O Juqueri: há saídas? I. Entre a custódia e a recuperação da identidade dos loucos¹.
Francisco Drumond Marcondes de Moura,
Elisabete Mangia, Fátima Oliver, e Odile Brender
Diretoria Clínica, Complexo Hospitalar de Juqueri, Franco da Rocha, SP
Durante 6 meses – de maio a outubro de 1983 – um Equipe, funcionalmente ligada ao nível da Diretoria Clínica do Complexo Hospitalar do Juqueri, se dedicou à organização de um Projeto de transformação da instituição. Ao mesmo tempo, devido à dimensão do projeto, se desenvolveu um trabalho sistemático de articulação com grupos externos visando suprir a deficiência interna de quadros necessários para concretizá-lo. O projeto tinha como princípios: resgatar os Direitos Humanos dos internados, garantir e estimular a participação de todos e priorizar o trabalho terapêutico. O objetivo explícito era: modificar o estatuto do internado, investigar práticas alternativas e abrir espaços para pesquisas sociológicas, antropológicas e biológicas. Foi estabelecido como prioridades: a melhoraria das condições de vidas e a personalização dos espaços de vivência. O trabalho no âmbito da Terapia Ocupacional e a regionalização dos recursos disponíveis tanto na área psiquiátrica quanto na médico-geral. Como medidas urgentes ficou delineado: a implantação de uma política de treinamento, remanejamento de funcionários da burocracia, abrir espaço para a organização do trabalho terapêutico e estabelecer canais de financiamento de projetos. Basicamente o Projeto consistiu: na criação de vários espaços externos aos pavilhões – os Centros de Convivência – que teriam o papel de estimular o resgate dos dinamismos ligados com a sociabilidade: para promover a ocupação da maioria dos internados foi proposto um Projeto Agropecuário fundamentado na agricultura orgânica; para humanizar as condições de custódia foi proposto a transformação dos vários pavilhões em espaços autogeridos – os Lares Abrigados. Finalmente, a partir de um estudo aprofundado das necessidades da população internada, foi proposto a criação de Unidades Especiais de Intervenção: médico-geral, psiquiátrica, geriátrica, neurológica, fisioterápica, psicológica e de convalescentes. As grandes dificuldades encontradas na implantação do Projeto tornaram necessária uma intervenção na instituição a partir de fevereiro de 1984.
¹Trabalho apresentado na 36ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência -SBPC -, São Paulo – SP, julho de 1984