali seriam desempenhadas as funções instintivas de autopreservação e sexual. É claro que estes sistemas complexos, iniciam no cerebelo, possuem níveis de integração cada vez mais complexos, seja aqueles que regem o metabolismo, seja aqueles que transmitem e decodificam estas informações sobre o meio interno, para a vida psíquica (sistema límbico e lobo orbitário).
    Luria ainda refere duas origens de estímulos que envolvem a Primeira Unidade Funcional.
    A primeira proviria do mundo exterior e se relacionaria com o processo de Percepção. Liga-se à parte inespecífica do tálamo e às regiões límbicas. Ele relaciona estes estímulos com o denominado “Reflexo de Orientação” de Pavlov, que se desencadearia frente aos estímulos novos. Estes estímulos “preparariam” o córtex cerebral para a percepção. Estariam, portanto, relacionados à mobilização conativa a partir do estímulo ambiental e tem o dinamismo de “fazer voltar a atenção”.
    Relativamente a este processo que é discutido por Luria também quando disserta sobre sua Segunda Unidade Funcional, ele chama a atenção para o processo de Percepção, processo também complexo e ativo. Faremos agora algumas considerações, ainda que sumárias, relativamente a este processo.
    O processo de Percepção está em íntima relação com a atenção, posto que esta preside o contato direto com o meio ambiente.
    Luria considera que já a nível talâmico (onde estão localizados os núcleos sensoriais subcorticais) o estímulo proveniente do meio solicita um nível diferenciado da Primeira Unidade Funcional. Este estímulo “prepararia” o córtex (especialmente o frontal) para que ocorra a percepção, aumentando-lhe o tono. Basta observar o esquema de Audiffrent (quadro III) para verificar a semelhança entre esta concepção e aquela de Silveira. Neste quadro está esquematizada uma via de ligação entre o núcleo sensorial talâmico e o córtex frontal (àquela época estas vias ainda não tinham sido identificadas anatomicamente. Eram apenas deduzidas teoricamente). Estas vias seriam necessariamente inespecíficas considerando-se que Silveira admitia apenas um órgão frontal correlato à função da observação concreta, enquanto no tálamo existem vários núcleos modalmente específicos ligados às diversas modalidades sensoriais: tato, calorição, musculação, visão, audição etc.).
    A segunda origem de estímulos considerada por Luria para a primeira unidade funcional, corresponde a um nível diferenciado do trabalho mental. É originária da influência reguladora do córtex sobre estruturas mais baixas do tronco cerebral. Esta influência deriva da existência do controle regulador consciente: intenções, planos que são sociais em sua origem, e que requisitam a atenção para a manutenção do trabalho intelectual. Luria correlaciona estes estímulos com a atenção e a partir disto discute o nível de integração da mesma segundo os diferentes tipos de estímulos que propõe.
    Pensando no modelo de personalidade proposto por Silveira, podemos correlacionar os vários níveis e integrá-los. Num nível mais básico está o estímulo geral para voltar-se ao ambiente externo (interesse em geral). A segunda origem de estímulos correlaciona-se com a participação das funções conativas no processo perceptual. Representa os estímulos afetivos para a conação (motivação e consequente polarização da atenção). À terceira origem de estímulos relaciona-se com a orientação, implicando na consciência que requisita a atenção (aqui já em nível mais diferenciado, envolvendo a seletividade e a manutenção – atenção especificamente humana).
    A participação da segunda unidade funcional na captação das formas modalmente específicas dos estímulos, sua integração e armazenamento, é fundamental também para os três processos aqui analisados. Esta unidade corresponde a áreas corticais dos lobos temporais, parietais e occipitais. Aqui, nestas áreas cerebrais, Silveira considera necessária participação das funções intrinsecamente afetivas. Isto, no entanto, encontra-se apenas implicitamente nas concepções de Luria, segundo nossa interpretação.
    Luria considera que os estímulos sensoriais se integram a este nível e ainda, que são aí armazenados, embora, a este nível, o sujeito não possua noção dos estímulos. Quais seriam, então, os níveis responsáveis pela interrelação entre estes estímulos, já que neste nível são inconscientes?
    Luria afirma que os estímulos serão fornecidos à terceira unidade funcional em séries sucessivas ou estruturais simultâneas. Por que se ligaram entre si os vários tipos de estímulos ou ainda, porque um estímulo, no processo da memória, despertaria outros que precisariam ou não, serem inibidos pela terceira unidade funcional, visando organizar o trabalho consciente?
    Em nosso modo de ver, a consideração da participação de níveis afetivos intermediários entre os níveis instintivos básicos (autopreservação e sexual) e os níveis afetivos mais diferenciados (sociabilidade) nos forneceria uma hipótese explicativa bastante interessante para estes dados relatados por Luria. Também seria fundamental considerar que os estímulos provenientes das várias modalidades sensoriais não são simplesmente integrados e enviados para o Lobo Frontal, mas sofrem também a organização em sentido inverso. Ou seja, o Lobo Frontal, desempenhando a Terceira Unidade Funcional, enviaria estímulos organizadores e seletivos para estas áreas cerebrais dos lobos posteriores. Trata-se do que Silveira denominava Regência. Ou seja, as regiões menos diferenciadas do encéfalo estimulam aquelas mais nobres e diferenciadas e são, por sua vez, por elas regidas. Trata-se da regência do lobo frontal sobre o parietal, occipital e temporal.
    Uma vez que a percepção somente se dá quando além do córtex posterior, o córtex frontal recebe a informação, temos que considerar que embora já haja uma organização perceptual desde o subcórtex, é somente quanto todas estas estruturas estejam funcionando em concerto que teremos a noção, a percepção.
    Silveira considera a participação hierárquica das várias funções afetivas na dinâmica psíquica, desde as mais básicas até aquelas mais diferenciadas. No processo de consciência leva em consideração, além da linguagem a capacidade afetiva mais diferenciada do ser humano, aquilo que denomina sentimentos (a sociabilidade), ou seja, há no ser humano uma disposição afetiva para o processo de socialização. Silveira considera que estas funções afetivas diferenciadas também dependem do córtex frontal.
    Quando Luria descreve a participação da segunda unidade funcional nos processos de memória, explica que embora a este nível ainda não haja noção dos estímulos captados, aí se processa uma organização crescente dos mesmos. As áreas 39 e 40 não são modalmente específicas, mas integram de um modo “quase espacial” todos estes estímulos e esta integração e organização dos estímulos é enviada para a terceira unidade funcional, de cujo trabalho em concerto com esta, culminará com a noção dos estímulos.
    Para que haja a noção é necessária a participação do lobo frontal. Segundo Silveira, é no frontal que se processam os dinamismos intelectuais, inclusive aquilo que denomina funções da observação. Quando os estímulos chegam aos órgãos da observação concreta e abstrata, haverá as noções. É claro que durante o processo da ontogênese, a contínua regência que o lobo frontal (através das funções intelectuais) irá reorganizando as imagens mnêmicas.
    Para Silveira este trabalho que Luria refere como armazenamento das informações está relacionado com a participação afetiva no processo de memória. É somente através do impacto que os estímulos causam na afetividade (sistemas intelectuais-afetivos e vice-versa que ele denomina Emoção) que pode ocorrer a fixação. Apenas com o intuito ilustrativo citamos as zonas terciárias da segunda unidade funcional (áreas 39 e 40 de Brodmann). Luria considera que neste nível ocorrem as sínteses simultâneas (“quase espaciais”) das várias modalidades sensoriais (embora ainda inconscientes) e que a participação desta área cerebral é fundamental como estímulo para as funções de programação da atividade. Os indivíduos com lesões nesta região apresentam distúrbios complexos de apraxia construtiva e das operações intelectuais relacionadas à matemática (4. P. 127 a 131). Ora, estes aspectos nos sugerem a participação da função afetiva da construção como correlata a estes processos neurofisiológicos. No quadro I, verificamos que Silveira considera esta função como subjacente (em nível de estímulo) à contração da imagem subjetiva a sinal. Evidentemente que a participação desta função neste processo é apenas subjacente às funções mais diretamente relacionadas com ele quais sejam: as funções conativas e intelectuais. Não nos deteremos mais neste ponto uma vez que estas hipóteses embora encontrem dados objetivos que as apoiem, necessitam ainda de maior comprovação objetiva. É nossa intenção escrever outro artigo para discutir porque efetivamente é necessário considerar a participação de funções afetivas no córtex posterior. Para tal é necessário fazer uma revisão da organização do sistema nervoso através da evolução filogenética.
    A terceira unidade funcional que Luria correlaciona com o lobo frontal, devido a suas funções: Programação, Regulação e Verificação da atividade, nos levam a associá-la com as funções da Esfera Intelectual conforme considera Silveira, seja intrinsecamente, seja atuando através dos dinamismos de orientação (Quadro III).
    A participação desta Unidade no processo de Atenção está vinculada ao dinamismo que Silveira denomina Orientação. Determinadas lesões no lobo frontal levam exatamente a perturbação nas formas superiores de atenção (comportamento dirigido a metas) mas não a perturbações das formas mais primitivas (relacionadas com o “reflexo de orientação”) que poderão, inclusive se encontrar aumentadas. Afinal, o discernimento entre o que é significativo ou não estará comprometido. Com relação ao processo da memória, quando há comprometimento da Terceira Unidade Funcional, a memória perderá sua característica ativa devido à falta de orientação. Por fim, as lesões desta unidade levam à perturbação do comportamento dirigido a metal e consequentemente à consciência.
    As funções da memória, principalmente a fixação e a evocação encontram suas bases em várias zonas cerebrais participando conjuntamente, porém a região do hipocampo tem uma participação bastante importante. Já as regiões mediais do hipocampo e corpos mamilares desempenham papel no dinamismo da evocação. Conforme discutimos, estas regiões do arquicórtex (incluídos na Primeira Unidade Funcional) tem relação bastante estreita com os dinamismos conativos que encontram níveis de integração específicos e relativos, em sua ligação com os sistemas intelectuais.

    5. Conclusões:

    Cremos que as duas visões da dinâmica psíquica apresentadas mantêm inúmeros pontos em comum e permitem, ambas uma correlação entre os processos psíquicos e seus dinamismos neurofisiológicos subjacentes. Isso torna, em nosso ver, mais rica e abrangente a análise psicológica deste fenômeno.
    Como pontos em comum aos dois autores analisados gostaríamos de frisar que consideram:

    1. A atividade mental como complexa, hierárquica e organizada em nível sistêmico, com cooperação seletiva entre as várias estruturas encefálicas participantes nos diferentes processos.
    2. O critério de integração funcional como prevalecendo sobre o espacial, nos diversos sistemas cerebrais.
    3. De modo semelhante os diferentes sistemas cerebrais subjacentes aos vários processos mentais.
    4. A vigília como fundamento para os três processos analisados.
    5. O caráter altamente direcional e seletivo da atenção.
    6. A memória como processo eminentemente ativo e, portanto, sendo continuamente reelaborada com as diferentes experiências.
    7. A consciência como intimamente ligada à aptidão simbólica e o fato de encontrar seu apoio exteriormente ao homem, nos valores da comunidade na qual o sujeito se encontra inserido.
    8. O fato de que, embora possamos distinguir níveis menos complexos dos processos de atenção e memória, que ocorrem em fases ontogeneticamente mais precoces, com o advento da consciência, estes dois outros processos passarão também a ser organizados através dos sinais fornecidos pela linguagem.


    Pode-se verificar que estes autores, que basearam suas observações sob prisma epistemológico distinto: o positivismo em Silveira e o materialismo dialético marxista aplicado na psicologia por Vygostsky, em Luria, chegaram a concepções bastante próximas.
    No entanto, Luria não se utiliza de um modelo representativo da estrutura de personalidade, como o faz Silveira. Por este fato, não chega a se deter na análise das motivações afetivas interferentes nestes processos, mesmo que considere as funções instintivas interferindo como base nos mesmos. No entanto, ele não chega a sistematizar uma hierarquia dos sentimentos, deixando o nível afetivo mais diferenciado apenas implícito em suas concepções. Sua concepção de afetividade limita-se às funções instintivas biológicas.
    Finalmente, frisamos que a importância de uma correlação entre o psiquismo e suas bases neurofisiológicas em estruturas complexas, é enorme. Sua importância se relaciona ao fato de apontar o caminho para a compreensão patogenética dos distúrbios psíquicos.

    6. Esquemas referidos no texto

    Quadro I: Modelo esquemático da Teoria das Imagens de Laffite (Silveira – 8):

    Quadro II: Desdobramento do esquema anterior visando tornar mais clara a participação dos nexos afetivos nos processos (Silveira – 8):

    Quadro III: Esquema baseado no princípio de Audiffrent (Silveira – 8):

    http://www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/f8.jpg

    Processos psicofisiológicos da percepção, no caso visual. E – Estímulo; I – impressão sensorial; S – sensação; A – reação afetiva: inconsciente ante o estímulo; P – percepção. Em linhas de pontos e traços, vias de condução do núcleo sensorial ao córtex afetivo, no caso tapete e fibras que vão à área 19; em pontilhado, ligação do núcleo com o córtex frontal; ainda não demonstrada anatomicamente, em linhas interrompida, vias occipito-frontais

    Quadro IV: Esquema representativo dos processos resultantes da interação das esferas da personalidade (Silveira – in 1):

    DiagramaDescrição gerada automaticamente

    Quadro V: Esquema representativo dos vários níveis da formação reticular ativadora (Luria – 3):

    DiagramaDescrição gerada automaticamente

    Quadro VI: Esquema representativo do Estímulo e Regência na dinâmica do encéfalo (Silveira – 8):

    Diagrama, Linha do tempoDescrição gerada automaticamente

    VII – Referências bibliográficas:

    1. COELHO, Lúcia Maria Salvia: Epilepsia e Personalidade: psicodiagnóstico de Rorschach, entrevista e anamnese heredológica em 102 examinandos. 2.ª ed. rev. e aum. São Paulo: Ática, 1980.

    2. COELHO, Lúcia Maria Salvia: Fundamentos epistemológicos de uma psicologia positiva, tradução de Zakie Yazigi Rizkallah. São Paulo: Ática, 1982.

    3. LURIA, Alexandr Romanovitch: Fundamentos de Neuropsicologia, tradução de Juarez Aranha Ricardo – Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1981.

    4. LURIA, Aleksandr Romanovitch: Curso de Psicologia Geral. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1979.

    5. CARR, Harvey; McDOUGALL, W. & BRETT, G. S.: Psicología del “acto”. Psicología Funcionalista. Psicología Hórmica. Editorial Paidós, Buenos Aires, 1965.

    6. PAVLOV, Ivan Petrović: Psicopatologia e psichiatria. A cura di E. Popov e L. Rochlin. Editori Riuniti. Roma, 1969.

    7. SILVEIRA, Aníbal: Cerebral Systems in the Pathogenesis of Endogenous Psychosis. Arquivos de Neuropsiquiatria. São Paulo 20(4), 1962.

    8. SILVEIRA, Aníbal; ROBORTELLA, Mário; PEREIRA DA SILVA, Celso. Contribuição para a semiologia psiquiátrica: a Pneumoencefalografia. Arquivos da Assistência a Psicopatas do Estado de São Paulo. São Paulo: 12 (1-100), 1947.

    9. SILVEIRA, Aníbal: Lesões casuais e lesões sistemáticas do cérebro nas doenças mentais. Arquivos da Assistência a Psicopatas do Estado de São Paulo. São Paulo: 2 (101-217), 1937.

    10. SILVEIRA, Aníbal: Psicología Fisiológica. Maternidade e Infância. São Paulo: 15(1), 1966. (Reprodução sob autorização do autor, feita pela Sociedade Rorschach de São Paulo sob a forma de apostila).

    11. SILVEIRA, Aníbal: As funções do lobo frontal. Revista de Neurologia e Psiquiatria de São Paulo. São Paulo: 1 (196-228), 1935.

    VIII – Agradecimentos:

    Gostaríamos de manifestar nossa gratidão ao Dr. Ruy Benedicto Mendes Filho, pela orientação e supervisão que nos deu durante a preparação deste trabalho.

    IX – Resumo:

    O autor faz uma correlação entre as concepções de Aníbal Silveira e Alexandr Romanovitch Luria, em relação aos processos de Atenção, Memória e Consciência. Busca frisar a concepção sistêmica da dinâmica psíquica e de suas bases neurofisiológicas, relacionando-as com os referidos processos.

    X. Summary:

    The author does a correlation between Silveira and Luria’s conceptions about the process of Attention, Memory, and Consciousness. He tries to note of the systhemical conception of psychological dynamics and of their neurophysiological bases, correlating them with the so-named process. 

    1. Médico Psiquiatra do Hospital de Juquery da Coordenadoria de Saúde Mental da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. ↩︎
    2.  Luria não se detém a analisar o nível afetivo mais diferenciado e sua importância na dinâmica psíquica. Ele não se preocupa em fornecer uma hierarquia dos sentimentos. ↩︎
    3. O dinamismo que Silveira denomina Motivação, é o dinamismo afetivo-conativo (como podemos observar no Quadro IV). No entanto, a diferenciação da motivação da atenção e da ação desencadeada, propriamente, tem um valor esquemático explicativo uma vez que sempre estará implicada a motivação para a atenção ou para a ação explícita. Somente em casos patológicos, onde ocorrem alterações intrínsecas de dinamismos específicos é que podemos verificar a validade das considerações destes níveis como distintos. Como exemplos citamos as formas da Hebefrenia Apática (onde há um comprometimento global da motivação devido ao embotamento afetivo que se reflete no sistema conativo, ou seja, na motivação para agir) e na Catatonia Acinética onde o comprometimento é intrinsecamente conativo tendo como resultado a intensa carência de iniciativa que pode chegar até à “flexibilidade cérea”. (As formas de esquizofrenia citadas aqui nesta nota são relativas à nosologia de Karl Kleist.). ↩︎
    4. Esta unidade funcional (Unidade para regular o tono ou a vigília) quando comparada com as concepções de Aníbal Silveira, está relacionada com funções de regulação metabólica e com funções e estímulos instintivos básicos (instinto nutritivo e sexual), em sua dupla função: a de reger o metabolismo e a de informar e estimular as funções mais diferenciadas do córtex cerebral quanto a estas necessidades biológicas mais básicas. ↩︎