PRECEITOS DOUTRINÁRIOS INTRODUTÓRIOS DA TEORIA DA PERSONALIDADE DE COMTE¹
Teoria é um conjunto de normas para explicar uma série de fenômenos.
Postulado é uma parte da teoria. A partir dele se desenvolve a teoria a ser demonstrada. É um pedido para que se acredite no que ele coloca.
Hipótese é uma tese ou teoria que depende ainda de demonstração.
Axioma (ax = agir) – é o que se admite como coisa estabelecida.
Lei é uma relação constante entre os fenômenos. Ela se aplica a um conjunto e está sempre ligada a um caráter de previsão. A lei procura encontrar a constância nas variedades. Se a lei for provada passa ser um axioma.
Ciência é um conjunto de leis relativas a um dado fenômeno.
Razão é um raciocínio lógico. Pode ser dividida em teórica e prática. A razão teórica é a formulação mais geral dos fenômenos.
Filosofia é um conjunto de ciências não apenas a descrição de temas abstratos. A razão teórica é a filosofia primeira. A razão prática tem dois aspectos: razão abstrata e razão concreta. Razão abstrata é uma formulação geral em grau menos diferenciado. É o conjunto de leis particulares que rege os fenômenos diversos, é a filosofia segunda. A razão concreta é a aplicação concreta das leis, aplicação de conhecimentos científicos. São casos individuais e, portanto, não chegam a formar leis. Seria a filosofia terceira. A fisiologia, a anatomia, a antropologia e ciências médicas são exemplos da filosofia terceira. A Moral é a ciência do homem da qual a psicologia é uma aplicação. Quando se fundou a Moral estabeleceram-se, então, as leis da mente humana. Foi aí, então, que se completaram as leis da sociologia.
A teoria de Comte é a que melhor abrange os aspectos da personalidade, levando em conta aspectos genéricos, partes da estrutura, da embriologia, da frenologia, dos aspectos dinâmicos.
Comte estabeleceu uma terminologia bastante simples, não criando termos novos, mas acatando os já existentes, redefinindo os conceitos. Em sociologia (termo criando por ele) criou o termo altruísmo. Outro aspecto importante da teoria de Comte é a aplicação do critério anatômico ou estrutural.
Quando Freud falou em id, ego e superego, criou conceitos puramente abstratos que não se aplicam a nenhum aspecto cerebral, enquanto Comte procurou relacionar as funções cerebrais como parte do sistema nervoso. Na patologia vamos encontrar o mesmo entrelaçamento dos fenômenos, podendo-se partir do patológico para o normal ou vice-versa.
Quando Freud em 1893 demonstrou que o instinto sexual é inato, Comte já havia dito isto, em 1850, em relação a todos os instintos. Enquanto a teoria de Freud e de von Monakow não se aplicam a todos os casos, isso é possível na teoria de Comte.
Comte estabeleceu três instâncias da personalidade: Inteligência, Atividade (Conação) e Afetividade. Essas esferas interagem umas sobre as outras, mas a atividade não age sobre a afetividade (Esquema 1). Essas três esferas coexistem ao nascer e entram em função desde o início da vida psíquica, constituindo-se num todo.
A afetividade constitui o núcleo básico; sem seu funcionamento não poderia haver vida psíquica. Caso haja perda da atividade, o indivíduo perde o contato com o mundo exterior, mas não conseguirá sobreviver se perder a afetividade, na qual se engloba, por exemplo, o instinto de nutrição. Cada uma dessas esferas é inata e tem uma estrutura própria.
Esquema 1 -Interação entre as várias esferas da personalidade (Comte-Silveira, 1978)
Esquema 2 – Esferas da Personalidade e funções psíquicas
Esquema 3 – Estrutura e Dinâmica da Personalidade.
(Revisão em 29-3-1968, posteriormente à adaptação da esquematização em 17/03/1968, publicado no livro de Lucia Coelho – Epilepsia e Personalidade – São Paulo, Editora Ática, 1980)