O Juqueri: há saídas? II. Experiência alternativa em um macroasilo¹.
Francisco Drumond Marcondes de Moura,
Elisabete Mangia, Fátima Oliver, e Odile Brender
Diretoria Clínica, Complexo Hospitalar de Juqueri, Franco da Rocha, SP
As condições desumanas de vida aos que estão submetidos os internos do Juqueri – confinamento, em atividade, total falta de estímulos, a perda da privacidade e da identidade pessoal, cultural e social, determinaram a apresentação do projeto dos Centros de Convivência que, vinculado a um Projeto mais amplo de modificação das condições de vida, propunha a criação de espaços exteriores aos pavilhões onde se integrariam a atividades de socioterapia e Terapia Ocupacional. Na prática, o Projeto consistia em: atividades artesanais, recreativas, esportivas, expressivas, horta e jardinagem, culinária, teatro e cinema. Tais atividades exerceria função terapêutica na medida em que modificavam qualitativamente as relações sociais estabelecidas, de forma doentia, no cotidiano do Juqueri. De tal forma que se pudesse preparar o internado – com anos de reclusão para um possível retorno ao convívio social. Nesse sentido, os Centros de Convivência desempenhariam no âmbito do Juqueri o principal papel na reabilitação psicossocial. Se por si só a nova dinâmica que essa experiência gerasse não fosse suficiente para modificar, de imediato, a nova prática determinaria certamente a possibilidade do surgimento de uma consciência crítica da antiga prática. A experiência destinava-se inicialmente a uma população aproximada de mil pacientes sediados nas 8 unidades componentes do complexo central do Juqueri. A tentativa de implantação do Projeto iniciou-se em agosto de 1983 a partir do trabalho conjunto de 4 profissionais – 3 terapeutas ocupacionais e 1 psicólogo – coordenados pela Diretoria Clínica do complexo hospitalar de Juqueri. Hoje cerca de 30% do Projeto encontra-se implantado e é muito remota a possibilidade de concretizá-lo na íntegra. Nesse processo esbarrou-se com sérias dificuldades ligadas à resistências que a organização institucional anacrônica impõe às tentativas de transformação da mesma e que persistem mesmo frente à total falência da instituição e a morte cotidiana da população nela custodiada.
¹Trabalho apresentado na 36ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência -SBPC -, São Paulo, SP, julho de 1984