COMUNICAÇÃO – TEORIA DOS SINAIS

COMUNICAÇÃO – TEORIA DOS SINAIS¹

No âmbito da elaboração intelectual resumimos:

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Temos com a observação uma maneira de relação com o mundo exterior nas suas formas concreta e abstrata. Outra forma de relação é através da elaboração: indutiva – reúne e compara os dados e chega a uma conclusão, a um juízo novo; dedutiva – dissocia os dados, chegando também a um juízo novo.

Entre esses dois processos – indução e dedução -, há um outro elemento que preside todos eles que é a comunicação, que corresponde a um elemento mais complexo, mais estruturado. A comunicação compreende a expressão e resulta numa construção e, portanto, se não tivermos os dados suficientemente elaborados, não teremos comunicação. O nexo afetivo consciente está ligado com a imagem concreta e abstrata. A noção compreende uma reação afetiva ligada a um nexo afetivo não consciente, instintivo e outro nexo afetivo consciente, mais diferenciado; daí parte o nexo intelectual. Em síntese: há três níveis de ligação do indivíduo com a realidade exterior. 

Todos eles estão ligados a laços afetivos, havendo, portanto, a participação do interesse nessas ligações. Comte chamou a primeira, de lógica afetiva consciente, a segunda, de lógica das imagens (elemento mais intelectual do meio externo) e a terceira, lógica dos sinais. Na lógica afetiva temos como exemplo a cólera que se constitui numa reação violenta. Na lógica das imagens o indivíduo faz uso das imagens. Na lógica dos sinais usa um elemento mais abstrato. O sinal, segundo Comte, estabelece a comunicação com o exterior e o interior. Esses elementos são tanto mais desprovidos de caráter afetivo quanto mais simplificado for o estímulo (mais abstrato), portanto, o sinal, elemento mais abstrato, é o mais desprovido de reação afetiva. Como vimos, em aulas anteriores, na percepção é importante a conação como elemento de ligação dos processos afetivos e intelectuais. A conação é o conjunto funcional que vai mobilizar todos os elementos para a ação. O aspecto subjetivo compreende uma contração muscular, como por exemplo, a acomodação do cristalino quando o indivíduo vai enxergar algo, que mobiliza, portanto, a sensação muscular e que é simbolizado ao mesmo tempo como fenômeno não consciente, isto é, vai até a reação afetiva determinar uma sensação muscular.

O sinal, segundo Comte, é uma relação constante entre o estímulo e a contração correspondente. Contração no sentido de reduzir a imagem e o registro afetivo (usando em ambos o mesmo mecanismo através da conação). No sinal há um processo, também intelectual e permanente dando como resultado uma abstração. Essa contração (sinal) requer a correlação dos vários setores psíquicos e neurofisiológicos. 

Para Pavlov, noção e ideia são reações de primeira ordem, o sinal é reação de segunda ordem. A expressão que corresponde à comunicação; elemento que preside os trabalhos básicos também se manifesta de maneira diferente em épocas diversas da vida. No recém-nascido é impossível se fazer a expressão abstrata. É um disparate dizer que uma criança de quatro anos possa aprender álgebra. 

No início da vida, a criança utiliza recursos ligados à própria reação vegetativa, resultando várias expressões: 

  1. mímica – quando a criança vê um indivíduo desconhecido ela chora, ela consegue integrar todos os dados em um simples sinal que a faz perceber o todo, diferentemente do adulto que ao ver um rosto isola alguns detalhes suficientes para ter a noção do todo; para formar a imagem do rosto, a criança tem a capacidade de captar todos os estímulos recebendo a imagem do rosto em todos os detalhes. A criança reage, globalmente, ligada à sensação de seu próprio corpo, sendo inclusive uma sensação visceral. O sono, o repouso, são necessários no processo nutritivo, a criança devido à essa natureza de agir globalmente, adormece mais rapidamente que o adulto. As diversas fase do desenvolvimento da criança na linha psicanalítica (fase anal, fase oral etc.) indicam reações afetivas da criança com o mundo exterior (nesse aspecto de sensação do próprio corpo) e em graus diversos de maturação. Na reação emocional, o indivíduo adulto revive esses aspectos. A mímica compreende: (a) a mímica fisionômica – que traduz esse movimento vegetativo básico, fundamental; (b) gesticulação – já envolvendo o esquema motor, sensação muscular, sendo, portanto, mais complexo, agindo nesse caso além da parte afetiva o elemento conativo também. A criança tem primeiro uma imagem motora e depois intelectual. Segundo a escola de Piaget, na criança em fase pré-escolar, o que lhe dá noção de aprendizado é uma imagem motora e depois vai se formando a imagem intelectual.
  2. A expressão verbal – elemento nitidamente conativo. Todo nosso trabalho de indução e dedução já envolve a expressão verbal, temos, portanto, um componente motor em toda expressão verbal, assim como na gesticulação. Quando isto se torna automático no indivíduo, por maturidade psicológica desse mecanismo conativo, temos um dinamismo mental automático. 
  3. A expressão abstrata, como por exemplo, temos – na música e na pintura -, uma comunicação direta afetiva ligada à mímica. Na música, o ritmo do iê-iê-iê e do jazz estão mais ligados à afetividade, no nível da sociabilidade. Em uma fórmula matemática, entretanto, o processo é mais dissociado, mais abstrato, sendo a abstração, no caso, uma imagem desprovida de qualquer conotação afetiva. Na verbalização há a possibilidade de comunicar aos próximos. Na mímica o contato é de uma pessoa para outra. No abstrato a comunicação é mais geral, permite o uso de símbolos, independendo do espaço e do tempo.  

A expressão verbal também tem dois aspectos: a articulada e a gráfica (aqui já há uma abstração). A criança aprende a falar primeiro articulando, depois chega à fase gráfica. Note: é nessa fase de aprendizado que a criança falando coisas que o adulto fala, sem sentido para ela pois ela apenas o imita, que ela cria um sinal (palavra) partindo diretamente de uma imagem primária, isto é, sem ter elaborado nada.

Na abstração temos o elemento mais diferenciado da expressão. A abstração pode se traduzir para expressão fisionômica como acontece no Teatro, usando a experiência de todos os gestos. Uma pessoa sonhando pode apresentar uma fisionomia e gesticulação de quem está vivendo algo e nós, por abstração (elaboração de nossas próprias vivências), podemos compreender o que se passa com a pessoa que está sonhando. No psicodrama há a simbolização da abstração através da gesticulação.

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¹Texto baseado em aula proferida em Campinas pelo Prof. Aníbal Silveira, no dia 11 de junho de 1969. Revista em 10/05/22 por integrantes da Comissão de Revisão do CEPAS: Flavio Vivacqua, Francisco Drumond de Moura, Paulo Palladini e Roberto Fasano.