EVOLUÇÃO DA PERCEPÇÃO – TEORIA DAS IMAGENS

EVOLUÇÃO DA PERCEPÇÃO – TEORIA DAS IMAGENS¹

O primeiro quadro cerebral publicado por Comte era muito semelhante ao de Gall. Foi modificando com o decorrer de seus estudos, partindo do ponto de vista biológico e, posteriormente, do ponto de vista sociológico, até chegar ao quadro final que resume a personalidade humana. Ao todo, Comte elaborou dez quadros cerebrais. Nesse processo de elaboração contou com a participação do seu discípulo médico, Georges Audiffrent.

Na sua teoria cerebral, Comte estabeleceu que a afetividade se liga indiretamente com o mundo exterior através dos sentidos e através do aparelho motor (como por exemplo, a apreensão e a locomoção). A afetividade está, portanto, isolada do mundo exterior. Esse isolamento é fundamental para haver uma ação subjetiva harmônica a fim de unificar nossas ações. É a afetividade que estimula o nosso trabalho mental, conforme se pode apreciar no esquema de Audiffrent.

Devemos considerar, de acordo com o esquema de Audiffrent, a parte cortical afetiva, parte posterior do córtex e considerar os núcleos sub-corticais que recebem os estímulos do exterior, funcionando como elemento de ligação, estabelecendo contato com a parte afetiva e a parte intelectual, isto é, dos núcleos da base partem dois tipos de fibras, uma que vai à parte intelectual e a outra à parte afetiva. 

Audiffrent estudou o dinamismo fisiológico da percepção. Pierre Lafitte, também discípulo de Comte, estudou esses mesmos dinamismos do ponto de vista subjetivo chegando a conclusões que podem ser correlacionadas. 

Esquema 6 - psicologia fisiológica.jpg

Lafitte estabeleceu a Teoria das Imagens, propondo o seguinte mecanismo: 

(a)  impressão, formada no órgão receptor externo;

(b) sensação, formada nos órgãos subcorticais, dando como resultado a imagem sensorial; 

(c) Percepção – resultando a imagem cortical.

No sonho e nas alucinações vamos encontrar o mesmo mecanismo, sendo que o nexo é afetivo, o estímulo é inconsciente; no caso do sonho teremos uma imagem cortical sem percepção e na alucinação, apesar do estímulo partir do interior e não do exterior, há percepção. Na ilusão existe um fator subjetivo sobrepondo-se ao externo. 

O que é fundamental é que a sensação e a imagem resultam de processos, não havendo uma zona específica para cada imagem ou sensação. Tudo se passa como na fita magnética de um gravador, cada estímulo sonoro é reproduzido e posteriormente apagado, quando sobreposto um novo estímulo. O princípio de Audiffrent conforme dito acima, corresponde à Teoria das Imagens de Lafitte. 

No princípio de Audiffrent temos: 

  1. Uma imagem afetiva que não tem conotação intelectual
  2. Uma imagem intelectual que através da conação – que conecta o estímulo subcortical ao córtex intelectual -, 
  3. resulta na Percepção.

Abaixo se apresenta um esquema da dinâmica das imagens em Laffite.

A partir de uma imagem sensorial, formada ao nível do gânglio subcortical, temos uma imagem primária – que resulta do estímulo direto, mas já é elaborada (imagem completa ou sincrética). Na imagem primária ou sincrética ou completa são considerados dois níveis: 

  1. Imagem central ou principal – que corresponde à esfera intelectual, dando como resultado uma imagem analítica; onde os estímulos são filtrados.
  1. Imagem acessória – que corresponde à afetividade resultando uma imagem sincrética, a imagem que funde todos os elementos do objeto em si – corresponde à imagem afetiva de Audiffrent, é uma imagem que fica sempre em latência, nunca se torna consciente. A imagem central é a que corresponde à realidade exterior.

Baseado na teoria das imagens de Laffite, elaboramos um esboço sobre o desenvolvimento da noção do mundo exterior, apresentado no esquema abaixo.

DiagramaDescrição gerada automaticamente

Legenda (relativa ao esquema acima): m.e. – mundo externo, (m.e.)a – mundo externo afetivo, (m.e.)i – mundo externo intelectual; F – feto, Ix – recém-nascido, I2 – criança, A – adulto; v – visão, a – audição, m – musculação, t – tato, c – calorição, o – olfação, g – gustação, e – eletrição. 

A criança sente o leite materno ou artificial, sente o calor materno, o carinho, tudo ligado e uma mesma sensação subjetiva (imagem sincrética) ligada a uma imagem da mãe. Aos poucos ela vai formando a imagem da mãe – imagem analítica.

A conação age como mediador mantendo a intensidade do estímulo, tornando a imagem consciente (para Audiffrent a imagem abstrata é a fundamental, para Lafitte é a concreta). 

Conforme já foi referido, segundo Comte há oito sentidos: os sentidos da face – audição, gustação, visão e olfação; o tato compreendendo – o tato propriamente, a musculação, a eletrição e a calorição. A eletrição é mal desenvolvida (é possível que corresponda à orientação). A musculação está ligada mais à conação. O feto reage a objetos frios, quentes, através da musculação, da calorição e do tato. A reação fetal é apenas um mecanismo reflexo, não havendo nenhuma elaboração. À medida que prevalecem os sentidos da face, no homem, principalmente a visão e a audição, a imagem vai se modificando. Assim, a imagem afetiva sincrética permanece a mesma, mas essa vai estimulando a parte intelectual havendo modificação da imagem analítica. 

¹Aula de 3 de junho de 1969, sem referência de lugar ou a quem a compilou. Revista em 03/05/22 por integrantes da Comissão de Revisão do CEPAS: Flavio Vivacqua, Francisco Drumond de Moura, Paulo Palladini e Roberto Fasano.